
Convites
Três palavras. 13 letras. 1.556.755.200 maneiras em que poderiam estar dispostas. Se considerado o acento circunflexo, seriam 3.113.510.400 combinações possíveis. Todavia, apenas um dos anagramas tinha sido suficiente para tirá-lo do prumo: “Você tem planos?”. A frase de Dorcas ressoava, sem intervalo, em sua cabeça. Para cada centena de vezes em que pensava no assunto, arquitetava somente uma forma de sair da teia de aranha em que estava preso. Nenhuma delas parecera realmente boa até agora. “Você tem planos? O Dimitri vai me conseguir um convite pro baile de formatura”.
Devia estar entusiasmado com a chance. O baile de formatura era o evento mais concorrido entre o corpo estudantil de Hogwarts, sobretudo pelo caráter anual. Os formandos tinham um número limitado de convites para distribuir e não havia outra forma de consegui-los. A venda era terminantemente proibida, garantida por feitiços anti-comercialização extrafortes. Havia dezenas de anúncios fixados nos quadros de aviso, implorando por um convite para os formandos que tivessem algum sobrando. Ninguém tinha. Era comum que na segunda ou terceira semana de aula os setimanistas já tivessem comprometido todos os convites em promessas.
Não havia uma boa explicação sobre como os comitês conseguiam fazer milagres com o orçamento todos os anos, mas o fato de sempre haver uma boa quantidade de alunos da Sonserina envolvidos ajudava um pouco a entender. A multiplicação dos recursos era uma benção que somente as famílias mais abastadas podiam sustentar. Nada fazia mais sentido do que a casa com maior concentração de riquinhos por metro quadrado tomar a frente da organização. Boa comida, bebida em profusão (havia álcool inclusive para os menores, por baixo dos panos, é claro) e as bandas mais famosas entre os bruxos adolescentes, tudo isso sem precisar desembolsar um só galeão. Como evitar que a corrida pelos convites fosse uma disputa maior até do que a taça das casas?
Dorcas tinha conseguido um convite, mesmo estando no quarto ano. Era um feito e tanto! Dimitri Thomas e Edgar Bones faziam questão que o time inteiro estivesse lá para comemorar com eles. Era um arroubo de sorte que Remus tivesse sido convidado por tabela. Porém, tudo o que ele queria era sumir. Uma pequena parte de sua consciência insistia para que ele dissesse sim e fosse ao baile. Só teria outra chance dali a dois anos, quando ele mesmo fosse formando. Outra parte, felizmente, muito maior, sabia bem o quanto seria errado esperar o fim do baile para terminar tudo com Dorcas. A batalha entre os dois lados estava deixando sua mente ensandecida, sobretudo porque não conseguia encontrar uma forma gentil de pôr um ponto final na relação.
- Ei, Sirius! – Do outro lado da sala comunal, Marlene gritou acima do burburinho. – Quer ir comigo?
- Demorou, gata! – Almofadinhas deu uma piscadela propositalmente exagerada, para fazer a garota gargalhar.
- 2 minutos e 49 segundos desde que distribuíram o primeiro convite e já temos um vencedor. Acho que é um recorde! – Rabicho bateu palmas.
Faltava uma semana pro fim do quinto ano. Uma semana exata pro dia em que os alunos embarcariam no Expresso em direção às férias de verão. Todos, exceto aqueles que fossem convidados pro baile. A cerimônia e a festa que a sucedia aconteciam sempre um dia depois do encerramento do ano, deixando o castelo apenas para os alunos que fossem portadores dos tão desejados convites. Dois dias de terror para os professores, com um bando de alunos de férias na imensidão de Hogwarts e um desfalque enorme no grupo de monitores. Remus podia imaginar porque os setimanistas esperavam tanto pelo último dia.
- Duas entradas! Sucesso, meus amigos! – Os pedaços de pergaminho cintilavam na mão erguida de Pontas, mas não tanto quanto o sorriso orgulhoso que ele exibia. – Eu sinto muito, Rabicho, mas acho que tenho que convidar uma garota.
- Não importa, Pontas! Meus pais programaram a chave de portal pra Cornualha no dia seguinte ao Expresso. Eu não conseguiria mesmo ir. Talvez o Aluado fique mais frustrado.
- Acho que o Aluado não vai precisar do meu convite. – Pontas usou os olhos para indicar o restante do time reunido.
- Isso não devia ser um problema não é, Pontas? Essas duas entradas são só o começo. – Almofadinhas indagou, ácido. – Ela não tem convites? – A pergunta saiu como um murmúrio, sobreposta pela subsequente curiosidade de Rabicho.
- Ela quem?
- A namorada dele.
- Quem? A Evans? Ninguém nunca daria um convite praquela pé no saco!
- Ou ela não te convidou? – Sirius ostentava um sorrisinho sarcástico.
- Ainda não. – Fechando a cara, Pontas enfiou as entradas no bolso antes de rumar para o dormitório.
- O que deu nele? – Rabicho coçou a cabeça.
- Precisava? – Remus repreendeu o outro com o olhar.
- Não. – Almofadinhas deu de ombros. - Mas foi delicioso!
A convivência com dois orgulhosos e imaturos egocêntricos era desgastante. James estava certo em se preocupar que Sirius descobrisse sobre ele e Narcissa. Dividir o cômodo com os dois tinha se tornado insuportável depois da briga. Havia farpas demais em todas as conversas e ambos se negavam a admitir que pudesse haver qualquer resquício de erro em suas opiniões. A dor de cabeça era uma constante e assim continuaria enquanto os dois se recusassem a ceder. Em outros tempos, Remus teria ficado preocupado. Contudo, sua mente andava ocupada demais com os próprios problemas para que se intrometesse naquela estúpida briga de pavões.
- Olá, meninos! – Dorcas veio pelas costas dele, colocando as mãos em seus ombros. – Eu estou tentando falar com você há dias!
- Sério? – Fingiu uma expressão surpresa. – Vamos conversar lá fora? O tumulto parece que não vai terminar tão cedo...
Com as mãos enfiadas nos bolsos, Remus caminhou para fora do buraco do retrato. O caos era tamanho que a Mulher Gorda não parava de girar de um lado para o outro, alegando aos berros estar enjoada. Se afastaram um pouco da Sala Comunal, vagando pelos corredores próximos. Seu estômago estava embrulhado, ciente de que não teria como escapar da conversa.
- Eu estava pensando... Ai, você vai rir de mim, eu já sei, mas devíamos combinar nossos trajes! – Ela tinha um sorriso culpado no rosto, embora não conseguisse conter a agitação. Estava maravilhosa pintada pelo entusiasmo. Remus desejou desenhar aquele sorriso em seus esboços.
- Dorcas, eu não...
- Eu sei que pode parecer ridículo, mas isso é a melhor parte! A gente vai fazer isso de propósito, porque é brega, enquanto todos eles fazem achando que estão arrasando. Não é demais?
- Dorcas, eu não...
- Sério, chuchu! Por favor! Vai ser legal!
- Eu não vou, Dorcas.
- O quê? Por quê? - Ela franziu o cenho. – O problema é grana?
- Seria um dos, mas...
- Eu posso te emprestar! Guardei minha mesada o ano inteiro pra isso. Já sei! Tem um lugar de sorvete incrível lá perto de casa. Deixa a Florean no chinelo! Você pode me pagar um sorvete quando formos.
- Dorcas.
- Bom, teriam que ser dois ou três, mas o verão é bem longo...
- Dorcas.
- A gente vai ficar tão fofo, Remus! Não tem problema, de verdade.
- Eu não vou, Dorcas. – Ele parou de caminhar, forçando-a a fazer o mesmo e fixar o olhar nele. – Não vou a lugar nenhum. Ao baile ou a sua casa.
- Por que não? – Ela piscou lentamente, os olhos de gatinho tornando-se enormes a medida em que passeavam pelo rosto dele.
- Dorcas, eu... – Passou a mão na base da nuca. – A gente não pode mais sair.
- Como assim?
- Eu e você. As coisas estão saindo do controle...
- Que controle?
- Essa coisa do baile...
- O que tem de errado nisso, Remus? Eu pensei que nós éramos amigos.
- ISSO! Amigos. Você não vai a bailes ou convida um amigo pra ir à sua casa nas férias.
- É claro que convida! – A garota parecia assustada. – Você nunca foi nos Potter?
- Não.
- E nos... – Repensou o que ia dizer. - Esqueça sobre os Black. Você nunca foi na casa dos Pettegrew?
- Não.
- Por que não????
- Eu não faço isso, Dorcas... Você não entenderia.
- Eu pareço burra?
- Não.
- Então me explique!
- Não é tão simples assim.
- Por que não? Eu te convidei para o baile e você diz que não pode ir. Por que não pode? Me diga! Posso não ser um gênio, mas tenho certeza de que sou dotada de capacidade o suficiente para compreender isso.
- Eu não tenho relacionamentos românticos, ‘tá legal? – Admitiu, largando as mãos ao lado das pernas. - Eu e você, já foi longe demais.
- Eu estou te convidando pra um baile, Remus! Ok, a coisa da roupa combinando pode assustar um pouco, mas é só um baile! Comer um monte de comida chique, encher a cara, dançar, talvez dar um beijo ou outro, SE você quiser... É só um baile.
- Não dá, Dorcas.
- EU NÃO ESTOU TE PEDINDO PRA SE CASAR COMIGO! – Dorcas já tinha elevado o tom de voz, consternada. - Não sou esse tipo de garota. É só a porra de um baile!
- Me desculpe, mas eu não posso.
- Não posso, não vou, não faço... Por que você se coloca tantos limites que só existem na sua cabeça?
- Você entenderia se soubesse.
- ENTÃO ME EXPLIQUE!
Remus respirou fundo. Era exatamente por isso que não podia ter um relacionamento romântico. Relacionamentos de qualquer tipo eram complicados pra pessoas como ele, especialmente um que requeria um nível de confiança tão profundo. Nada bom podia partir de uma mentira. E a única forma que gente como ele tinha pra sobreviver era a mentira. Por que tinha ido tão longe com Dorcas? Agora estava enrodilhado em um visgo do diabo e era incapaz de relaxar pra se soltar.
- Eu queria que fosse diferente. O problema não é vo...
- Não se atreva a dizer que “o problema não é você, sou eu”!
- Vai ser melhor assim, Dorcas. Pra nós dois.
- Se você não pode ser sincero comigo ao ponto de me dizer o que aconteceu ou simplesmente que eu sou uma chata do caralho e você encheu o saco, acho que eu me enganei sobre você esse tempo inteiro... Me desculpa ser clichê assim, mas eu pensei que você era diferente.
Não houve lágrimas, ao menos, ainda que a tensão no ar denotasse que ambos seguravam as gargantas com um nó. Ela simplesmente foi embora, negando-lhe a oportunidade de fitá-la uma última vez. Para alguém à margem até mesmo um olhar era muito e Remus tinha acabado de partir o coração de uma das únicas pessoas que tinha olhado de verdade pra ele em todos aqueles anos.
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- Feliz? – Evan ofereceu um pacotinho aberto de tabletes de nugá.
- Vou estar mais quando tudo isso acabar. – Suspirou, balançando a cabeça para negar o doce.
- Está quase lá! Aposto que você vai sentir falta depois.
- Seria uma surpresa, porque agora eu poderia estalar minha mão na cara de metade do comitê com prazer.
- Essa é uma cena que eu ia adorar ver!
- Sério? – Ergueu uma das sobrancelhas com ironia.
- Violência praticada por mulheres bonitas? – Ele parou um instante pra mastigar o nugá. - É a minha religião!
- Idiota!
Dizer que estava exausta tinha perdido o sentido. Esse parecia ser o único sentimento que a dominava nas últimas semanas. Ou meses. Ou anos. Estava cansada de se sentir cansada. Tudo o que queria era se enfiar embaixo dos lençóis por um par de semanas, sem ninguém pra interromper seu sono. A realidade era bem diferente, com um monte de decisões esperando para serem tomadas e uma dúzia de demandas da festa para resolver.
- Vocês estão fazendo um ótimo trabalho, Cis. Vai dar tudo certo!
- Eu odeio seu lado motivacional.
- Eu sei. – Deu de ombros com um sorrisinho pregado no rosto.
Um bando de erumpentes parecia ter saído das costas de Evan Rosier agora que o ano letivo tinha as horas contadas. Ele tinha até mesmo uma aparência mais corada, com a saúde voltando ao corpo ao passo que os NIEMS eram exorcizados. Era impressionante o que alguns dias de descanso podiam fazer! Cissy não via a hora de que fosse a sua vez.
- Nate e Effie - O garoto listou, acompanhando a balbúrdia na sala comunal com o olhar.
- Essa me pegou de surpresa!
- Mais um projeto perfeitamente executado visando receber nota máxima. – Cissy riu da piadinha dele. - Wilkes e Gwen.
- Era óbvio!
- Mas eles ficam bonitinhos juntos.
- É... Ele está se esforçando.
- Yve e Henry.
- Eles tem andado bem próximos ultimamente... – Ela comprimiu os lábios. – BEM próximos.
- Leona e Mulciber.
- Posso vomitar se você repetir!
- Ela não sabia quem convidar, o Damian é do time... Você sabe que ela é ruim com essas coisas.
- Você é do time.
- É. Ela falou comigo, mas eu tive que dizer não. – Tamborilou os dedos no braço do sofá. – Expliquei pra ela que eu queria convidar você.
- EVAN! – Arregalou os olhos, numa mistura de surpresa e ultraje.
- Sim?
- Não faça isso! Você merece uma companhia melhor.
- Eu quero ir com você, Cis. – Evan baixou as pálpebras em sua direção.
- Ora, por favor! Eu não sei se ao menos terei ânimo pra pôr um vestido decente. – Se recostou, perdendo o olhar no teto escuro.
- Eu tenho certeza de que você estará linda... Seja como for, senhorita, começamos isso juntos e vamos terminar juntos. Se você quiser, é claro! – Se apressou em acrescentar.
Um devaneio rápido lhe passou pela mente: Ela e James dançavam pelo salão. Não em um canto, como tinham feito na festa de Slughorn, mas ao contrário, bem à vista de todos. Riam, sem conseguir conter nos lábios a alegria de estarem juntos. Trocavam beijos e entrelaçavam-se em abraços, sem que ninguém se importasse com o que estavam fazendo. Piscou uma porção de vezes para apagar as imagens que se formavam diante de seus olhos. Cenas assim jamais existiriam em lugar nenhum além da sua própria cabeça. O que a tirava do prumo era pensar no porquê. Porque não viver aquele amor como deveria ser vivido e, também, porque vivê-lo, quando não deveria.
- Não sei se é uma boa ideia. É a sua formatura! Você devia escolher a companhia que realmente quer.
- É a sua formatura também! E eu já te falei: Quero ir com você. Se você quer ir com outra pessoa...
- Quem, Evan? Com quem eu iria? – Cruzou os braços, esperando o que ele diria. - Eu e o dementador que anda me rodeando nos últimos meses?
- A pessoa com quem você está quando some.
- Meu travesseiro. – Cissy sorriu com ironia.
- Se parecer uma companhia melhor do que eu...
- Tive uma ideia melhor: Por que eu não chamo o Avery? – Manteve o tom sarcástico.
- Talvez o Snape? – Foi a vez de ele rir, vendo a expressão de descrença dela.
- O Severus? Numa festa de formatura? Eu pagaria pra ver!
- Não fique tão surpresa. O Wilkes deu um dos convites pra ele.
- Você só pode estar brincando!
- Espere pra ver...
- Nesse caso, aceito a sua oferta. Vou precisar de uma companhia com braços fortes pra segurar meu queixo e impedi-lo de cair do chão.
- Adoro ser valorizado por você, Cis.
- Sempre que quiser!
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James deveria ter percebido. Há algo no ar nos dias que se tornarão definitivos. Havia algo quando ele se aproximou. Estava lá, absolutamente lá, embora ele não possuísse a sensibilidade necessária para perceber. Talvez, se tivesse atenção aos detalhes, poderia antever nas entrelinhas o ponto de virada.
Quando a olhou dentro dos olhos não encontrou a limpidez habitual. Naquele momento, imaginou que ela estivera chorando, ainda pranteando a perda da mãe. Não era isso e ele poderia ter notado, se quisesse. Depois perceberia que o que lhe causou o incômodo era o adeus já estampado nos olhos dela. Inocentemente, debruçou-se sobre Narcissa, para roubar-lhe um beijo que não sabia ser o último. Teria desfrutado mais, se soubesse.
- Ouvi dizer que não há mais convite nenhum a ser distribuído. Você deve estar orgulhosa!
Se sentou ao lado dela, na arquibancada. O campo de quadribol parecia imenso, completamente vazio sob a lua nova. Eles eram como formiguinhas, sentados ali. Mesmo em voz baixa, as frases ecoavam pela amplitude. Estava úmido do lado de fora, porque uma chuva repentina tinha caído pouco mais de uma hora atrás, no fim da tarde. James estava suado e grudento.
- Parece loucura! Fazem, o que, seis horas?
- Algo assim. – Acariciou o antebraço dela, descendo até que enlaçassem as mãos. – Você não precisa se preocupar comigo. O Dimitri e o Edgar chamaram todo o time, então o convite não vai ser um problema. Mas isso não me tira a oportunidade de ir como seu acompanhante.
- Você sabe que isso não é possível, Jamie.
- Por que não?
- Por favor, não vamos começar essa discussão de novo. - Narcissa desatou a mão que segurava a sua, para catar um cigarro no bolso das vestes.
- Por que não, Cissa? – Prendeu os dedos dela antes que colocasse o fumo na boca.
- Eu estou cansada e nós não vamos chegar a lugar nenhum. – A moça desvencilhou-se sem que ele oferecesse resistência.
- Nisso nós concordamos. Por mais que eu pense, não consigo entender... Giro em círculos e continuo não vendo sentido nisso. – Se virou, tentando olhá-la nos olhos, mas a garota mantinha o olhar no horizonte. – Eu não estou pedindo muito! Só o que eu quero é ser o seu namorado.
- E você é!
- Não de verdade. Não na frente das outras pessoas.
- O que importa pra você: nós ou as outras pessoas?
- É claro que nós, Cissa! Só que não dá pra se esconder pra sempre se eu quiser ter uma vida com você!
Narcissa tinha prendido o acessório de metal nos dedos. Acendeu a ponta do cigarro com a varinha. James reparou que ela tremia levemente antes da primeira tragada. Contemplaram, em silêncio, a fumaça se espalhando com o vento. Ela tinha cruzado as pernas e balançava o pé de forma inquieta no ar.
- Você me ama?
- Eu não deveria precisar responder essa pergunta toda vez que estamos juntos, James. Parece ser a sua última obsessão!
- O Sirius diz que não.
A garota parou. Bateu o cigarro na arquibancada. As cinzas caíram como flocos de neve, rodopiando até o chão. As pupilas dela pareceram se dilatar, encarando o brilho fraco do luar.
- Você contou a ele? – Dava para sentir a amargura nas palavras dela.
- Ele descobriu sozinho.
- E você me responde com toda essa calma, Jamie?
- Nada vai acontecer! O Sirius não vai vender essa fofoca pros tabloides ou dar início a uma inquisição para queimar você na fogueira.
- Você não tem a menor ideia da merda em que eu estou chafurdada, não é?
- Na verdade não, Narcissa. Não há nada que me faça entender qual o problema nas pessoas saberem que nós estamos namorando, por livre escolha dos dois! – Desarrumou os cabelos, de forma nervosa. - Você é bruxa. E eu, veja só que surpresa, sou bruxo! Há 6 gerações rastreáveis na minha família. Não há uma só pessoa na árvore genealógica dos Potter que não seja completamente bruxa. O meu sangue é tão puro quanto o seu!
- Não é simples assim... – Narcissa soltou o ar. – Se vocês não seguem as tradições e preceitos, isto torna o seu sangue tão impuro como qualquer outro.
- Em outras palavras, o que importa pra eles é que você pertença ao clube. E não o quanto de sangue bruxo corre nas suas veias.
- Clube? Não é um clube!
- É uma reunião de riquinhos que ficam arranjando formas de controlar a vida dos outros pra se sentirem exclusivos. Eu chamo isso de clube.
- Se chama tradição! – Os olhos azuis estavam arregalados, cheios de cólera. – Você acha que eu não gostaria que fosse simples assim, James? Eu daria TUDO para ter nascido numa família como a sua, em que eu pudesse fazer o que me viesse a cabeça! Em que a minha vida pertencesse a mim, pra que eu ao menos tivesse a chance de escolher como estragá-la eu mesma! Mas não é assim. Namorar com alguém não é uma simples decisão a ser anunciada ao meu bel-prazer, como é pra você. Eu sou uma mulher, James! E só isso já seria complicado demais para que você compreendesse. – Cissa tomou fôlego, o que destacou o semblante fadigado que sustentava. – De onde eu venho, não há escolha. Eu nasci para carregar a tradição! A minha função é perpetuar o sangue puro para a próxima geração. Não há escapatória ou desvio possível. Eu sou o ventre que tenho e a perspectiva do herdeiro que carregarei. Sem isso, não há valor nenhum em mim.
- Você está ouvindo o que diz? – Era uma completa insanidade! - Você pode fazer diferente, Narcissa!
- Eu sei o meu lugar no mundo. Do que me serve essa rebeldia ou vontade de mudar, se é impossível?
- A sua irmã fez! Foi em busca da felicidade dela.
- Você não enxerga o rastro de destruição que isso deixou? Andrômeda escolheu o que ela achava certo e ergueu um altar de sacrifício para isso! A minha mãe está MORTA, James! A minha história foi traçada no momento em que eu nasci mulher. É ao meu pai que a minha vida pertence. E logo será do marido que ele escolher para mim. É pro casamento que eu nasci. – Falava aquilo com uma imobilidade aterrorizante.
Batalhavam dentro dele um turbilhão de sentimentos. James nunca havia cogitado a possibilidade de que fosse capaz de sentir tantas coisas juntas. Se alguém o perguntasse horas atrás, diria que era inviável um ser humano ser tomado por tantos conflitos no mesmo espaço de tempo. Sentia uma raiva absurda: de Narcissa, por se entregar àquilo; da sociedade, por fazê-la vítima daquela forma; do destino, por tê-los unido para causar tanta dor. Também tinha pena, por ver a namorada tão perdida. Queria protegê-la, livrá-la da angústia que transbordava em suas palavras. Como era capaz de se considerar tão responsável por ela? Por que tinha que sentir tão dependente da presença dela pra encontrar a própria felicidade? Tinha um medo tremendo de perde-la..
- Então, CASE COMIGO! – Explodiu. Ela se virou num repente, o olhar assustado. – Case comigo, Cissa! Dinheiro não seria um problema. Posso te dar uma vida tão confortável quanto a que qualquer um desses garotos com pedigree daria! E EU TE FARIA FELIZ! O meu sangue é puro e você sabe disso. A sua família ia aceitar, uma hora ou outra, Cissa. Quando se dessem cont...
- PARE! – A voz esganiçada ecoou pela imensidão do campo. – Você não tem a menor ideia do que está falando! Você é só um garotinho desesperadamente apaixonado, James! Não tem a menor noção das consequências do que me propõe.
- É claro que eu tenho! – Ele se curvou, na defensiva.
- Não, James. Você não tem! Pra você tudo é sobre as suas vontades, os seus desejos e o seu umbigo! Só que você não é a porra do centro do mundo, sabia? Você pensa que sabe de tudo e que poderia reescrever a história da humanidade do seu jeito, num estalar de dedos! Mas você é só um menino a quem os pais nunca pensaram em impor limites! Pode parecer fácil e bonito viver desse jeito, sob essa aparente liberdade sem fim. Só que a vida real NÃO É ASSIM, James! Não é! Não importa o quanto você pense que as coisas podem se resolver de forma simples, a vida não pode ser vivida com tudo sendo jogado pro alto sempre que te der na telha! Existem consequências pra tudo! A maioria das pessoas não está disposta a sacrificar tudo por causa do ego. Existem coisas mais importantes do que essa aparente felicidade que você tanto prega, James! E a minha família é muito mais importante pra mim do que qualquer outra coisa. – Narcissa tragou de forma violenta. Àquela altura, os olhos dela estavam cheios de água. – Você sequer consegue perceber o que está me pedindo! A sua proposta requer que eu renuncie a tudo! À minha família, ao legado dela, às coisas que eu cresci almejando. Você quer que eu escolha você, ao invés de a mim!
- NÃO! É justamente o contrário! – Tirou e colocou os óculos de volta no rosto, duas vezes. - Se não for eu, que seja outro. Ou ninguém! Mas que você escolha por si mesma! Eu quero que você escolha ser você, não toda essa baboseira de sangue-puro que foi imposta como um fardo às suas costas por causa dos Black, Narcissa.
- Eu já era uma Black muito antes de ser a Narcissa... O que eu sou é sobretudo a minha ascendência e a descendência que darei a eles, James. – A loira olhou pra longe, enxergando algo que ele não conseguia imaginar o que. - Não posso fazer uma escolha que destrua a essência de tudo.
- Então eu não tenho espaço na sua vida. – Baixou a voz, porque ela estava embargada. – Você prometeu...
Lágrimas compridas tinham se derramado pelo rosto delicado de Narcissa. As unhas pontudas arranharam suas bochechas quando ela segurou seu rosto com uma das mãos. Beijou sua testa, com os lábios gélidos, molhando a raiz dos cabelos negros. Se afastou dele numa lentidão exagerada, prolongando o instante do rompimento. Depois, arrumou a roupa e guardou o suporte do cigarro no bolso como se nada tivesse acontecido.
- Esse é o problema com o amor, Jamie. Às vezes ele perdura, mas às vezes ele só termina por nos ferir... – Enxugou os olhos, antes de deixá-lo ali, sozinho. - Não escolha brincar com ele enquanto for um garoto que não está pronto pra nenhum dos dois.
Não viu nada pelo caminho. Atravessou o castelo como um louco, cego aos borrões ao seu redor. Ignorou qualquer um que viesse em sua direção. Tinha a impressão de que esquecera de pôr os óculos, mas eram apenas as lágrimas turvando sua visão. Entrou no dormitório num rompante. Largou a porta para que batesse com a intensidade de toda a dor e toda a raiva que o assolavam. Aluado soltou a pena, mirando-o assombrado. James caminhou até ele, perdendo as forças nas pernas enquanto ia se entregando às lamúrias. Arrastou-se pelo chão e se sentou ao pé da cama do amigo. Lupin apertou seus ombros, numa tentativa de confortá-lo, sem nada dizer. James jogou a cabeça pra trás, cobrindo o rosto com as mãos trêmulas. Soluçava alto e praguejava baixinho, maldizendo a vida e o namoro que acabara de terminar. Sujou o nome de Narcissa, debulhando uma profusão de xingamentos e humilhações contra a garota, numa vingança torta, que era quase como o avesso do que tinha sido amá-la até ali, simplesmente por que já não sabia como não pertencer mais a ela.
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* Verificar champagne para o brinde (35 taças? Os professores irão brindar? Aumentar para 50?)
* Confirmar “Os Duendeiros” (Stubby realmente come pernas de rã no camarim? Encomendar!!!)
* Queijos e biscoitos para 180 pessoas = suficiente? (Evitar desperdício!)
- Não é melhor esperar ela estar sozinha?
- Ela está sozinha.
- Eu quero dizer... Sem tanta gente por perto. E se ela não gostar, Pontas? - Esse apelido ela conhecia.
- Não augura, Rabicho!
Narcissa pousou a pena em cima do caderno e levantou a cabeça. Os dois garotos passaram por ela durante a discussão. Se endireitou sobre o arco da janela em que estava sentada, para ter uma visão melhor. O pátio estava cheio de alunos da Grifinória e Pettegrew se juntou a eles. Esticava o pescoço para espiar, nervoso, o trajeto que James fazia. Cissy também passou a acompanhar o rapaz com o olhar e não demorou a entender o diálogo que entreouvira. Ali perto, imune ao que se desenrolava ao redor, Lilly Evans ocupava um banco, distraída com um livro. Narcissa se perguntou se carregava os livros como um bichinho de estimação, para todos os lados. Não se lembrava de já ter visto a garota sem pelo menos meia dúzia deles por perto.
James desalinhou bem os cabelos, antes de se acercar. Procurou as entradas no bolso e parou a frente da ruiva, fazendo sombra sobre a leitura. Evans fechou a cara no mesmo instante. O descontentamento dela era evidente. Havia tanto desprezo na expressão da garota que Narcissa não teria se atrevido a dizer nada a ela! Ele sustentava um sorriso charmoso, apesar disso.
- Oi, Evans! Parece que você é a nossa cliente número 1000. – A garota o analisou, nem um pouco impressionada. – Os ingressos já estão completamente esgotados há três dias, mas hoje é o seu dia de sorte e eu gostaria de dar a você a chance única de ir ao baile de formatura comigo!
- Uau, Potter! Quanta bondade sua! - Cissy se surpreendeu que a monótona Evans conseguisse ser irônica. – Eu não lembro de ter me inscrito para merecer essa honra.
- Que loucura! E mesmo assim você é a grande vencedora.
- É uma pena que eu não iria a lugar nenhum com você. – Ela fechou o livro num estalo e se levantou. – Nem se estivesse morta!
- Evans... - James abriu os braços no ar. – Qual é? Vai ser incrível!
- Nunca, Potter. Quantas vezes eu vou ter que repetir até você entender? N-U-N-C-A! Entendeu agora?
- Nunca diga nunca, Evans! Vai que dessa água bebereis? – A ruiva tinha virado de costas e caminhava para longe, por isso James aumentou o tom.
- Eu preferia morrer seca, do que engasgada pelo seu ego titânico! – Acrescentou, sem nem virar pra olhá-lo.
Quem diria que a insossa saberia se defender tão bem? Tinha a língua afiada! Narcissa sufocou uma risadinha que a entregou. James se virou e a fitou pelo canto dos olhos. Não adiantaria fingir que não observara a cena, pega em flagrante como tinha sido. O encarou, sustentando o olhar. Ele lhe deu as costas, xingando em voz baixa. Ela adorava aquela cara irritadinha que James fazia! Os dedos de Cissy comicharam, desejando passear pela nuca nua do garoto. Uma parte dela quis ir atrás dele e puxá-lo para um corredor adjacente em busca de mais um beijo. Que mal haveria em uma última vez? Só mais uma... Nunca chegou a se mover.
Ele caminhava furioso para fora do pátio quando pareceu mudar de ideia. Enganchou a mão num galho de urze e arrancou um raminho de flores roxas. O coração de Narcissa saltou no peito. Que ele não virasse de costas. Que ele não virasse de costas. Que ele...virasse. Não! Era suicídio desejar que aquilo acontecesse. James subiu em um banco, segurando o ramo e as entradas, bem no centro do pátio.
- Ei, todo mundo! – O grito alto ressoou pelo pátio inteiro. – Quero que todos escutem isso!
Oh, Merlin! Não. Ele não podia. Não se atreveria! Seria expulsa de casa antes que pudesse responder ao convite. Cissy engoliu em seco. Com todos os olhos sobre ele, desceu do banco, empunhando as flores, e seguiu direto até o aglomerado de grifinórios. Ele ia... Convidar outra garota?
- Srta. Louisa Spinnet, você gostaria de ir ao baile de formatura comigo?
- Eu adoraria, Jay Jay!
Cafona era a palavra para descrever a moça a quem James entregou as flores. Tinha uma voz enjoada, saindo de uma bocarra pintada de vermelho vivo, naquele horário! Os cabelos estavam armados, duros de tanto laquê. Tinha uma pinta odiosa na bochecha, bem perto de onde James a beijou, logo depois de se levantar. Um beijo muito mais longo do que o necessário! Escorregou as mãos pela bunda dela, com atrevimento, quando se afastou. A garota riu! RIU! Os outros alunos batiam palmas. Ele fez questão de torcer o pescoço para encarar Narcissa, ao longe, num desafio. Cissy se levantou, jogando os pertences dentro da bolsa, e saiu dali.
Ele era um canalha! Armar toda aquela ceninha diante dela de propósito! Que se empanturrasse com a vida e com outras pessoas. Que fizesse com Louisa Spinnet tudo o que não fizera com ela, em todos os lugares que não a tinha levado, quantas vezes quisesse. De preferência, na frente de todo mundo, como ele fazia questão! Não importava! Era fácil beijar outras para se convencer de que não sentia falta dela. Que fizesse o que quisesse, Cissy sabia bem que ele jamais superaria a ela tão fácil assim. No fundo, devia estar louco de saudades dela!
Bateu à porta com mais força do que gostaria, embebida pela raiva. Que James convidasse outra garota, mas não daquela forma. Não na frente dela, para afrontá-la! Girou a maçaneta quando não recebeu resposta. Sentiu seu rosto corar, notando a quantidade de garotos reunidos no dormitório masculino dos setimanistas. Havia pelo menos dez, em posturas sérias, ao invés dos três que deveria haver. Todos ficaram em silêncio, olhando para ela. Cissy viera quase correndo, perturbada pela ira. Por isso, ainda respirava ofegante.
- Cissy? – Nate se levantou de um pulo, de certo imaginando uma emergência dos monitores que justificasse aquela entrada súbita. – O que aconteceu?
- Nada. Eu... Evan, posso falar com você um instante? – A voz dela pareceu esquisita naquele ambiente cheio de testosterona, mesmo que se mantivesse do lado de fora.
- Claro. – Evan se desviou de alguns dos garotos que estavam sentados no chão para chegar até ela. – O que foi, Cis? Você está bem? - Fechou a porta atrás de si, ciente de que todos continuavam com os ouvidos curiosos na conversa.
- Você está ocupado? Eu atrapalho?
- Não, pode dizer. – Segurou o antebraço dela com carinho. Parecia de fato preocupado.
- Eu... Estava indo tomar um banho de despedida no banheiro dos monitores. Pensei que, talvez, você gostaria de vir também.
Evan a fitou, intrigado. Não afastou a mão que a segurava. Escondeu bem a surpresa, vagando com os olhos analíticos pelo rosto dela. Havia um ligeiro sorriso no canto da boca dele, embora ele estivesse conseguindo camuflá-lo. O rapaz perdeu o compasso da respiração por um momento, retomando em seguida.
- Claro! Me dê 5 minutos.
- Em 15. A senha é “Atlântida”. Eu vou estar esperando você.
- Estarei lá em um instante.
Ele demorou alguns segundos pra perceber que a mantinha presa pelo braço. A soltou, sem jeito, e retornou ao quarto, fechando a porta entre eles. Narcissa ainda estava descendo o primeiro lance de escadas quando ouviu os assobios e palmas que estouraram atrás da porta do dormitório.
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Trespassou os dedos na superfície da água aquecida, estourando algumas bolhas. Deu uma tragada lenta. Um calafrio se espalhou pelo seu corpo junto com a ideia de ver Evan entrando ali. Relaxada pelo efeito da nicotina, Cissy já não estava tão certa de que isso tinha sido uma boa ideia. Desejou que ele chegasse logo, pra que não precisasse lidar com a culpa e o arrependimento antes mesmo de cometer o pecado.
Quem ela queria enganar? É óbvio que estava chateada com James e o showzinho com a deselegante Louisa Spinnet. Ainda assim, seria extremamente equivocado dizer que esse estopim era o único motivo que a levara até ali. Parte dela vinha desejando se afundar na reconfortante presença de Evan há algum tempo. Sentir o abraço firme a envolvê-la, para acreditar que podia ser protegida de alguma forma. Queria reencontrar a familiaridade que lhe dissesse que algo nela ainda estava ligado à pessoa que ela havia sido. Não precisava mentir sobre isso pra si mesma. Não quando a fisgada em seu baixo ventre era intensa como agora, quando devaneava sobre a ideia.
O banheiro era claro, embora a iluminação vinda do lustre de velas fosse amena. A banheira era enorme, muito mais opulenta do que qualquer uma que Narcissa já tivesse visto na vida. Havia uma centena de torneiras ornadas com pedras preciosas de diferentes cores, capazes de despejar variados tipos de perfumes, óleos, borbulhas e sais. Cissy já tinha experimentado uma porção delas ao longo dos últimos anos. Para hoje, contudo, apenas um pouco de espuma seria o suficiente. Não iam precisar de nada que pudesse distraí-los. Talvez depois, quem sabe, pudessem desfrutar de um banho relaxante com muitas bolhas, se houvesse tempo.
Ela fechara as cortinas de linho que encobriam as janelas e posicionara uma das toalhas brancas que estavam empilhadas para tampar o único quadro que havia no cômodo, assegurando-se de que dispusessem de alguma privacidade. A sereia tinha reclamado por alguns minutos, mas logo se calara. A mexeriqueira pintura teria que se contentar apenas com os sons para imaginar a cena que se desenrolava por trás do algodão alvíssimo.
Evan bateu na porta duas vezes antes de abri-la, mesmo que estivesse destrancada. Um cavalheiro! Aparentava timidez e certo nervosismo quando entrou. Cissy sorriu, divertindo-se com a cena. Não eram exatamente desconhecidos... Ele se certificou de que o banheiro estava impenetrável, conjurando não apenas um, mas três feitiços de proteção. A moça enlaçou o pescoço dele com a mão livre, cobrindo a boca rosada com um beijo nada pudico. Arrancou a varinha que ele segurava, largando-a sobre um armário, e puxou a mão do garoto para os botões da camisa já desensacada que ela trajava.
Como ela tinha imaginado, o beijo tinha um sabor conhecido, que a encheu de nostalgia. Era como revisitar a Narcissa de 15 anos, exceto pela inexperiência. Parou um pouco para fumar e Evan roubou o cigarro dos lábios dela, aspirando longamente a fumaça. Ele tampouco era o mesmo da última vez. A diferença de altura era maior do que antes e Narcissa o empurrou até a beirada da banheira, sentando-se no colo dele, dando aos dois mais conforto. Largou a camisa no chão e tratou de fazer o mesmo com a dele. Havia muito mais músculos agora e ela deixou que as mãos se deleitassem em tocar o peito e o abdômen definidos, enquanto os olhos se enchiam com a apetitosa visão. A pele clara brilhava debaixo da penugem dourada que crescia sobre o torso dele. Sentiu um súbito desejo de cobrir aquela pele com queimaduras, para vê-lo arquejar um pouco com a dor, mas não o fez, porque Evan arrancou o fumo de sua boca outra vez, tragando antes de beijá-la.
Se ocupou em abrir a fivela do cinto do rapaz, tateando com fingida desatenção o membro já rígido. As mãos largas subiram, pressionando com força as laterais do seu tronco. Baixou a alça do seu sutiã, beijando lentamente seu colo. Para abrir o fecho da peça, as mãos dele se encontraram em suas costas. Um choque rápido cortou seu corpo. Num revés, o cigarro, apoiado nos dedos dele, raspou sua pele.
- Ai!
- Merda! – Esfregou a região para aplacar a dor. - Desculpa, Cis!
Ele a soltou por um instante e foi a vez de Narcissa tomar o cigarro da boca do primo. Encostou a ponta no peito dele, deliberadamente, por pirraça. Ele se encolheu, mordiscando seu pescoço em resposta. Cissy puxou o tabaco para os próprios pulmões.
- Acho melhor a gente se livrar disso...
- Como quiser, senhorita.
Evan largou o cigarro pouco mais a frente, batendo-o com desleixo na banheira para apagar a brasa. O sutiã foi lançado ao chão e ele encheu a boca com um dos seios dela, perpassando a língua ao redor do mamilo entumecido. Tentou abrir os botões da saia, querendo dar um fim à roupa logo. O rapaz não pareceu ter pressa, friccionando a ponta dos dedos com pujança sobre o outro mamilo. Narcissa se arqueou, arfando. Ele beijou seu pescoço, estimulando cada seio com uma das mãos. Os lábios passearam por seus ombros, até que Cissy o puxasse pelo queixo de volta a si. Abriram a calça e tiraram a cueca dele em conjunto.
Seguiu o ritmo dele, não deixando que a boca se descompassasse do beijo arrastado enquanto a mão se fechava ao redor do pênis ereto. Percorreu-o de cima a baixo, intercalando este movimento com o tracejar de círculos sobre a cabeça do órgão, usando o dedo médio. Evan prendeu a respiração, apertando com força o quadril da garota. Enfiou a mão por baixo da saia dela, apalpando as nádegas, cheio de volúpia.
- Vou precisar ir um pouquinho mais rápido agora, ok? – Sussurrou, com a boca cobrindo a orelha do rapaz.
Ele anuiu, sem capacidade de acrescentar nada em voz alta. Usou um pouco de malícia para mudar ligeiramente o combinado, aumentando também a pressão, além da velocidade. Ele permanecia de olhos semicerrados, a cabeça pendendo ligeiramente para trás. Era uma cena e tanto! Bebericou um pouco mais dos lábios grossos e então escorregou até o chão, apoiando-se nas coxas torneadas dele. Lambeu os dedos com vontade e levou-os a base do pênis, deixando a ponta a cargo da língua. Evan firmou a mão em seus cabelos, num pedido claro para que ela não se afastasse. Ela não o faria. Não agora, com os gemidos escapando da garganta dele tão sem controle.
Seu coração batia frenético, bombeando tesão pelas veias. Soltou a mão da coxa dele e conduziu-a pelo próprio corpo, acariciando-se no caminho até enfiar-se por dentro da saia. Foi o silêncio repentino que chamou sua atenção e ela parou um segundo de chupá-lo, levantando os olhos. Evan sorria, levemente hipnotizado pela cena.
- O quê?
- Deixa que eu cuido disso, linda.
Pelo pescoço, conduziu-a para que ficasse de pé, no espaço entre suas pernas. Já tinha abandonado toda a delicadeza quando enfiou a mão dentro de sua calcinha. Com a outra, ajudou-a a abrir os botões da saia para verem-se livres dela, finalmente. Puxou a lingerie pelas laterais, mantendo no lugar a mão que acariciava sua vulva. Os dedos largos não tiveram trabalho para escorregar para o seu interior, úmido como estava. Evan molhou o polegar da outra mão com aquele líquido para deslizá-lo com mais leveza sobre um dos mamilos de Narcissa. Ela respirava com dificuldade, cega pelo prazer.
- Você gosta assim?
Mal pôde balançar a cabeça em afirmação, com a boca dele se debruçando sobre o seio restante. Sorvia seu mamilo com uma delicadeza que chegava a ser torturante e logo depois, mordiscava-o com só um pouco mais de força do que deveria, para então soprá-lo vagarosamente. De novo e de novo.
- Se você não...parar, eu vou...
- Isso seria um problema? – Murmurou, levantando a cabeça pra olhar pra ela.
- Eu quero que você meta em mim. – Arranhou o couro cabeludo do rapaz, encarando-o com luxúria.
- Mais tarde.
- Agora, Evan!
- Você tem certeza? – Roçou os lábios nas costelas dela, tensionando levá-los para baixo.
- Você não vai querer que eu mande, vai?
- É claro que eu vou! – Pôde sentir a boca dele se abrindo em um sorriso, bem próxima ao seu umbigo.
- Evan Rosier. – Segurou a mão dele, afastando-o de seu ventre. – Eu disse: agora!
Levantou a perna antes que ele pudesse ter alguma reação, sentando-se sobre o pênis num deslizar único. Encostou a boca no ouvido dele outra vez, ofegando entre os gemidos. Ele também arfava. O garoto plantou as duas mãos em seu cóccix, empurrando-a mais para perto de si. Prendeu-as firmemente embaixo de suas coxas antes de levantar o peso dos dois e se pôr de pé. Cissy apertou o laço ao redor do pescoço dele, embora não estivesse com medo nenhum de cair. Ele era forte o bastante para aquilo. Abençoado quadribol! Gemeu alto, completamente incendiada pelo desejo.
Moviam os quadris em conjunto, mas não parecia ser o bastante. Ele atravessou o cômodo, apoiando as costas na parede e flexionou um pouco as pernas. Narcissa entrelaçou as pernas às dele e firmou as mãos contra a superfície vertical. Os beijos que trocavam eram enxarcados de lascívia. Cissy contraía as coxas com uma intensidade crescente, para senti-lo pulsar por inteiro dentro dela a cada investida. O rapaz a segurava pela bunda, as mãos espalmadas para apertá-la com força e mais força.
As pernas dele tremiam pelo esforço. Narcissa soltou-se e escorregaram juntos até o chão. A moça deitou-se languidamente, com as costas no piso, e ele correu as mãos pelos seios, cintura, quadris, coxas. Beijou-a em cada lugar também, demorando-se com a língua em seu clitóris. Cissy já não tinha qualquer controle do que estava acontecendo com seu corpo e soube que provavelmente ultrapassara um volume razoável nos gemidos quando ele colocou os dedos em sua boca. Mordiscou-os ligeiramente, com desinteresse.
- Evan!
- Eu já estou indo.
Deitou-se sobre ela, finalmente, ocupando a boca dela com a língua quente. Já começara a sentir-se fraca. Queria gritar a cada estocada, mas ele não largou seus lábios por mais do que poucos segundos. Cruzou as pernas sobre o quadril dele, para que fosse mais fundo. E depois um pouco mais. Oh, Merlin! Parou de beijá-lo, respirando ofegante contra o pescoço do rapaz. Ele murmurava súplicas roucas em seu ouvido. Mais rápido, mais... Evan tensionou-se ligeiramente.
- Só mais um pouco... – Ela implorou, a voz saindo arrastada de sua boca seca. – Evan, por favor!
Ele mordeu os próprios lábios, movendo-se dentro dela com mais força do que antes. Soltou o ar, as pernas bambearam e largaram o quadril dele. Evan saiu de cima dela imediatamente, libertando o gozo preso sobre o mármore branco, com um último gemido alto. Deitou-se de costas ao lado dela, encarando o teto e esperando a respiração se estabilizar. Cissy virou o rosto pra ele, com um sorriso que tornava impossível negar o orgasmo.
- Talvez agora seja uma boa hora pra um banho? – Ela brincou, arrastando a ponta dos dedos sobre o peito dele.
O deleite de Evan ficou claro na forma como beijava sua nuca, bem exposta pelo cabelo preso num coque alto. A banheira borbulhava, cheia de espuma. Um dos braços dele repousava na beirada e o outro estava flexionado ao redor do pescoço da moça. As pernas de Narcissa descansavam esticadas a frente, enquanto as dele estavam dobradas em volta do corpo dela.
- Está ficando tarde. – Falou em um murmúrio, com a boca pousada na curva do seu ombro.
- Preocupado em perder o jantar?
- Acho que já perdemos...
- Aposto que deve ter sido um faniquito coletivo à mesa da Sonserina.
- É provável. – Roçou a boca por sobre sua pele úmida. – Você está incomodada com a possibilidade?
- Depois disso? – Cissy balançou a cabeça. – Tem poucas coisas no mundo que conseguiriam me incomodar agora, Evan. - Ele riu e dava para ouvir a satisfação em cada nota daquela risada.
- Na verdade eu estava pensando que pode ficar tarde demais para voltarmos pro dormitório sem uma boa explicação.
- Nós podemos ficar aqui até de manhã...
- Eu sei que você gosta de água, mas a senhorita parece já estar virando uma sereiana. – Desceu a mão pelo braço dela, puxando as pontas dos dedos enrugadas para fora da banheira.
- Eu não estava pensando em ficar no banho. – Torceu o tronco para beijá-lo outra vez.
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