
Capítulo 2
A primeira coisa que ele percebeu foi a pontada na lateral esquerda da cabeça, latejando dolorosamente.
A segunda coisa que ele percebeu foi a luz passando por entre as frestas de uma enorme janela de vidro, coberta por longas cortinas de um tecido leve, com cores profundas e pregas francesas sofisticadas.
A terceira coisa que ele percebeu foi que, com certeza, este não era o seu quarto.
Harry sabia que estava de ressaca, mas não pensou que havia bebido tanto ao ponto de esquecer tudo o que fizera na noite anterior.
De quem era essa casa? Um amigo do trabalho? Um serial killer talvez? Um predador sexual?
Esse último pensamento fez com que ele puxasse as cobertas para conferir o próprio corpo e suspirar de alívio ao perceber que ainda estava vestido da cintura para baixo. O que não significa nada, uma voz cruel disse no fundo da sua mente.
Harry olhou ao redor à procura dos seus óculos ou da sua varinha. Ele precisava, urgentemente, ir embora dali.
Duas coisas aconteceram enquanto ele se mexia na cama:
A primeira é que, com os movimentos bruscos, ele sentiu ainda mais dor e teve certeza de que nunca tinha tido uma ressaca tão absurda quanto aquela.
A segunda é que Harry percebeu que não estava sozinho.
Havia um homem na cama.
Um homem seminu na mesma cama que ele.
Um homem de pele pálida, costas largas, músculos bem definidos, cheiro forte, agradável e másculo, cabelos sedosos e pretos como azeviche, e… Harry teve que piscar e parar de admirar o corpo do desconhecido que ainda dormia de costas para ele e voltar o foco na sua tarefa inicial.
Não é o momento, Harry.
O mais sutilmente possível, ele conseguiu sair da cama, colocar os óculos e ir até o banheiro.
Nem era preciso dizer que ele estava um caos.
Cabelos completamente bagunçados, olhos ainda inchados das lágrimas que ele chorou na noite passada e o rosto inteiramente amassado.
Harry decidiu começar pelo mais fácil e lavar o rosto, usar um feitiço para limpar os dentes e, finalmente, procurar uma saída daquele lugar.
Ele estava vestido apenas com as calças escuras e só encontrou um dos sapatos na beira da cama. Que ótimo!
Será que ele havia aparatado até ali? Ele pensou, enquanto buscava a sua varinha que estava depositada no móvel próximo a cabeceira da cama. Ele foi roubado? O homem bonito e desconhecido era um ladrão? Bom, a casa era chique demais para ser de um ladrão comum. Talvez um bruxo das trevas, então? Um criminoso que decidiu sequestrar o novo Auror Chefe? Bem, por que ele o sequestraria e depois dormiria na mesma cama com ele? Talvez fosse algum tipo de stalker maluco?
Harry se forçou a não criar teorias e correu para a porta descalço e completamente nu da cintura pra cima, apenas para abrir a opulenta porta de madeira polida e brilhante e se deparar com quatro pares de olhos castanhos.
— Oh Meu Deus! — uma adolescente baixinha, magra e de longos cabelos negros exclamou com uma voz estridente que aumentou a dor lateral da cabeça de Harry. — Você é o noivo do Tom?
— Mel, seja educada. — uma mulher magricela repreendeu a jovem. — Olá, querido. Eu sou Mérope. — ela acrescentou com um sorriso doce.
— Onde está o Tom? — um homem interrompeu com uma voz séria. Ele parecia bastante com alguém que Harry já viu antes, mas não conseguia lembrar. Talvez um artista? Ele não era muito ligado ao mundo do entretenimento.
— Eu não acredito que finalmente vamos conhecer o noivo do Tom. — a jovem gritou animada, soltando uma gargalhada alta.
Aquela altura Harry ainda não tinha tido a oportunidade de falar uma única palavra.
— Vocês estavam transando? — ela sussurrou com uma mão em concha no canto da boca. Harry enrubesceu imediatamente. Todos gemeram.
— Cala a boca, Melanie. — um outro jovem, um pouco mais velho, disse revirando os olhos. Harry ainda não tinha percebido a presença dele. — Você está assustando o rapaz. Eu sou Tobias. — ele murmurou.
— Você tem um nome, querido? — a mulher perguntou e todos se calaram para ouvi-lo.
Harry poderia ter virado as costas. Acordado o homem estranho. Gritado com as pessoas. Saído correndo.
Mas, como sempre, Harry tinha dificuldade em lidar com situações estranhas. O que era realmente curioso, já que ele era bastante capaz de tomar decisões em situações de vida ou morte.
— Harry. — ele respondeu, e mal acreditou quando a sua voz saiu firme e sem gaguejar. — Harry Potter. — ele acrescentou e se sentiu um pouco idiota com a apresentação desconfortável.
— Um belo sobrenome, rapaz. — o homem elogiou com um aceno firme da cabeça e um grande sorriso no rosto. — Eu sou Tom Riddle. Sênior, é claro. — ele riu.
E então a mente de Harry clicou.
Riddle.
O sobrenome do atual Ministro da Magia da Grã-Bretanha.
O mesmo Ministro que era chefe dele no Ministério.
O mesmo Ministério no qual ele ficou embriagado, chorou e aparentemente saiu direto para a casa do maldito Ministro da Magia.
É claro que aquele homem o lembrava alguém. Ele era a cópia do seu chefe.
Antes que a ficha caísse completamente e ele se desse conta que esteve na mesma cama que Tom Riddle Jr., a porra do Ministro, Harry sentiu uma mão na sua cintura.
— Vocês poderiam parar de encurralar o meu noivo, por favor? — uma voz falou perto do seu ouvido. Perto demais para as suas fracas sensibilidades. Harry mal teve tempo de pensar na palavra noivo dita tão casualmente. — O que vocês estão fazendo aqui? — ele acrescentou e Harry firmou a cabeça no lugar para não olhar nos olhos do seu chefe.
Ele estava tão, tão fodido.
Harry já podia pensar nas entrevistas que precisaria fazer para conseguir um novo emprego. Ele tinha ouro suficiente para se sustentar sem um emprego? Como estava o seu cofre em Gringotes, afinal de contas? O que ele diria para os seus amigos? Ele precisaria voltar para a casa dos seus pais? Os seus pais! Como ele diria que ficou sem namorado e sem emprego em apenas algumas semanas?
Ele não conseguia pensar qual seria a reação dos seus pais e padrinhos, mas tinha certeza de que Hermione o mataria.
Na verdade, talvez fosse melhor assim. Ela poderia ser misericordiosa e usar a maldição da morte.
— Querido, nós viemos para o natal. — a senhora, Mérope, falou com um sorriso feliz e olhos fixos na mão de Tom Riddle que continuava na cintura de Harry. Ela piscou para ele.
— Quando você ia nos apresentar o seu noivo, filho? — o homem alto acrescentou com um brilho estranho no olhar. Era orgulho?
Puta merda, Harry pensou. Como ele veio parar na casa do seu chefe e sendo confundido com algum noivo perdido? E desde quando o ministro estava noivo? Rita Skeeter perdeu a oportunidade de ser a primeira a saber. Ha. Ha.
— Eu estava esperando o momento certo, pai. — Tom Riddle respondeu e a sua mão apertou um pouco mais a cintura de Harry, quando ele pensou em abrir a boca para dizer que aquilo era um grande mal entendido.
— Todo mundo sabe que você é gay, irmão, não precisa esconder o seu lindo noivo de nós. — a adolescente, Melanie, respondeu com um revirar de olhos tão típico da sua idade que Harry segurou a risada. — Todo mundo sabe que você transa.
— Melanie, cala a boca. — Tom e Tobias falaram ao mesmo tempo.
— Melanie Riddle, onde estão os seus modos? — Mérope a repreendeu com uma carranca e a jovem murmurou um “sinto muito, mamãe” que soou muito falso.
Enquanto a família discutia, Harry começou a sentir os efeitos da ressaca. A pressão baixa, o suor escorrendo, a dor de barriga e a vontade de vomitar.
Sem pensar duas vezes, ele correu para o banheiro e despejou todas as taças de champanhe no vaso. Que belo momento para passar mal!
Ele ainda podia ouvir as conversas abafadas no quarto.
— Ele está bem, filho? — ele ouviu Mérope perguntar.
— Sim, ele comeu algo que fez mal no Baile do Ministério ontem.
— Ele também trabalha no Ministério? — o homem Riddle Sr perguntou.
— Ele é o Auror Chefe.
Enquanto sofria com uma dor terrível na boca do estômago, Harry ainda conseguiu sentir uma leve tensão no ar.
— Você ficou noivo de uma pessoa do seu trabalho? — foi Tobias quem cortou o silêncio. — Você sempre foi contra relacionamentos no trabalho.
— Ele é diferente. — Tom Riddle suspirou e, por apenas um segundo, Harry pensou que poderia ser uma afirmação verdadeira.
Mas, bem, o quão idiota Harry poderia ser ao pensar nisso? Talvez fosse a carência? A saudade de Draco? Ele não teve tempo de encontrar uma resposta quando uma nova onda de líquidos decidiu sair pela sua boca.
Harry não percebeu quando a família saiu do quarto ou quando Tom chegou no banheiro, mas um momento depois havia uma mão (grande e quente) fazendo círculos nas suas costas e um pano frio na sua testa.
— Você se sente melhor? — ele perguntou baixinho.
Harry assentiu, enquanto sentava no chão do banheiro e fechava os olhos. Ele se sentia mortificado.
O ministro segurou o queixo de Harry com aquelas mãos grandes e quentes e o ajudou a beber uma poção para ressaca. Ele podia sentir a cabeça perder o peso terrível que havia sido instaurado no seu cérebro e, finalmente, teve um momento de clareza.
— Eu sinto muito, Ministro. — Harry abriu os olhos e, finalmente, olhou para cima apenas para sentir vontade de morrer com o quão bonito aquele homem era.
— Como assim? — ele respondeu.
— Eu prometo que vou limpar a minha sala na segunda-feira e você nunca mais vai precisar me ver. Isso foi completamente ridículo e pouco profissional da minha parte, e eu tenho certeza que o seu noivo verdadeiro vai ficar tão, tão chateado, mas eu posso falar a verdade para a sua família e aguentar as repercussões, eu sou capaz de aguentar qualquer coisa sozinho. Eu até posso ir embora da Inglaterra se você me pedir, eu não preciso mais ficar aqui e você não precisa se preocupar que eu fique-
— Harry! — Tom interrompeu com uma risada. — Por que você está falando essas coisas?
Harry piscou confuso.
— Eu imagino que estou demitido, senhor.
— Você não está demitido, Harry.
Harry ainda continuava confuso.
— E o seu noivo, senhor?
— Eu não tenho noivo, Harry. E não precisa me chamar de senhor.
Harry piscou novamente e ainda completamente confuso.
— Nós dormimos juntos.
— Nós não dormimos juntos, Harry. Você estava bêbado e eu o trouxe para a minha casa. — ele sorriu. E que maldito sorriso bonito. — Você é um bêbado bastante carinhoso, na verdade.
— Então… o que…? — Harry tentou dizer, mas só sentiu vontade de tacar a cabeça no azulejo perfeito do banheiro e desmaiar.
— Minha família espera que eu me case, mas eu menti sobre ter um noivo e, bem, eu pensei que… você poderia mentir por mim? — ele abriu um sorriso largo e sedutor que fez as pernas de Harry ficarem bambas. Esse homem era a porra de um Veela?
Por um segundo ele não entendeu a frase, até que a ficha caiu.
— Desculpe, o quê?
— Veja, Harry. Eu sei que essa é uma situação estranha…
— Ah, você nem imagina.
— Mas eu preciso fazer com que a minha família pare de me encher o saco com isso…
— Ah, Merlin!
— Então, eu preciso entregar algo para eles. Eu posso até mesmo pagar.
Harry revirou os olhos enojados.
— Você pensa que eu sou algum tipo de prostituta? Eu sou o herdeiro da Casa dos Potter, sabia? Eu ainda tenho dinheiro. E dignidade.
— Claro que eu não acho isso, Harry. — ele respondeu com uma seriedade que surpreendeu Harry e ele quase podia ver uma mancha vermelha nas suas bochechas que sumiram rapidamente.
— Eu não acho que posso fazer isso, senhor.
— Mas você não negou quando eles te chamaram de meu noivo.
— Eu fui encurralado.
— E você continuou concordando com tudo.
— Eu apenas fiquei em silêncio.
— E agora eles pensam que somos noivos.
— Eu fiquei nervoso, tá? — Harry exclamou, enquanto levantava. Ele estava sonhando? Sim, provavelmente era isso. Um sonho bizarro que veio em sua mente, enquanto ele ainda estava com a bochecha colada no chão da calçada do Ministério.
— Harry, por favor. — Tom implorou ainda de joelhos no chão do banheiro, enquanto Harry ficava de pé e começava a ter pensamentos muito, muito errados, enquanto o observava de cima. — Eu sinto muito por isso ser tão inesperado, mas eu só preciso que seja durante o natal. Hoje é 24, provavelmente eles vão embora no dia 26, nós terminaremos o noivado depois disso e vai ficar tudo bem.
Harry ficou em silêncio, enquanto respirava fundo e tentava pensar em algo rapidamente. Ele conseguiria aparatar do banheiro? Talvez se ele se concentrasse bastante ele poderia rasgar as proteções.
— Por favor, Harry. Eu faço qualquer coisa. Você pode pedir o que quiser.
Harry pensou um pouco.
Ele poderia recusar e ir embora, ou ele poderia aceitar e se divertir um pouco. Não foi isso que Hermione disse para ele fazer? Parar de ficar preso dentro de casa e tentar seguir em frente?
— Qualquer coisa? — Harry ergueu uma sobrancelha.
— Qualquer soma razoável.
— Ainda acha que eu quero dinheiro?
— O que mais você poderia querer?
Sim, o que mais Harry poderia querer naquele momento que o ajudaria a esquecer Draco completamente?
— Eu quero uma noite com você. — Harry disse.
Tom ficou em silêncio por alguns segundos.
— Você quer que eu faça sexo com você. — ele falou pausadamente, mas a frase saiu quase como uma pergunta.
— Exatamente. É isso ou nada.
Tom abriu a boca para refutar e simplesmente não encontrou palavras.
— Bom, é o meu acordo. — Harry acrescentou e cruzou os braços na tentativa de imitar a mesma pose arrogante que o seu ex-namorado costumava adotar quando queria exigir algo de Harry. Provavelmente, não foi muito boa, já que Tom apenas sorriu largamente, quase como se estivesse inegavelmente satisfeito com esse acordo ridículo.
— Fechado, então.
Harry suspirou em pânico. Ele não tinha pensado direito no que queria, na verdade. Talvez outra pessoa tenha pedido dinheiro, uma promoção, aumento de salário ou joias.
Harry só queria ser imprudente, se divertir e esquecer o maldito ex-namorado. Não culpe um homem por tentar, certo?
— Ok. — ele respondeu depois de limpar a garganta e procurar as palavras certas para dizer nessa situação. O que ele deveria falar? “Quando vamos agendar o pagamento, senhor”?
— Por favor, fique à vontade para tomar um banho e usar as minhas roupas. Eu estarei esperando por você na sala de jantar. E lembre-se: nada de me chamar de senhor. — e então ele piscou sedutoramente. — Exceto se você gosta desse tipo de fetiche no quarto, querido.
E ele foi embora.
E Harry ficou sozinho, com o rosto brilhantemente vermelho e… um pouco excitado?
Bem, como Harry sempre acabava caindo nessas situações?
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Aquilo com certeza não era apenas uma casa.
Absolutamente cada canto da mansão ecoava grandiosidade e riqueza. As paredes eram adornadas por obras de arte trouxas e mágicas, as janelas tinham uma vista para um grande jardim, o piso era de madeira polida e os móveis eram um espetáculo de elegância e modernidade.
Era de tirar o fôlego.
Enquanto seguia por um caminho que, Harry suspeitou, provavelmente acabaria na sala de jantar, ele sentia que poderia surtar a cada segundo.
No que ele havia se metido? O que as pessoas diriam se soubessem desse acordo? O que seria da carreira dele? E como os seus pais reagiriam? E Remus e Sirius?
Harry parou em frente a uma grande porta ornamentada, enquanto ouvia a família reunida conversar animadamente e pensava no quão ridícula era aquela situação. Talvez se ele desse meia volta e fosse embora, tudo seria resolvido e o Ministro poderia inventar alguma história de término surpresa do seu noivado. Harry sabia que ele, como um político experiente, apesar da pouca idade, seria capaz de mentir perfeitamente bem.
Ao contrário de Harry que, com certeza, cometeria alguma gafe e estragaria todo o plano do representante de toda a comunidade mágica britânica. Como eles fariam isso? Eles não tinham combinado nenhuma história de fundo. No que ele havia se metido?
Mas como a sorte da família Potter era inexplicavelmente grande, a porta foi aberta por um elfo doméstico antes que ele decidisse se deveria adotar uma coragem grifinória e abrir a maldita porta de uma vez ou ser um covarde, ir embora e voltar para a sua depressão debaixo das cobertas do quarto de hóspedes dos Weasley-Granger.
Bem, quando o destino toma a decisão por você, meio que não há escolha.
Por isso, quando a porta foi aberta e o grupo de pessoas ficou em silêncio encarando Harry parado desajeitadamente na entrada, ele sabia que não tinha mais para onde correr. Agora ele era o noivo do Ministro da Magia Britânico.
— Você se está se sentindo melhor, querido? — a mãe de Tom perguntou com uma preocupação real e carinhosa.
— Eu estou bem, senhora. — Harry pigarreou, enquanto entrava lentamente na enorme sala de jantar e se acomodava na gigantesca e desnecessariamente extravagante mesa de mogno, ao lado do seu falso-noivo. — Eu sinto muito por recebê-los tão mal, Sra. Riddle.
— Oh, como ele é um doce. — Mérope sorriu brilhantemente e estendeu a mão para dar um tapinha na bochecha de Harry. — E, por favor, me chame de Mérope, afinal seremos uma família em breve.
Harry engoliu em seco e abriu um sorriso amarelo para a família que o observava com atenção, enquanto pensava novamente: o que diabos ele estava fazendo?
Claro, ele estava ajudando o seu chefe e Harry era bom em ajudar as pessoas.
Ele também não estava fazendo nada de graça e receberia um excelente pagamento. Harry, é claro, também era bom com negociações, ele não era Auror Chefe à toa.
E, no final das contas, ele ainda esqueceria completamente a existência do seu ex-namorado traidor.
Só há vantagens, Harry, fique quieto, siga o fluxo e aproveite.
— Bem, acho que preciso apresentá-los adequadamente. — Tom disse, por fim. — Este é Harry Potter, meu noivo.
Harry assentiu ansiosamente, obviamente para encobrir o nervosismo que ousava subir pela sua garganta e rastejar pela sua pele.
— Harry, este é o meu pai, Tom Riddle Sênior. Meus irmãos mais novos, Melanie e Tobias, e, é claro, minha mãe, Mérope Riddle.
— É um prazer finalmente conhecer vocês. Tom sempre falou muito bem de todos. — Harry acrescentou com um sorriso brilhante, enquanto fazia contato visual com Tom e percebia o quanto ele parecia controlado.
Bom, pelo alguém deveria estar.
— Sério? Tom falava bem pouco de você! — a garota Melanie respondeu com bom humor.
— Melanie, não seja impertinente. — Disse a cópia do Ministro da Magia, o homem Tom Riddle Sênior. Harry pensou que se ele entrasse no Ministério poderia se passar facilmente pelo ministro. — É um prazer finalmente conhecê-lo, Sr. Potter.
— Por favor, me chame de Harry, Sr. Riddle.
— É claro. Eu prefiro que você me chame de Tom, mas acho que seria confuso. — O homem riu ruidosamente e Harry viu o ministro revirar os olhos.
— A Melanie está certa. — Tobias, o irmão de Tom, comentou com um olhar fixo em Harry, que o enervou profundamente. Ele era um bruxo que podia ver a alma das pessoas? Porque se isso existe, esse cara tem esse poder só com um olhar daquele. — Nós tivemos que vir até aqui conhecer para conhecer você, porque Tom se recusava a levá-lo nas férias.
— Nós queríamos conhecê-lo antes do casamento e não do dia da cerimônia, é claro. — Mérope sorriu carinhosamente para o filho e Harry sentiu o seu estômago se revirar de nervosismo.
— Ainda bem que você é bonito. Eu achei que tinha algo errado com você, já que Tom estava te escondendo nessa caverna dele. — A garota Melanie bufou, enquanto enfiava biscoitos na boca.
— Melanie Riddle, que falta de educação. — A mãe encarou a filha horrorizada e Melanie, é claro, se curvou com um olhar de cachorro chutado que fez a mãe revirar os olhos e abandonar a bronca. Garota esperta, ela podia ser uma auror.
— Provavelmente ele só estava mantendo Harry aqui amarrado na cama. — Tobias gargalhou, acompanhado por Melanie que adorou a piada.
— Oh meu Deus! — Mérope murmurou exasperada.
— Desculpe meus irmãos, querido. — Tom se aproximou de Harry, a boca perto do seu ouvido. — Eles nem sempre são assim.
— Eu não me ofendi com nada. — Harry sorriu, satisfeito que o gelo foi quebrado e ele não estava mais tão nervoso quanto antes. Seria moleza passar por toda essa provação, ele tinha certeza.
— Então, como vocês se conheceram? — Mérope perguntou, animada.
Harry pensou que ficou satisfeito cedo demais.
Que porra ele deveria dizer?
Ele é meu chefe, mas eu sempre o achei muito pomposo?
Eu apenas o via de longe nas festas do ministério, achava ele gostoso, mas arrogante demais?
Eu fiquei bêbado na noite passada e ele me levou pra cama dele?
Nos conhecemos ontem e ficamos noivos hoje?
— Bem… — Harry gaguejou sem jeito, tentando ganhar tempo.
Quando Tom falou “No Ministério”, Harry prontamente respondeu “Ficamos presos no elevador” e, bem, aqui está a razão para eles terem combinado isso antes.
— Ficamos presos no elevador do Ministério da Magia. — Harry sorriu com a mentira perfeita e percebeu o bufo de Tom. Faça melhor, ele lançou ao falso-noivo com um olhar mortal.
— Nossa, como assim? — Melanie perguntou interessada.
— Houve um pequeno acidente…
— Não houve nenhum acidente. — Tom resmungou.
— O elevador falhou, docinho. Um problema bastante irritante, eu digo. — Harry revirou os olhos. Ele adoraria ver a cara de Sirius com essa atuação digna de uma daquelas novelas mexicanas que a avó trouxa de Harry tem o hábito de assistir.
— Que perigo! — Mérope exclamou com a mão no peito.
— Sim, senhora. — Harry concordou com olhos arregalados. — As luzes piscaram, o elevador tremeu e então… tudo parou.
Harry fez uma pausa dramática e observou os olhos estupefatos do seu público atento.
— Eu achei que a magia não permitia problemas técnicos. — O pai de Tom questionou.
— Sim, senhor, eu também não sabia. — Harry franziu a testa com falsa preocupação pelo elevador do ministério que nunca deu defeito antes, ignorando o fato de o pai do Ministro, aparentemente, ser um trouxa.
— E o que aconteceu depois? — Melanie sussurrou, os olhos arregalados e atentos na história.
— Ficou tudo escuro. — Harry continuou, impedindo Tom de falar e interromper o seu show. — Eu sou um auror, mas até eu fiquei assustado. Mas então…
Ele parou novamente.
Pausas dramáticas, sabe? Isso é importante para a história.
— E então? O que? O que? — Melanie pulou animadamente na cadeira.
— O elevador caiu. — Harry acrescentou com um aceno solene.
— O QUE? — Mérope hiperventilou.
— Não foi nada. Apenas 1 metro, mas meu coração despencou muito mais, você não tem ideia.
Todos exclamaram horrorizados.
— Mas Tom aqui… ele foi um herói. — Harry observou o rosto em choque do seu noivo, que permanecia em silêncio. Ele ficou sem palavras de emoção, é claro.
— Sério? — Tobias bufou, olhando para o irmão com descrença total.
— Eu estava aterrorizado, sem enxergar nada naquela escuridão do elevador, pensando quando eu veria meus amados padrinhos, pais e amigos novamente. Será que um dia eu sairia dali? Eu ficaria vivo? Eu veria a luz do sol um dia? — Harry pigarreou, percebendo que estava exagerando e incorporando um pouco Shakespeare demais. — Tom me segurou, enquanto o elevador caia, com o seu corpo forte e másculo me protegendo. E quando a luz voltou e eu abri os olhos…
Harry encarou a plateia vidrada e fez o possível para encher os olhos de lágrimas e aumentar a comoção.
— Eu me apaixonei.
— Ah. Meu. Deus. — Melanie exclamou.
— Que lindo! — Mérope enxugou lágrimas de seus olhos.
— Que orgulho, meu filho. — O Sr. Riddle bateu no ombro de Tom, que permanecia em choque, os olhos arregalados. Harry nunca pensou que causaria tantos sentimentos no Ministro da Magia.
— Parece coisa de filme. — Tobias acrescentou.
Não é mesmo?
Talvez Harry devesse abandonar a carreira de auror e se tornar roteirista de cinema. Ele ganharia rios de dinheiro.
— Tom, querido, por que você não contou que conheceu Harry de maneira tão romântica? — Mérope perguntou com os olhos brilhando.
— Sim, você foi um herói, quem diria, hein. — Melanie riu.
Tom encarou Harry com olhos arregalados e furiosos e ele engoliu em seco. Bem, talvez ele tenha se empolgado um pouco com a história.
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— O que diabos você pensa que está fazendo? — Tom sussurrou, quando a família decidiu sair para se acomodar nos quartos de hóspedes.
— O que você quer dizer? — Harry respondeu com um sorriso amarelo.
— Que história ridícula foi aquela? Você entende que se uma mentira como essa vazar para o Profeta Diário, seria um caos para a minha carreira?
— Então, você deveria ter me preparado melhor, Sr. Ministro. — Harry resmungou irritado. — Eu estava em uma situação difícil aqui e tive que pensar de última hora.
— E você pensou na queda de um elevador mágico que, em mais de 80 anos, nunca deu defeito no Ministério da Magia, quando poderia apenas ter dito que nos conhecemos, porque eu sou o seu chefe? — Ele argumentou coerentemente, claramente frustrado. Harry sentiu o rosto enrubescer, mas manteve-se firme.
— Foi bem mais interessante. — Harry murmurou.
— Não é nem um pouco plausível, Harry. Ninguém acreditaria nisso.
— Ninguém percebeu que era mentira.
— Eles são educados demais para comentar. — Ele revirou os olhos.
Harry suspirou.
— Olha, Sr. Riddle, se você está incomodado, então me dispense-
— Eu já disse para você me chamar de Tom.
— -invente que o seu noivado terminou e siga a sua vida.
— Eu não farei isso!
— Eu caí nessa merda de paraquedas, eu nem queria estar aqui.
Um brilho magoado passou rapidamente pelo olhar do Ministro da Magia, mas Harry mal percebeu.
— Tudo bem, tudo bem. — Tom interrompeu. — Eu sinto muito por ter reagido assim. Me desculpe! Nós deveríamos ter pensado em uma história de fundo melhor, você tem razão.
— Se você pretende convencer a sua família, terá que se esforçar muito mais. — Harry fungou irritado.
— Claro, querido. — Tom lançou um daqueles sorrisos desnecessariamente bonitos que fazia o estômago de Harry vibrar, mas ele fez o possível para não reagir. Especialmente no meio de uma discussão de relacionamento.
Finalmente, Tom se levantou da mesa. Antes de deixar a sala de jantar, lançou um pacote para Harry, piscou e saiu sem dizer uma palavra.
Harry ficou boquiaberto, encarando o pacote em suas mãos. Era uma pequena caixa de veludo preto. Dentro dela, um anel adornado com diamantes brilhantes.
Bem, parece que ele não podia mais fugir.
Harry Potter estava oficialmente em um noivado com o Ministro da Magia Tom Riddle.