Tarde demais pra voltar a dormir

Harry Potter - J. K. Rowling
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Tarde demais pra voltar a dormir
Summary
Uma gota caindo na água reverbera no lago inteiro. Uma troca de olhares que se estende pode mover todas as peças ao redor. James Potter e os problemas são velhos amigos, prestes a se conhecer muito melhor. O que há por trás dos encantadores olhos que parecem persegui-lo por todos os lados?Para Narcissa Black, tudo é heterogêneo. Em que ponto do infinito tudo se mistura? Se você procura uma história de drama, amores e nós do destino se entrelaçando, é tarde demais pra voltar a dormir!Essa é uma história sobre o que poderia ter acontecido enquanto os marotos estavam em Hogwarts, sob a sombra da Primeira Guerra Bruxa. A maior parte dos personagens e cenários descritos pertencem a J. K. Rowling e são utilizados nessa fanfiction sem nenhum tipo de intenção comercial. Algumas datas e ordens de acontecimentos foram alteradas para que a história pudesse fazer sentido.
Note
Olá, pessoal!Gostaria de lembrá-los que essa história se passa nos anos 1970, então algumas atitudes, falas e pensamentos dos personagens podem parecer ultrapassados e inaceitáveis para os dias de hoje. Lembrem que tudo está inserido em um contexto! Fumar em qualquer lugar era um hábito da época, por exemplo.Aproveito pra lembrá-los de ter moderação com o consumo de álcool e cigarros, que é bastante frequente nessa história.Por fim, alerto que a história é ampla e vai comportar um monte de possibilidades, se você não se sente confortável com linguagem chula, violência, homossexualidade/bissexualidade, bullying, cenas de sexo e outros tópicos delicados, eu tomaria cuidado!ATENÇÃO!!Este capítulo contém cenas de bullying.
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Cupido de São Valentim

Desceu os degraus aos pulos, dois de cada vez. Tinha só três horas pela frente antes de ter que voltar ao dormitório. Dimitri estava lhe dando cobertura e ele não queria abusar. Ia ser apertado, mas não havia outra alternativa a não ser funcionar. Passou os dedos com pressa sobre a tela, simulando cócegas, até a transformação da suculenta pera em uma maçaneta esverdeada estar completa.

O calor abafado dos fornos atingiu seu rosto. Todas as incursões a cozinha eram banhadas por aquele mormaço e as vezes James sentia pena dos elfos. Possivelmente infundada, porque as criaturas aparentavam estar sempre absolutamente felizes ali. Depois de quase congelar no curto pulo que dera em Hogsmead, num inverno que parecia que nunca teria fim, até que era agradável estar lá dentro.

- Temo que minha intuição estivesse certa todos esses anos: Estamos mesmo fornecendo uma quantidade aquém do necessário nas refeições.

- Senhor? – James franziu o cenho, subitamente apatetado pelo choque de encontrar o diretor ali.

- O jantar terminou há menos de uma hora e já temos nossa primeira peregrinação à procura de um lanche noturno! A professora McGonagall vai ficar contrariada quando eu lhe disser que estava certo. Teremos que replanejar as quantidade antes que seja tarde para evitar um escândalo junto à comunidade mágica! Imagine, Sr. Potter, as manchetes: “Desmascarada desnutrição grave dos alunos de Hogwarts”. – Mais uma vez, aquele sorriso zombeteiro estava estampado na face de Dumbledore. James não conseguia precisar quanto do que ele dizia por trás daquele sorriso era puramente gozação e quanto era sério.

- Não cheguei a tempo para o jantar hoje, senhor. – Esclareceu, bagunçando os cabelos. – Na verdade, não me preocupei em ir. Amanhã é dia de São Valentim e planejei fazer uma pequena comemoração adiantada...

As mãozinhas do elfo se esticaram, enquanto a coluna já encurvada de Albus Dumbledore se dobrava ainda mais para receber a caneca. Tomou um gole longo e, quando afastou a bebida dos lábios, tinha um pouco de espuma sobre o bigode branco.

- Leite com canela! – Levantou a caneca, num brinde silencioso. - Ótimo para nos ajudar a relaxar antes de uma boa noite de sono, Sr. Potter. – Bebeu mais um gole, breve dessa vez. – A canela desanuvia a mente. Evita episódios de compartilhamento indevido de segredos! – Se afastou em direção a porta, levando consigo a caneca. – Vai precisar de água para a flor, Sr. Potter, se não quiser que ela murche. Tenha uma boa noite de descanso! – Piscou um dos olhos, por trás dos oclinhos de meia-lua e saiu.

James tateou o bolso, sentindo o caule e as pétalas intactas, escondidas embaixo das vestes. Como diabos ele...? Não importava, ele não tinha tempo a perder com aquelas caraminholas. Entender Dumbledore era algo impossível para um reles mortal.

Se apressou em explicar a um dos elfos o que queria, usando de todo o seu charme para convencê-lo. Hoje ele estava pedindo muito mais do que o convencional, mas era necessário. Queria impressionar Narcissa! Ia ser a primeira data comemorativa em que estavam mesmo juntos e o garoto ambicionava que fosse memorável! Transformar isso em realidade para alguém acostumado a ter tudo, como uma Black, não ia ser fácil. Mas afinal de contas, ele era James Potter! Se alguém era capaz de conseguir impressioná-la, esse alguém seria ele.

A tonelada de transfigurações lhe tomou um bom tempo. Estendeu a toalha. Arrumou os pratos. Posicionou as taças e os talheres. Ligou o rádio. Acendeu as velas. As batidas ritmadas na porta lhe tiraram de um transe em que estava, indeciso sobre a posição do candelabro. Não dava mais tempo pra mudar nada: Ela tinha chegado! Olhou ao redor da sala e respirou satisfeito com tudo que fizera. Forçado a decidir, arrumou o castiçal um pouco mais para o centro da mesa, afastando os pratos, e correu até a entrada. Abriu uma pequena fresta, para confirmar que era mesmo ela.

- Feche os olhos! – Ordenou, enfiando o rosto pela fresta. – Nada de abrir até eu dizer que sim.

- Sim, senhor, capitão! – Bateu continência, fechando as pálpebras.

Ela se meteu com destreza na sala, assim que a deixou passar. Fechou a porta atrás de si e caminhou até estar de frente a ela. Entrelaçou os dedos de suas mãos, erguendo os braços dela a frente do corpo. Narcissa sorria, com os olhos suavemente cerrados. Linda, é claro! Os cabelos estavam presos num coque frouxo, com alguns fios dourados caindo no rosto. Usava um suéter marrom clarinho, os dois primeiros botões abertos para revelar uma profusão de pequenos colares sobre o peito, inclusive a estrela com que ele lhe presenteara. A calça estampada de um xadrez pequenininho, em tons de marrom, subia até a cintura, reforçando sua ínfima circunferência. As bochechas delicadamente coradas eram o único sinal que denotava a pressa que tivera em chegar ali, quebrando a aura de impecabilidade.

- Você queria um bistrô italiano, no réveillon... E como não podia levá-la a ele hoje, decidi trazê-lo até você. Pode abrir os olhos agora. – Soltou a mão dela, estendendo o braço para indicar a mesa. - Benvenuta, signorina!

Potter sorriu, aliviado, vendo o rosto dela ser pintado pela surpresa. A calçada de pedras, as luzinhas pendendo, a toalha vermelha quadriculada, as velas acesas, as taças de vinho: Tudo estava lá. Uma pequena réplica do imaginário italiano, ali em Hogwarts. O cansaço sumiu no momento em que viu como os olhos dela brilhavam.

- James! – Cobriu a boca com as mãos. – É... perfeito! Merlin, eu... Céus, estou envergonhada com o presente que te trouxe!

- Relaxa! O jantar não é o presente. – Tateou o bolso da capa, que deixara jogada sobre o sofá. – Feliz quase dia de São Valentim, Cissa!

Ofereceu a flor a ela. Apenas uma. Número que, segundo as tradições, significava amor. Não uma rosa vermelha, como qualquer um poderia fazer. Não! Um único e singelo narciso branco. Tinha sido um trabalho extra se esgueirar por Hogsmead depois das aulas para buscar a encomenda, mas ele não tinha como se arrepender. Não depois de testemunhar aquele sorriso no rosto da moça. Os dedos finos tocaram suavemente as pétalas, acariciando-as.

- James! – Repetiu, admirada.

- Um presente singular, para uma mulher singular. - Beijou a bochecha da loira com candura.

Ela segurou o rosto do rapaz, envolvendo-o com a mão livre e acariciando-o com o polegar. Pousou os lábios sobre os dele, afastando-se rapidamente para em seguida voltar e dar-lhe mais um beijo. Com um sorriso tímido, tirou uma caixinha do bolso e entregou a James. Desfazendo o laço, o garoto tirou a tampa da caixa, alcançando o presente no fundo. Parecia exatamente como um lembrol. Ele arqueou uma das sobrancelhas, curioso. Definitivamente era um lembrol! Contudo, o centro não era preenchido pela característica nuvem de fumaça que mudava de cor caso o dono estivesse esquecendo de algo. Num holograma, estava representado um céu noturno, rajado de estrelas e iluminado por uma suave lua nova.

- É a exata configuração em que estava na véspera de ano novo. – Ela explicou, contendo um sorriso orgulhoso. – Tenta chacoalhar!

Desconfiado, James balançou a pequena esfera transparente. Atravessando a circunferência de um lado a outro havia minúsculos bonequinhos, montados em uma vassoura. Eles dois estavam replicados em tudo nos bonecos, desde os cabelos até as minúsculas roupinhas. Por cima da escuridão da noite, fogos de artifício de tamanho mínimo estouravam em uma variedade de cores e formatos. Narcissa estava sendo modesta: O presente era tão delicado e significativo quanto ela.

- Não é nada perto de tudo isso... – Esticou o braço em direção a mesa posta. – Mas assim você nunca vai esquecer aquele momento.

- É lindo, Cissa! Muito obrigado! –  Chacoalhou mais uma vez a esfera, observando com encanto os fogos voltarem a estourar. Foi a vez de ele dar a moça um beijo em agradecimento. – Agora, vamos? O jantar está servido! – Brincou, caminhando e levando-a consigo. – Signorina. – Puxou a cadeira para que ela se sentasse, dando a volta na mesa e sentando-se em frente a ela.

A flor foi colocada num vasinho com água, para evitar que murchasse. Agradeceu mentalmente ao diretor pela dica. Serviu o vinho nas taças, hipnotizado pelo rubro líquido enchendo o vidro. O feitiço se deu em seguida, exatamente como ele planejara, iniciado pelo primeiro levar da taça até os lábios: A cobertura de metal que tampava os pratos se dissolveu, exibindo o spaghetti alla carbonara preparado pelos elfos.

- James!!! Você é maluco? Como é que...? Estamos em Hogwarts!

- Com um jeitinho, dá pra resolver qualquer coisa. – Piscou um dos olhos para ela, tomando os talheres para começar a comer.

Malditas criaturinhas. Como é que transitavam tão facilmente do pudim de rins para a culinária italiana sem errar? O macarrão estava perfeitamente cozido e o bacon crocante na medida exata. Por trás das velas, Narcissa estava concentrada, enrolando a massa com destreza, utilizando um garfo e uma colher.

- Então... Não vai me contar como aprontou tudo isso, Sr. Potter?

- Um verdadeiro mago não revela seus truques tão facilmente.

- Ah, é? – Uma das sobrancelhas da loira se ergueu ligeiramente.

- Não em troca de nada.

A moça levantou as pálpebras, fitando-o por cima do candelabro. Sem afastar o olhar, envolveu a taça com uma das mãos, transformando o bebericar do vinho em resposta na forma de provocação. As írises de tom cerúleo sorriam, cheias de um ar divertido. O centro dos lábios rosados ia aos pouco sendo tingido pela cor forte da bebida. James não desviou o olhar, levando o garfo a boca sem prestar tanta atenção no que estava fazendo. O sabor delicioso do macarrão lhe parecia secundário agora, esmaecido pelo desejo de sentir aquela boca junto a sua e sorver o vinho que se depositava sobre ela.

- Planos para amanhã? – Narcissa indagou, depois de um curto intervalo, terminando de mastigar. Limpou a boca com o guardanapo de pano, sem perder a expressão cínica.

- Nada de especial. Vou aproveitar o clima de romance para abordar a Evans pela primeira vez! Preparei um presentinho para ela.

- Se for simples como o que você fez hoje, tenho minhas dúvidas de que ela vá recusar facilmente como se espera. – Sorriu, provocando, e cobriu a boca com a taça em seguida.

- Talvez você me perca para ela amanhã mesmo. – O rapaz devolveu a provocação, passando a mão pelos cabelos.

- Seria uma pena, James... Mas não uma surpresa. – Cissa descansou os talheres sobre o prato vazio, esfregando o guardanapo sobre a boca. -  Nós, mulheres, temos que estar preparadas. Vocês são imprevisíveis! – Elevou a taça, girando-a voluptuosamente. - Nunca dá pra ter certeza de que não vamos ser trocadas por uma Evans de uma hora pra outra.

James segurou a varinha e com um floreio, fez com que os pratos vazios desaparecessem, direto para a cozinha! Deixando o centro da mesa livre, afastou o castiçal e o vaso com cuidado. O espaço serviu para acomodar a sobremesa: Um autêntico tiramissù, acompanhado de duas colheres. Nada mais romântico do que dividir a sobremesa. O doce deslizou encorpado por sua língua. Narcissa comia aos bocadinhos, sorrindo quase imperceptivelmente para si mesma a cada colherada.

Deitaram as colheres sobre o prato já desocupado. Apesar do silêncio, trocavam olhares preenchidos de diálogos. A garota acendeu um cigarro, prendendo aquele anel no dedo e tragando lentamente. Teve vontade de xingar, tão embriagado estava por aquela cena se desenrolando. O fato de a sua taça já ter sido enchida uma segunda vez também contribuía para que se sentisse menos comedido. Narcissa tomou um gole mais curto, interrompendo o trago e empurrando a cadeira.

- Céus, eu adoro essa música! – Jogou a cabeça pra trás, fitando o teto, antes de se levantar. - You got your demons and you got desires. Well, I got a few of my own.

De pé, foi até o rádio, equilibrando a taça em cima dele para tirar do bolso a varinha, que logo foi guardada novamente, assim que ela aumentou um pouco o volume do aparelho. Àquela altura, parte do penteado já tinha se desprendido, dando-lhe um ar mais selvagem. Os lábios estavam manchados em um tom escuro, de aparência gótica. Ergueu a taça quase acima da cabeça, remexendo os quadris e soltando espirais de fumaça que deixavam o ambiente opaco.

- I've been searching for the daughter of the devil himself. I've been searching for an angel in white. I've been waiting for a woman who's a little of both, and I can feel her but she's nowhere in sight.

Os ombros dela se moviam acompanhando o ritmo da música e a cintura traçava desenhos no ar. O rapaz mordeu o lábio inferior, apertando a cadeira com as mãos. Os olhos azulados fulguravam, ligeiramente ébrios, consumindo a James de cima a baixo. O coração do garoto batia desgovernado no peito e, com um pouco de concentração, seria capaz de sentir o sangue circulando pegajoso por seu corpo. Narcissa virou o que ainda restava do vinho, largando a taça em cima da mesa. Deu uma longa tragada, voltando a cantar com a voz repleta de luxúria, uma expressão travessa no rosto.

 - One of these nights. Hm... In between the dark and the light... – Ela puxou a James pela mão, para que ficasse de pé. A boca, ainda úmida pelo vinho, correu direto para o seu ouvido. - Coming right behind you, swear I'm gonna find you. Get ya baby, one of these nights...

As unhas dela arranhavam levemente a base da sua nuca. Tragou uma última vez, soltando a fumaça dentro da boca do rapaz. Apagou o fumo no pratinho da sobremesa, abandonando-o junto com o suporte de metal. Na língua da garota o amargor do café se mesclava ao cheiro mentolado do cigarro e James sorveu cada pedacinho daquele sabor. O corpo dela se balançava junto ao seu, convidando-o a seguir o ritmo da música, num entrelace em que não se sabia exatamente os limites entre a dança e o beijo.

Tirou os óculos com pressa, lançando-os sobre a mesa, de forma descuidada. Segurou-a pelos quadris, trazendo-a para si, para que pudesse submergir naquela boca. A lareira começara a parecer quente demais. Os lábios dela se derramaram sobre seu pescoço, perdendo-se nas orelhas, nas têmporas, no maxilar. Ele ardia, sentindo-se febril. O cheiro de Narcissa lhe intoxicara os sentidos, deixando-o inebriado. Os dedos longos da loira puxavam os cabelos da parte de trás da sua cabeça, deixando a sutileza para trás ao enroscarem-se neles.

Ela enfiou a mão por debaixo de seu suéter, tateando os contornos do seu torso. As pontas dos dedos iam queimando sua pele. Narcissa ia lhe devorando os lábios, mordiscando, sorvendo e beijando, até começar tudo outra vez. Deu um sorriso, afundando a mão livre em uma das nádegas dela, enquanto a outra a segurava pelo pescoço. Ela foi rápida, correndo os dedos pela barra do seu jeans. O botão já estava aberto e, num reflexo, ele afastou a mão da loira, cobrindo o fecho com os dedos.

Enxergou de relance que a moça franzia o cenho, sem, contudo perder tempo. Ela mordeu o lóbulo da sua orelha, descendo a língua pelo seu queixo e, depois, pelo pomo de adão. Segurando seu suéter pela parte de baixo, o arrastou pela sala, até que alcançassem o sofá. Espalmou a mão em seu peito, empurrando-o para que se sentasse. Quando o fitou, ela tinha chamas nos olhos. James engoliu em seco, enxarcado pelo nervosismo. Sem perder a naturalidade, Narcissa posicionou as pernas ao lado de suas coxas, sentando-se sobre ele. Não pode evitar prender a respiração, arregalando ligeiramente os olhos. Suas mãos pendiam inertes ao lado do corpo, enquanto a boca macia da moça imprimia força sobre a sua.

- ‘Tá tudo bem? – Ela afastou o rosto do seu, fitando-o com um semblante intrigado.

- ‘Tá. – Respondeu, desmentido imediatamente pelo curto fiapo de voz que lhe acudira.

Percebeu que os olhos dela analisavam sua expressão, curiosos por entender. Ele queria mesmo se mexer, prendê-la pela cintura, deitá-la no sofá e beijá-la pelo resto da noite. Mas seus braços pesavam como chumbo. O quadril dela ainda pressionava levemente o seu, o que ampliava sua ansiedade. Merda, merda, merda, merda! Havia dois James naquele momento: O que contornara a situação, retomando o beijo sem perder a compostura e o que estava estatelado, sem reação. O primeiro deles existia apenas na sua cabeça e os dois se distanciavam cada vez mais.

- James... – Narcissa mordiscou o próprio lábio, o que fazia sempre que estava conjecturando. – Você por acaso...não é... virgem, é?

Ele piscou, o suor escorrendo pelas costas. Merda, merda, merda, merda! O que é que ele ia fazer agora? Sentiu seu couro cabeludo formigar, o calor subindo pelas bochechas. Pensou em negar, mas agora era tarde. Certamente estaria vermelho como um pimentão. Observou a cena em que se encontravam, tentando analisá-la friamente. Já imaginava como aquilo ia terminar: Ele ia gaguejar ao negar, Narcissa fingiria acreditar, embora estivesse profundamente convencida de que ele mentira. Por que se humilhar, então? Não haja como um covarde, James Potter! Você é um grifinório! Olhou no fundo das írises dela, percorrendo o rosto que aguardava curioso pela resposta. Assentiu ligeiramente, baixando os olhos.

- Aí, merda. Desculpa! – Ela sussurrou. – Você serviu vinho! – Replicou, em tom acusatório.

Ergueu o tronco no mesmo instante, pondo-se de pé a frente dele. Uma parte de sua mente gritava um bilhão de xingamentos, um atrás do outro. Talvez nenhuma daquelas palavras de baixo calão conseguisse conter a ira que ele experimentava. Puta que pariu! Por que simplesmente agira igual um palerma? Todas as vezes que se sentira nervoso ao lado de uma garota, tinha sido fácil contornar. Ele era um cara seguro, com uma autoestima suficiente para levá-lo a lua. Mas ali, com Narcissa, não conseguira. O medo o tomara muito mais do que o normal, preocupado em estragar tudo. Agora, tinha mesmo estragado.

- Desculpa! Mesmo. Eu devia ter ido mais devagar. Só achei que... Sei lá. Você é tão amigo do Sirius! Julguei que eram farinha do mesmo saco.

Narcissa caminhou pela sala, as pernas longas lhe acentuando a postura elegante, mesmo descalça. Tirou um outro cigarro de dentro da carteira, prendendo-o ao suporte. Acendeu, tragando em silêncio, com o quadril apoiando na mesa em que haviam jantado. De súbito, parecia quase completamente sóbria.

- Você... – Procurou dentro de si as palavras, ainda que sua voz se mantivesse fraca. – Não é?

- Merlin, não! – Deu uma risadinha, para cobrir a celeridade rude da resposta.

É claro que não! Ele estava agindo como um idiota pela segunda vez num intervalo minúsculo. Era uma recorde até para ele. Palmas, James Potter! Excelente atuação! Se ela não saísse correndo nos próximos 5 minutos, seria uma enorme vitória. Usou a varinha para trazer os óculos até si, enfiando-os no rosto, buscando ver com clareza a vergonha que estava passando, agora que a moça não estava mais perto o suficiente para que sua miopia o permitisse enxergá-la em detalhes.

- Você se lembra do professor Gastrell? – Ela perguntou, encarando as próprias unhas.

- Mais uma das vítimas de DCAT? Aquele ruivo, musculoso? Cara maneiro! Ele usava nossas detenções pra ajudá-lo a construir uma miniatura de Meteoro-Chinês. - A loira tirou o cigarro da boca, balançando-o no ar com uma expressão culpada. – Espera aí... Você...? ISSO FOI NO SEGUNDO ANO!!

- Eu tinha 14, tá? – Colocou o cigarro nos lábios, puxando o ar.

- ELE ERA UM PROFESSOR!

- Substituto.

- NARCISSA! Aqui? Em Hogwarts?

- Se não, onde?

- NARCISSA! – Arregalou os olhos, suavemente chocado.

- Sem tanto pudor, James Potter. Você não é nenhum exemplo de respeito pelas normas escolares! – Ela riu, descartando as cinzas sobre o prato com uma batidinha.

O garoto parou um pouco, processando a informação. A imagem cândida que ele um dia tivera de Narcissa tinha ido por água abaixo. Um professor! Dentro da escola! James se lembrava de ver as meninas cochichando pelos cantos, dando risadinhas quando Gastrell passava. Até onde sua memória conseguia alcançar, ele era um cara bonitão, os cabelos meio compridos, usando brincos. O único dos professores que parecia não ter 150 anos. Era óbvio que chamava a atenção! Narcissa tivera a sorte de ser a escolhida. Ou pelo menos, uma das.

- Você se arrependeu?

- Não. Mas acho que com a cabeça de hoje, faria diferente. – Ponderou, o olhar desviando-se para a janela.

- Por quê?

- O impulso do desejo faz a gente tomar umas decisões sem pensar.

- Então você se arrepende.

- Não é isso... Eu vejo as coisas de outra forma agora. Não me arrependo, porque na época, eu quis muito aquilo. Até que fui lá e fiz! Foi bom! Pra mim, pra ele...

- Isso não é o que importa? – Interrompeu, mantendo as pupilas sobre ela, para avaliar suas expressões.

- Também. – Soltou a fumaça com uma lentidão exagerada. – Porém não só. Sexo é gostoso, mas tem muito mais substância quando é feito com alma. Nós dois éramos só corpos, atendendo ao desejo, puro e instintivo. Quando terminava, não tinha nada pra gente conversar. O que uma garotinha tola como eu podia interessar pra ele além do físico?

A sinceridade nua e crua dela o assustava, às vezes. Narcissa apagou o cigarro, enfiando a caixinha e o suporte no bolso da calça. Atravessou a sala no sentindo contrário, sentando-se graciosamente ao lado dele, no sofá. Os dois estavam concentrados em suas próprias ideias, maturando a conversa. Cissa mordia a unha do polegar, pensativa.

- Não estou querendo soar como uma idosa ultraconservadora... Se os dois estão a fim, vá em frente! Tem tudo pra ser bom. Mas se você dá sorte de encontrar alguém por aí que se importa minimamente com você, a experiência adquire um outro nível. Hoje, acho que eu esperaria pra esbarrar com alguém que tivesse algum interesse no que eu penso, sabe?

- Faz sentido.

- Desculpa mesmo, James! Eu acabei bagunçando as coisas... Vou dar uns passos pra trás.

- Não! Tudo bem! De verdade. Eu só fiquei nervoso.

- A gente vai no seu ritmo. Pra você ir se sentindo confortável.

- Eu não estou desconfortável, Cissa.

- ‘Tá, mas vamos aos poucos. A gente não precisa ter pressa...Ir descobrindo o processo é a melhor parte.

A loira deu um sorriso com o canto dos lábios. Esticou o braço, buscando a mão dele e entrelaçando seus dedos. James sentiu o ar abandonando seus pulmões aos poucos, seus batimentos retomando a velocidade normal. Não estava mentindo, realmente se sentia confortável ao lado dela. Só deixara o medo da inexperiência lhe paralisar.

- É bom pensar direitinho sobre, escolher com calma. Quem sabe você acaba tendo mais sorte que eu já de primeira?

Ficaram sentados lado a lado, em silêncio, observando através da janela. No jardim, a neve voltara a cair. Teriam um dia de São Valentim branco, no inverno insistente daquele ano. Narcissa sorria, apreciando os flocos flutuando fininhos, até perderem-se de vista, ultrapassando os limites da janela. Tudo ao seu redor lhe impeliu àquilo: A calidez da lareira, a maciez do corpo dela aconchegado ao seu, o polegar da loira que persistia em desenhar círculos nas costas de sua mão, o silêncio confortável apesar de tudo. Beijou os cabelos dela carinhosamente, já incapaz de conter a frase que logo lhe escapou.

- Eu amo você, Cissa.

- Você é um fofo, Jamie. - A loira sorriu, pousando suavemente os lábios frios na curva do seu pescoço. James gostou de cada pedacinho daquilo.

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Encharcou o mingau de aveia com uma considerável quantidade de mel, antes de comer a primeira colherada. A temperatura voltara a diminuir, causando uma nevasca na noite anterior, e nesse clima Effie não conseguia pensar em outra coisa que não fosse encher seu estômago com as comidas mais doces e gordurosas possíveis. Catou um pedacinho de linguiça que estava no canto do prato de Narcissa, aproveitando-se da distração da amiga para enfiá-lo na boca sorrateiramente.

O Salão Principal estava frenético, com os ânimos em polvorosa naquela gélida manhã do dia de São Valentim. O barulho das conversas beirava o ensurdecedor, com risadas por todos os lados, quase como se fosse o primeiro dia depois das férias. Yve veio desfilando pelo corredor, com os cabelos úmidos e o viço na pele de quem fizera sexo logo pela manhã. Ela e Wilkes tinham começado cedo as comemorações! Sentou-se ao lado de Leona, enchendo uma xícara com café preto até o topo.

- E então? – A ruiva perguntou, ostentando um sorriso de ponta a ponta.

- Eu passei a noite inteira fazendo uma conserva de pepinos... – Gwen fez um biquinho. -  Para a professora Sprout!! – Caiu na gargalhada, com os cachos de cabelo balançando junto com o riso.

- Que pena, Gweny! – Yvonne estendeu a mão por cima da mesa, apertando os dedos da amiga para confortá-la.

Enquanto preparavam-se para dormir na noite anterior, as duas garotas estavam agitadas, ansiosas para acordar. Yve tinha descoberto que uma das antigas tradições inglesas de São Valentim dizia que se as moças solteiras colocassem folhas de louro em cada canto de seus travesseiros, sonhariam com seu futuro marido. Gwen fizera questão de providenciar folhas suficientes para que as cinco pudessem ser contempladas com aquela revelação. Effie só ria, achando graça na crença firme das colegas de que uma simples planta seria capaz de entregar o futuro de bandeja para cada uma delas.

- E você, Yve? – Erguendo a sobrancelha, Euphemia encarou a outra.

- Eu mal tive tempo de sonhar! – Com um sorriso voluptuoso, a garota deu uma olhadinha de esguelha para o namorado, sentando um pouco mais pra ponta. – Me fale do seu sonho, Effie. Vamos ver o que ele nos revelará!

- Acho que nada dessa vez... Eu estava no oceano, parada, batendo as pernas para me manter na superfície. Ao meu redor, uma baleia ia nadando. Fazia um frio glacial! Mas acordei e descobri que isso foi porque a princesinha da neve chegou tarde no dormitório e achou que seria uma boa abrir a janela enquanto estávamos todas dormindo! – Empurrou a cabeça de Narcissa pro lado, bagunçando os cabelos dourados.

- Eu só abri uma frestinha!!! O calor estava dos infernos lá dentro.

- Você estava bêbada! – Effie acusou, porque vira os lábios sujos de vinho da outra, quando acordara de manhã.

- Vai se foder, Euphemia! – Franzindo o rosto numa careta, a loira estirou a língua.

- Divertindo-se, Cissy? – Yve deu um sorriso vencedor. – Sonhou com o Evan?

- Não. Sonhei que estava atrasada, me vestindo para o casamento da minha irmã.

- Algum homem?

- Meu pai, meus primos, meu tio, o noivo dela e uma profusão de convidados que não pude identificar.

- Parece que terá uma vida afetiva agitada, querida. – A ruiva deu uma risadinha.  – Leona?

- Nadinha. – A garota deu uma mordida convicta em uma maçã.

- Sua mentirosa, cara de pau!

- É sério! Estava tão cansada do treino que apaguei. Não me culpe se a sua simpatia não deu certo, Y-von-ne! – Provocando, soltou o nome da amiga aos pedacinhos.

- Que droga! – Gwen apoio o queixo nas mãos, com os cotovelos posicionados sobre a mesa. – Será que não deveria ser hoje à noite e nós entendemos errado, Yve?

- Não custa tentar, bebê!

- Aí, eu espero que sim!!! – Bateu palmas, animada.

Em consonância com o restante do salão, as garotas agora conjecturavam sobre quem receberia mensagens de quem, no serviço de cupido prestado por Alexa Diggory, da Corvinal. Pra ela, nada daquilo interessava muito. Esse ano, estava decidida a não sair com ninguém. Enquanto discutiam os planos para o restante do dia, Effie mastigou dois ou três scones. Derrotada pelo acaso, Narcissa tinha um encontro com Evan, na casa de panquecas. Gwen aceitara o convite de Logan Travers para tomar um café e Yvonne ia sumir com Clifford Wilkes para qualquer lugar onde pudessem trocar saliva e outros fluídos corporais sem ninguém pra impedir. Ela e Leona teriam a tarde livre.

- Topa dar uma volta em Hogsmead? Quero comprar um livro novo. – Effie sorriu pra a amiga, prendendo algumas tranças atrás da orelha.

- Fechado! – Leona bateu a mão contra a dela, numa espécie de soquinho.

- Vamos!! Não quero demorar e correr o risco de perder as mensagens da cupido!! Cissy, você prometeu que ia fazer cachos no meu cabelo! E a Gwen, minha maquiagem. Nada discreto, vou querer delineador e batom vermelho!!!

Yvonne se levantou num arroubo, empurrando a xícara vazia para o centro da mesa. Nada podia empolgá-la mais do que se emperiquitar para um encontro. Gwen e Leona, que já tinham terminado a refeição, também se levantaram. Euphemia colocou mais um pouco de ovos mexidos no prato, ao lado das salsichas.

- Vou estar lá em 10 minutos. – Sussurrou Narcissa, sem que isso trouxesse qualquer foco às pupilas distraídas pelo horizonte.

- O que ‘tá te preocupando? – Effie indagou, assim que as outras saíram do salão.

- Quê? – Virou o rosto, para encará-la, e não devia sequer ter prestado atenção à pergunta.

- Você está com uma cara esquisita. O que aconteceu?

- Ah! Nada. – Bebeu um golinho curto do chá, que certamente já estava frio. – Eu só...Hoje é sábado, não é? – As sobrancelhas claras estavam franzidas, dando-lhe o aspecto aflito que ela negara.

- Sim. 14 de fevereiro.

- Meus pais não mandaram correio. – Tirou de dentro do bolso o tradicional envelope com o lacre negro, que enviava como resposta todas as semanas, colocando-o sobre a mesa. – Nunca aconteceu antes.

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O ambiente estava turvo pelo congestionamento de corujas. De um lado a outro do castelo, os pássaros voavam, procurando os destinatários a quem deviam entregar os pequenos corações de pergaminho. Um ou outro aluno usando asas de cupido e segurando uma cesta também cruzava o espaço, complementando o serviço de entregas. A neve caída durante a madrugada inteira atrapalhara os planos de Alexa, impedindo que os adolescentes se aglomerassem no jardim. Agora, Hogwarts estava um caos completo.

- Ei, está maluca? Não olha por onde voa? – Nick-quase-sem-cabeça gritou, alçando um dos braços para praguejar contra uma coruja. – Você também? Ninguém mais respeita um cavalheiro nesse castelo?!!! – Colocou as mãos no quadril, encarando um dos terceiranistas da Corvinal que o atravessara. O garoto ia tão apressado carregando uma das cestas de mensagens que nem parara para esperar a sensação ruim de atravessar um fantasma se dissipar.

- Esses jovens estão mais mal-educados a cada dia! Como vai, Sir Nicholas? – Remus cumprimentou-o com a cabeça.

- Fazendo sucesso no dia de São Valentim, Nick? – Rabicho deu um sorriso, satisfeito com seu próprio deboche.

- Na minha época as coisas eram diferentes! Em 1489 eu enviei um buquê com 50 rosas vermelhas para demonstrar meu amor incondicional por uma donzela. Agora, vocês pagam um punhado de nuques e mandam outro fazer o trabalho de entregar um pedaço recortado de pergaminho?

- É, meu caro Nick, o romantismo se perdeu! – Potter fingiu um semblante desapontando.

- Se qualquer donzela que eu conhecia recebesse uma porcaria dessas, esperaria a primeira oportunidade em que o responsável estivesse passando por debaixo da janela para mandar um criado atirar o conteúdo do urin...

- Grande história, Nick! Grande história! Não se fazem mais donzelas como antes. – Sirius fez questão de interromper.

Ele estava impaciente. Pelo furdunço em que as coisas estavam, duvidava muito que Alexa estivesse livre na hora que tinham marcado. O fantasma pareceu não se incomodar, cumprimentando-os antes de continuar sua trajetória sabe-se Merlin para onde. Sirius não conseguia imaginar viver como uma daquelas criaturas, presas eternamente numa vida medíocre pelo puro medo de prosseguir. Ele nunca se prestaria a um papel ridículo como aquele, sendo chacota de adolescentes durante séculos por causa da própria covardia. Andava tão de saco cheio, que talvez achasse até melhor descobrir que não tinha nada depois da vida para entediá-lo ainda mais.

Seu nervosismo estava sendo amplificado pela demora. Porra! Como Alexa prometera fazer um serviço se não tinha lastro para fazê-lo? Estavam sentados há pelo menos uma hora, esperando a bomba estourar. Pontas tinha escolhido uma posição que considerara privilegiada. Felizmente, ele já tinha imaginado que o clima não ajudaria e programara tudo para acontecer ali no hall, aos olhos de todos. Nenhum entusiasmo era suficiente para se sustentar por todo aquele tempo, com o castelo absurdamente abafado com tanto vuco-vuco. Ele não aguentava mais ficar ali parado. Usou a varinha para acender um cigarro.

- Obrigado, Almofadinhas! Era só a fumaça do seu sexto cigarro que faltava para melhorar esse ambiente completamente asfixiante. – Aluado afastou-se um pouco, virando o rosto para o outro lado.

- Se ‘tá incomodado, arranja outro lugar pra ir. – Soprou a fumaça na direção do amigo.

- Boçal!

- Ditador!!

- Rapazes, rapazes! Sem tantas demonstrações públicas de afeto! – James interveio, enquanto arrumava os óculos no rosto, sustentando um sorriso maldoso. -  O show já vai começar, peguem as pipocas!

Descendo as escadas, a atarracada Patricia Fawley olhava de um lado ao outro, procurando o ponto exato a que o bilhete fazia menção: A estátua de Gaspar Shingleton. Sirius o conhecia só por causa das figurinhas que vinham nos sapos de chocolate. Tinha uma coleção daquelas porcarias! Hoje, o célebre inventor do caldeirão automexediço ia ver o que era um bom remexido!

 Maisie Lewis passou reto pelos marotos, mastigando os próprios dentes de rato, provavelmente vindo da Sala Comunal da Grifinória. Sirius estava especialmente satisfeito em ver que ela havia caído. Era sua vingancinha pessoal pelos olhares enviesados que lhe dera na saudação do semestre. Olivia Green veio pela esquerda, puxando a saia pra baixo para cobrir as gigantescas pernas, deixando um par de amigas pra trás, dando risinhos estridentes de longe. Vindas de lados diferentes, as trajetórias das três garotas coincidiram no mesmo ponto, um míssil triplo explodindo ali, onde parado exatamente ao lado da estátua, já estava Severus Snape.

- O que raios vocês escreveram nos bilhetes para elas? – Lupin analisava tudo com um interesse empírico.

- “Os mistérios do coração ninguém sabe explicar. Como pode alguém mesmo de longe se apaixonar?” – Pontas começou, usando uma voz afetada para declamar o conteúdo que os dois tinham rabiscado numa aula insuportável de feitiços.

- “Faz tempo venho admirando você em segredo. Mas é chegada a hora do desejo virar realidade”. – Sirius pegou a deixa para continuar.

- “Me encontre trazendo uma rosa branca quando receber esse torpedo. Na estátua de Gaspar Shingleton estarei esperando ansioso por um sinal da sua reciprocidade.”

- E pro Ranhoso?

- Não precisou de muito para convencê-lo, meu querido Aluado. – James deu de ombros, um sorriso diabólico nos lábios.

- Bastou fazer parecer que quem tinha escrito era a Evans. – Tragou, a fumaça se espalhando a frente deles e embaçando suavemente a visão do escarcéu que acabara de começar.

Foi no Expresso, vindo pra Hogwarts. Eles tinham só onze anos. Uma única viagem de trem juntos foi o suficiente para que Sirius notasse que aquele garoto, usando vestes de segunda mão e metido a inteligente, estava apaixonado pela ruivinha totalitarista. É óbvio que ela não fazia ideia! Lily Evans só tinha olhos para o novo mundo bruxo que se desdobrava a sua frente. E talvez, na época, nem o próprio Ranhoso tivesse se dado conta de que o que sentia por ela era mais do que uma possessiva amizade. Mas Sirius percebeu, de cara, que Evans tinha Snape na mão.

Tudo aconteceu mais rápido do que a imaginação de Sirius tinha elaborado. O entendimento caiu como uma bigorna sobre a cabeça das três garotas, assim que deram de cara com o engordurado e narigudo rapaz esperando sob a estátua.

- Você? – Ele conseguiu ler de longe os lábios de Lewis, a lacuna da voz aguda sendo preenchida em sua cabeça.

A boca de Remus se abriu em surpresa. Sirius soprou a fumaça mais uma vez, os olhos cinzentos acompanhando o desenrolar. Rabicho cobria os lábios para esconder as risadinhas e Pontas estava com os olhos marejados, prendendo o riso. As rosas brancas foram ao ar. A raiva das garotas subiu como uma nuvem de poeira. Num entendimento mútuo de que tinham sido feitas de idiotas, as garotas avançaram para cima de Snape, azarando-o sem dó. Não havia tempo para ouvir explicações. Ele cobria a cabeça com os braços, porque para Olivia Green parecia não haver nenhuma azaração tão efetiva como uma boa quantidade de tapas.

Pouco a pouco, o restante dos alunos foi se dando conta da agitação que se desenrolava. A medida em que notavam a cena, os adolescentes iam chamando a atenção dos amigos, até que quase todos os olhos estavam sobre o que acontecia. Os buchichos foram crescendo, assim como as risadas. Acuado, o Ranhoso nem tentava lançar uma contra azaração. Não que ele não pudesse. James e Sirius tinham feito ele se tornar bom nelas, ao longo dos anos. É provável que não quisesse avançar sobre um bando de garotas. Aquilo estava saindo muito mais gostoso do que tinham encomendado!

 

Pelo canto do olho, enxergou o cachecol da Grifinória balançando em direção ao tumulto. Trajando as vestes completas, Lily Evans deveria estar cumprindo sua ronda como monitora. Uau! A coisa estava tomando proporções maiores do que eles esperavam. Sirius mentalizou seu dedo mindinho remexendo o gelo dentro do copo de uísque de fogo. Era tudo que ele precisava para dar o último toque necessário de prazer que aquele momento estava pedindo!

Repreensões, um bocado de contra azarações e um semblante tempestuoso. Em poucos instantes Evans estragou a diversão. Talvez fosse um recorde! A chatonilda conseguira se superar mais uma vez na tarefa em que era incansável: Ser a pessoa mais insuportável e estraga-prazeres que os limites de Hogwarts comportavam. Ao menos nisso ela e o Ranhoso conseguiam ser uma boa dupla.

As atenções foram se espalhando, com cada grupinho retomando as suas próprias conversas. Para o público, tão rápido quanto começara, tudo terminou. Quanto trabalho ele e Pontas tinham desprendido por um instante tão curto de deleite! Ao lado da estátua, Evans ainda ouvia os quatro envolvidos, tentando entender o que acontecera. É óbvio que não havia o menor sinal de Alexa ou qualquer um de seus ajudantes no ambiente naquele momento! Era como se nunca tivessem existido. A loirinha era esperta! Sairia com as mãos limpas.

Com um último discurso apaziguador, a monitora acalmou os ânimos. As três vítimas se afastaram: Uma chorosa, a outra soltando fogo pelas ventas e a terceira carregando um semblante humilhado (e o projeto de um olho roxo, de um soco que acabara escapando e sobrando para ela). O Ranhoso ajustou o casaco, os olhos baixos, fitando Evans por trás dos cabelos ensebados, ouvindo o sermão por alguns instantes. Num rompante, virou de costas, caminhando em passos firmes para o lado das masmorras, deixando a moça falando sozinha. Ela chamou, duas ou três vezes o nome dele, mas Snape não olhou pra trás.

Com o rosto tão vermelho como os próprios cabelos, Evans vinha voando na direção deles. Parecia um dragão, bufando. Céus, o rosto estava transfigurado! Veio como um furacão, atropelando o que lhe passou pela frente. Pontas se levantou, num reflexo, no exato instante em que ela lhe apontava o dedo.

- Severus não quis me contar o que tinham escrito pra ele. Mas eu não tenho a menor dúvida que isso é coisa sua, Potter! Eu sei que sim! – Enchendo a boca, com uma figura enojada, acrescentou. - Sua e do Black.

- Alto lá! Mais uma acusação caluniosa e eu vou chamar meu advogado! – Ele tragou, esmerando-se para fazer a expressão mais presunçosa que conseguiu.

- Pergunte a quem quiser, eu não arrastei o pé daqui a manhã inteira! – Pontas abriu os braços, em posição defensiva.

- Banque o inocente o quanto quiser. – O dedo dela permanecia no ar, apontado pros óculos do garoto. - A mim, você não engana!

- Qual é, Evans?! Eu não fiz nada! O Ranhoso é que se embananou com um monte de garotas. Eu só vi de longe e achei graça, como qualquer um. Por que estou recebendo essa acusação gratuita? – James sustentava uma figura cínica muito bem ensaiada. Naquilo ele era mestre, porque bancava sempre o bom moço pros pais. -  Você não gostou do meu presente?

- Ah! – Ela jogou as mãos para o alto e depois fechou os punhos com força, olhando para cima. -  Isso.

A ruiva revirou os bolsos das vestes, puxando de dentro a caixinha com quatro bombons de amêndoas. James tinha passado horas adulando Marlene até que ela lhe revelara serem esses os doces preferidos da companheira de quarto. Atirou a caixa contra o peito dele, segurando-a lá com força.

- Insinuar que sou “diferente das outras garotas” como forma de elogio só confirmou a certeza que eu já tinha de que você é um babaca! Reduzir mulheres para tentar me fazer sentir especial é uma idiotice sexista! Mas o que mais eu poderia esperar de você, não é, Potter?

- Lily, eu...

- Não me chama de Lily! – Perdeu a compostura, a frase soando estridente demais aos ouvidos de qualquer um. - Eu nunca te dei intimidade para isso.

- Me desculpe! – As mãos de Pontas se agitaram, certamente desesperadas para bagunçar os próprios cabelos ou ajustar os óculos, mas ele estava acossado demais para se mover. - Evans, então.

- Não sei onde você está querendo chegar com isso, mas se era uma das suas brincadeiras... – Ela bufou. - Não serei eu a sustentar a tarde de risos para você e os seus amiguinhos.

- O bilhete era sério, Evans. Eu escrevi de coração!  Será que você é tão perfeita que se tornou incapaz de me dar algum crédito?

- Você é mesmo um imbecil! – Virou de costas, puxando a mão e deixando que a caixa de chocolates fosse ao chão, aos pés dele. – É Srta. Evans, para você.

Acompanhando-a se afastar, com a capa voando atrás de si, Sirius acendeu o sétimo cigarro, desta vez, para comemorar. Ah, como era delicioso o sabor da vitória!

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Cortês. Uma rosa em um delicado tom de salmão. Evan Rosier era mesmo um cavalheiro! Ele já estava esperando na sala comunal, quando Narcissa desceu as escadas, e ofereceu a flor a ela, junto com um beijo na bochecha. Caminhou ao seu lado, mantendo uma conversa cordial e divertida, até que estivessem em Hogsmead, sem forçar nenhuma aproximação. Agora, ocupavam uma mesa no fundo da Casa de panquecas da Sra. Lovett. Ela, bebericando o chá de maçãs e especiarias que tinha sido oferecido como cortesia. Ele, perdido atrás do cardápio. A rosa repousava no canto da mesa e a garota escorregou os dedos por ela, sentindo as delicadas pétalas.

- Que tal essas panquecas sul-americanas? “Nossa tradicional massa de baunilha envolta em uma suntuosa calda quente de doce de leite e salpicada com pedacinhos crocantes de praliné de amendoins, acompanhada por fatias saborosas de banana e uma generosa porção do mais cremoso chantili”.

- Parece perfeito, pra mim! - Cissy deu um sorrisinho, cativada pela expressão de concentração que Evan utilizava para ler o cardápio.

Deixou que ele se encarregasse de chamar uma das garçonetes fardadas de vermelho e fazer o pedido. A moça se derramava sobre Evan, tratando-o com exagerada cortesia. Ele sobrevivia inocentemente às investidas, os olhos passeando pelo pergaminho para escolher o que iria beber. Narcissa riu, por trás da xícara, surpresa com o atrevimento da garçonete em paquerar um rapaz que já dividia a mesa com outra garota, em pleno dia de São Valentim.

- Eu vou querer mais uma xícara de chá, por favor, querida! – Acrescentou, quando por fim Evan escolheu um chocolate quente.

- Num instante! Se precisarem de mais alguma coisa, é só me chamar. Meu nome é Madeleine. – Abriu um sorriso atraente, se demorando em olhar para Evan enquanto enfiava na cintura o bloquinho em que anotava os pedidos.

- Meu nome é Madeleine!  – Com uma voz ainda mais adocicada, Cissy a imitou em tom baixinho, pouco depois que a moça se afastou. O ar lhe escapou pelo nariz e fez um barulhinho engraçado quando ela riu.

- O que foi? – O rapaz deu uma risadinha, olhando de esguelha pra garçonete.

- Se ela pudesse trocar de lugar comigo com um estalar de dedos, teria feito sem nem pensar. – Pousou a xícara no pires, já quase vazia.

- Deixa de exagero!

- Juro! Você não a viu abrindo mais o decote?

- Sério? – Ele voltou a rir, nervoso. – Merlin!

- Eu posso sair de fininho...

- Para com isso, Cissy. – Evan arrumou os punhos do suéter verde claro.

- É São Valentim, Evan. Você deveria se divertir!

- Estou me divertindo.

- Ah, por favor! – Revirou os olhos.

- Eu queria estar com você, Cis. – Estendeu o braço por cima da mesa, colocando a mão sobre a dela. – Eu gosto da sua companhia. Do contrário, não teria te convidado pra vir hoje.

Doce. As panquecas estavam macias como um sonho. Evan comia pequenos pedaços, pegando o doce de leite que se acumulava nas bordas do prato com a colher. Empenhava-se a contar-lhe o enredo do último livro que tinha terminado, uma das leituras obrigatórias para o NIEM de História da Magia. Ainda que fosse ficcional, o drama da personagem principal que perde a lucidez ao imaginar que dará à luz a um aborto se entrelaçava ao pano de fundo, detalhando a vida cotidiana durante um evento histórico importante: A revolta dos duendes. O tipo de coisa que ela jamais leria. Contudo, o rapaz dedicava-se tão cordialmente a explicar os pormenores da história que Narcissa fingia um interesse genuíno.

- E quando o pai dela descobre que ela se deitou com o trouxa para conseguir o herdeiro pra manter o nome da família... A tensão na cena! Quase dá pra tocar! Você até esquece que não é real!

Ao contrário de quase todos que pertenciam ao círculo social deles, Evan não fazia questão de falar de si mesmo. Essa era uma das coisas que Narcissa mais apreciava nele. Era um respiro ter alguém com quem dava pra conversar de verdade, sem ser forçada a ouvir uma interminável digressão de problemas ínfimos que eram tratados como grandes tragédias. Além disso, gostava de ver o brilho nos olhos dele, o cantinho da boca esticado em um sorriso quando falava de algo alegre, oposto aos ângulos das sobrancelhas franzidos, nos momentos em que tratava de assuntos delicados, como agora. Alongou a mão até o rosto dele, limpando um pouco de chantili que se acumulara no canto dos lábios. Colocou o próprio polegar na boca, deixando o creme se dissolver. O rapaz elevou o olhar, encontrando o dela. O branco das bochechas manchou-se de um tom rosado. A larga mão abandonou a colher e subiu, tocando o mesmo lugar que ela havia tocado.

- Ainda... está sujo? – Indagou, a voz tremulando.

- E o marido dela? - Cissy negou, balançando a cabeça. Tentou trazê-lo de volta ao assunto anterior, porém era tarde.

Tímido. Os punhos do suéter foram ajustados de novo. Evan tinha baixado os olhos e fitava os próprio colo, em que um guardanapo de pano repousava. Ele podia ter todo o estereótipo de um rapaz expansivo, mas aquilo não correspondia a ele. Gaguejou antes de perguntar se Narcissa gostaria de mais uma xícara de chá, o que ela recusou. Chamou a garçonete, pedindo dois copos de água.

- As panquecas não estavam ao seu gosto? – Recolhendo o prato pela metade, a moça parecia ofendida.

- Estavam excelentes! Mas o prato poderia servir um elefante com folga! – Evan deu um sorriso, tentando recuperar o bom humor dela.

- E a garota come como um passarinho. – Olhou de cima a baixo para Cissy com nojo, virando-se em direção a cozinha em seguida.

- Acho que desapontei suas fãs. – Narcissa quebrou dois palitos de dente, jogando-os dentro da xícara e vendo-os se misturar ao pouco chá restante.

- É a vida! Vai ter que se esforçar para melhorar seus pontos com elas!

O sorriso no rosto dele se transformou numa feição séria em instante, com os olhos focados em algo atrás dela. A loira virou o rosto, curiosa, tentando ver aquilo que seus ombros encobriam. O que desconcertara a Evan tão rapidamente? Dentro do restaurante, tudo parecia exatamente igual a antes. Virou um pouco o corpo, para ter um ângulo de visão maior. Henry Crabbe e Raymond Avery estavam parados do lado de fora, suas imagens borradas pela porta de vidro. Caminhando a passos largos, Damian Mulciber vinha ao encontro da mesa deles, sujando o chão de neve.

- Estamos indo ao Cabeça de Javali, Evan. Te esperamos? – O garoto encostou o braço na mesa, flexionando-o levemente, numa postura que a Narcissa pareceu um tanto ameaçadora.

- Eu estou com a Cissy hoje, cara. Fica pra outro dia!

- Parece que vocês já terminaram. – Indicou a mesa vazia com a cabeça, os palitos boiando na xícara pela metade.

- Hoje não, Damian. – Evan respondeu entre os dentes, encarando o outro com austeridade.

- Tudo bem! – A feição do rapaz dizia o contrário, mas ele tirou o braço da mesa. – O tempo está correndo, Evan.

- Eu não tenho pressa.

- Deveria.

Mulciber quase trombou com a garçonete, murmurando um xingamento em direção a ela pelas costas, sem interromper seu caminho até a porta. Pobre Madeleine! Ainda tinha um semblante irritado quando serviu os dois copos de água para eles. Cissy tomou o seu em pequenos goles, absorta em tentar ler o rosto do rapaz.

- O que foi isso?

- Não se preocupa! O Damian se irrita com besteira, você sabe.

- Pareceu sério.

- Esquece, Cis! Depois eu me acerto com ele.

Reservado. Um círculo de água sobre a mesa, onde ele havia apoiado o copo gelado. Evan tratou de mudar de assunto, retomando finalmente o livro de onde parara, como se nada tivesse acontecido. Ele estava tentando abafar a cena anterior. Alguma coisa estava acontecendo, mas se ela quisesse descobrir, não ia ser através dele. Os três garotos envolvidos lhe despontavam algumas desconfianças, sobre as quais ela só poderia ter certeza se procurasse pelos próprios meios. Teria que encaixar as peças sozinha.

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- Você tinha que ter visto a sua cara!

- Ele disfarçou bem, Almofadinhas...

- Até a hora que ela soltou os chocolates, Aluado! – Sirius deu uma de suas gargalhadas secas, animalescas.

- Eu achei que foi bem, para uma primeira tentativa. – Rabicho soltou sobre a cama o casaco embolado, caçando no fundo do malão um corta-vento.

Com o frio que fazia lá fora, era melhor que estivesse bem agasalhados. No dia seguinte, a lua se tornaria cheia e embora fosse improvável que abandonassem as formas de animago em algum momento durante a noite, preferiam estar preparados para caso isso se fizesse necessário.

- Tudo saiu conforme o planejado, Almofadinhas! Cada pequeno passo me leva para mais perto de conquistar Lily Evans. – James cruzou os braços atrás da cabeça, se recostando na cabeceira da cama.

- É srta. Evans pra você! – Os ombros de Black se moviam no mesmo ritmo em que gargalhava. Os dois amigos lhe fizeram coro e James fechou a cara. -  Eu pensei que você tinha dito que podia ter qualquer garota que quisesse, Pontas.

- Vai rindo, meu querido. Vai rindo! Eu vou te mostrar como é que se chega lá.

- Se ela não te destroçar no caminho!

- Vocês deveriam parar com essa história. Ela deixou bem claro que não está pra brincadeira. – Aluado se sentou na beirada da cama, tirando as meias.

- Desde quando a gente se importa com a opinião dela pra alguma coisa? – Sirius estava debruçado sobre o próprio corpo, segurando o pé num ângulo desconfortável, enquanto cortava as unhas usando um cortador. Aparar as unhas até quase sangrarem era outro dos vícios da mente inquieta dele, além do cigarro.

- A Lily não vai deixar barato. – Lupin deitou-se, puxando o edredom sobre si.

James tirou os óculos, jogando-os dentro da gaveta da mesa de cabeceira. O presente de Narcissa estava enfiado no fundo, escondido por trás do livro que ganhara de Aluado no Natal. Deu um sorriso para si mesmo, o peito esquentando com a lembrança da garota. A vira apenas de longe. Caminhava com Rosier para Hogsmead, parte do disfarce que os dois tinham estabelecido. Estava tão linda que era difícil acreditar que o amasse! Ela ainda não dissera as palavras, mas ele podia lê-las nas írises azuladas. Passou o polegar sobre os lábios, formigando pela falta dos dela, macios, suaves e frios.

- Qual a rota de amanhã, Pontas? – Peter o tirou de seus pensamentos.

- Por trás do Dogweed e Cicuta verde. Encontrei uma clareira lá perto. – Abriu a gaveta e pegou os óculos de volta.  Catou um pedaço de lápis e jogou pro amigo. – Aluado, mapa!

Atravessou o quarto e sentou-se na beirada da cama do outro. James adorava aqueles incursões solitárias, em que descobria novos caminhos e aventuras para que pudessem explorar na lua cheia seguinte. Saber que tinha o controle do que ele e os amigos iam aprontar lhe dava certo prazer. Remus ergueu o tronco, abandonando o edredom sobre a pernas. Puxou um pedaço de pergaminho da mochila e começou a desenhar, seguindo suas instruções.

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