
A tradição do tricampeonato
Foi com desmazelo que prendeu a carta a perna da coruja, esperando a partida da ave para abrir a correspondência. Baixou as pálpebras preguiçosamente sobre o bilhete curto, escrito por seu pai em tom sóbrio. A maior parte trazia notícias recopiadas sobre as aventuras do casal de pombinhos Lestrange pelos canais, em sua lua-de-mel em Veneza. Nenhuma palavra sobre tio Órion e tia Walburga depois do rompimento com o primogênito. Mais um tabu adicionado com sucesso à lista da família Black!
- Vai querer dar uma olhada? – Effie virou as folhas do Profeta Diário depois de destrinchá-las, farfalhando uma a uma até que estivessem de volta a posição original.
- Hoje não. Estou sem saco pra leitura...
- Abdul Shafiq foi nomeado como novo editor-chefe. – Apontou a nota no centro da página, anunciando a mudança. - Será que vai estender a seção de previsões para a filhinha charlatã poder publicar suas invenções sem pé nem cabeça?
- Não fale assim, Euphemia! – Gwen largou a colher na tigela de mingau. - Ela é maravilhosa!
- Uma deusa! Mas não acertou uma previsão nem de longe...
- Ainda é cedo para dizer.
- Pra mim, isso tudo não passou de uma grande viagem em que a Yvonne meteu a gente pra criar ansiedade por um suposto futuro que nunca vai chegar.
- O desespero pra saber do futuro é coisa de gente infeliz no presente. – O tom malicioso de Narcissa deixou bem evidente o que ela andava pensando da moça.
Os olhos castanhos de Gwen foram até um ponto adiante na mesa da Sonserina, parando quando encontraram a ruiva comendo sozinha o desjejum. Nos últimos dias, Yve se desviara delas até quando parecia não ser possível. Hoje, Leona tinha saído muito cedo do dormitório, deixando-a para trás e ela optara pela solidão. Apesar de a Corvinal estar definitivamente colocada em última posição do placar, o jogo de quadribol era importante para eles, podendo dar a Sonserina o segundo lugar que estava nas mãos da Lufa-Lufa, se conseguissem fazer o número certo de pontos. A concentração do time era fundamental e a batedora estava mais circunspecta do que nunca.
- Ela ainda não falou com você? – Cissy bebericou do chá, dando uma olhadinha de esguelha na mesma direção que a amiga.
- Faz dois dias que ela evita a Gwen. – Effie balançou a cabeça, decepcionada.
- Filha da puta!
- Tudo o que eu queria saber é o que é que eu fiz de errado! Só estava tentando fazê-la sentir-se melhor! – Gwen deu de ombros, com os cachos avermelhados balançando mofinos.
- O Wilkes não disse nada?
- Nem olhou na minha cara.
- A coisa foi séria dessa vez! Você vai comer isso? – Estendendo o dedo, a negra indicou um muffin no canto do prato de Narcissa.
- Não! Sem fome.
- Tudo bem com a sua família? – Gwen franziu as sobrancelhas, numa expressão piedosa.
- Igual.
- Posso comer, então?
- Você ainda precisa perguntar depois de todos esses anos, Euphemia Rowle? – Cissy riu, empurrando o quitute até a frente da moça. – Acho que eu já pus no prato pensando em você.
- Eu também. – Cobrindo os lábios com a mão para esconder uma risadinha, Gwen levou o segundo bolinho de seu prato para o de Effie.
- O que fiz pra merecer duas amigas tão incríveis? – Ela deu uma mordida em cada um dos doces.
O barulho no salão começara a amainar, na mesma medida em que ia sendo desocupado. Isso indicava que os corredores estavam lotados, com o furor usual do pré-quadribol. Era o momento ideal pra que ela se perdesse sem ser notada.
Narcissa acordara sentindo um misto de ansiedade e culpa. Aquele seria o último jogo de quadribol que teria a chance de assistir em Hogwarts. Além disso, era um embate importante para a Sonserina. Não veria seus amigos jogarem a partida de despedida do time. Será que se arrependeria do seu egoísmo? Analisou a postura das companheiras, arrastando-se no café da manhã, sem sequer dar-se conta do que passava pela cabeça dela e da leviandade que estava prestes a cometer. Entretanto, a convicção de que não havia volta tinha se depositado sobre ela assim que James pousara a capa de invisibilidade em suas mãos. De nada adiantaria infligir tanto sofrimento a si própria. Ela sabia muito bem que iria, sob qualquer circunstância.
- Se vocês não se importam, eu vou me adiantando. – Levantou-se rápido da mesa, para não dar às companheiras tempo de decidir acompanhá-la. – Quero desejar boa sorte ao Evan.
- Hum!!! – Gwen brincou.
- Parece que uma das previsões de Shafiq vai mesmo se realizar.
Ela mostrou o dedo do meio para Effie, com um sorriso desdenhoso no rosto. Rezou para que nenhuma das duas decidisse comentar com o garoto sobre aquela situação inventada e saiu do Salão, sem o menor intuito de se aproximar do campo de quadribol naquela manhã.
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Arrumou a posição do travesseiro sobre a cama. Pela terceira vez. Abriu a janela. E depois achou que ficaria melhor fechada. Arrancou os tênis e as meias dos pés e jogou pra dentro do malão. Não ia precisar de sapatos, já que não sairia do dormitório. Deu a volta na cama para retornar a abrir a janela. Melhor. Definitivamente melhor! Rearranjou os objetos na mesa de cabeceira em variadas ordens: Varinha, livro, pastilhas, um copo de água e um espaço vazio pra deixar os óculos. Esfregou o dedo nos dentes, fitando a própria imagem no espelho. Conferiu o hálito. Colocou duas pastilhas na boca. Esticou a roupa de cama, mesmo que já estivesse bem-posta. Os ponteiros do relógio pouco tinham se movido, trabalhando preguiçosamente. Em contrapartida, o coração de James batia com tamanha ferocidade que ele temia sofrer um ataque cardíaco.
- É só a Cissa, James. Só a Cissa. – Explicou placidamente para si, em vão.
Quão estúpido era dizer “só” para Narcissa? Isto era o que talvez o deixasse mais nervoso! Com qualquer outra garota, podia conseguir lidar melhor com a ideia de casualmente perder a virgindade num sábado pela manhã. Não com ela. Narcissa mexia com seus sentidos, pensamentos e sentimentos. Perto dela, perdia o controle. Tinha feito o que podia para se distrair: Se vestira com as cores da Corvinal, como se estivesse disposto a ir ao campo para azarar a Sonserina. Também arrumara a sua cama com esmero, embora não pudesse dizer o mesmo de Almofadinhas e Rabicho. Depois, criara uma desculpa qualquer para que os marotos saíssem para o campo antes dele, dizendo que os alcançaria. Desde então o tempo se tornara infinito e cada rangido fazia com que seu peito se sobressaltasse, antevendo a entrada dela pela porta.
A demora o corroía. E se alguém a tivesse apanhado na Sala Comunal? Isso era impossível, porque ela estava com a capa de invisibilidade! Será que ela não sabia bem como usar a capa? Improvável, porque já a tinham usado juntos uma porção de vezes... Teria esquecido a senha e ficado empatada de entrar pela Mulher Gorda? James se arrependeu de não ter repetido pelo menos uma vez a palavra. Ou será que tinha se perdido no caminho? Não, ela era monitora. Com certeza conhecia as entradas das salas comunais de todas as casas! Podia estar presa em outro lugar, sem conseguir despistar os colegas. Era plausível, não era? Ou quem sabe nem sequer tivesse se dado ao trabalho de tentar. Talvez nunca tivesse a real intenção de ir até ele. Por que alguém como Narcissa se exporia a tamanho risco por um cara como ele? Ela não viria. É óbvio que não! James tinha sido um tolo em pensar que aquela maluquice se concretizaria.
Não houve nenhum barulho até que, enfim, soasse a batida na porta. Uma só, seca e inconfundível, seguida de meio minuto de silêncio e um segundo toque: O sinal deles. James nem conseguiu sorrir, surpreso. Um rastro de fogo entremeou o corpo do rapaz, como se um punhado de ovos de cinzal tivesse sido posto entre seus órgãos. Ele tremulava, obrigando os músculos a obedecer aos seus comandos e girar a maçaneta. Trancou a porta atrás de si, esperando, num segundo que se dilatou em um milhão de anos.
A capa escorregou lentamente, desvelando pouco a pouco os segredos que James tanto almejara conhecer. Ela era maluca! Ir até ali era um risco, mas fazê-lo sem roupa nenhuma por baixo da capa... O desejo dentro dele assumiu um novo patamar de intensidade. O pano amontou-se no chão, fazendo dos delicados pés a única parte ainda escondida do corpo dela. Raios de sol amenos de uma manhã de primavera entravam pela janela para emoldurar os cabelos dourados e a pele completamente nua de Narcissa Black, exceto pelo colarzinho de estrela que ele lhe havia dado. Vasculhou a própria mente em busca de uma palavra que fizesse jus a beleza dela naquele momento e não foi capaz de encontrar nenhuma. Como uma vênus, caminhou até ele. Em silêncio, James xingava a si mesmo, petrificado.
- Por que tanto nervosismo, Jamie?
Num gesto preciso, puxou os óculos do rosto dele, depositando-os na mesinha de cabeceira. Ele ofereceu os lábios para que Cissa o beijasse. A boca úmida pela lascívia derramou-se sobre a dele e o tomou por completo. Exalavam pelas respirações, já descompassadas, o calor que os inflamava por dentro. A garota enfiou os dedos engenhosos por baixo da camiseta que ele usava, espalmando as mãos por sobre seu peito. Arrancou a peça por cima da cabeça de James, deixando que as unhas pintadas de um verde profundo se perdessem em seu torso.
– Se você quiser, eu posso te ajudar a relaxar... – Cochichou em seu ouvido, travessa.
Frente a uma mulher como Narcissa Black, mesmo garotos espertos, como James Potter, eram apenas garotos. Ele não sabia e nem queria dizer não. Passou a mão em volta do queixo dela, trazendo-a para si. Ela riu, distribuindo mordidinhas em sua orelha e maxilar. Os lábios frios dela sequer se intimidaram diante da quantidade de pele exposta. Dedicou a cada canto um tanto de atenção, sem se preocupar com o tempo que aquilo levava, embebendo-se do suor que escorria de seu corpo. Em contrapartida, suas mãos deslizavam livremente sobre a pele macia de Narcissa, tateando os contornos que lhe enchiam a boca d’água e incendiavam seu baixo ventre. A resposta ao toque era o arrepio, que se espalhava pelos dois sem controle, em um ir e vir dos prazeres que iam trocando.
Apressadamente, ela abriu o cinto e o botão do jeans de James. Ainda não tinha terminado de tirar a calça quando a garota o puxou pela mão, em direção a cama. Tropeçou no tecido embolado nos tornozelos, esborrachando a bunda no chão. O rapaz gargalhou e ela riu em resposta, uma risada musical que só fez crescer o tesão que ele sentia. Narcissa se abaixou, engatinhando até onde ele estava parado, obstinado em arrancar a calça de uma vez. Puxaram com rapidez o tecido pra longe, dando risadas já quase sem motivo. Ela colocou uma das coxas de cada lado do seu quadril e deitou-se, dando-lhe longos beijos sôfregos. Os dedos da moça se enrodilhavam aos cabelos escuros em volta do rosto dele, trazendo-o mais para perto.
James ergueu o tronco, sentando-se e fazendo com que as costas dela se apoiassem na lateral da cama. Beijou-lhe o queixo e logo o pescoço. Lambeu os polegares, para que deslizassem repetidamente sobre os mamilos rosados, que se enrijeceram sob o primeiro toque, enquanto descia a língua pelo espaço entre os seios, as costelas e pela barriga, até alcançar o umbigo. Narcissa se contorcia de deleite, os olhos cerrados para que nada a distraísse do toque dele. Parou, admirando o rosto gracioso da loira. Seu peito doía, esmagado pelo amor tórrido que sentia por ela. Os olhos azuis se abriram subitamente, como faróis, reivindicando carícias. Os cílios claros tremulavam, emoldurando as pupilas ensandecidas pela vontade. James apertou as mãos ao redor da cintura fina e ela esfregou a mão pelo seu rosto algumas vezes, como se borrasse seus traços, provocando-o. Ele riu, tentando morder as pontas dos dedos quando cruzaram por sobre seus lábios.
As panturrilhas dela estavam cruzadas em suas costas e James passou os braços em volta das ancas da moça, erguendo-se até estar de pé, com ela enganchada em seu colo. Perdeu-se naqueles lábios, ignorando qualquer outra coisa que pudesse existir. O mundo era aquele beijo, aquela boca morna correspondendo a sua com uma intensidade crescente. Ela soltou as pernas, escorregando para pôr os pés no chão. Peregrinou com as mãos até o seu quadril, afastando a cueca da sua pele e levando-a até o chão. O rapaz levantou os pés para se livrar da peça. Cissa envolveu seu rosto com as mãos, trazendo seus olhos aos dela uma outra vez. Ele sorriu, pousando uma das mãos sobre a dela, entrelaçando seus dedos e depositando um beijo na palma delicada que a pouco repousara ao redor da sua bochecha. Mesmo que ela nada dissesse, podia ler em suas pupilas a pergunta que ela tinha jurado que não faria.
Era sim. E estava tão certo disso que sequer conseguia entender por que ela ainda estava perdendo tempo com aquela questão. Não havia nada que ele quisesse mais do que mesclar-se completamente àquela mulher e tornar-se parte dela. Se possível fosse, James se costuraria a ela por inteiro. Como sabia não ser, queria fundir-se a ela, pelo menos por um instante. E se o universo tivesse misericórdia da sua pequenez, faria daquele átimo o mais longo que já decorrera sob a face da Terra.
Virando-se de costas por um instante, ela o puxou pela mão, até a cama. Afastou, para que ele se deitasse primeiro. Depois, repetiu o que fizera minutos antes, colocando as coxas abertas em volta do quadril dele, sentando-se sobre seu peito. James respirava com dificuldades, o barulho do próprio coração ensurdecendo-o. A loira o beijou com volúpia e a umidade que se acumulara entre as pernas dela escorreu ligeiramente sobre a pele de James. Porra. Porra!
Sem muito cálculo, Narcissa ergueu os quadris e desceu de encontro a ele. Uma explosão! Era a única coisa com a qual James conseguiu comparar a sensação que o tomou. Ela era quente e escorregadia, resvalando de cima a baixo pelo seu pênis ereto. Fechou os olhos, cego e surdo para qualquer outro estímulo. Teve consciência de que os gemidos que escapavam de sua boca se assemelhavam a lamúrias, porque tudo que ele queria era chorar. Chorar! Tamanho o prazer que lhe arrebatara. As mãos de Narcissa acariciavam seu peito e pescoço, embora o toque parecesse distante. Ele não era capaz de sentir com precisão qualquer outra coisa que não fosse o interior úmido dela envolvendo seu membro. Quando a mulher apertou as mãos na cabeceira da cama, subindo e descendo com mais velocidade, usando os músculos das coxas para apertá-lo dentro de si, James sentiu-se prestes a desmaiar.
- Puta que pariu! – Xingou, sem forças. – Você vai me matar, Narcissa!
Ela gargalhou, jogando a cabeça pra trás, um sorriso devasso pintado no rosto. Narcissa rebolava, os seios empinados sendo banhados pela luz da janela, movendo-se pelo ritmo das investidas. James concentrou-se o máximo que pode para levar as mãos até eles, envolvendo-os e apertando os mamilos como sabia que ela gostava. Os cabelos loiros estavam desgrenhados, volumosos, emoldurando a expressão de profundo deleitamento que ela sustentava. Os gemidos dela transformavam-se em ondas por sua carne, fazendo com que vibrassem na mesma cadência.
- Eu estou só brincando, Potter... – Ela sorriu com malícia, pronunciando o nome dele em um gemido rouco.
Segurou o quadril dela com mais força, empurrando-a com brutalidade na sua direção, quase como se a largasse de vez. Seu pênis latejava, os raios de prazer esparramando-se como choques que se irradiavam para o restante do corpo. Se moviam tão rápido que tudo estava borrado ao redor deles. James era só prazer e prazer, corroendo tudo. Não conseguia mais pensar, focado na afluência de satisfação que o envolvia. Apertou a cintura dela com vigor, deixando em vermelho a marca dos dedos sobre a pele claríssima. Ultrapassou o limite do que era consciente, vocalizando o deleite em alto e bom som. Narcissa ria, melodiosa, satisfeita com o efeito que provocava nele. James queria fazer mais. Sabia que ela estava aproveitando, pelos gemidos que deixava escapar, mas imaginava que estava acostumada a ter muito, muito mais. Ele faria. Jurou a si mesmo que faria. Ia dar a Narcissa Black o mesmo que ela o estava dando. E até mais! Mas não hoje. Porque agora já havia muito pouco entre ele e o limiar do gozo.
Cissa contraiu as nádegas, levando-o mais fundo e James explodiu, num orgasmo tão intenso que fez com que se perguntasse se ainda estava vivo. A moça saiu de cima dele, jogando o corpo suado ao seu lado, esparramado sobre a cama. James a trouxe para o próprio peito, beijando-lhe os cabelos quase num reflexo, ainda tremendo ligeiramente. Respiravam com dificuldade, as peles unidas, grudadas pelo suor misturado dos dois.
Ela estava por toda a parte. Em seu corpo. Mente. Alma. Era parte indissolúvel dele. Ele era de Narcissa. Por inteiro. E ela também era dele, perfeitamente encaixada em seus braços como estava agora. Nada fazia mais sentido do que isso na vida. Nada!
- Eu te amo... Pra caralho! – Murmurou sem tirar a boca dos cabelos dela.
- Eu sei. – Cissa voltou a rir e então deu-lhe o golpe final, entregando exatamente o que ele tanto ansiara ouvir nos últimos tempos. – Eu também, Jamie.
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O time entrou na sala comunal sob uma chuva de aplausos, assobios e gritos. A Sonserina tinha conseguido vencer a partida, mas não com uma pontuação suficiente para fazê-los arrancar a Lufa-Lufa do segundo lugar, e isso dava um sabor ainda mais doce à vitória. Emiline Vance fizera história naquele campeonato, tornando-se heroína não só dos lufanos, mas também dos grifinórios, fazendo a casa a qual pertencia subir ao podium depois de um jejum de mais de 15 anos.
Dimitri Thomas, como capitão, puxou o cortejo. Remus colocou as mãos em volta da boca, pra que o assobio reverberasse. O garoto era um grande estrategista e não havia dúvidas de que, depois de uma sucessão de brilhantes temporadas em algum clube europeu, viria a se tornar um treinador de prestígio. Marlene veio carregada, sentada nos ombros de Leonard Johnson e Fred Harris. Os louvores a ela eram clamados e também cantados, exaltando a potência da Máquina McKinnon. Não dava pra negar que ela tinha sido brilhante! Sem a agilidade, a ousadia e o talento dela, a Grifinória não teria feito uma temporada tão exitosa.
Sirius levantou os braços para entregar a ela uma garrafa de champagne que a morena estourou debaixo de ovações. Marlene sustentava um sorriso de uma ponta a outra, com os dentes largos todos a mostra. Virou o gargalo direto na boca, tomando um gole comprido. O olhar enviesado que ela e Almofadinhas trocaram quando ela o devolveu a garrafa deixou Remus envergonhado, tamanha a lascívia que transmitiu. Que Dumbledore e McGonagall o perdoassem, mas a ronda hoje era de Remus e ele faria vista grossa não só pra bebida, mas também se pegasse aqueles dois ultrapassando os limites do decoro. A celebração era merecida! Naquele sábado, conter a festa na Grifinória ia ser uma tarefa praticamente impossível e não seria ele a se desgastar tentando controlar o incontrolável. Dorcas contornou a multidão e correu até onde ele estava, agitando as mãos no ar em uma dancinha de comemoração.
- Bolo de caldeirão? – Lupin indagou, irônico, depois de descobrir que ela detestava aquela tradição.
- Ah, vai se foder! – Jogando os braços ao redor do pescoço dele, a loira encaixou a boca na dele, sem se preocupar em pedir licença.
A cabeça de Remus pendeu ligeiramente pra trás e ele parou por um instante, incerto do que fazer com aquilo. Dorcas parecera não perceber, enfiando a língua dentro de sua boca. O rapaz deu de ombros, colocando as mãos em volta do quadril dela e retribuindo ao beijo.
- Posso te beijar, Dorcas? – Ele brincou, afastando-se para sussurrar com sarcasmo no ouvido dela.
- Eu pensei que você não fosse perguntar nunca! – Foi a deixa para que ela continuasse a beijá-lo, com ainda mais entusiasmo.
Estaria mentindo se dissesse que não tinha imaginado a possibilidade de que a menina tomasse a iniciativa. Já tinham se passado meses desde que eles tinham sido “apresentados” por Pontas e engataram uma amizade entremeada de flertes. Dorcas era sagaz, charmosa, engraçada, sincerona e muito, muito impaciente. Fazia todo o sentido que tivesse se cansado de esperar por ele. Ele estava agradecido ao amigo. Independente do beijo, Dorcas tinha sido uma ótima companhia durante aqueles meses. Pontas. Pontas... Pontas! Ele franziu o cenho, logo antes de cortar o beijo.
- Cadê o James?
- Porra, Lupin! Você estava me beijando pensando nele? – A garota deu um empurrão em seu ombro e depois explodiu numa risada, vendo o rosto dele corar.
- Quero dar os parabéns pelo campeonato.
– Aham! Sei... Eu também não sou do time?
- Parabéns, Srta. Meadowes! – Bateu palmas baixinho, só pra ela. - Você é foda! – Beijou a bochecha da moça, inseguro e um tanto temeroso.
- Obrigada! – Ela deu um sorrisinho, apertando o queixo dele antes de dar-lhe um beijo estalado. – Sobre o Potter, se quer saber, eu não vejo ele faz tempo!
- Ele não assistiu ao jogo com vocês? – Remus franziu o cenho.
- Não. A gente pensou que ele estava com vocês...
- Não.
- Iiih! – Ela riu, passando os dedos sobre as sobrancelhas franzidas do rapaz. – Deixa pra lá, ele deve estar bêbado ou pegando alguém. Ou os dois.
Não, não estava. Ou não deveria estar, segundo o que andava dizendo aos marotos. Tinha que fingir estar interessado por Lily se quisesse ganhar a aposta, não tinha? Além disso, era estranho que tivesse sumido em um dia tão importante, com a oportunidade de fazer três das coisas que James Potter mais adorava na vida: Aproveitar uma boa festa, ganhar no quadribol e se gabar. Remus pensou em sair a procura dele pelo castelo, mas os lábios de Dorcas sobre os dele eram deliciosamente tentadores e o prenderam. Implorou à fortuna que o amigo não tivesse decidido se meter em alguma encrenca e deixou que o acaso se encarregasse dele. Agora, Lupin estava ocupado demais pra resolver qualquer problema que o levasse pra longe daquele beijo.
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Quando a gritaria começou na sala comunal, trocavam um intenso beijo de despedida, encostados na porta do dormitório. James ia desfrutando os lábios aveludados, enquanto prendia nas casas os botões da camisa que emprestara para cobrir, ao menos parcialmente, a nudez dela. Oculta sob a capa de invisibilidade, a garota foi na frente e ele esperou até que o quadro da mulher gorda girasse para dar passagem a Narcissa, fugindo despercebida no meio da comemoração. Só então respirou fundo.
Os dedos de Potter tremulavam, apertando firmemente a garrafa de Uísque de fogo surrupiada do estoque de Sirius. O nervosismo não se dissipara completamente de seu corpo. O dia de hoje merecia uma celebração digna e a vitória no campeonato de quadribol era o menor dos acontecimentos a serem festejados. Almofadinhas certamente não o levaria a mal.
O cheiro de Narcissa estava entranhado nele e James queria ter tido mais tempo para sorvê-lo. Há pouco, acordara sobressaltado de um cochilo, aninhado a ela. O silêncio na torre da Grifinória tinha desaparecido, o que indicava que todos estavam retornando do campo. A correria da separação foi enorme, frustrando seus planos de que naquele dia a sombra do medo não recaísse sobre eles. Era injusto que tivessem sido tão rapidamente arrancados um do outro, quando ainda podia sentir o gosto dela em sua boca, lambuzando-o em desejo.
Bagunçou os cabelos, preocupado. Precisaria usar toda a sua capacidade de dissimular pra agir naturalmente, fazendo parecer que assistira o jogo do início ao fim. Se falhasse em se misturar, podia acabar despertando suspeitas. Por sorte, James Potter tinha vindo ao mundo com uma inata cara de pau.
O time estava reunido bem no centro da sala, em frente a lareira apagada, com o restante da casa ao redor. A barulheira era tremenda, numa cacofonia estridente de vozes e música. Lizzie estava servindo os últimos goles de champagne em um copo de plástico. Que cena deplorável!
- Hora do brinde de verdade, time! – Empostou a voz, num tom animado.
- Onde você se enfiou, porra? – Dimitri murmurou, com uma expressão carrancuda.
- UUUH, manda muito, Jay-Jay!!! – Edgar tomou a garrafa da mão de James, assim que ele a ergueu em resposta à pergunta do capitão. - Copos pra geral, Bridg!
A batedora desenhou um volteio com a varinha e os copos vieram em direção aos sete jogadores. Flutuando no ar, a garrafa ia passando de um para o outro, até que todos estivessem cheios. James pigarreou e alguém fez com que a música parasse. As conversas foram diminuindo até silenciar.
- Hoje é um dia histórico pra nós. A conquista do nosso tricampeonato! Cada um de vocês faz parte dessa conquista, nos apoiando e acreditando no nosso time! Nós somos FODA, Grifinória! – As frases eram interrompidas pelos berros, palmas e assobios. James continuava como podia, gritando cada vez mais alto. – Mas calma, calma! Seria injusto se eu não desse os louros a quem realmente mandou MUITO: Meu time! Vocês arrepiaram, galera! – Alguns copos tilintaram antecipados. – Quero dedicar esse brinde ao nosso capitão, que fez tudo acontecer: Dimitri Thomas! Que o próximo capitão dê continuidade ao legado do caralho que você deixou! Ainda vamos te dar muito orgulho, porra!
Potter levantou o copo, no centro do círculo, e o restante do time o acompanhou. O som do vidro se chocando foi repetido algumas vezes e depois os copos foram esvaziados.
- Bridg, outra rodada, por favor! – Thomas também pigarreou, acompanhando a garrafa sendo conduzida pela garota. – Eu não poderia deixar passar sem um brinde a verdadeira estrela desse campeonato! – James sorriu de um lado a outro, saboreando o ardor do uísque antes da próxima dose.
– À McKinnon! – Dorcas levantou o próprio copo, interrompendo o capitão.
Como é que é? Todos brindaram e James seguiu o movimento, disfarçando a surpresa. Marlene era uma ótima artilheira, mas sem ele, como teriam vencido? Tudo bem, ele perdera o pomo na partida contra a Sonserina, porém ainda tinham ganhado de qualquer forma! Sem as ideias que ele tinha dado sobre a estratégia pra Dimitri, de que adiantaria a habilidade de McKinnon? Era ridículo que estivessem puxando o saco da garota daquele jeito, como se ela fosse a única responsável pela vitória. Fora depois da entrada dele no time que a Grifinória tinha retomado a sequência de vitórias no campeonato, não a dela. Ele é que tinha feito o time chegar ao tricampeonato.
- Isso não vai se beber sozinho, Potter! – Elizabeth chamou sua atenção em baixa voz, batendo o próprio copo contra o dele mais uma vez.
James virou o uísque de uma vez só, o líquido quente rasgando sua garganta. Balançou a cabeça com força, franzindo o rosto. Foda-se! Que exaltassem o quanto quisessem a Marlene, porque hoje NADA ia estragar o dia dele.
- Meu apanhador favorito!!! – Rabicho abriu os braços para dar um abraço enérgico em James. – Vocês abafaram esse ano!
- Imagina, cara! – Deu uma piscadinha e um sorriso, sabendo que isso agradaria o amigo.
- Autografa pra mim? - Peter entregou-lhe uma camiseta vermelha, tirando do bolso uma pena meio amassada e uma tinteiro. Bem no peito, o nome “Grifinória” saltava em letras amarelas. Tinha enfeitiçado três pequenas estrelas para que cintilassem do lado esquerdo. – Aqui! Faz bem grande, que o maioral merece destaque!
Na parte de trás, a frase “Tricampeonato 1975-1976: O melhor time de todos os tempos” fora estampada em letras menores, logo abaixo dos ombros. As assinaturas do restante do time estavam espalhadas pelo tecido e James ocupou um bom espaço, rabiscando o nome Potter com um pomo de ouro em substituição a letra O. Não era uma obra-prima, como os desenhos de Aluado, mas mandava o recado e tinha personalidade.
- Valeu, Pontas!
Pettegrew desapareceu no aglomerado, fascinado com a nova camiseta. James ficou satisfeito em ver que fizera a felicidade do outro. Peter era um bom amigo, apesar da falta de originalidade. Andava sempre meio apagadinho atrás dele e de Sirius, mas não parecia ter inveja das proezas deles, pelo contrário, regozijava-se ainda mais em saber-se parte dos marotos. Se alguém que ele conhecia era incapaz de fazer mal a uma mosca, esse alguém era o leal e ingênuo Rabicho. Mais tarde ia dar um jeito de convencê-lo a não usar aquela horrenda camiseta de jeito nenhum na escola, ou o pobre garoto seria motivo de chacota.
A festa estava animada e James olhou pela janela para ter certeza de que ainda era de manhã. Pelo embalo dos presentes, parecia ser um início de madrugada. A sala comunal estava apinhada e provavelmente permaneceria assim. Ia ser um longo dia! A Grifinória sabia bem fazer uma festa de arromba, mesmo improvisada. A ideia de que Sirius devia estar cheio de cartas na manga lhe trouxe um sorriso. Qualquer coisa podia acontecer! Ou quase qualquer coisa, estando eles em um espaço comum. Por sorte, e a despeito de todos os defeitos, McGonagall era uma entusiasta do quadribol e não interromperia aquela comemoração. Provavelmente estaria comemorando à própria maneira, em seus aposentos. James bebeu mais um pouco, remexendo o corpo ao som da estrondosa música. Era um dia fantástico para estar vivo!
Algumas meninas dos últimos anos conversavam numa rodinha por trás do sofá. Louisa acenou provocando, quando se deu conta de que ele as observava, com a boca se derramando eroticamente em volta da garrafa. James abriu os braços num pedido brincalhão de compaixão. Sienna Clearwater e Chloe Hughes não esconderam as risadinhas e Lulu arrumou o decote, deixando-o um pouco mais amplo. Ele piscou para ela, por detrás dos óculos, e deu um sorriso, dissimulando timidez. Não havia nenhum mal em flertar um pouquinho, havia? Narcissa fazia aquilo o tempo todo com Rosier. Ele não podia desperdiçar seu potencial por inteiro.
- Como vão, meninas? – Se juntou a elas, abrindo uma cerveja amanteigada.
- Que campeonato, Potter! – Sienna elogiou.
- A gente faz o que pode... Vencer está no nosso sangue. – Deu de ombros, bebericando direto da garrafa.
- Para você o quadribol tem a ver com sangue? – O cabelo cor de rato de Chloe estava arrepiado ao redor do rosto quadrado.
- Tudo tem a ver com sangue, bebê. – Lulu fitou-lhe com os olhos atrevidos. - Com o que faz o seu sangue ferver, o que te instiga, te dá tesão.
- Quadribol te dá tesão, Potter? – A boca larga de Sienna não escondeu a risada. As outras duas também riram e ele seguiu o grupo.
- Isso depende da companhia...
- Então cabe mais de um na sua vassoura? – As pupilas de Louisa faiscavam.
- Uma boa conversa resolve tudo, minha querida Lulu.
Não teve tempo de tirar o sorrisinho do rosto. Tentando cortar caminho pelo denso grupo, viu que Lily Evans ia se aproximando. A menina abriu os braços, cumprimentando McKinnon com um abraço apertado e falando algo perto do ouvido da morena. Certamente tinha se dado ao trabalho de vir a festa somente para parabenizar a artilheira, que era sua única amiga. Seria hoje. Com a vitória nas costas, ela não ousaria dizer não! Além do campeonato, James também ganharia a aposta. James 3, destino 0.
- Ei, Evans! – Gritou, um tom acima da barulheira. – Conhece a tradição do tricampeonato? – Ela não se esforçou para disfarçar o semblante descontente, dando-lhe não mais do que um olhar atravessado. O tom das conversas ao redor deles já tinha diminuído, com a curiosidade prevalecendo. – Uma ruiva tem que sair com o apanhador na festa de comemoração ou o time vai ter 100 anos de derrotas! É a sua chance de demonstrar seu orgulho de ser Grifinória!
- Arrume outra pra servir de palhaça, Potter! – Virou as costas numa rabissaca.
- Qual é, cabelo de fogo? É só uma bebida! – Lily tinha se afastado rápido e já estava prestes a subir os degraus que a separavam do dormitório. Ele precisou gritar alto, chamando a atenção da sala comunal por inteiro.
- Se depender de mim, Potter, pode se preparar para 200 anos de azar!
- Você fala isso agora, ruiva. Quero ver você manter a mesma opinião até a comemoração do ano que vem! – Ele riu, vendo a carranca injuriada da garota correndo como fogaréu escadas à cima.
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Puxou um pouco a barra da salopette para baixo, preocupada em estar mostrando mais do que deveria. Fizera uma escolha apressada de roupa, depois do banho tomado em menos de cinco minutos, e provavelmente não fora a ideia mais sábia eleger uma saia curta para se juntar aos amigos no jardim.
O grupo estava espalhado, aproveitando o sol e a brisa enquanto o almoço não era servido. Emma, Leona e Damian já tinham se livrado dos trajes de quadribol e conversavam em uma rodinha onde o desapontamento parecia reinar. Yvonne vinha se acercando, com uma garrafa na mão, acompanhado de Harriet. Mais à frente, Henry, Richard e Raymond analisavam de longe as garotas que passavam, dando risadinhas sempre que o vento erguia a saia de alguma delas. Narcissa puxou a própria roupa para baixo mais uma vez, enojada. Imbecis! Nate partilhava um charuto com Wilkes, ignorando que a irmã e Logan davam um amasso nada discreto a poucos metros, meio encobertos pelas árvores. Gwen demonstrava um passo de dança, tentando ensinar alguma coreografia a Euphemia. Pouco mais a frente, assistindo a esse pequeno show, Evan estava sentado encostado em uma árvore, disfarçando as risadas que dava da falta de jeito de Effie. Cissy pegou duas cervejas amanteigada, abriu as tampinhas e foi até ele, sentindo crescer a culpa de ter se ausentado.
- Parabéns pela vitória! – Entregou uma das garrafas ao rapaz.
- Valeu! – Ele pegou a bebida, batendo contra a dela num brinde. – Ao fracasso e às frustrações!
- Não fala assim!
- ‘Tá tudo bem! Embora perder o campeonato no meu último ano não seja exatamente o que eu sempre quis... Podia ter sido pior. – Deu um gole na garrafa, ganhando tempo. – Perder sempre me ajuda a pôr as coisas em perspectiva. Quadribol e eu... Será que era pra ser mesmo?
- Cala a boca, Evan! Você é um ótimo goleiro! Só que...
- A McKinnon e a Vance são melhores?
- É.
- Não estou chateado por termos perdido o campeonato. Já aceitei que não ia dar desde que jogamos com a Grifinória... Só estou cansado de nunca ser suficiente.
- Sei como é. – Cissy riu, balançando a cabeça. - Você está falando isso pra uma terceira filha.
Foi a vez de ela tomar um gole da cerveja, felizmente adulterada. Benditos Wilkes e Travers! A bebida, que lhe pareceu ser conhaque, desceu rasgando. Os dois olhavam para a frente, acompanhando as desventuras de Effie e Gwen, bebendo em silêncio. Abriu desajeitadamente o porta cigarros, firmando as mãos frouxas para prender um no suporte. Acendeu com pressa, enchendo o peito com força. A nicotina desceu por suas veias, sobrepondo a adrenalina. Que loucura ela tinha feito! A saída da torre da Grifinória, no meio de uma comemoração estrondosa, fizera seu coração bater tão rápido que seu peito chegara a doer. Respirou fundo, aliviada, soltando a fumaça.
- Eles me fizeram uma proposta.
- Quem? – Franziu as sobrancelhas claras.
- A União. De Puddlemere.
- É sério? Sério? – Narcissa abriu a boca, surpresa, quando ele assentiu. - Evan!! Isso é incrível! Parabéns! O mais tradicional time da liga não é pra qualquer um, hein?! Tenho certeza de que você vai fazer uma carreira de muito sucesso!
- ‘Brigado, Cis. Mas eu não vou aceitar.
- O que? Por que não?? Sempre foi o teu sonho!
- Quadribol é genial! Eu adoro jogar. E aqui, em Hogwarts, com certeza é a minha parte favorita: Me divertir com os meus amigos, montar um bom time sabendo dos pontos fortes de cada um, dar tudo de mim pra trazer orgulho pra minha casa... Nada consegue ser melhor que isso! – Evan bebeu mais um pouco. – Lá não vai ter nada a ver com isso... Vai ser sobre dinheiro. E até que é tentador!
- Consigo elencar um monte de setimanistas que morreriam por uma chance dessas.
- É... Mas ter que ser leal a quem paga mais, ter que ganhar sempre pra não estar sem emprego no dia seguinte, estar em constante tensão, viajando pra todo lado o tempo inteiro, sempre mudando, sempre incerto....
- Como uma porção de outros empregos mais mal pagos.
- E a fama?! Um monte de gente atrás de mim, sedento por algo que eu nem sei se posso dar... – Ele olhou pra cima, deixando as pupilas se perderem no céu sem nuvens. - Eu não quero isso pra mim!
- O que você quer então, Evan? – Analisou o rosto dele, soltando a fumaça por entre os lábios.
- Eu quero um lar, Cis. Uma família! Estabilidade. Saber que tenho pra onde voltar... As coisas não batem.
- Não se sabota, porra! Você pode viver esse sonho agora e conquistar o resto mais tarde. – Parecia tão óbvio dizer tudo aquilo... Queria que Evan fosse embora! Que ganhasse o mundo e voasse pra longe da tempestade que ia se formando em volta deles. Ela o faria, se pudesse. Agarraria aquela oportunidade com unhas e dentes. - A vida não é só o agora.
- Eu não sei! Ninguém sabe, na verdade. E se, pra mim, for?
- Credo! Não fala isso!
- Jogar quadribol pode ter sido um sonho, Cissy. Mas foi um sonho bobo de garoto! Hoje, quando eu sonho em ajudar as pessoas, não é entretendo a elas, é cuidando! E o quadribol nunca vai me levar a isso. Por isso, não. Obrigado pela oportunidade, mas não.
- Faz o que quiser. Você vai ser um filho da puta brilhante no que escolher mesmo!
- Até parece... – Ele riu, puxando a mão dela com o cigarro até a própria boca e dando um trago.
- Vai! Gabarita os NIEMS, vai! Segue o sonho que quiser escolher! – Mastigou o lábio inferior, sem esconder o ressentimento. Não dele, mas de tudo que os cercava. - Você pode.
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