
Doces dezesseis
A respiração quente se mesclava a sua. As pontas dos dedos sorrateiramente acompanhavam o contorno de seus quadris, tateando a barra da camisa de forma tímida. Prendeu a mão dele entre a sua, trazendo-a para si, por baixo do tecido. Ele apertou sua cintura e subiu, traçando caminhos sobre a pele. Como espirais de fogo, os desenhos que ele ia deixando faziam seu corpo ferver.
Soltou a boca do garoto, desviando os lábios para as têmporas. Segurou-o pelo pescoço, seguindo com os beijos até a orelha, vendo o arrepio se espalhar pelo corpo dele. Abriu os botões da camisa de James, um a um. Suas unhas arranharam levemente a faixa de pele exposta, descendo pelo centro do peito até o umbigo. Baixou uma das mangas, descobrindo o ombro dele, para onde dirigiu a boca. Uma constelação de pequenos sinais pintava a pele e os lábios de Narcissa pousaram sobre cada um deles. Puxou o restante da camisa, deixando o torso dele descoberto.
Levou a mão até o primeiro botão da sua própria camisa, abrindo-o lentamente. James ia distribuindo beijos por sobre a sua boca e seu queixo. Terminou de separar os botões, largando a blusa no chão em que estavam sentados. Se aproximou mais, ansiando sentir o calor que emanava dele. O rapaz entrelaçou os dedos das duas mãos aos das dela, trazendo-as para junto do peito. Elevou o rosto para fitá-lo. Perderam o olhar um no outro por alguns momentos, deixando que o íntimo silêncio preenchesse o lugar de milhares de palavras.
James a envolveu em um abraço, beijando seus cabelos. A pele dele ardia. Sentiu subitamente que o sutiã a apertava, uma fina camada a separá-los. Seu coração saltava no peito, buscando harmonizar o compasso ao do dele. Como era possível que o mundo tivesse se expandido tanto ao seu redor? Tudo era imenso! Ao mesmo tempo, nada fora da órbita que se delineara em volta deles fazia sentido. O mundo inteiro se comprimira para caber no seu peito, porque vivia naquele sorriso largo que ele tinha. O universo eram eles dois, numa sinestesia de carícias: Os olhos dele afagavam seu corpo. O som da respiração lhe enchia a boca d´água. O toque era como uma sinfonia. O gosto dos seus lábios era abrasador. O cheiro que a pele dele emanava lhe cegava.
Não havia coisa nenhuma que ela pudesse usar para explicar o que experimentava. Todas as tentativas de descrever seriam vãs. Sua única certeza no momento era a de que não havia a menor possibilidade de existir sensação melhor do que aquela. Narcissa sentia-se completamente perdida, emaranhada no misto de dor e de prazer que era se abandonar inteiramente nele. Mas também, plenamente salva. Ciente de cada pequeno pedaço de si, dona de todos eles.
Nada. Absolutamente nada! Nada importava mais do que o coração dele batendo contra o seu peito. A boca colada em sua orelha, na eminência de dizer tantas coisas, que ficavam no ar, porque seria um sacrilégio quebrar aquela quietude, em que o som ofegante dos beijos e o palpitar acelerado dos corações preenchiam tudo.
O foco ia e vinha. Num momento, tudo se desenhava em detalhes a sua frente. Ela ia decorando cada traço do rosto dele, para esquecer no segundo seguinte, quando tudo explodia, levando o sentido embora. Do mesmo modo que as ondas, indo e vindo no mar. Sentia uma falta imensa da curva dos lábios dele se alargando num sorriso, dos olhos castanhos brilhando festivos, do nariz arredondado, das sobrancelhas largas. Como se tudo aquilo não estivesse exatamente diante dela. Então se afundava em James, sorvendo cada instante, cada gota, enchendo os pulmões com o cheiro dele.
Voltaram a unir os lábios, submergindo um no outro. Cissy respirou fundo, o ar lhe escapando, assim como o chão. O sentimento ia lhe roubando tudo, consumindo todo o espaço para preenchê-la. Aquele beijo, o toque delicado, os suspiros soltos quando os lábios se afastavam por um instante. Cada detalhe era uma celebração do amor que ia nascendo entre os dois, criando forma e se alastrando, tomando conta de tudo ao redor.
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Só mais dois dias. Aquela quinta-feira antecedia o último jogo da Grifinória na temporada. Depois da partida que definiria a vitória ou a derrota deles no campeonato, só voltariam a competir no próximo ano letivo, sem Edgar ou Dimitri. James não se permitia pensar no assunto, receoso com os rumos que a equipe iria tomar. Quem seria o novo capitão indicado por Dimitri Thomas? Quem mais estava no páreo pela vaga, além dele? Quais jogadores seriam escolhidos para compor a nova equipe? Ele ia precisar fazer os testes de novo? E se surgisse alguém melhor do que ele? Conseguiriam tornar o time tão bom quanto o que tinham agora?
Não podia se entregar aos pensamentos. Precisava se concentrar! A partida contra a Lufa-Lufa seria decisiva, depois do fiasco da Sonserina. Emmeline Vance vinha fazendo uma excelente temporada, como a Lufa-Lufa não via há séculos! Por sorte, a apanhadora não era das melhores. Como era mesmo o nome dela? Não fazia diferença. James só precisava estar atento para não cometer o mesmo erro que Regulus Black, capturando o pomo antes da hora e dando a vitória aos oponentes.
Agora que estava tão perto, a ansiedade começava a lhe corroer. A partida seria a última com a equipe bem azeitada que haviam formado, enfrentariam um adversário ameaçador e o jogo ocorreria em 27 de março, seu aniversário. Não podia nem cogitar passar vergonha naquele dia ou viveria todos os aniversários que ainda viessem amargurando a derrota e a humilhação! Céus! Como era mesmo o nome da apanhadora? Estava na ponta da língua. A Grifinória estava invicta há dois anos, não podia permitir que isso mudasse na última partida de Dimitri. Devia aquilo ao capitão que lhe confiara a posição de apanhador. Só havia uma opção: Ganhar.
Amarrou os cadarços com veemência, dando dois laços firmes em cada pé. Pelo canto do olho, enxergou Marlene McKinnon prendendo os cabelos num rabo de cavalo apertado, já sustentando o semblante furioso que ela tinha quando estava concentrada. Edgar Bones espalhou uma boa quantidade de breu nas mãos, passando o bastão de uma para a outra. Brigitte Mitchell e Dorcas Meadowes vinham caminhando juntas do vestiário, mas as risadinhas costumeiras estavam ausentes.
- Trisha Fleet! – Exclamou, lembrando finalmente o nome da apanhadora da Lufa-Lufa.
- O seu dever é esmagar ela, Potter! Não deixar que sequer tenha tempo pra perceber. – Dimitri chegou perto dele, segurando a vassoura com força a ponto de os nós dos dedos ficarem brancos. – Nem pensar em repetir o que aconteceu com a Sonserina. Está me ouvindo? – Trincou os dentes.
- Sim, capitão!
- Aquecimento, pessoal! - O rapaz já não estava mais ouvindo. – Onde diabos a Lizzie se meteu??
Se reuniram em roda, replicando os mesmos movimentos. Todos já estavam bem acostumados a sequência de exercícios que preparava os músculos no início de cada treino. O trabalho começava muito antes de subirem nas vassouras. O corpo de James ainda estava dolorido do treino anterior, mas ele não resmungou. A cara de Thomas estava fechada e uma piadinha certamente não cairia bem. O olhar do capitão se assemelhava ao de uma ave de rapina, vasculhando os limites do campo a procura da artilheira. Elizabeth estava ferrada! Perder um treino era grave, passível de punição. Porém, faltar a um deles nas vésperas de uma partida poderia significar ser substituído e impedido de jogar.
- Mais 10! – Dimitri gritou. A conta já estava em 80 abdominais, quantos mais iriam fazer? James estava tremendo e suando.
- Perdão pelo atraso, capitão! – Lizzie veio correndo, ofegante, e se jogou no chão, ao lado de Thomas.
- De pé, Pluffek! 5 voltas no campo, 100 abdominais e 40 flexões. – Virou o rosto na direção dos outros jogadores. - Bom trabalho, Grifinória! Peguem as cordas, 50 pulos. E depois, subam nas vassouras!
- 5 voltas? – Ela indagou, contrariada.
- Eu nem deveria deixar você jogar. – Dimitri esfregou as mãos nas coxas, depois de se levantar, limpando a grama. - Então engole quieta e aproveita a porra da chance que eu estou te dando.
- Vai se foder! – A moça murmurou baixinho, virando de costas para começar a corrida.
- Essa é a segunda repreensão. – A segurou pelo braço, para que o encarasse. - Mais uma e você vai estar fora da partida!
- Você precisa aprender a separar as coisas, capitão! – Elizabeth puxou o braço, disparando para o outro lado do campo.
- Não faça as questões parecerem o que não são, Lizzie! – Ele gritou, soltando o ar com força. – Vamos! Quero vocês nas vassouras em um minuto!! – Thomas se afastou, até o canto da arquibancada em que alguns alunos estavam sentados. – Sinto muito, pessoal, o treino de hoje vai ser fechado!
O burburinho de descontentamento foi geral, enquanto o grupo de grifinórios ia se levantando pra abandonar o campo. Sempre havia os ferrenhos torcedores, que se tornavam fanáticos perto dos jogos, acumulando-se nas arquibancadas para vê-los repetir trinta vezes as mesmas sequências. Num jogo decisivo como aquele, Dimitri estava certo em manter longe qualquer pessoa externa ao time. Remus e Peter deram um último aceno para ele, desejando um bom treino, antes de desaparecer no jardim.
- Ei, Potter! – Dorcas esticou a mão para pegar a corda, se aproximando enquanto ele dava os últimos pulos.
- E aí? – Olhou ao redor, baixando o tom de voz, enquanto caminhavam juntos pra buscar as vassouras. - Que merda foi essa?
- Os dois estão se estranhando desde que a Lizzie chamou o Leo Johnson pra sair no dia de São Valentim, ao invés do Dimitri.
- Porra! E ela ainda tinha que se atrasar?
- Sei lá. – A loirinha deu de ombros. - Melhor deixar eles dois se resolverem. Se a gente se meter, tende a piorar...
- Ô! – Temperamentos fortes. Aquele era um sério problema dentro do time. Jogou a vassoura na direção da garota, que a pegou no ar.
- Potter.
- Oi? – Indagou, fechando a mão em volta do cabo de madeira.
- Aquele seu amigo que acabou de sair... O desenhista.
- O Remus? – James franziu o cenho, analisando o semblante da menina. Havia certo constrangimento no fundo, embora ela estivesse disfarçando bem.
- Lupin, eu acho. – Apertou os olhos, pensando. Dorcas tinha uma cara de bichinho, como se não tivesse abandonado totalmente a infância ainda.
- É ele.
- Dá pra você me apresentar pra ele qualquer dia desses? – Deu um sorrisinho culpado, arrumando a manga do traje.
- Você veio ao lugar certo, minha querida. Sábado vai ser seu dia de sorte! – Montou na vassoura e subiu. Isso ia ser divertido de ver!
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Encostou a cabeça na parede, cerrando os olhos. Inspirou o ar fresco, vagarosamente. O perfume primaveril que dominara o jardim lhe encheu o peito. Tateou a estrelinha pendurada no colo, sentindo seus contornos com a ponta dos dedos. O crepúsculo lhe beijava as pestanas.
Havia parado de contar os dias, na esperança de que assim, eles se prolongassem. Entretanto, já não faltava muito. Um par de semanas e estaria de volta a mansão, para testemunhar o casamento da primogênita da casa Black. Suas amigas andavam animadas, tagarelando sobre as expectativas para a festa, trazendo-a sempre de volta àquela realidade da qual ela tentava fugir.
As flores desabrochando eram o anúncio de que logo Bellatrix já não seria Black. Começara a se questionar os porquês de certas coisas. Um homem podia ser fôlego. Um respiro de liberdade naquele mundo tão escuro, como James era para ela. Por que alguns escolhiam ser prisões? Para sua irmã, as algemas apenas seriam trocadas. Um voto e Bella estaria atada à família Lestrange pelo resto de sua vida.
De nada adiantava se convencer que aquilo tudo poderia ser da vontade dela. Narcissa não conseguia deixar de ruminar que as coisas seriam diferentes se Bellatrix tivesse escolhas de verdade. Se pudesse, Cissy correria! Mas era uma pássaro na gaiola... Formosa e agradável, para ser admirada. Soltou o ar pela boca, sentindo os pulmões se esvaziarem.
- Parece que o tempo fechou.
A espessa voz lhe resgatou. Euphemia também estava apoiada na parede do castelo, ao seu lado. Abriu os olhos, buscando o ponto em que a amiga estava concentrada. Não dava para ouvir o que diziam, mas as expressões traduziam o clima pesado que envolvia os dois. Descontentamento e contrariedade pintavam a cara de Yvonne. Longas frases iam abandonando seus lábios, com o semblante se aprofundando a cada uma. Clifford Wilkes passava a mão pelos cabelos lisos, que lhe caiam de forma charmosa sobre os olhos. Prendia um lábio contra o outro, ouvindo, sem demonstrar muita consideração.
- Ciúmes? – Harriet Burke vinha caminhando na direção delas, com Gwen ao seu lado.
- Não... – Narcissa forçou um pouco a vista.
- É coisa de casal! Logo eles se resolvem. – O tom pacificador de Gwen não demonstrava toda a confiança habitual, mas ela parecia querer acreditar no que dizia.
É verdade que Yve gostava de encenar pequenas brigas. Era um show particular! Montava ceninhas quando estava entediada, para que Wilkes corresse atrás dela. Aquele era o entendimento da garota para a máxima de manter a chama do relacionamento acesa. Todavia, essas brigas não tinham nenhuma similaridade com a que estava acontecendo agora, diante dos olhos curiosos das quatro. Effie fora certeira em seu julgamento: Algo tinha azedado na relação. Ainda fitavam os dois, telespectadoras absortas, quando o quadro foi cruzado por Natanael Bulstrode, atravessando o jardim num passo apressado.
- Cissy, você pode vir comigo? – Pediu, ofegante, antes mesmo de alcançá-las.
- Claro!
Deixou as amigas para trás, acompanhando o rapaz para longe da entrada das masmorras. O quanto deveria se preocupar? Mil perguntas eram revolvidas em sua mente a cada passo, mas Narcissa não externou nenhuma delas. Nate tampouco lhe deu alguma explicação, percorrendo o caminho com pressa. Sem olhar pra trás, confiava que ela se mantinha em seu encalço. Pararam num corredor vazio, exceto por um garoto, sentado num dos bancos de pedra. O rosto melado pelo sangue escorrendo e a postura defensiva fizeram com que ela demorasse alguns instantes para reconhecer Evan Rosier.
- Que porra é essa, Nate? – Ela sussurrou, quase no ouvido do amigo.
- Eu tenho uma reunião com a diretoria em 10. Dá pra você cuidar disso pra mim? - Pouco abrindo a boca, ele respondeu, falando baixo para que Evan não conseguisse escutar.
Como monitor-chefe, Natanael Bulstrode tinha uma montanha de compromissos extras, além do que já se requeria dos outros monitores. Reuniões com os quatro professores diretores das casas era um deles, ainda que não ocorressem de forma tão frequente. Ele parecia preocupado, enquanto tirava do bolso um vidrinho de poção antisséptica e um punhado de gazes, certamente retirados do kit de primeiros socorros dos monitores da Sonserina.
- Vai tranquilo! Eu resolvo. – Recebeu o vidro e deixou que Natanael sumisse pelo corredor antes de se aproximar do primo. – O que diabos aconteceu?
Silêncio. Evan mantinha o olhar no chão, ignorando-a sumariamente. Um ligeiro calafrio lhe percorreu os braços e Cissy apertou as gazes com mais força, sentindo-as ásperas contra a pele. Qualquer uma das justificativas que lhe passavam pela cabeça não tinham sentido. Evan estava sangrando, parado ali, sozinho, em silêncio. Aqueles machucados não pareciam em nada um acidente.
- O que aconteceu, Evan? – Tornou o tom de voz mais inquisidor, esperando por uma resposta que não veio. - Quem te bateu?
- Ninguém me bateu! – Ele fechou a cara. Ah, o ego masculino!
- Ok, eu vou reformular a pergunta: Quem entrou numa briga com você? - Rosier baixou os olhos de novo. A boca tão fechada como se estivesse colada. – Me deixa ver isso...
Eliminou os últimos passos que havia entre eles. Arrancou a tampa do vidrinho e embebeu uma gaze na poção. Apoiou o recipiente no banco e com a mão livre, segurou o queixo dele, forçando-o a olhar para ela. Prendendo o tecido sobre os dedos, encostou-o na ferida de maior porte, bem acima da sobrancelha esquerda do rapaz.
- Ai, porra! – Evan apertou o rosto, tomado pela dor.
- Por que você não quer me dizer? – Limpou aos poucos o corte aberto, removendo o sangue que escorrera pelo rosto dele.
Calado como um túmulo. Agora, os olhos em tons de mel estavam fixos nela, enquanto ia tratando cada machucado. Mesmo assim, não lhe diziam nada. Por que diabos Evan Rosier tinha sido surrado naquele corredor? A bolha de tensão se avultava ao redor dos dois, impulsionada pela teimosia dele. Se o garoto sabia ser cabeça-dura, ela sabia ser insistente.
- Com quem você brigou, Evan? – Perguntou uma última vez, molhando uma gaze limpa com a poção.
- Ai, Cissy! Caralho! – Reclamou, quando ela voltou a desinfetar o corte maior.
- O que aconteceu?
- Não aconteceu nada.
- Nada? – Deu uma risadinha debochada. – Evan... Por favor! Um cara do seu tamanho não aparece sangrando assim a menos que tenha acontecido alguma coisa. Me fala logo!
- Por que você não esquece isso? Eu não preciso que você fique tentando me proteger.
- Eu não estou tentando te proteger, senhor fodão! Por acaso você se lembra que eu sou monitora? Ou acha que o Nate me trouxe aqui porque eu sou sua priminha? – Apontou pro distintivo cintilando no peito. – Se um aluno da minha casa aparece sangrando, eu preciso saber o que aconteceu.
Mudo. A gaze estava quase seca, grudando ligeiramente nos ferimentos. Pegou uma nova e derramou um tanto da poção, apertando o corte aberto para tentar estancar o sangramento.
- Foi o Mulciber, não foi? – Nada. Impenetrável como uma pedra. – Ótimo! Você não precisa me dizer. Eu mesma vou lá e pergunto pra ele.
- Não faça isso! – A frase saiu rasgada pela garganta do garoto, dura.
- Então foi ele. – Covarde! A magia era muito mais fácil de rastrear do que a força bruta.
- Merda! – Evan apertou os olhos, percebendo que havia se entregado.
- Por que ele fez isso com você? – O rapaz não respondeu. – Ok. Me escuta! Se um aluno aparece sangrando, eu tenho que reportar. Você vai me dizer o que aconteceu pra que eu possa te ajudar ou prefere que eu fale sobre isso pro Slughorn?
- Não foi nada, Cissy. – Bufou. – Nós tivemos uma discussão que cresceu rápido demais. Saiu do controle.
- Uma discussão?
- É.
- “Saiu do controle”?
- É.
- Eu não sei por que diabos você não quer me falar a verdade, Evan. Mas eu vou descobrir, quer você me diga, quer não!
- Você precisa me deixar lutar as minhas próprias batalhas, Narcissa.
Pousou os olhos nos dele, faiscando. Eles dois eram como enormes muros de pedra, frente a frente. Ceder não era uma opção para ninguém. Era estranho que seus corpos denotassem tanta intimidade, enquanto suas mentes travavam uma batalha para repelir uma à outra. A cabeça dele parada exatamente em frente ao busto da moça, as mãos delicadas tratando cada um dos cortes, segurando o rosto dele com familiaridade. Tirou a gaze, verificando que o ferimento ainda sangrava.
- Vamos, levanta!
- Quê?
- Nós vamos pra ala hospitalar.
- Como é?
- Esse corte não vai fechar sem sutura. – Tampou o que restava da poção, catando as gazes sujas de sangue que tinha largado em cima do banco.
- Não acredito que você está agindo assim, Cissy!
- Vou dizer a Madame Pomfrey que você se machucou no treino de quadribol.
Evan se ergueu, sem tirar os olhos dos dela por um instante sequer. Restabeleceu a ordem natural das coisas, olhando-a de cima. Acariciou a têmpora dela com o polegar, descendo em seguida os dedos por um dos cachos alvos do cabelo de Narcissa.
- Obrigado.
- Você precisa me dizer logo o que está acontecendo, Evan. Antes que seja tarde demais...
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O café fumegava. Bebeu um gole, o líquido queimando um pouco sua garganta. Não que a cafeína fosse necessária para mantê-lo atento. James já estava até mais focado do que era preciso. Dormira um sono profundo, permeado de pesadelos, até acordar, completamente desperto, às quatro da manhã. Cansado de se remexer na cama, levantara-se, pronto para o jogo.
- Feliz dezesseis! – O garoto murmurou, erguendo a caneca num brinde solitário a si mesmo.
Quando deixara o castelo para trás, segurando o café que os elfos tinham gentilmente preparado, se dirigindo até o vestiário, ainda estava tudo escuro. Agora, acompanhava pela janelinha os primeiros raios de sol se atreverem a pintar o infinito. A quietude do início das manhãs usualmente lhe enfadava. Mas hoje, caminhar pelos corredores vazios tinha sido uma agradável experiência. O silêncio era reconfortante, quando sua cabeça estava cheia demais. Ia precisar esvaziá-la completamente, para fazer uma boa partida. Sabia que ia conseguir. Quando rompesse o céu com a vassoura, deixaria aqui embaixo todo o resto. O arrepio se espalhou pelo corpo, mas ele reconheceu as unhas compridas na sua nuca. Balançou a cabeça, pensando estar imaginando coisas e tomou mais um gole do café.
- Caiu da cama, aniversariante? – Como caramelo, doce e quente, a voz dela se enrolou em seu ouvido.
- Puta que pariu! – Xingou, o coração saltando em disparada no peito. Virou-se no banco, colocando-se de frente para ela. – Você enlouqueceu, Cissa? Esse é o vestiário da Grifinória!
- Ah, é? – Um sorriso sacana estava estampado na face da loira. – Devo ter me perdido no caminho.
- Você tem que sair. Rápido! A gente vai tomar uma detenção fuderosa se alguém do time entrar e pegar você aqui!
- Nesse caso... – Ela prendeu a gola dele, puxando-o para que se levantasse. James baixou discretamente a cabeça, para fita-la. – Acho que é melhor a gente não demorar.
Mordiscando sua orelha, a garota o empurrou até uma das duchas e trancou a porta atrás de si. Os lábios dela se espalharam pelo seu pescoço, ao mesmo tempo em que as mãos tiravam o suéter que ele estava usando. Mas o que diabos...? Narcissa, ali, no vestiário, arrancando sua roupa? Ele tinha que estar alucinando! Era bom que se levantasse logo, pra não perder o jogo. Beliscou um pedaço de pele perto do punho. Caralho! Era real.
- Cissa... – Ele sussurrou, receoso de quem alguém pudesse ouvir. – Você perdeu completamente o juízo?
- Cala a boca, James! – A moça cobriu seus lábios com os próprios, forçando-o ao silêncio dos beijos. – Considere isso o meu presente de aniversário. Não há mal algum em um inocente presentinho, não é?
As unhas voltaram a arranhá-lo, por baixo da camiseta. As mordidas e beijos se intercalavam, pela sua boca, queixo, pescoço e orelhas. Surpreendentemente, Narcissa estava quente. Ou talvez, ele estivesse fervendo a ponto de perder a precisão. Enfiou a boca na dela, num beijo longo e visceral. Sem cerimônia, a garota escorregou a mão pelo seu corpo, tocando tudo pelo caminho, até preencher os dedos com o contorno do seu glúteo. Trouxe a mão até a frente do seu corpo, apalpando com habilidade o volume que se formara entre suas pernas. James estremeceu sob o toque.
O cinto não foi um empecilho para a obstinação dela e estava no chão em seguida. Narcissa abriu o botão da calça que ele usava, correndo o zíper com rapidez. Não teve tempo de sentir vergonha pela nudez que se anunciava. Logo, o jeans estava embolado nos seus pés. Ele levantou um de cada vez, chutando a calça para o canto do cubículo. Os dedos da loira já se concentravam em retirar sua cueca e ele deu o mesmo destino da calça ao pedacinho cinzento de tecido.
Como numa rota traçada num mapa, os lábios dela seguiram, abandonando os seus para vagar, ponto a ponto, pelo corpo. Queixo e pescoço. Ombros, por cima do tecido. A mão fina empurrando a camiseta branca até que ele a tirasse, pela cabeça. A peça fazendo o caminho oposto ao dela, subindo, enquanto a garota ia descendo. Seu peito, costelas, barriga, umbigo, quadris, virilha. E depois...Ah!
A boca dela estava quente, envolvendo seu pênis aos poucos. Subindo a descendo, as mãos prendendo firmemente seu quadril. Ai, caralho! Apertou a mão ao redor da cabeça dela, enroscando os dedos nos cabelos loiros. A língua dela parecia sorver sua pele, dando uma camada extra de sensações. James mordia a boca com força, para prender os gemidos. Ciente de que qualquer barulho poderia denunciá-los. Uma das mãos dela foi até a base do seu pênis, passando a desenhar os movimentos em conjunto com a boca. Puta que pariu! Ele já não sabia quanto mais ia conseguir se manter em silêncio.
Tudo era um borrão ao seu redor. O ritmo que ela adotara era fluído, como se já tivesse chupado ele milhões de vezes. Olhou pra baixo, deliciando-se com a cena: Narcissa Black estava lhe sugando até o talo. Um gemido baixo lhe escapou, mas ele prendeu a boca com mais força. Ela se afastou por um instante, o rosto tomado por uma risadinha. Retomou pela glande, a língua morna dando voltas. Os dedos o envolviam firmemente, para cima e para baixo.
- James? Madrugou, cara? – Os passos pesados acompanharam a voz de Edgar, entrando no vestiário. – Caralho, eu não preguei o olho a noite inteira!
- Eu também não. – Conseguiu se forçar a dizer, tentando evitar que a voz saísse estrangulada demais.
- Desisti e achei melhor tomar uma ducha pra me manter acordado. O Dimitri estava dormindo igual uma pedra, aquele filho da puta!
Cissa olhou pra ele, o indicador esticado sobre a boca, cobrando silêncio. É claro! Como ele não tinha pensado nisso? Empurrou a cabeça dela mais fundo, sentindo o prazer se aproximar do limiar do desespero. Eles estavam completamente fodidos! Como é que Narcissa ia sair dali sem ser vista? Bones abriu o chuveiro, enchendo o vestiário com o vapor.
Imune a qualquer receio, a loira mordiscou suavemente seus testículos, passando a língua por ali também. James segurou a nuca dela, apertando-a com mais força do que gostaria. Puta que pariu! Caralho! Se ele não gritasse, ia explodir! Respirava com dificuldade, tentando prender o ar para evitar que seu arquejar fosse ouvido por Edgar. Percebeu que empregava força demais pra manter o silêncio quando sentiu o gosto de sangue na boca.
Distraiu-se com a visão dela, os cabelos claros enrodilhados em seus dedos. O contraste chegava a ser curioso. Narcissa ainda estava toda vestida, pronta como uma boneca para um belo sábado em Hogwarts. Queria se livrar das roupas que a garota usava, vê-la nua entre seus braços. Que se danasse o quadribol, o time, a merda toda! Só ela importava! Os dois. Juntos. Suas mãos no corpo dela, descobrindo cada contorno, enchendo a boca, como ela fazia agora. A água caia furiosa pelo chuveiro da cabine próxima. A moça sugou com mais pressão, voltando a usar os lábios para percorrer seu pênis. Porra!
Perdeu o ar por um ínfimo segundo, sentindo o orgasmo lhe tomar por completo. Não conhecia um único xingamento que pudesse dar vazão a sensação que lhe tomou. Era... Esplêndida! Seu corpo parecia flutuar, formigando, com pequenos choques lhe nublando a visão. Voar de vassoura, a sensação mais incrível que James conhecia, não era nada perto daquilo! Ela pouco se moveu, engolindo o líquido quente que escorria sem titubear. James ofegou, tentando encher os pulmões com o ar que lhe faltava. A loira se levantou, usando as costas da mãos para limpar a boca. Encostou os lábios em seu orelha. O coração dele estava acelerado, prestes a saltar do corpo.
- Vai lá e captura esse pomo, campeão! – Sussurrou de forma quase inaudível, antes de abrir a tranca da cabine e abandonar o vestiário, sem olhar pra trás.
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180 a 210. O jogo se mantinha equilibrado, com uma ligeira vantagem da Grifinória. Bocejou, mastigando a própria saliva. Rabicho e Aluado dividiam um binóculo, alternando-se para buscar pelo amigo voando atrás do pomo, embora não houvesse muita ação há algum tempo. Sentia saudades da própria cama, que abandonara tão cedo naquela manhã de sábado. Devia gostar mesmo de Pontas, pra se submeter a gastar seu tempo livre assistindo um jogo tão morno.
Sirius estava se sentindo como um zumbi. Precisava de uma xícara grande de café e dois cigarros, pra começar a viver. Como é que aquele bando de gente estava aguentando ficar de pé ali naquela hora? Sobre os jogadores e a juíza, ele nem tinha o que falar. Se mover em cima de uma vassoura com um climinha ameno como aquele? Maluquice! As capas amarelas e as vermelhas se misturavam, deixando o céu meio alaranjado. Acompanhou, sem muito interesse, os artilheiros da Grifinória. Marlene estava gostosa pra caralho, mesmo usando o ridículo uniforme de quadribol. Hum...Sentiu falta da garota. Ia arrancar uns beijos dela na sala comunal, depois da partida.
- É ela, meus amigos!!! A máquina McKinnon marca mais uma vez, abrindo uma vantagem de 40 pontos para a Grifinória! – A narração retumbava nos autofalantes.
Alexa Diggory. O dia de São Valentim com ela tinha sido... interessante! Diferente do que ele tinha esperado, mas interessante. A loirinha era divertida, porém tagarelava demais e fazia de menos. Só depois de dois ou três copos esqueceu a falação e se dedicou ao que importava de fato. Tinha uma detestável mania de morder, o que rendeu a Sirius marcas que perduraram por alguns dias. Talvez convidasse ela pra comemoração hoje. Será que seria de mau tom? Marlene não era muito afeita à outras garotas, mas poderia conseguir convencê-la, aproveitando-se da empolgação pela vitória. Era melhor que a Grifinória ganhasse!
A arquibancada estava de pé, com Patricia Wood, Chloe Hughes e Louisa Spinnet animando a torcida. As fitas rubras e douradas subiam ao ar, dançando agitadas pelas mãos dos grifinórios. Palmas, gritos de guerra e um monte de assovios vinham de todos os lados. Merlin, aquilo era degradante! Sirius empurrou os óculos escuros mais fundo no rosto.
- Levanta daí, Almofadinhas! – Peter chamou.
- Você parece um vampiro depressivo! – Lupin emendou, com uma cara de desaprovação.
- Isso é porque é exatamente o que eu sou, meu querido Aluado! Sair da cama antes do meio-dia no final de semana deveria ser um crime tipificado!
- O Pontas precisa da sua torcida! – Rabicho estendeu uma das malditas fitinhas pra ele.
- Vou deixá-lo se virar sem mim uma vez na vida.
Sua relação com o quadribol era peculiar. Não fora uma criança particularmente entusiasmada pelo jogo. Órion gostava de esportes muito mais elitistas. Se possível, que envolvessem apostas. Nada exagerado, é claro! Isso estragaria sua fachada de homem perfeito. Apenas o bastante para honrar sua masculinidade e fazê-lo ter prestígio na frente dos outros ricos. Sirius fora arrastado algumas vezes para acompanhá-lo, quando já tinha idade suficiente para entender do que se tratava. Apenas o número de vezes suficiente para que o homem pudesse exibir seu pequeno sucessor em sociedade e, de quebra, posar de bom pai.
Depois, enfrentara uma fase de súbito interesse, por volta dos 10 anos. Bellatrix adorava encher a boca para dizer que o quadribol era o ópio dos energúmenos. Aquela frase ensaiada, repetida para cada novo interlocutor, tinha o propósito de fazer os amigos da família elogiarem sua inteligência e a maturidade pra idade que tinha. Sirius fingia amar o esporte, só pra provocá-la. Fez seus pais lhe comprarem um monte de tralha de times e forçou Órion a levá-lo a um jogo do campeonato europeu. Conseguiu até que lhe matriculassem em uma aula para crianças, no verão antes do seu primeiro ano em Hogwarts. Durante seis semanas, seu pai acompanhou a ele e a Regulus para aquele curso de férias, com um sorriso fingido de orgulho que arrebatou todas as mamães da pré-escola. Foi aí que seu irmão se encantou de verdade pelo esporte e enquanto o interesse do caçula crescia exponencialmente, o dele se reduziu a zero.
Ainda assim, aquela curta fase garantiu o primeiro assunto entre ele e James, no Expresso. O garoto desconhecido era fanático e sabia de tudo sobre quadribol. Conversaram um bom pedaço do caminho, na primeira interação do que viria a ser tornar a amizade mais sólida que Sirius construiria na vida. Os caminhos do destino eram tortuosos e burlescos. Talvez Pontas não tivesse se tornado seu melhor amigo, se não fosse pela seu desejo incontrolável por atazanar Bellatrix. Seu desejo incontrolável por Bellatrix.
Tinha pensado muitas vezes nela nas últimas semanas. Muito mais do que deveria se permitir pensar. Muito mais do que era normal. Muito mais mesmo do que o seu normal, que já era superior ao das outras pessoas. Sirius tinha um certo probleminha de desenvolver obsessão por certas coisas. Uma delas era Bella.
Sentia falta da mulher, mesmo que lhe custasse admitir. As companhias com quem andara se divertindo eram ótimas! Mas nenhuma conseguira fazê-lo sentir um desejo tão arrebatador e um deleite tão genuíno quanto a prima. Era como usar drogas pesadas, cepois que você descobria o absurdo prazer que elas podiam lhe dar, todas as outras pareciam mixurucas e sem apelo. Eram só o suficiente pra entreter a ele até a próxima dose. E seu corpo andava pedindo assustadoramente por outra dose de Bellatrix.
O único probleminha nisso tudo é que a próxima vez em que estariam um diante do outro seria no casamento dela. Era uma merda que Bellatrix tivesse que se casar com um otário. É óbvio que nenhum dos engomadinhos de famílias tradicionais daria conta do furacão que sua prima era. Muito menos Rodolphus Lestrange, com aquela cara ensaboada. Ela também devia sentir sua falta, mesmo que fingisse o contrário. Sirius sabia dar exatamente o que Bella queria! E, falando com modéstia, era muito provavelmente o único que conseguia fazê-lo. As injustiças da vida eram tremendas! Toda sua diversão teria que ser abandonada, só porque seus tios queriam que Bellatrix fizesse um casamento bom pra família Black. Bom pra quem? Ele era um Black e essa merda não ia lhe trazer nenhum benefício. Aquela porra monogâmica ainda ia acabar com a graça do mundo!
Seus pensamentos foram perturbados quando James desceu num voo agitado, fazendo piruetas no ar. A juíza apitou o fim da partida. Alexa berrava, para que a narração sobrepujasse a comemoração exultante da torcida. O time da Grifinória pulava alucinado das vassouras, juntando-se num bizarro abraço coletivo de comemoração. Eca! A arquibancada exultava de alegria e Sirius comemorou também. Finalmente a tortura tinha acabado! Que viessem logo os comes e os bebes. Ele merecia, depois de aguentar aquele jogo.
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Bolos de Caldeirão. Aos montes. Espalhados para quem quisesse se servir. Aquele era o terceiro que Remus comia. No quarto minguante, ele sempre se sentia assim: Dolorido, como se um trem tivesse passado por cima dele, e com uma fome insaciável. Mastigava e observava, dissipando a própria ansiedade. A sala comunal estava cheia. Pra todos os lados, alunos usando vermelho e dourado se acumulavam, em grupinhos. Ninguém estava ligando pro sol que cobria o jardim. O bom clima não importava pros grifinórios naquele dia. Nada os atrairia para o lado de fora quando a festa estava estourando lá dentro.
A Grifinória ia se consagrar tricampeã, seguindo invicta por mais uma temporada. O último jogo do campeonato, entre Sonserina e Corvinal seria uma mera formalidade. Era matematicamente impossível que não vencessem. Aquela vitória técnica, alcançada pelo desempenho impecável no jogo que ocorrera pela manhã, era o suficiente para que iniciassem as comemorações, mesmo antes de receber o troféu. Além disso, James estava completando 16 anos. E o garoto jamais deixaria que isso passasse despercebido.
Agora mesmo, o apanhador estava no centro da pista de dança, remexendo os quadris. Chloe Hughes, Leonard Johnson e Sienna Clearwater o acompanhavam, improvisando coreografias esdrúxulas em conjunto. Potter estava com os braços pro alto, uma garrafa de cerveja amanteigada erguida acima da cabeça. Qualquer um adivinharia que o líquido contido ali não era exatamente o que o rótulo indicava. Remus tinha decido não intervir até que ele começasse a passar dos limites. Estava cansado de bancar o pai dos amigos. Até a sensatez precisava de limiares, pra não se tornar uma prisão pros outros e para ele próprio. Bebeu da sua garrafa, verdadeiramente cheia com cerveja amanteigada.
O mau humor matinal de Sirius tinha ido embora depois do segundo cigarro e ele rebolava no ritmo da música. Os lábios estavam colados a orelha de Marlene McKinnon, sussurrando alguma coisa que parecia ser divertidíssima, porque a morena gargalhava sem controle. A artilheira também devia estar altinha. Que James sequer imaginasse o que ele estava pensando, mas ela bem que merecia! Pontas podia ter capturado o pomo e encerrado a partida, mas a vitória da Grifinória era sobretudo dela e da quantidade absurda de pontos que tinha marcado. O jogo havia sido uma verdadeira batalha de deusas do quadribol: McKinnon x Vance.
Rabicho tomara lugar numa animada roda de Snap Explosivo, com os sextanistas. Era a vez de Fred Harris e Max Galston parecia preocupado, os dedos puxando nervosamente as pontas de seu blackpower. Mary MacDonald e Oscar Clarke discutiam um outro assunto, possivelmente debatendo sobre algo extremamente artístico ou filosófico. Remus nunca conseguia entender as conversas daqueles dois. Louisa Spinnet dava risadinhas, as pernas meticulosamente encostadas nas de Max. Percebeu que ele a observa e deu uma piscada em retribuição. Remus cumprimentou, tirando uma chapéu imaginário da cabeça. Tinham se divertido na saudação, mas fora uma aventura romântica de um único capítulo. Como todas deveriam ser para ele.
A única sextanista de fora da roda era Elizabeth Pluffek. Com os olhos cor de âmbar, a artilheira acompanhava a pista de dança. Ou melhor, o que estava logo atrás dela. Numa interlocução ritmada, Dimitri Thomas e Edgar Bones debatiam. Muito provavelmente, sobre quadribol. Os dois viviam e respiram para o esporte. Ao fim do ano letivo, era quase certo que os garotos seriam contratados por algum clube da liga europeia. A moça receava, ponderando se deveria falar com o capitão do time. Pontas tinha contado no dormitório que as coisas tinham desandado entre eles dois, enfurecido pelo clima pesado que decorrera no treino. Agora, aliviados pela vitória, o cenário poderia ser diferente. Lupin imaginou que era com isso que Elizabeth contava.
Observar, sem ser percebido. Aquilo tinha lhe sido quase imposto, pela sua condição. Mas aos poucos, transformara-se em uma paixão. Remus sentia-se satisfeito em admitir que estava se tornando realmente bom em ler as emoções e intenções das pessoas. Principalmente em um bando de adolescentes, cujos sentimentos brotavam pelos poros. O silêncio e a introspecção tinham suas vantagens.
Uma virada da música. Uma mudança natural no disco. Foi o empurrãozinho necessário. Edgar se afastou para pegar outra rodada de cervejas e Pluffek foi impelida a fazer o que estivera cogitando. Fez uma caminho certeiro e não usou meias palavras. Remus pode ler um “desculpa pelo vacilo” em seus lábios, antes de ela enfiá-los com tudo nos de Dimitri. O time, espalhado em seus grupinhos, parou tudo que estava fazendo para olhar, numa espécie de prece de agradecimento coletivo pela coisa estar se resolvendo. Marlene assobiou e Bones a acompanhou. Dimitri riu, envergonhado, mas largou a cerveja vazia pra apertar o quadril da garota pra mais perto de si.
- É isso, porra!!! É pra isso que eu peguei o caralho do pomo. Todo mundo se comendo feliz, a porra toda resolvida. É pra isso!! – Com a voz embargada pelo álcool, James aplaudiu. – Vamos, pessoal! Vamos aplaudir o amor!
- Já chega, Pontas. – Ele interveio, com a voz séria.
- Aluado, meu amigão!! Vem aqui!
- Qual é, Pontas? Sai fora!
- O que é isso, amigão? Só quero te falar uma coisinha. – Dobrou a mão várias vezes, como se chamasse um cachorrinho. - Vem aqui!
- Vai logo, Remus! Se não essa porra desse bêbado não vai parar de encher o saco. – Sirius reclamou, afastando os cabelos que caiam sobre o rosto suado.
Revirando os olhos, o garoto enfiou o último pedaço do bolo de caldeirão na boca. Mastigou com pressa, antes de ir até o centro da pista onde Pontas estava parado. Logo hoje, que estava decidido a ignorar a bebedeira dos amigos. Logo hoje, que tudo que queria era que suas olheiras enormes passassem despercebidas. Logo hoje.
- Tem alguém que você precisa conhecer. – Colocou o braço envolta do seu ombro, a garrafa gelada da cerveja molhando sua camisa.
- Aqui? – Lupin riu. Pontas queria apresenta-lo pra alguém da Grifinória? Será que o amigo tinha esquecido que ele era monitor? - Nessa sala comunal?
- Aqui, aqui. – A voz do amigo ia crescendo a cada palavra, gritando por cima da música. Uma boa parte das pessoas ainda estava olhando pra eles. - Uma pessoa excelente. Excepcional! Uma pessoa ímpar! Minha amiga Dorcas. Dorquinhas, minha princesa! Venha, venha!
James abriu o outro braço na direção oposta. Remus imaginou que ele não fazia muita ideia de onde Dorcas se encontrava. Por sorte, ela estava na sala comunal. A amiga dela, também do time, deu uma risadinha contida. A loira caminhou até eles, olhando para os lados e respirando aliviada ao conferir que a maioria das pessoas tinha perdido o interesse e poucas ainda acompanhavam o desenrolar da cena. Potter passou o braço livre pelo ombro dela.
- Aqui está o Remus, Dorqueline. Agora vão se divertir!
- O que é isso, Potter? Um casamento arranjado? – Ela riu, tentando disfarçar o constrangimento com uma postura divertida
- Não fale essa palavra, Dorquis. Vai assustar o rapaz! – Virou o rosto na sua direção. - Aluado, essa é a Dorcas. Uma goleira excelente! Excepcional! Se ela tem esse jeitinho com uma bola daquele tamanho, imagina o que mais não sabe fazer com essas mãos...
- Pontas! – Remus arregalou os olhos, em repreensão. - Fecha o gargalo das asneiras!
- Não seja ingrato, meu amigo! – O rapaz fez uma cara de ofendido que não combinava em nada com as barbaridades que estava dizendo. - Eu só estou fazendo um favor pra minha coleguinha. Dorquinhas, aproveite!
- Obrigada, grande rei aniversariante gatão sensual! – Dorcas piscou, improvisando uma pirueta para se desvencilhar do braço do garoto.
-De nada, minha querida Dorquetes. – James enviou um beijo para ela pelo ar. - Você sabe que gosto de você porque nunca se equivoca!
- Desculpa por isso! Bêbado é foda... – Acompanhou James se afastar, com o olhar. - Eu sou Remus, a propósito. Acho que ele nem disse meu nome.
- Dorcas! – Apertou a mão que ele tinha oferecido. – Mas isso você com certeza já sabe, depois de ele repetir tantas vezes. – Deu um sorrisinho. - A gente se conheceu no treino, dia desses.
- É claro! Você me ajudou com os desenhos que estavam voando.
- É o que eu faço. Pegar coisas que estão voando. – Deu de ombros, com um sorriso brincalhão, de olhos apertados.
- Parabéns pela vitória! Foi um jogo e tanto.
- Já tivemos partida mais emocionantes, eu diria. Mas fizemos um bom trabalho!
- Você foi excelente! A Vance é muito boa.
- Obrigada! Você também gosta de quadribol? Ou só acompanha por causa do Potter?
- Não é minha coisa favorita. Mas eu tento ser um bom amigo, apesar de ele ser um escroto às vezes. – Sorriu, analisando a risada se formar no rosto dela. - Você quer beber alguma coisa?
- Adoraria!
Foram juntos até a mesa onde as cervejas amanteigadas estavam dispostas, num dos cantinhos da sala. A festa retomara ao ritmo normal, com as danças excêntricas, os romances e os grupinhos batendo papo. Remus abriu a primeira garrafa, entregando a ela com gentileza. Depois, abriu uma para si. Dorcas levantou a bebida na altura dos olhos.
- Um brinde aos bêbados caóticos cheios de maluquices. – Bateram as garrafas uma na outra, fazendo um estalo. - E ao início de novas amizades!
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