
Capítulo 5
No primeiro dia depois do Natal, Harry parecia um cadáver ambulante.
Seus olhos estavam vermelhos, e as olheiras profundas faziam com que ele parecesse um sobrevivente de uma guerra... ou de uma série de festas de fim de ano desastrosas.
De certa forma, era exatamente isso mesmo.
Como se não bastasse o seu estado deplorável, ele teve que arrastar seu corpo para o Ministério, carregando o peso da sua sombra como se fosse um hipogrifo morto.
Ele sabia que seria difícil não atrair olhares, especialmente porque tinha ignorado todas as cartas de seus amigos e parentes no feriado, preferindo afundar na própria miséria.
Ao entrar no elevador, Harry soltou um suspiro tão pesado que o pequeno cubículo quase tremeu. Ele desejou ter trazido a Capa da Invisibilidade ou ser capaz de se fundir com as paredes.
Mas, é claro, a sorte estava em férias prolongadas. Porque a porta se abriu antes do andar dele, revelando ninguém menos que o Ministro da Magia, seguido por Percy Weasley.
Riddle entrou com a graça de um rei, e Harry imediatamente sentiu as suas bochechas queimarem quando percebeu que o Ministro o ignorava solenemente.
Claro que ele ignoraria.
Bem, dois podiam jogar esse jogo.
— Chegando atrasado, Auror Chefe Potter? — veio a voz cortante de Riddle.
Harry revirou os olhos internamente. A última coisa de que ele precisava era ouvir lição de moral do homem mais insuportável do planeta.
— Bom dia pra você também, Ministro. — Sua voz era morta, e ele apenas respondeu para ser educado do que realmente interessado em fornecer alguma resposta.
Percy, que estava ao lado de Riddle, lançou-lhe um olhar assustado, mas se manteve em silêncio, provavelmente reconhecendo o estado lamentável de Harry, mas sem saber como lidar com isso.
Riddle ergueu uma sobrancelha, silenciosamente exigindo uma resposta. Idiota.
— Desculpe, senhor — acrescentou Harry, inexpressivamente. — Eu tive um feriado bastante desagradável.
Desta vez, o Ministro encarou Harry abertamente, os olhos ardendo com uma intensidade que poderia queimar qualquer um no lugar. Riddle não desviou o olhar, como se estivesse esperando que Harry vacilasse, mas Harry, por mais cansado que estivesse, não se acovardou. Ele ainda era um grifinório, muito obrigada.
O silêncio no elevador era constrangedor, e se alongou como se ambos esperassem que o outro fosse o primeiro a ceder.
Foi então que a porta do elevador se abriu novamente, revelando um Cedric Diggory, completamente alheio ao clima tenso, e com um sorriso brilhante ao ver Harry.
— Harry! — exclamou Cedric. — Atrasado também, hein?
Harry tentou não rir, mas o entusiasmo contagiante de Cedric arrancou-lhe um sorriso relutante.
— Oi, Cedric... Sim, digamos que o feriado não foi dos melhores…
— Sim, eu fiquei sabendo… — Cedric assentiu sabiamente, e Harry quase quebrou o pescoço ao encarar o amigo, antes que ele continuasse a falar. — Você e Draco, hein?
A vida de Harry era louca o suficiente para ele já ter esquecido que Draco o traiu há menos de um mês? Bem, parece que sim.
Harry suspirou aliviado, pelo menos o segredo do noivado falso ainda estava de pé.
— Er, sim, pois é… — respondeu, tentando parecer indiferente, embora sua voz tenha saído uns dois tons mais alta que o normal.
Ele tentou dar de ombros, como se a conversa não fosse um problema, mas sabia que estava se enrolando ainda mais.
— Mas você está bem?
— Claro! — Harry concordou um pouco rápido demais. — Quer dizer, eu vou ficar…
— Bem, que tal eu te levar pra almoçar hoje, então?
— Er… — Harry gaguejou, sem saber muito bem como reagir, especialmente quando ele podia sentir a pressão do olhar de Riddle na sua têmpora, como se o Ministro estivesse ansioso para saber qual seria a sua resposta.
— Já faz um tempo que não almoçamos juntos, e eu gostaria de ter a chance de te animar um pouco.
Harry, agora completamente ciente do olhar cheio de ódio de Riddle em sua direção, tentou se recompor, mas a resposta parecia escapar de seus lábios antes mesmo de ele pensar.
— Tudo bem… claro.
Harry nunca pensou que fosse possível lançar a maldição da morte com um olhar, mas parecia muito que Riddle estava tentando.
Bem, não era problema dele, era?
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Harry estava absorto em sua pilha de papéis, tentando ignorar o tédio e o cansaço que se acumulava em seus ombros. A cada documento que ele preenchia, parecia que o mundo lá fora ficava um pouco mais distante e o relógio andava ainda mais devagar.
Por que ele aceitou ser o Auror Chefe mesmo?
Ele estava tão imerso nos formulários e relatórios que mal ouviu a porta se abrir. Só percebeu quando Hermione entrou na sala e se aproximou da mesa dele com uma expressão que ele conhecia (e temia) bem.
— Harry! — Ela exclamou, fazendo Harry quase quebrar a pena ao meio de susto.
— Puta merda!
— O que diabos você pensa que está fazendo?
— Trabalhando…?
— Você não respondeu a nenhuma das minhas cartas! Nem as do Ron, nem a dos seus pais! Eu perguntei! O que aconteceu?
— Hermione, eu… — Ele mal começou e Hermione já continuou a falar por cima dele.
— Nós estávamos preocupados. O que você estava fazendo, Harry? — Ela o encarou com um olhar intensamente analítico. — Não é só isso. Mas você estava com o Ministro, e eu ainda não acredito naquela história que vocês contaram. E agora Percy veio contar sobre vocês quase… brigando dentro do elevador… tensão sexual latente… e seja lá o que mais Percy inventou.
Harry sentiu o seu rosto esquentar. O simples fato de Hermione estar fazendo suposições tão próximas da realidade já o fazia querer se afundar na cadeira.
— Maldito Percy fofoqueiro. — Harry murmurou.
— Vocês estavam juntos na sua casa, passaram o natal juntos e todos esses sinais. Harry, isso não me cheira muito bem.
— Não é o que você está pensando… — Ele tentou desviar, mas Hermione começou a andar de um lado para o outro, os passos rápidos ecoando pelo escritório e as mãos sacudindo com ansiedade.
— Oh, Harry, não me diga que você está tendo um caso secreto com o Ministro da Magia e agora está tentando esconder isso de todo mundo. Você vê como isso é irresponsável? Você não deve namorar pessoas do trabalho.
— Você é casada com uma pessoa do trabalho. — Ele revirou os olhos exausto.
— E ele é mais velho, e o chefe do nosso mundo, você também é um chefe. Você tem certeza disso? Você receberia toda a pressão dos jornais. Eles julgariam você completamente. E a sua segurança, Harry? E vocês mal se conhecem. Ou você é apenas o amante? Ah, não, Harry! Não seja o amante!
— Hermione, para! — Ele disse, levantando as mãos em defesa. — Não é nada disso! Eu não sou o amante do Ministro da Magia.
— Então, o que está acontecendo? — Ela se jogou na poltrona à sua frente, os ombros cedendo imediatamente.
— Ele me pediu uma ajuda durante o feriado, e eu o ajudei. Foi apenas isso, eu juro.
— E por que você parece que voltou da morte há algumas horas?
— Eu confundi as coisas, Hermione. — Ele revirou os olhos, e acomodou novamente na sua própria poltrona. — Eu sou apenas um idiota. É isso.
— Oh, querido. — Os olhos de Hermione encheram-se de lágrimas. — Draco fez um estrago em você, não é? Talvez você devesse pedir algumas férias…
— Eu não quero férias, Hermione.
— Ou transar um pouco…
— Hermione! — Harry arregalaram comicamente.
— Bem, isso sempre parece ajudar Ron.
— Ugh! Por favor, isso não é algo que eu queira saber.
Ela sorriu inocentemente, e Harry não acreditou nenhum pouco.
— Você tem certeza de que está bem?
— Eu tenho certeza de que ficarei bem. — Ele respondeu. — E Cedric me chamou para almoçar…
— Oh! Cedric? Bonitão da lufa-lufa? Vencedor do torneio tribruxo do quarto ano? Dono do sorriso mais bonito de Hogwarts? — Hermione sentou-se na ponta da poltrona.
— Aww! Parece o segundo de novo, quando você se apaixonou por Lockheart.
— Ah, cala a boca, Harry! — Ela gargalhou um pouco, enquanto levantava-se e ajustava a sua saia. — Se precisar de qualquer coisa, fale comigo. Mas não se esconda, Harry.
— Claro, me desculpe, Hermione. — Ele decidiu apenas concordar, para evitar um novo surto.
— E responda a carta dos seus pais. — Ela gritou antes de sair pela porta e deixar Harry com a sua pilha de papéis novamente.
Finalmente, paz.
Harry se recostou na cadeira de seu escritório, os olhos fechados enquanto respirava fundo.
Não mais que cinco minutos depois, alguém bateu na porta.
Ele abriu os olhos devagar, soltando um suspiro dramático. Sério, por que ele nunca podia ter paz?
— Auror Chefe Potter? — Veio a voz baixa e um tanto hesitante de Lavender, a secretária do Ministro.
— Sim, Lavender, pode entrar.
Ela empurrou a porta apenas o suficiente para espiar por entre o vão, parecendo desconfortável até para cruzar o limiar.
— O Ministro está pedindo para você ir até a sala dele — disse ela, quase num sussurro. — Imediatamente.
Harry franziu o cenho.
— Ele disse o que queria?
— Não. E, sinceramente, ele não está de bom humor, então é melhor você se apressar.
— Bem, eu não quero ir.
Lavender piscou, atônita.
— Desculpe… o quê? Por quê?
Harry deu de ombros com uma calma desconcertante.
— Vou almoçar em alguns minutos.
— Você tá louco?! — Lavender finalmente escancarou a porta e entrou na sala, completamente pânico. — Você quer ser demitido? Eu não acho que o Ministro vá aceitar essa desculpa, Harry!
— Tá, tudo bem. Eu vou! — Ele levantou as mãos em rendição, o tom exasperado.
Harry foi conduzido por Lavender até o escritório do Ministro, com a dignidade de alguém sendo arrastado para a guilhotina.
Ela abriu a porta para ele, mas não sem lançar aquele olhar hesitante que dizia claramente: boa sorte, você vai precisar.
Talvez ela achasse que ele tinha enlouquecido depois de Draco.
Talvez ela estivesse certa.
E então, lá estava ele: o Ministro da Magia, sentado em sua poltrona escura atrás de uma mesa absurdamente grande.
Compensação? Talvez. Harry teve que morder a língua para não rir.
— Pode nos deixar a sós, Lavender.
Lavender desapareceu como se o próprio diabo tivesse dado a ordem, fechando a porta com cuidado, e Harry soltou um suspiro pesado antes de se jogar na pequena cadeira à frente da mesa.
Ele mal teve tempo de se acomodar antes de abrir a boca:
— Posso saber o que diabos estou fazendo aqui? — disparou. — Já quer me demitir? Não podia esperar, né?
O Ministro franziu o cenho, claramente pego de surpresa.
— Você acha que vou demitir você?
— Não sei, me diga você!
— Eu não vou demitir você.
Harry afundou ainda mais na cadeira, o alívio sendo imediatamente substituído por irritação. Ele cutucou a madeira desconfortavelmente dura da cadeira com o dedo.
— Sério? Não tinha dinheiro pra uma cadeira decente para os convidados?
Riddle ignorou o comentário, mas o leve apertar de sua mandíbula não passou despercebido.
— Por que, exatamente, você achou que seria demitido?
— Pelo jeito que me questionou no elevador.
— Eu questiono todos os funcionários do meu Ministério.
Harry revirou os olhos de forma tão teatral que Sirius teria perdido o posto de Rainha do Drama da família.
— Ah, por favor. Você nem sabia que eu trabalhava aqui até semana passada.
Riddle arqueou uma sobrancelha, como se fosse uma afronta à sua memória impecável.
— Claro que eu sabia. Você é o Auror Chefe.
— Isso só tem um mês, sabia? Eu fui um Auror comum por anos antes disso, mas você provavelmente estava ocupado demais com… sei lá… sua mesa enorme para perceber.
O Ministro estreitou os olhos, claramente tentando não ceder à provocação.
— Isso não importa. Você é um funcionário do meu Ministério, e é meu direito questionar quando você chega atrasado. Isso não significa que será demitido.
— Ah, ótimo, fico muito lisonjeado… — Harry retrucou, cruzando os braços. — Fui chamado aqui só pra ser questionado por algo que já expliquei?
Riddle o encarou por um longo momento, e Harry podia jurar que viu o canto de sua boca se contrair em algo próximo de um sorriso…
Ou um espasmo de raiva, difícil dizer.
— Na verdade, não foi por isso que eu chamei você aqui.
— E me chamou por quê? — Ele engoliu em seco, subitamente nervoso.
— Minha família está contando com você para passar o Ano Novo conosco.
Harry piscou lentamente.
— Desculpe, o quê?
— Eles ficaram… encantados com o meu noivo. E, aparentemente, não vão aceitar um não como resposta.
— Como é? — Harry gaguejou, sentindo o rosto esquentar.
— Por isso eu o chamei aqui. — Riddle apoiou os cotovelos na mesa e entrelaçou os dedos, observando Harry como se ele fosse uma peça interessante de uma galeria de arte. — Quero pedir que você finja ser meu noivo novamente.
Harry encarou o Ministro, o choque pintado em cada linha de sua expressão.
Ele só podia estar brincando. Só podia.
Mas bem, se ele aceitasse, poderia beijar aqueles lábios novamente…
Não! Isso era absurdo!
— Não! — Harry respondeu rapidamente, quase antes de Riddle terminar de falar.
Riddle inclinou a cabeça, surpreso com a recusa imediata.
— Por que não?
— Em primeiro lugar, eu vou visitar a minha família. E em segundo lugar… — Harry gaguejou, levantando-se tão rápido que quase derrubou a cadeira. — Me deixe em paz, Ministro.
E antes que Riddle pudesse dizer outra palavra, Harry girou nos calcanhares e saiu do escritório, quase tropeçando nos próprios pés.
Enquanto caminhava de volta ao escritório, Harry não conseguia parar de se sentir um completo idiota.
Por que ele simplesmente não disse sim?
A imagem de si mesmo voltando à sala do Ministro, se jogando em seu colo e pedindo para ser um noivo de verdade piscou em sua mente, e ele quase tropeçou nos próprios pés.
Merlin, o que há de errado com ele?
Harry apertou o passo, tentando fugir dos próprios pensamentos.
Ao chegar ao escritório, Harry se jogou na cadeira, apoiando a cabeça na mesa e gemendo miseravelmente.
Harry precisava de ajuda.