LETÁLIS

天官赐福 - 墨香铜臭 | Tiān Guān Cì Fú - Mòxiāng Tóngxiù 天官赐福 | Heaven Official's Blessing (Webcomic)
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LETÁLIS
Summary
Após o assassinato trágico de seu pai, Xie Lian vê sua vida e tudo o que possui sendo ameaçados. Com a ajuda de uma mulher misteriosa, ela tenta descobrir quem são aqueles que tentam extinguir o nome de sua família a todo custo."I wonder when did I get so desperate for love?When she first appeared in front of me like the sun every morning or the bright white moon?For all those times my eyes found her and I felt the flame in my chest, growing and growing until I burned in fire?"
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Sombra

Viver é como estar plantada em uma floresta extensa, onde todos possuem raízes no chão e folhas ao vento, mas nenhuma realmente é especial. Algumas são como árvores, tão longas e duradouras quanto o próprio tempo, anciãs que quase poderiam tocar o céu. Resistentes tal qual as marés cheias se chocando violentamente contra o que estiver pela frente, ou as tempestades violentas que arrastam e destroem. Infelizmente, para o Xie Huang, suas esperanças para uma vida que se estendesse por anos e anos, morreram com ele naquela noite austrífera de sábado.

O céu parecia muito mais escuro naquele horário pela manhã em Xianle. Não restava sequer uma estrela e em poucos minutos o sol logo surgiria, radiante e incômodo pelas ruas que iriam se tornar cheias e inquietas.

Na rua próxima à ponte, por onde os riquixás e carros vistosos passavam de hora em hora, havia um elegante e famoso restaurante chamado Tiantang, que era tão antigo quanto a própria cidade. Ele era adornado por paredes brancas e douradas, as janelas na frente e aos lados exibiam vitrais azuis como o céu, cada um destacando uma flor rara, eram lindos todos diziam, mais bonitos que os próprios da igreja. Os pilares rodeados por flores de jades azuis se erguiam mantendo a estrutura que realmente se assemelhava a um templo para o mais amado e adorado deus.

Xie Huang mesmo dizia que era um templo para sua única filha querida, Xie Lian, tão honrada e bonita quanto uma deusa. Ele costumava ter uma mão dourada para os negócios, estava acostumado a ser abastado e não ter problemas financeiros desde a infância, seu tesouro era antigo, vindo de imperadores e nobres. Infelizmente, tal talento também atraía aqueles que estavam desgostosos com tanto sucesso alheio, e esses eram muitos.

Então, na dita madrugada, ele havia ficado por último para fechar o restaurante e tratar algumas pendências que realmente o custou a noite toda. Como sua esposa tinha o levado mais cedo, estava sem seu carro e pelo quão tarde era, seria impossível conseguir alguma carona, só lhe restava então fazer seu caminho a pé.

A volta não era demorada de qualquer forma. Ele cruzava aquela ponte longa que, por ser em um lugar bem centralizado, era ainda mais bonita quando a lua estava cheia, a luz refletia nas águas serenas e era um ponto de encontro para jovens casais que se escondiam por entre as nogueiras. Sua filha gostava do desabrochar das flores, ele planejava trazê-la ali em algum momento.

Contudo, tudo estava extremamente vazio e o céu era coberto por nuvens pesadas e vermelhas que hora ou outra eram iluminadas em sequência.

O clima era bom, e o vento ainda não era tão forte, visivelmente, tudo ali seguia uma ordem reta e crescente, assim como deveria ter sido, exceto, é claro, por Xie Huang que subitamente tomou outro caminho, esse que o levaria para uma parte que era repleto por luzes vibrantes e atraentes, e que o odor do perfume feminino de sândalo fresco e amadeirada que preencheu seu olfato, impregnava todos os pedaços daquela longa avenida com incontáveis prostitutas vestidas em seda curta, bêbados e adúlteros.

De fato, o rico Xie Huang, que era um exemplo de marido e pai, cuja honra era totalmente imaculada, não era um frequentador comum por essas bandas, ele sequer parecia muito feliz em estar andando por ali em tal horário, mas a causa era realmente óbvia.

Ele estava sendo seguido.

Sequer era a primeira vez. Há algumas semanas ele notou que sempre havia um par de pés pisando em sua sombra, em certas noites até mesmo em seu próprio restaurante, outras enquanto caminhava pela rua como agora. A cada dia que se passava, tais pés pareciam se aproximar mais e mais, e algo deveria ser feito. Xie Huang sabia que não passaria dessa noite, ele também sabia que sua família ficaria frágil quando ele faltasse, algo deveria ser feito ainda hoje.

Uma das entradas à direita em um beco era fechada, a rua que surgia ali não possuía uma saída, ao contrário, um extenso terreno se abria até mais ao longe e uma mansão em preto, vermelho e prata se exaltava acima de qualquer outro estabelecimento, era como um palácio onde a própria imperatriz poderia residir.

A moça que estava na porta vestia verde e branco, com um leque que sequer servia para produzir um sopro, ela se recostava despreocupada em um pilar e observava o movimento ou flertava com alguns rapazes bonitos que passavam. Ao avistar a chegada de um conhecido, ela pareceu inocentemente animada.

- Velho Xie! Como é bom vê-lo! Já é tarde, por que está andando por aqui ? - ela sempre fora falante e doce, em um dia comum o encheria de perguntas e ambos conversariam por horas e horas, mas a palidez na face do homem era evidente mesmo com toda a luz vermelha, além de que suas mãos tremiam um pouco. O medo do outro a alertou, seu sorriso bonito se foi completamente e o leque agora mais parecia uma arma em sua mão. - Estão o importunando de novo, não é ? Nos deixe resolver isso de uma vez.

- Qingxuan, preciso ser rápido, isso não é importante, não se preocupe. - Do bolso interno de seu paletó marrom, ele retirou um envelope escuro, não havia nada escrito por fora, mas ele o depositou firme na mão da mulher em sua frente. A chuva começou a cair. - Entregue isso à sua senhora, por favor. Não deixe que ninguém veja, e vá rápido.

- Você tem certeza? Sabe como ela pode ser difícil, seria mais fácil se...

- Eu sei, eu sei. Mas ela é tudo que me resta agora. - A apertando na mão de Qingxuan, ele completou. - Peço por favores também, A-Xuan, no futuro... fique de olho na minha filha por mim.

A moça ficou em silêncio por um instante, o que não durou muito visto que Xie Huang já a soltava para ir embora.

- Eu prometo. Uma retribuição pelo quanto já nos ajudou.

A última coisa que lhe disse, antes que o homem finalmente se fosse, apressado através da água, ela também seguiu seu caminho para dentro da mansão. Com o pé já na porta, um estranho arrepio correu por sua espinha, algo frio e tenebroso e que, infelizmente, ao virar-se para ver, já tinha fugido para longe de seus olhos. Provavelmente na mesma direção que o velho Xie.

Na manhã seguinte, o corpo do Xie Huang foi encontrado enforcado, imóvel e pendurado naquela mesma ponte enfeitada por nogueiras amarelas que, ao contrário de si, ainda se movimentavam lindamente. O sangue vindo de seus olhos perfurados escorria como lágrimas rubras de desespero, a chuva que ameaçava desabar anteriormente finalmente veio na madrugada, limpando qualquer possível pista deixada pelo assassino, impiedosamente. Entre aqueles que viam o cadáver, havia uma dama vestida de vermelho da cabeça aos pés, e, antes que qualquer um pudesse notar sua presença, se esvaneceu em meio às gotas que caíam ao chão manchado pelo sangue de Xie Huang.

As pessoas com imaginário forte comentavam e fofocavam sobre a possível causa de uma morte tão violenta. Seria por dívidas perigosas? Visto que boatos se espalharam sobre o restaurante não estar indo tão bem quanto antes. Por envolvimento em coisas ilegais? Alguns até mesmo afirmavam tê-lo visto na avenida carmesim; o que provaria alguma inescrupulosa teoria sobre a mão de sua esposa ao descobrir seu envolvimento com alguma meretriz, Xie Huang era um homem de meia-idade muito bonito e endinheirado, não seria surpresa se encantasse algumas jovens por aí. Boatos ruins se espalham muito rápido. Tão rápido que logo chegaram aos portões da família Xie.

Em uma semana, tudo estava desabando. Como a família importante que era, não havia apenas um negócio que a sustentava, algumas outras lojas e estabelecimentos também pertenciam aos Xie. Porém, os sábios eram aqueles que se retiravam em tempos de crise, e com essa que estava iminente, muitos investidores fugiram desse fardo antes que se tornasse pesado demais. O nome prestigiado parecia se afundar mais e mais.

Por dentro dos portões dourados da mansão, a situação não era nada boa. Alguns empregados foram despedidos e reduzidos pela metade, se para economizar dinheiro ou pela iminente falta dele, isso era impossível saber.

A Madame Xie Daiyu estava imersa em dor, ela costumava passar as tardes no jardim, com aqueles que se diziam amigos e até mesmo com quem trabalhava ali. Ela dizia que não existia hierarquia ali, aqueles que cuidavam de seu lar eram tão pertencentes quanto ela. Uma mulher jovem e amável, que nunca se fazia tirana ou esnobe pela sua posição.

Mas o declínio caiu pesadamente sobre suas costas. Uma tristeza profunda se instalou em seu coração, ela mal saía de seu quarto agora, não comia ou se levantava e os poucos que a viram, afirmavam que sequer parecia a mesma, seus olhos perderam a vida e não seria surpresa se em breve ela perdesse também. Ela e Xie Huang se conheciam desde a infância, e o casal era muito unido mesmo com todos esses anos. Tal perda foi como uma facada em seu peito, uma que arrancou toda a sua alegria de décadas repentinamente.

Sendo assim, restou apenas para a filha manter o pouco que ainda lhes restava.

Xie Lian possuía dezenove anos recém-completos, era inteligente e gentil, além de ser tão bonita quanto sua mãe, quase etérea e encantadora. Desde jovem ela foi ensinada por seu pai sobre questões relacionadas aos negócios da família. Era um mundo difícil para as mulheres, mas ela era persistente e estava se saindo bem na medida do possível, ainda havia um teto seguro e a fome não era um problema imediato, sua mãe logo passaria por isso e ficaria bem, então tudo melhoraria.

Ela não recebeu nenhuma ajuda de fora, nenhuma mão se estendeu para si nesses tempos sombrios. Em contrapartida, todos os dias cartas de jovens cavalheiros lhes eram entregues desejando-a em casamento. Todos realmente conhecidos e até mesmo próximos, mas nenhum que não desejasse tirar proveito, nenhum era amigo.

Seu pai lhe avisou muito sobre esses. Mas muitas coisas ainda lhe faltavam, a sabedoria que lhe seria ensinada se perdeu assim que o homem se foi e sua casa começou a corroer como uma doença. A esperança era seu ponto fraco, a raiz que ainda resistia em seu coração, e ele foi atingido no dia em que Xie Daiyu se matou.

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