LETÁLIS

天官赐福 - 墨香铜臭 | Tiān Guān Cì Fú - Mòxiāng Tóngxiù 天官赐福 | Heaven Official's Blessing (Webcomic)
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LETÁLIS
Summary
Após o assassinato trágico de seu pai, Xie Lian vê sua vida e tudo o que possui sendo ameaçados. Com a ajuda de uma mulher misteriosa, ela tenta descobrir quem são aqueles que tentam extinguir o nome de sua família a todo custo."I wonder when did I get so desperate for love?When she first appeared in front of me like the sun every morning or the bright white moon?For all those times my eyes found her and I felt the flame in my chest, growing and growing until I burned in fire?"
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WALDEINSAMKEIT

Xie Huang e Xie Daiyu conseguiram ser enterrados no mesmo dia, as autoridades seguraram o corpo do homem por tanto tempo, que até mesmo sua esposa pode acompanhá-lo. Infelizmente não foi possível descobrir nada. Não houve uma grande cerimônia como comumente acontecia com os finados de classe mais favorecida, sequer foi possível ter um velório também, mesmo que os únicos presentes pudessem ser apenas Xie Lian e alguns empregados, a forma que ambos os pais terminaram era dolorosa demais de se ver.

— É estranho estar aqui? Tão quieto e gelado, provavelmente não será frio no verão. Mas vai chover bastante, e há muitas árvores. — Xie Lian estava sentada de frente para o par de cruzes novas no gramado verde, o sereno havia o deixado úmido assim como os poucos buquês postos, e como o tempo ainda estava fechado era possível que elas não se secassem tão cedo. — Não é tão ruim. Certo?

Uma gota gelada cai em seu rosto, grosseiramente nas mangas de seu vestido escuro. Em questão de segundos, seus cabelos já estão encharcados e se desprendendo em suas costas. Aquela gota gelada estranhamente se tornou morna, quente, e, sem se dar conta, os olhos arderam por lágrimas salgadas, que insistiam em rolar por sua face. Não havia ninguém ao redor, ninguém a observando, pelo menos nesse momento. Sendo assim, Xie Lian podia chorar por seus pais, uma última vez.

— Eu também poderia me acostumar. Não seria tão difícil — sua voz era como um sussurro, apenas para si mesma, perdida em dor. — Por quanto mais eu ainda tenho que ser forte?

Subitamente, o barulho de passos suaves se fez em meio ao cair da chuva e trovões, ele se aproximava e parecia vir em sua direção, mas Xie Lian só percebeu um tempo depois, quando não havia mais água caindo em sua cabeça e uma estranha presença posicionada ao seu lado a cobria com um guarda-chuva grande o suficiente.

— Meus sentimentos pela sua perda, senhorita Xie — disse. — Sou Yushi Huang.

A mulher em pé ao seu lado era estranhamente agradável. Seu rosto era bonito e com traços de gentileza em seu mínimo sorriso. Seu qipao verde-claro era um tanto mais folgado que o seu, com mangas que iam até o antebraço com um padrão de folhagens e flores de mesma cor bordados na seda bonita. Havia uma espécie de sino em forma de borboleta prateada e brilhante pendurado em seu guarda-chuva bege.

— Oh! Obrigada, é um prazer conhecê-la — Xie Lian se levantou, secando o rosto e falhando completamente em organizar sua aparência completamente arruinados pela chuva, por sorte a mulher em sua frente não parecia se importar muito, mesmo depois de a olhar de cima a baixo, lhe oferecendo um lenço imediatamente. — A senhorita conhecia meus pais?

— Não é uma surpresa que eu os conheça, já que toda a cidade o faz — sorriu, conseguindo um breve levantar nos cantos dos lábios de Xie Lian. — Mas eles ajudaram a mim e a algumas amigas no passado. Devo algumas coisas a ambos.

— Talvez sua dívida tenha sido perdoada já que... eles não podem mais cobrá-la.

— Pelo contrário. Agora é o momento mais propício para quitar um débito — da mão em suas costas, ela tirou um buquê cheio de rosas brancas e lírios aranha, colocou-o entre os túmulos e se voltou para a outra novamente. — O cemitério logo vai fechar, caminharia comigo?

Xie Lian ficou surpresa por um momento, não havia muitos que queriam caminhar ao seu lado recentemente, mas uma pessoa estranha estava disposta, e isso era incomum. Ela lançou um último olhar pesado para seus pais e acenou suavemente para a mulher, ambas saíram logo em seguida.

— A senhorita sabe algo sobre raposas? — perguntou de repente, parecendo muito distraída enquanto lia as placas com os nomes.

— Bem, não muito além de toda a má-reputação — Yushi Huang sorriu minimamente.

— De fato, elas não são muito bem vistas. Mas possuem uma ótima memória, sempre lembrarão daqueles que a lançaram pedras, e de quem as estendeu a mão. São espertas e boas para se ter por perto — começou a dizer. A essa altura, ambas já estavam perto dos portões, e a chuva já havia diminuído consideravelmente. — São traiçoeiras dizem, talvez por isso seja raro vê-las por aqui.

— De fato. Mas onde quer chegar, senhorita Yushi?

— Não é algo que parece muito sério, mas estou aqui para informar que uma raposa virá até você, a mais astuta e confiável. Ela será de grande ajuda e abrirá seus olhos. Mas tome cuidado, Xie Lian, tente não se encantar demais.

— Uma raposa ? — a confusão tomou sua face, em comparação, Yushi parecia tão serena quanto antes. — Mas como uma raposa poderia me ajudar agora?

— Você vai descobrir em breve. Parece que seu carro já está aqui, eu vou indo também — apontou, a deixando no escuro sobre esse assunto e se despedindo logo em seguida. — Nos veremos no futuro, senhorita da família Xie, te desejo uma boa sorte.

Havia um carro esperando por ela também. Sem dizer mais nada, Yushi Huang se foi, a deixando apenas com um ultimato estranho.

 

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Um mês se passou quase completamente. Estava frio nesses últimos dias e quanto mais gelado ficava, mais Xie Lian tinha a esperança de que a tal raposa aparecesse logo, mesmo mantendo suas dúvidas a respeito disso.

Em uma manhã, o velho contador Meng, amigo de seus pais, veio até a sua casa. Antes, ele costumava vir uma vez por mês, visto que Xie Huang tinha um papel mais ativo nos negócios da família, contudo, agora ele fazia a gentileza de aparecer a cada semana, informando detalhadamente tudo para Xie Lian:

— O hotel e o mercado principal continuam indo bem, a fazenda também teve uma colheita excelente — comentou, entregando as notas principalmente com dados do restaurante. — No caso do Tiantang, é preciso de uma presença constante para funcionar melhor, mesmo que uma crise esteja longe de acontecer. Talvez considere vendê-lo.

— Isso não será possível, quais opções ainda temos?

— Nada tão valioso quanto. Talvez dê para manter tudo se nada sair do planejado, é incerto, mas ainda há uma grande chance.

— Logo será verão, contanto que o estoque seja feito corretamente não será um problema quando o inverno chegar, é possível abastecer o Tiantang e a casa.

— Certamente. A senhorita não precisa se preocupar muito, minha empresa garante que tudo será administrado com a mesma excelência de sempre — disse. Estranhamente suas palavras pareciam firmes demais, coisa que nunca havia visto antes.

— Agradeço ao senhor. Nunca duvidei de seu trabalho.

Não muito depois, ele se foi. O clima parecia estar mudando mais uma vez, sempre havia uma chuva insistente que a fazia se lembrar de coisas ruins. Porém, dessa vez ela lhe trouxe algo a mais.

Faltava pouco para que o relógio badalasse a meia-noite. Na sala de estar, Xie Lian estava sentada na poltrona branca, próxima a uma das janelas com vista para o jardim. Em noites assim, quando o frio era um pouco demais, ela costumava se sentar no carpete macio em frente a lareira acesa com seus pais, sempre havia algo doce para dividir e, mesmo que ficassem em silêncio, ainda havia o crepitar suave e a quietude confortável.

Certa vez, os três tentaram listar todos os membros da família, quase completando uma árvore genealógica.

"Sua mãe era adorável. Quando ia até minha casa, era como se os sinos de vento a anunciasse — seu pai disse ao achar uma foto deles juntos quando crianças. Os dois não tinham a capacidade de permanecer perto sem que despejassem afeição um no outro."

"Eu os ouvia também — o rosto de Xie Duyia parecia levemente corado. — Uma vez quando cortei minha mão em uma árvore, seu pai ficou tão preocupado e quase chorou no meu lugar, eu os ouvi enquanto ele cuidava de mim."

"É claro que fiquei, parecia doloroso — comentou meio emburrado, pegando a mesma mão e olhando para a palma. — Veja, A-Lian, ela ainda tem a cicatriz."

"Como são esses sinos?"

Seus pais se entreolharam, pareciam pensar seriamente por um momento.

"Não são como sinos normais, o tilintar é semelhante, mas não idêntico — seu pai respondeu. — Para mim, parecia suave e distante, como um eco longínquo em um campo aberto."

"Mas como o distinguir de um comum? — perguntou. — Pelo que parece, ele é tão raro que talvez eu nunca o escute."

" Claro que vai, minha linda flor — sua mãe disse, deixando um breve selar em sua testa. — Não seja impaciente"

Dessa vez, a lareira não foi acesa e muito menos algo doce. A única luz no ambiente vinha do abajur amarelado e daquelas que surgiam minimamente pelas janelas. Com isso, Xie Lian tentava dar uma última olhada em todos os documentos, mas essas lembranças ainda vinham uma atrás da outra. Sua casa era grande, e parecia ainda mais agora.

A sonolência também pesava em suas pálpebras, quando tudo se tornou escuro e seus olhos se fecharam, a luta já estava perdida. Tão rapidamente, ela sonhou com sinos e borboletas prateadas que meneavam por toda a extensão de seu jardim, rodeavam sua casa e o mínimo brilho produzido refletia nas janelas em todos os andares. E então, a uma distância suave, um tilintar discreto reverberou em seu sonho, tal som parecia animar ainda mais as pequenas borboletas, os sininhos vinham e vinham de todos os lados, cada vez mais próximos.

O tinir se fez tão presente que dessa última vez fez com que Xie Lian acordasse em um pulo, tão real que ainda podia ouvi-lo lá fora. Em um impulso impensado, ela irrompeu porta afora, em meio a chuva que encharcava sua camisola branca e o vento incrivelmente ríspido contra sua pele. Aquele sino ainda parecia estar bem ali, mas parecia se perder com o tempo.

— Senhora! O que está fazendo aí ? — uma moça que servia em sua casa a chamou lá de dentro. — Vai se resfriar!

Xie Lian a ignorou, correndo descalça pelos tijolos cinzentos até que estivesse em frente a rua que deveria estar vazia. O sininho ainda tocava e, tão focada em encontrá-lo, com os cílios pesados pela água, quase não notou a figura corpulenta do outro lado da rua, completamente voltada para sua casa e que, sem hesitar, sacou um cano longo de sua cintura, o rosto alheio estava coberto e as luzes dos postes não serviam de muita ajuda.

A arma foi apontada em sua direção e ele não erraria de uma distância tão curta. Xie Lian tinha o impulso natural de desejar correr e tentar se proteger caso fosse possível, mas seus pés se recusaram a dar sequer um passo, tão pesados quando seu peito estava ao longo dessas semanas. Havia medo apesar de tudo, pensando bem talvez isso fosse o melhor.

Fechando os olhos, o frio parecia pior, como o real abraço da morte. O barulho do disparo pareceu tão alto que arrepiou sua pele, as unhas se cravaram na palma da mão e o que restava era esperar o impacto contra si.

— Foi uma vida ótima, apesar de tudo. — pensava. – Um tiro deveria demorar tanto?

Ao invés do impacto, Xie Lian ouviu o sino bem próximo a si.

— Pá! — houve um toque suave em sua testa, o contrário do que uma bala deveria ser, e, ao abrir os olhos, havia uma mulher parada em sua frente, completamente vestida de vermelho e preto, com o indicador a tocando. Não havia mais nenhuma chuva ou vento, e ela parecia tão perto que mal soube reagir. — Era isso o que esperava, Xie Lian?

— O quê ? — nem mesmo sabia o que dizer, seu corpo ainda estava meio paralisado, mas agora parecia aquecido e estranhamente seguro.

A mulher saiu da vista de Xie Lian, abrindo o caminho para que vislumbrasse a mesma bala parada no ar bem perto de si e o homem do outro lado que pareceu despertar também, igualmente ou mais confuso que Xie Lian, se preparou para correr como o covarde que era.

— Vamos resolver esse problema primeiro — disse, fazendo uma arma com seus dedos e mirando na direção daquele que estava tomado por medo. A bala liberada anteriormente mudou seu rumo, virando-se para o mesmo caminho de origem, e então ela "atirou", acertando-o perfeitamente na nuca. — Hm. Um lixo tão simples de remover como esse.

Xie Lian estava tão incrédula que suas pernas pareciam querer falhar e se dobrar, contudo havia um braço ao redor de sua cintura. Com o último resquício de coragem que lhe sobrava, lançou um olhar para a mulher.

— Como fez isso? — questionou. — Quem é você?

— Para você, sou sua San Niang — respondeu, descaradamente alcançando sua mão e depositando um leve selar. — É um prazer finalmente conhecê-la.

 

* WALDEINSAMKEIT (Alemão): Sentir-se como se estivesse sozinho em uma floresta.

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