Tarde demais pra voltar a dormir

Harry Potter - J. K. Rowling
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Tarde demais pra voltar a dormir
Summary
Uma gota caindo na água reverbera no lago inteiro. Uma troca de olhares que se estende pode mover todas as peças ao redor. James Potter e os problemas são velhos amigos, prestes a se conhecer muito melhor. O que há por trás dos encantadores olhos que parecem persegui-lo por todos os lados?Para Narcissa Black, tudo é heterogêneo. Em que ponto do infinito tudo se mistura? Se você procura uma história de drama, amores e nós do destino se entrelaçando, é tarde demais pra voltar a dormir!Essa é uma história sobre o que poderia ter acontecido enquanto os marotos estavam em Hogwarts, sob a sombra da Primeira Guerra Bruxa. A maior parte dos personagens e cenários descritos pertencem a J. K. Rowling e são utilizados nessa fanfiction sem nenhum tipo de intenção comercial. Algumas datas e ordens de acontecimentos foram alteradas para que a história pudesse fazer sentido.
Note
Olá, pessoal!Gostaria de lembrá-los que essa história se passa nos anos 1970, então algumas atitudes, falas e pensamentos dos personagens podem parecer ultrapassados e inaceitáveis para os dias de hoje. Lembrem que tudo está inserido em um contexto! Fumar em qualquer lugar era um hábito da época, por exemplo.Aproveito pra lembrá-los de ter moderação com o consumo de álcool e cigarros, que é bastante frequente nessa história.Por fim, alerto que a história é ampla e vai comportar um monte de possibilidades, se você não se sente confortável com linguagem chula, violência, homossexualidade/bissexualidade, bullying, cenas de sexo e outros tópicos delicados, eu tomaria cuidado!ATENÇÃO!!Este capítulo contém cenas de bullying.
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A máquina McKinnon

A alva e esguia coruja pousou sobre a mesa, depositando um pouco de neve ao lado do prato de Narcissa. O vento do dia anterior fora um prelúdio e, no fim da madrugada, todo o jardim havia sido salpicado pelos pequenos flocos brancos. Hagrid aproveitou o ensejo e dois grandes pinheiros já estavam posicionados no salão principal. Concentrados, os professores Flitwick e Sinistra trabalhavam na decoração das enormes árvores. Em conjunto, Sprout e Slughorn ocupando-se em espalhar visgos e guirlandas pelos corredores do castelo.

Ela desfez o laço de veludo preto que mantinha a carta presa à coruja e, puxando do bolso das vestes o rolinho de pergaminho, utilizou a mesma fita para prendê-lo à perna da ave com cuidado. Para a família de Narcissa, sábado era dia de correio. Desde que suas filhas iniciaram seus estudos em Hogwarts, Druella cumpria religiosamente o hábito de escrever-lhes uma carta por semana. As três garotas sabiam que, fizesse chuva ou sol, deveriam receber a carta trazida pela coruja da mãe e encaminhar pelo mesmo animal a resposta da carta recebida na semana anterior. Bellatrix iniciou o ritual sozinha e à medida que as irmãs se incorporaram a Hogwarts, passaram a alternar o encargo de escrever para os pais, sempre acrescentando notícias sobre as outras. Sendo assim, a cada três semanas, Narcissa era responsável pela resposta que seria enviada. Depois que a mais velha se formou, ela e Andy continuaram a alternar-se, diminuindo o período para duas semanas. Desde o ano anterior, passara a realizar a tarefa de forma solitária. Com o aumento da frequência, precisava usar a criatividade para pensar em algo da rotina escolar que fosse minimamente interessante para compartilhar. Andrômeda era muito melhor nisso!

Tomou uma cereja do próprio prato e ofereceu à ave, que alçou voo logo em seguida. Desenrolou a carta cuidadosamente, vendo a letra familiar da mãe desenhada ao longo de todo o pergaminho.

“Querida Cissy,

Seu pai e eu recebemos com grande alegria a notícia de que havia sido escolhida para representar a escola em razão da ilustre visita da vice-diretora de Beuxbatons! Embora não estejamos totalmente de acordo com a escolha tomada pelo conselho para a ocupação do cargo da direção, reconhecemos o prestígio que você trouxe à casa Black. Suas irmãs...”.

A leitura foi interrompida antes que ela pudesse descobrir o que havia sido acrescido por Bella e Andy. Pousada sobre o exato lugar que a ave de sua mãe havia acabado de abandonar, uma imponente coruja de cor escura a fitava com olhos profundos e amarelos. Narcissa tomou-lhe delicadamente a carta que trazia no bico, dando a ela o mesmo pagamento que à anterior. Sobre o envelope, o lacre de cera negra trazia o símbolo da família Black e ela não teve dúvidas de quem era o remente. O que Tia Walburga queria com ela dessa vez? Abriu a carta com agilidade, correndo os olhos em seguida pela caligrafia angulosa.

Minha cara sobrinha Narcissa,

Espero que esta carta a encontre com boa saúde. Sua mãe me contou do convite para recepcionar a vice-diretora da Academia de Magia de Beauxbatons e lhe felicito pela conquista! É uma grande satisfação para mim e Órion ter provas de que a família Black continua a demonstrar sua superioridade em todos os espaços que ocupa.

Se lhe incomodo ao escrever-lhe por tão penoso motivo, peço-lhe que perdoe sua benquista tia, mas sempre o faço em último recurso. Me parece que falhei miseravelmente em fornecer o mínimo de educação aos desagradáveis espécimes que chamo de filhos, pois não compreenderam ainda o disparate que é deixar uma carta sem resposta, especialmente quando o remetente se trata daquela que os gerou. Como não sobrou a eles nenhum resquício de decência para responder-me e sei que sua mãe não cometeu os mesmos erros na educação das minhas estimadas sobrinhas, peço-lhe o obséquio de averiguar junto aos dois a resposta que desejo e deixar-me ciente dela o quanto antes.

Devido aos compromissos de seu tio, nos uniremos a vocês apenas na manhã do dia 24. Considerando que vocês retornarão à casa com alguma antecedência para as festas (me parece que o expresso está marcado para o dia 20, conforme me foi informado por Druella), faça-me o favor de verificar com Sirius e Regulus se tem a intenção de acompanhá-la desde a estação, indo diretamente à sua casa, ou se virão ao Largo Grimmaud antes e devo mandar um criado esperá-los na plataforma.

Agradeço a amabilidade em atender ao pedido com tanta presteza e possibilitar que me planeje, apesar do estorvo causado pelos vermes dos seus primos. Espero revê-la em breve, minha cara.

Cordialmente,

Walburga Black.

No rosto da garota desenhou-se um sorriso irônico. Tia Walburga era dotada de trejeitos e expressões que lhe concediam um ar profundamente lúgubre, transcrevendo em sua personalidade o sobrenome da família a qual pertencia não só por matrimônio, mas também por nascimento. Em certos aspectos, era peculiar vê-la ao lado de sua mãe. Eram opostas, como água e vinho. Apesar disso, as duas haviam desenvolvido uma ligação fraterna, porque ainda que considerassem os métodos da outra falhos, as agruras do ser mulher dentro de uma família profundamente enraizada às tradições as havia unido ao longo dos anos.

Narcissa via o mesmo olhar inquisidor de seu pai nos olhos da tia, mas a mulher ia além. Tia Walburga possuía uma postura altiva e jamais voltava atrás do que havia dito. Desobedecer a uma ordem dada por ela requisitava grande desembaraço. Por ironia, Sirius havia nascido tão insolente quanto sua mãe era férrea. Como resultado, travavam uma eterna disputa de poder. Tio Órion, dado a uma maior brandura, vinha gastando seus últimos fios de juventude tentando conciliar a esposa e o filho, ainda que não obtivesse sucesso na maior parte das vezes. Já o pequeno Regulus gostava de agradar a mãe. Embora Narcissa tivesse certeza de que ele negaria veementemente se o perguntassem, podia ler nos olhos do caçula a vontade de tomar-se o centro das atenções, constantemente ocupado pelas intransigências do irmão mais velho. Regulus tentava seguir à risca o que se esperava de um Black, esforçando-se em ser diferente do irmão, para igualar-se a ele em relevância e magnitude.

Perscrutou a mesa da Grifinória em busca dos negros cabelos do primo e vendo que ainda estava tomando o desjejum, apressou-se em interpelá-lo antes que se dirigisse à partida de quadribol. Pousou a rosquinha que apenas tinha mordiscado no prato e após empurrá-lo para o centro da mesa, levantou-se.

- Aconteceu alguma coisa, Cissy? – Gwen piscou as pestanas compridas, acompanhando os seus movimentos.

- Vejo vocês no campo. Fui convocada pelos encargos familiares. – Revirou os olhos e ergueu as duas cartas, antes de enfiá-las nos bolsos das vestes com destreza.

- Oh, merda! Péssimo dia para falar com alguém da Grifinória. Boa sorte! – Effie disse a tempo de a moça começar seu caminho até a mesa da casa cujo time enfrentariam em seguida.

Sirius ria de forma charmosa, contando algumas anedotas para três ou quatro garotas que Narcissa não reconheceu. Do outro lado da mesa, Pettegrew e Lupin travavam um diálogo paralelo, embora o primeiro não despregasse os olhos de seu primo. O garoto macilento lhe dava náuseas, sempre dedicado a exaltar a Sirius e a James para garantir migalhas de popularidade. De forma abrupta, Narcissa apoiou o braço na mesa, bem em frente ao lugar do qual Sirius havia afastado o prato poucos segundos atrás. Abaixou-se até que seus olhos estivessem na mesma altura dos dele. As risadinhas que ressoavam entre as moças silenciaram no mesmo instante e os olhos delas e dos três garotos fixaram-se nela.

- Com a sua licença! – Exclamou com um tom floreado que destoou da postura que havia usado para interromper a conversa.

- Uau! Bela entrada, Cissy! Está querendo alguma coisa ou veio só visitar seu primo predileto?

- Escute bem o que eu vou dizer, por que só vou fazer isso uma vez.

- Pra sua sorte, estou com tempo hoje. Vamos! Sou todo ouvidos, loirinha. – Ele cruzou os braços contra o peito, analisando o semblante da prima.

- Será que a quantidade de loções que você usou nesse cabelo foi tão grande a ponto de afetar o seu cérebro e destruir sua capacidade de raciocinar? – Ela arrancou a carta do bolso e jogou sobre a mesa, à frente do garoto. Embora o repreendesse de forma veemente, falava em tom baixo, mantendo-se sóbria. – Porque não vejo outra explicação para justificar a sua estupidez em ignorar repetidamente as cartas da sua mãe.

- Eu não tenho nada a tratar com ela. – Deu de ombros, franzindo os lábios.

- Enquanto esses seus trajes caros e seus luxos estiverem sendo mantidos por ela, deveria ter o mínimo de decência, seu pirralho mimado! Eu estou cansada de agir como coruja entre vocês!

- Vai me dizer o que ela quer dessa vez ou ainda tem mais algum ato do seu showzinho para fazer? Todos nós estamos curiosíssimos pra entender o porquê do estardalhaço.

- O espetáculo, meu querido priminho, é pra ver se você começa a honrar o que tem no meio das pernas, já que você não se importa com mais nada na vida, e aprende de uma vez por todas a não deixar um remetente sem resposta!

- Se a Walburga de fato se interessasse pela resposta, mandaria um berrador.

- Não seja tão vulgar! Chamá-la pelo nome para pagar de rebelde na frente dessa... moças. – Fechou os lábios para prender a palavra chula que estava na ponta da língua. – Você sabe muito bem que ela não mandaria. – Para os Black, apreciadores da discrição, enviar um berrador significava um total descontrole social e uma tremenda falta de etiqueta. Apenas os bruxos medíocres faziam isso.

- Ande logo, Cissy! Sua boquinha é linda, mas ninguém aqui aguenta mais vê-la sendo desperdiçada pra proferir esse discurso. Por que não poupa seu tempo e me diz logo o que ela quer?

 - Pelo visto, você nem abriu as cartas que ela mandou, não é?

-  Todas direto para a lareira. Tem feito bastante frio ultimamente...

- Merlin! – Ela revirou os olhos e, pela visão periférica, viu o vulto esvoaçante de Regulus correndo apressado pelo corredor entre as mesas. – Perfeito! – Regozijou-se, segurando o garoto pela orelha e obrigando-o a parar de forma repentina.

- O que diabos é isso, Cissy? Eu preciso ir!!! – O garoto parecia desesperado e ela torceu um pouco mais a orelha dele entre seus dedos.

- Cronometragem perfeita, Reg! Só porque você pediu, vou ser breve. – Abriu um sorriso propositalmente falso e debochado, soltando enfim o primo caçula. – Sua mãe quer saber se vocês voltam ao Largo Grimmaud ou seguem comigo e vão se hospedar na nossa casa. Ela e seu pai só se juntarão a nós na véspera do Natal.

- Vamos com você. – Sirius definiu, embora Regulus tivesse exclamado um oposto “Pra casa, é claro!”.

- Posso dizer a ela para dispensar o criado que esperaria por vocês?

- Com toda a certeza, prima. Reg e eu não vemos a hora de um bom e velho reencontro familiar! – O mais velho impôs-se, erguendo as sobrancelhas. Sirius faria tudo o que pudesse para evitar dividir o ambiente com a mãe.

- Ótimo! Viu como não doeu agir com o mínimo de educação para com a família?

- Eu posso ir agora? – O menino trocava o peso de uma perna para a outra, como se fosse urinar a qualquer momento.

- Só mais uma coisa: Essa foi a última vez que vocês deixaram de abrir o correio, estamos entendidos? Se querem ser tão donos de si, ao menos tenham alguma dignidade, seus pestinhas malcriados!

Ela empurrou a cabeça de Sirius e deu meia volta, saindo do salão. Sentiu o vento no rosto quando Regulus passou voando por ela, tomando o rumo do campo de quadribol. Seguiu para as masmorras para escrever a resposta à tia. Mal podia esperar pelas divertidas e pacíficas festas de fim de ano que teriam em família.

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O time entrou em campo a passos largos, confiante e ansioso pela partida. Dimitri ia a frente, sustentando uma postura imponente. James manteve-se atento a ele, para capturar aquele momento em sua memória. Ao fim do ano letivo, o capitão do time da Grifinória iria se formar e James sabia que sentiria falta dele.

Dimitri Thomas era uma das melhores pessoas que ele conhecera na escola. Não havia ninguém que trabalhasse tão duro quanto ele para fazer a Grifinória triunfar! Estava no time desde o seu segundo ano em Hogwarts e havia se tornado capitão dois anos atrás, ocasião em que dera a James um voto de confiança, ao transformá-lo em apanhador. A maior parte dos alunos havia criticado a escolha de Thomas em dar uma posição tão importante à um garotinho do terceiro ano, mas James dedicara-se a fazer valer a chance que havia recebido, ganhando não só prestígio junto aos colegas de time e de casa, mas também a amizade de Dimitri. Em pouco tempo, havia se tornado uma figura importante dentro da equipe, agindo como “braço-direito” do capitão. Juntos, haviam elaborado estratégias inovadoras, treinos eficientes e atividades extra treino para garantir o perfeito entrosamento do time dentro e fora do campo.

Pararam próximos ao centro da arena, já ocupando as posições de início. Encarou os Sonserinos de frente. Sentiu o rancor subir pelo corpo inteiro ao defrontar Emma Vanity, a capitã do time adversário. James tinha que admitir que, assim como Dimitri, a garota era dedicada. Mas isso era tudo em que poderia compará-los. Vanity era o perfeito modelo da trapaceira. Três anos atrás, haviam perdido o campeonato para a Sonserina, numa partida intrincada, em que Emma havia catimbado não uma, mas duas vezes, bem aos olhos de todos. Receosa de que a torcida se machucasse ao receber o balaço rebatido propositalmente em direção à arquibancada pela capitã, Madame Hooch interrompera a partida nas duas vezes, exatamente nos momentos em que a Grifinória estava à beira de marcar um ponto.

Aquela derrota fez crescer em James a vontade de tornar-se parte do time e dar à Sonserina o que eles mereciam. Treinara duro, vendo as férias de verão esvaírem-se em suas gotas de suor, para chegar aos testes afinado e impedir que qualquer outro aluno tomasse a vaga de apanhador, que já considerava sua. Fora exaustivo, mas havia valido a pena! Desde que entrara na equipe, a Grifinória estava invicta e este ano buscavam o tricampeonato. Agora, tinham nas mãos mais uma oportunidade de derrotar os Sonserinos. Embora Emma Vanity tivesse trocado de posição no ano posterior a fatídica partida e passado a jogar como artilheira na vaga deixada pela formatura de Lucius Malfoy, a raiva que James acumulara daquele jogo ainda era pungente. Impô-la a humilhação de perder todas as partidas contra a Grifinória em que ele estivesse jogando seria o presente de James para ela, em uma vingança contra a garota que se tornara pessoal.

- Que merda é essa? – Dimitri sussurrou para ele, assim que madame Hooch indicou a eles para levantar voo e manter as posições.

- O que? – James ergueu o olhar na direção do capitão, depois de arrumar as luvas.

- Substituições de última hora. Acabei de ouvir o Rosier comentar para madame Hooch. Parece que o Avery está com Catapora de Dragão... Dá pra acreditar? Que tipo de bunda mole deixa pra pegar isso depois dos 10 anos? - Marlene McKinnon intrometeu-se na conversa, ouvindo aos dois ainda que falassem baixo, devido ao arranjo que a colocava ao lado de Thomas.

A curiosidade tomou conta do garoto e ele ergueu os olhos para saber do que os dois artilheiros falavam. Ocupando a posição diametral à de James, Regulus Black sustentava uma expressão presunçosa. Chegava a assustar o quanto se assemelhava ao irmão, ainda que tentassem de todo modo se diferenciar. Os cabelos do caçula eram cortados bem mais rentes do que os de Sirius, num corte clássico e impecável, que passava claramente a mensagem de que a ele agradava seguir as tradições. Se estivessem com um semblante sério, podia-se quase confundi-los. O olhar selvagem, o nariz esculpido e a boca bem delineada. Mas, Regulus tinha o hábito de olhar as pessoas por cima, o que lhe dava um constante ar de desprezo.

Por conhecer tão bem à Sirius, James pode ler perfeitamente ao adversário. Black estava nervoso. A ponto de vomitar! Por isso, esforçava-se para manter uma ensaiada altivez. Teve pena... O garoto tinha só 14 anos e, sem esperar, fora incorporado de última hora ao time, estreando como titular numa partida contra seus maiores rivais. Não pode evitar sorrir. Com o time desestabilizado pela substituição não planejada, o jogo estava ganho!

- ‘Tá no papo! – James anunciou aos dois companheiros.

-  Eu quero um jogo limpo, estamos entendidos? Vou encher de neve a boca do primeiro que fizer uma falta de propósito! – Madame Hooch ameaçou, lançando a goles no ar e dando início à partida.

As vestes vermelhas e verdes esvoaçavam pelo campo. James tomou altura, afastando-se um pouco dos outros jogadores. O gélido vento fazia seu o rosto arder. Fechou um pouco as pálpebras, ofuscado pela claridade que a neve emitia. Vasculhou o campo à procura do rival e encontrou Regulus voando em círculos menores, desenhando espirais pelo campo. James esfregou as mãos, sentindo os músculos enrijecidos pelos frio. Alguns metros abaixo, a torcida agitava-se vendo a goles atravessar os aros. Thomas, McKinnon e Elizabeth Pluffek montaram a primeira jogada que eles haviam ensaiado no treino: Chamava-se Centopeia e fora mais uma das ideias de James que começava quase como uma piada e acabava mostrando-se interessante quando testada pela equipe. Voando em fila na direção das balizas, os três artilheiros seguiam trocando a goles entre eles e mudando-a de mão, sem seguir uma ordem, para despistar os adversários. Sorriu satisfeito, vendo que era quase impossível ter certeza de qual dos três tinha a posse da bola.

- Pluffek acerta mais um ponto e a Grifinória sai na frente! Não preguem os olhos, meus amigos! Ou vão acabar se arrependendo de perder algum lance!!!! – Alexa Diggory, a sextanista da Corvinal que narrava os jogos, berrava emocionada diante da dinamicidade que a partida atingira em tão pouco tempo.

Não demorou muito para que a neve recomeçasse a cair, dificultando a visão dos jogadores. Apesar disso, não houve dispersão do público. Nas arquibancadas, os binóculos passavam de mão em mão de forma frenética. O volume da torcida aumentou, estimulando os times mesmo diante do cenário desfavorável. Madame Hooch voava de forma vertiginosa para acompanhar os lances que se desenrolavam.

Aproveitando-se que a diminuição da visibilidade afetava a juíza, os sonserinos começaram a mostrar as garras. Damian Mulciber e Lucinda Talkalot, dois dos artilheiros, mutretavam quase constantemente. Com o atraso causado pelos puxões nas caudas das vassouras, as manobras planejadas pelo time da Grifinória tornavam-se mais lentas, perdendo o sincronismo inicial. Vanity, a terceira artilheira, ficava então livre para tomar a bola e disparar em direção às balizas. Nem mesmo a precisão de Dorcas Meadowes foi capaz de conter tantos avanços e o placar começou a crescer para a Sonserina. Dimitri ergueu dois dedos e assoviou, o sinal combinado para indicar que a equipe deveria assumir um modo de jogo mais duro. Se os sonserinos queriam fogo, iam ter fogo!

Os flocos finos caiam insistentemente e James sentia-se molhado e pesado. Enxergar o pomo sob a cortina branca que descia do céu era quase impossível. Jogou o corpo pra frente, forçando a vassoura a ir mais rápido e cruzou o campo algumas vezes, desenhando um asterisco com sua trajetória. Nenhum sinal da maldita bolinha dourada! Ergueu o olhar e viu que Regulus voava alguns metros acima, aparentemente tão perdido quanto ele.

Afastado da ação que se desdobrava entre os outros jogadores, o tempo transcorria desconexo para James. Já não sabia a quanto tempo estavam jogando, mas parecia-lhe que dias haviam se passado. Apenas os gritos alternados da torcida e os berros estridentes de Diggory situavam-lhe na partida.

O placar se modificava alucinadamente, como se os artilheiros competissem para ver quem marcava mais rápido e, ainda que Evan Rosier e Dorcas se esforçassem para defender cada lance, os times já atingiam pontuações incomuns para uma simples partida escolar. A juíza apitava de forma quase constante, repreendendo os jogadores e invertendo a posse da goles. A bola mudava tanto de mãos e as investidas dos dois times ocorriam de forma tão frequente que James não conseguia mais acompanhar. Os balaços voavam quase desgovernadamente, sendo rebatidos a todo instante, ora por Edgar Bones e Brigitte Mitchell, ora por Leona Greengrass e Oliver Parkinson. As arquibancadas vibravam! Tudo o que o garoto era capaz de enxergar eram as massas vermelha e verde ondulando-se.

Sobressaltou-se e girou a vassoura num susto, vendo que Regulus parara de circular sobre sua cabeça e mergulhava de forma desenfreada.

- Puta que pariu! - Xingou alto, certo de que o adversário encontrara o pomo.

Precisava ser mais rápido! Apontando a vassoura na mesma direção que o outro tomara, lançou-se conta o campo. Desceram lado a lado, os rostos esturricando-se contra o vento, tamanha era a velocidade que tudo ao redor tornara-se um borrão. Vasculhou rapidamente a área, buscando alucinadamente a esfera dourada. Não estava em lugar nenhum! Aproximavam-se perigosamente do chão, já tendo deixado há muito os outros jogadores para trás. A torcida estava quieta de repente. O entendimento atingiu a James como um clarão, assim que viu o outro apanhador descrever uma curva acentuada para a direita.

- FILHO DA PUTA! – Ele gritou a plenos pulmões, tentando desviar-se no último instante antes do baque.

Sentiu o leve roçar da camada de neve contra o corpo, mas conseguiu arremeter sem chocar-se contra o solo. O desgraçado acabara de aplicar-lhe uma finta de Wronski! Sentiu seu peito queimar, o ódio consumindo-lhe a ponto de arder os olhos. O apito de Madame Hooch soou e James esperou que interrompesse o jogo para punir a Regulus. Em seguida, a juíza apitou outra vez. Ele franziu o cenho e tentou estabilizar-se no ar, para entender o que estava acontecendo.

 - EMOCIONANTE, SENHORAS E SENHORES! Black captura o pomo, garantindo 150 pontos para a Sonserina.  560 a 580. VOCÊS NÃO ESTÃO DELIRANDO! A Grifinória vence o jogo por 20 pontos!!!! Pluffek, Thomas e a máquina McKinnon conseguiram outra vez!! São 8 partidas invictas!!!!! QUE LOUCURA, MEUS AMIGOS! – Alexa estava fora de si, estonteada diante da cena que se desenrolara.

A torcida da Grifinória pulava ensandecida. Ecoavam refrões enaltecendo ao time, principalmente à máquina McKinnon. No chão, o time comemorava. James desceu rapidamente, saltando da vassoura e lançando-a contra o solo. O garoto espumava, sentindo a fúria borbulhar por todo o corpo. Encaminhou-se até a juíza, que tentava acalmar os ânimos do time da Sonserina.

- Foi o apanhador de vocês pegou o pomo, Srta. Vanity! Eu só encerrei o jogo como manda o regulamento. Pensei que esta já fosse uma regra consolidada no quadribol! Mas se a senhorita quiser, pode escrever uma carta à federação internacional e solicitar a alteração da regra.

- Ele trapaceou! – James gritou, interrompendo a conversa das duas, que se viraram imediatamente na direção dele.

- O que disse, Sr. Potter? -  A professora ergueu a sobrancelha.

- Esse desgraçado tentou me aplicar uma finta de Wronski! Não é possível que ninguém tenha notado isso!!!!!

- Eu não o vi colidir com o chão, Sr. Potter. – Ela franziu o cenho.

- Porque eu não colidi! Consegui desviar no último instante.

- Sendo assim, não vejo... – A mulher não conseguiu concluir a fala.

- Pelas barbas de Merlin, madame Hooch! Não estamos falando com nenhuma criança idiota aqui. A senhora viu o que ele fez! Se jogou contra o solo para que eu viesse atrás e saiu fora no último segundo! Eu só não colidi porque sou um exímio piloto!

Nesse ponto, os olhos dos membros dos dois times estavam fixos nele. A comemoração continuava apenas nas arquibancadas, ainda alheias ao que acontecia no campo.

- Eu não te obriguei a vir atrás de mim, Potter! – Regulus pronunciou-se enfim.

- Ah, não! O inocente Regulus Black... Achou que tinha visto o pomo e depois mudou de ideia exatamente no ponto em que eu não conseguiria mais voltar atrás! É óbvio que por sorte você acabou cruzando com o pomo e o capturou. Se não, teria sido só um jogo sujo!

- As minhas estratégias não são da sua conta! Se eu mergulhei, foi porque tive razão.

- Nos poupe de tanta dissimulação, Black! – Brigitte Mitchell interveio, ainda sustentando o bastão, embora mais nenhum balaço circulasse.

- Sr. Potter, não estou entendendo onde quer chegar com isso. Seu time venceu, podemos encerrar essa discussão? – A juíza parecia consternada.

- A senhora não pode dar os 150 pontos a eles! Ele trapaceou! Cometeu uma falta torpe na frente dos olhos de todos!

- Qual é, Potter! Vai ficar insistindo nessa história de falta? O lance passou e madame Hooch não marcou nada. Para de choramingar! – O garoto provocou, abrindo os braços de forma inquisidora. -  Seu ego é tão grande que não consegue admitir que um estreante fez melhor do que você? Quem pegou o pomo afinal?

Antes que qualquer um pudesse prever, Potter ergueu o punho e cravou um soco no nariz do adversário. Caíram contra o manto de neve que cobria o chão, engalfinhando-se. Tudo o que ele queria fazer era quebrar a cara daquele sacana em 150 pedacinhos, um para cada ponto! A torcida parecia finalmente ter compreendido que a disputa ainda se desenrolava. Fez-se um átimo de completo silêncio e depois a gritaria se generalizou entre os times. Sentado sobre o rival, ergueu o braço, armando-se para desprender outro golpe. Subitamente, sentiu-se flutuar. Como imãs se repelindo, todos os jogadores ficaram suspensos de forma suave no ar, imóveis.

- CHEGA! VOCÊS NÃO SÃO ANIMAIS! SERÁ QUE NÃO PODEM JOGAR UMA PARTIDA SEM VIRAR CONFUSÃO???  – Madame Hooch gritou. – POTTER, DETENÇÃO SEGUNDA-FEIRA NA MINHA SALA! Esse jogo acaba aqui! Sonserina capturou o pomo. Grifinória venceu. Agora, TODOS PARA O VESTIÁRIO E DESAPAREÇAM DA MINHA FRENTE!

James limpou a mão na capa, misturando o encarnado do sangue de Regulus ao vermelho das vestes da Grifinória. Apanhou a vassoura e encaminhou-se em passos duros para o vestiário, bufando. Estava furioso por ter caído no jogo dos sonserinos! O ódio por ter perdido o pomo lhe embaçava a vista. Enfiou-se no chuveiro, sentindo a água cair sobre sua cabeça, dissolvendo a ira e permitindo que a frustração tomasse seu lugar. Pela primeira vez desde que havia entrado no time, James Potter havia falhado.

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A porta foi aberta com uma delicadeza incomum. James escutou o cochichado que precedeu o suave rangido da maçaneta. Logo em seguida, os passos dos três amigos soaram. Primeiro, o arrastar desleixado das botas de Rabicho. Depois o estalado dos tênis trouxas de Almofadinhas. Por último, o farfalhar dos sapatos gastos de Aluado. Se aproximaram cautelosos de sua cama, embora as cortinas estivessem fechadas. Sabia que estavam receosos sobre a reação que ele teria.

- Pontas? – A voz carinhosa de Remus dissolveu o silêncio.

- A gente trouxe bolos de caldeirão... – Peter avisou e James ouviu o barulho do prato sendo pousado contra a mesa de cabeceira.

Todas as vezes que a Grifinória vencia uma partida, a sala comunal transformava-se em uma festa: Música, bebidas e toda a comida que conseguissem surrupiar da cozinha. Alguém havia descoberto que o doce favorito de Dimitri eram os bolos de caldeirão. Desde então, cada vitória era comemorada com um estoque deles, enviados por “uma admiradora”. Para James, aqueles bolinhos tinham o sabor do triunfo. Mas hoje, o gosto de sua boca era amargo.

- Bolos de caldeirão... Eu disse que isso seria estupidez! – Black murmurou, dando passos na direção contrária.

O barulho de objetos caindo indicou que tudo que havia no malão do garoto era remexido de forma violenta, até que um tilintar soou. James entreouviu a garrafa sendo aberta e os sucessivos gorgolejares do líquido sendo derramado em um copo. Depois, o ambiente se encheu com o som oco do copo sendo solto ao lado do pratinho recheado de bolos.

- Uísque de fogo. Isso sim pode ser de alguma ajuda! – Sirius definiu, logo depois que o vidro do copo chacoalhou contra a madeira. - Ele foi um escroto, filho da puta descarado e sem escrúpulos! – Xingou quase aos berros e em seguida levou o gargalo diretamente aos lábios, dando três audíveis goles da bebida. – Mas foda-se, Pontas! – O tecido da jaqueta rangeu. Certamente ele estava limpando a boca no dorso da mão. - Sabe por quê? Porque esse imbecil teve o que mereceu! HAHA! Achou que ia sair de gostosão e acabou tomando uma dura do time.

- Ele capturou o pomo... – Pettegrew acrescentou entre os dentes.

- Uma porra! Ele roubou o pomo e mesmo assim ainda foi burro o suficiente pra fazer isso antes que o time estivesse na frente.

- O que a gente quer dizer, Pontas, é que ‘tá tudo bem. Você foi incrível! – Remus interveio e James teve certeza de que ele estava arregalando os olhos para calar os outros.

- Jogou como um deus! Aquela desviada no último segundo, quando você virou de costas...Eu ‘tava todo cagado pensando que você ia se estrepar! Mas você conseguiu! – Rabicho mantinha o tom de admiração corriqueiro.

- Você foi foda, Pontas! E a Grifinória ganhou! Continuamos invictos, que é o que interessa. Quanto àquele escroto, vou esperar as férias chegarem pra dar a ele o que merece...

- Acho que o Pontas já cuidou disso sozinho, Almafodinhas... – Lupin soou desapontado.

- E arrebentou! Eu nunca me orgulhei tanto de algo que você tenha feito no campo de quadribol, Pontinhas! Você tinha que ver a cara da McGonagall!

Não conseguiram conter o riso diante da lembrança do semblante horrorizado da diretora da Grifinória. As risadas dos quatro soaram em descompasso, embora a de James o fizesse de forma tímida. Provavelmente aquele soco conseguira destruir toda a boa impressão que ele havia causado na professora com a visita de Madame Renouard.

A recordação da francesa catalisou os pensamentos adormecidos sobre os dias anteriores e a imagem de Narcissa tomou sua mente. Parou de rir de forma súbita. O trato que haviam feito! Se a Grifinória ganhasse, ela prometera que beberiam à vitória! A adrenalina do jogo afastara completamente o combinado de sua mente. Que horas eram?  A luz do dia ainda entrava pela janela. Não podia ter passado tanto tempo. Por onde ela andaria?

- Não deixa isso te tirar do prumo, Pontas. O time ganhou! E você sabe que não teria ganho sem você, de jeito nenhum. – A voz de Remus era suave, numa tentativa de aplainar a decepção que dominava o amigo.

- É, cara. Deixa isso pra lá e vamos curtir! A festa tá bombando lá embaixo! – Almofadinhas convidou, porém ele se manteve em silêncio.

Esperaram alguns instantes, aguardando que o amigo se levantasse e superasse a frustração. Contudo, a cabeça do rapaz já estava tomada por outros planos. Era quase audível a troca de olhares entre eles e James pode imaginá-los entreolhando-se em dúvida.

- A gente vai voltar pra lá. Estamos na sala comunal se precisar de nós! – Peter frisou, antes de encostar a porta.

Contou alguns segundos, ouvindo os passos dos companheiros se afastarem e desaparecerem nas escadas. Arrancou as cobertas e afastou a cortina, de um pulo. Abriu o próprio malão e pescou de dentro dele a capa de invisibilidade. Puxou a gaveta da mesa de cabeceira para pegar a varinha e os óculos, que colocou de qualquer jeito no rosto. Sem pensar muito, virou o copo de Whisky de Fogo em um gole só, afundou os sapatos nós pés e se olhou no espelho, desarrumando os cabelos. Voltou a abrir a gaveta e, depois de colocar uma pastilha de hortelã na boca, enfiou o pacote no bolso, junto com a carteira. Já estava próximo à porta, quando lembrou de cerrar as cortinas da cama. Se os amigos voltassem, teriam certeza de que ele estava adormecido, embalado pela própria frustração e pela dose de uísque.

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- Você prometeu, Cliff! – A ruiva arrastou a voz, num tom quase choramingado.

- Eu disse que era possível. – Wilkes riu, erguendo as duas mãos para mostrar-se isento.

- Só um pouquinho? – Yvone franziu os lábios num beicinho.

Oh, Merlin! Por que Narcissa estava se prestando a esse papel? Já passava das quatro da tarde e os sextanistas e setimanistas da sonserina estavam reunidos na sala comunal. A lareira flamejava, tornando o ambiente muito mais convidativo do que qualquer outra parte do castelo. Com a derrota da Sonserina no quadribol, o silêncio imperava nos dormitórios. Os poucos comentários tratavam da façanha de Black e do prazer de ver Potter ser humilhado.

Ela soltou o ar pela boca, vendo a franja balançar sob o efeito da pequena corrente. Passou o dedo delicadamente por uma bolinha que havia se formado em sua meia calça. O tom de camurça da peça contrastava com o quadriculado esmeralda da saia justa que ela havia colocado pela manhã, para demonstrar sua torcida. O jogo havia sido uma experiência singular. Algo dentro dela se remexia todas as vezes que via o pontinho grená movimentar-se pelo campo a procura do pomo. Ainda que comemorasse cada vez que a Sonserina marcava, sentia-se como uma espécie de traidora, esperando ansiosamente que Potter desse seu show e capturasse o pomo. Seu coração veio aos lábios, vendo-o despencar em direção ao chão e respirou fundo quando ele retomou seu curso. Parte da arrogância de James estava justificada. Ele era realmente bom!

Quando Regulus fez o lance que deu fim ao jogo, seu olhar convergiu imediatamente para o rapaz. A trajetória do soco estava bem às vistas de todos, embora ela fosse a única que estivesse prestando atenção. Anteviu que a briga se formaria pela forma bruta com a qual ele arremessou a vassoura contra a neve. Murmurou baixinho, suplicando ao primeiro ser superior que pudesse ouvi-la que ele não o fizesse. De nada adiantou. O orgulho do garoto era grande demais para aceitar que alguém o passasse pra trás.

Imaginou se ele estaria agora comemorando com o time, como fizera no último jogo que tinha disputado. Se estaria rodeado pelos companheiros de casa, brincando uns com os outros sem preocupações.  De repente, sentiu-se só. Foi quase como se o amplo espaço da sala a engolisse. Fitou os rostos dos colegas com atenção, mas nada lhe pareceu ocupar o lugar certo.

- Você faria isso por mim, não faria? Por favorzinho! – Yve ronronava como uma gata, no que pareceu a Narcissa mais uma tentativa melosa de seduzir Wilkes.

Decidiu que precisava desesperadamente de um cigarro. Não tinha por que aguentar aquilo. As investidas pateticamente desesperadas da colega a fariam vomitar a qualquer momento. Ergueu-se rapidamente, puxou um pouco a saia para baixo e vestiu o casaco cor de canela por cima do tricô branco de gola alta. Apalpou o bolso do abrigo, sentindo o reconfortante volume da caixinha.

- Aonde você vai, Cissy? – Effie indagou, desconfiada.

- Vamos começar a jogar “Verdade, desafio ou bombas de bosta” agora!! – Gwen avisou, sentando-se exatamente ao lado do espaço que ela havia deixado vazio ao se levantar.

- Vão começando sem mim. Vou só fumar um cigarro e já volto... – Mentiu, certa de que seguiria diretamente para o dormitório quando terminasse.

- Aqui! – Mulciber estendeu uma caixa amassada na direção dela.

- Estou bem, obrigada Damian! Vou aproveitar pra tomar um pouco de ar...

- A princesinha da neve ataca novamente! – As risadas acompanharam o gracejo feito por Effie.

- Você sabe como é, tenho que me exibir para os meus súditos! – Ela fez uma reverência improvisada e tomou rumo à saída.

A umidade das masmorras a atingiu assim que ela atravessou a porta. Narcissa amava o inverno. O frio e a neve eram seu estado de conforto e este era o período do ano em que se sentia mais viva! Gostava de estar ao ar livre, tocando a superfície fofa da camada de neve recém depositada. O suave enregelar que os flocos pousando delicadamente em seu rosto lhe causavam era sua sensação favorita. Enquanto todos buscavam esconder-se ao abrigo das lareiras, urgia dentro dela a necessidade de integrar-se ao ambiente gélido. Por causa disso, havia ganhado de Natanael Bulstrode o apelido de princesa da neve. Rapidamente o grupo havia aderido à brincadeira e ao longo dos anos a piada havia se firmado, vindo à tona naturalmente com as primeiras nevascas do ano.

- Ei!

A moça parou. O corredor estava vazio além dela. Deu meia volta e avistou Evan Rosier à porta da sala comunal. Vendo que a garota não retornaria, veio em passos largos até ela.

- ‘Tá tudo bem? – Perguntou com o semblante preocupado, pousando a mão na cintura dela. – Você parecia chateada lá dentro.

- É gentileza sua se preocupar, Evan. – Deu um sorriso suave, sem mostrar os dentes. – Só estou cansada. Essa semana foi bem intensa com a visita da vice-diretora de Beauxbatons.

- Você não vai voltar, né? – Ela balançou a cabeça em negativa. Não tinha razões para mentir para ele. – Quer conversar? A gente pode dar uma volta pelo jardim. – Estendeu os dedos, atrevendo-se a colocar uma mecha do cabelo dela atrás da orelha.

- Acho que vou me recolher e tentar descansar um pouco antes do jantar. Além disso, você não vai querer perder toda a diversão de uma inovadora partida de “Verdade ou Desafio” regada a bombas de bosta, vai? – Ela arqueou a sobrancelha de forma irônica, olhando-o diretamente nos olhos para tentar constrangê-lo.

Ele riu, balançando a cabeça em desaprovação. Evan era um cara legal, mas envolver-se com a família era complicado. E se havia algo que se podia dizer sobre a família de Narcissa é que ela era complicada. Pelos dois lados. Desde o quinto ano, já haviam saído algumas vezes e a garota não podia negar que ele a atraia muito. Era alto, com um porte atlético e elegante. Os cabelos loiros estavam sempre arrumados em um discreto topete e os olhos cor de mel derramavam-se nela com interesse todas as vezes que a viam. A forma como pousava sobre ela as largas mãos de goleiro era bem persuasiva e o sorriso dele tinha seu charme. Pensou em aceitar o convite para a caminhada e deixar que o rapaz a beijasse, apenas para distrair-se daquele marasmo que tomara conta de seu interior, mas resistiu. Podia ver espelhados nele alguns dos traços que ela herdara de sua mãe. Sob a luz fraca da masmorra, Evan parecia feito de papelão. Perguntou-se se ela também tinha essa aparência morna.

- Te vejo no jantar? – Indagou, para cortar qualquer expectativa que o garoto tivesse de acompanhá-la.

- Se eu tomar uma bomba de bosta, será por sua causa, Cissy. Não vou deixá-la esquecer que tinha nas mãos o poder de me salvar e se negou!

- Eu posso conviver com essa culpa! – Ela abriu um sorriso, para aplainar a repetida negação do convite.

- Fica bem. – Disse em voz baixa, depositando um pudico beijo na testa dela.

Deram-se as costas e ela retomou seu caminho, atravessando os corredores gelados e sentindo o ar frio eletrizá-la. Tateou o bolso do casaco até encontrar a caixa de cigarros e depois puxou um para fora, junto com o pequeno suporte no qual prendeu o cigarro. No seu décimo sexto aniversário, Bellatrix a presenteara com o suporte. Lembrava-se com precisão de como os lábios escarlate da irmã haviam se movido de forma taxativa: “Já passou da hora de você se tornar uma verdadeira dama, Cissy”. Confeccionada em prata, a peça era leve e delicada. No início, Narcissa fitara a pequena cobra que adornava o anel com desconfiança. Posicionada na base do suporte, o animal havia sido moldado para parecer estar enroscado em seu dedo, um detalhe que não passaria despercebido aos olhos de nenhum bruxo. Bellatrix previsivelmente escolhera um presente que anunciasse a quem estivesse olhando sobre a pureza de sangue da irmã. Devolveu a caixa ao mesmo lugar, antes de passar o dedo por dentro do anel. Procurava a varinha no bolso da saia para acender o cigarro quando foi subitamente arrastada até os fundos de uma das tapeçarias penduradas na parede.

- O que diabos...? – Xingou, pronta para estuporar qualquer um dos garotos que a tivesse seguido para pregar-lhe uma peça.

- Shhhh! – Potter sussurrou, deixando cair sobre o pescoço uma espécie de manto.

A cabeça do garoto flutuava no ar, completamente solta. Ela franziu o cenho, estupefata. Tocou o rosto dele delicadamente com as pontas dos dedos. Estava quente. Como era possível? James soltou o manto, deixando-o avolumar-se sobre o chão, e o resto do seu corpo surgiu imediatamente.

- Capa de invisibilidade. – Cochichou, gabando-se. – Um segredinho meu! Bom... Agora, é nosso.

- Você não deveria estar comemorando com seu time, Potter?

- Você não deveria estar só fumando um cigarro? – O rapaz arqueou a sobrancelha, dando de ombros.

- Vai me dizer o que quer? – Tirou a caixinha do bolso, guardando de volta o cigarro e o suporte.

- Tenho a vaga lembrança de que tínhamos um compromisso hoje. Você e eu. – Segurou o queixo, fingindo um semblante pensativo.

- Pensei que lhe interessaria mais festejar com seus amigos.

- Eu não tenho nenhum motivo pra festejar, Narcissa. Perdi o pomo como um idiota, na frente de todo mundo.

- Não foi tão mal assim... Se você parasse de usar seu ego como lente, as coisas iriam se desanuviar e lhe permitiriam ver que fez uma grande partida. Qualquer um teria caído!

- Parece que alguém prestou bastante atenção em mim durante o jogo...

Se entreolharam e a loira arrumou vagarosamente a caixinha no bolso do casaco, para disfarçar o rubor que tomara conta de seu rosto.

- A nossa comemoração me interessava muito mais do que qualquer coisa que pudesse estar acontecendo na sala comunal. – O garoto admitiu, deixando que os dedos passeassem despretensiosamente pelas mechas do próprio cabelo. – Espero que você lembre bem de que prometeu celebrar não só ao sucesso da nossa empreitada com Madame Renouard, mas também ao vencedor de hoje.

- Eu não sou o tipo de mulher que descumpre uma promessa, Potter. – Os olhos dela faiscavam. – Me convença da sua ideia...

- Sei que você gosta da neve. O que acha de uma pequena incursão? Nesse frio, não deve ter muita gente em Hogsmead e eu ia adorar caminhar por lá sem tropeçar em 300 outros estudantes, pra variar um pouco.

- Hogsmead? - Ela riu de forma debochada. – Pode me dizer como pretende?

- Digamos que os rumores que Dumbledore ouviu sobre mim estavam bem alinhados com a verdade, minha querida Narcissa. Sei que você não é tão inocente a ponto de pensar que a única forma de entrar e sair em Hogwarts é pelos portões... E se há alguém apto a te mostrar essas alternativas, modéstia à parte, está falando com ele.

- Ótimo, Potter. Brilhante ideia! Absolutamente ninguém vai notar que estamos nos esgueirando juntos.

- É exatamente por isso que eu trouxe a capa. – Ele sorriu satisfeito, erguendo do chão o manto.

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Seu coração batia descompassadamente dada a proximidade entre eles. O corpo da garota estava quase aconchegado ao seu e ela ia à frente, respirando cautelosamente. Os braços de James sustentavam firmemente a capa de invisibilidade ao redor dos dois, enquanto caminhavam o mais rápido que podiam sem correr o risco de descobrir os pés. Trombaram algumas vezes, até encontrar o equilíbrio e o ritmo certo para conseguirem seguir juntos.  Felizmente, os corredores estavam completamente vazios.

Durante seus primeiros anos em Hogwarts, a capa era grande o suficiente para cobrir a ele e mais dois dos amigos sem problemas. À medida que os anos haviam passado e o tamanho dele esticado, encobrir mais de uma pessoa completamente exigia grande jogo de cintura. Por sorte, Almofadinhas se tornara extremamente habilidoso em aplicar feitiços desilusórios aos sapatos, o que os possibilitara continuar utilizando o artefato em pares quando necessário.  

- À esquerda. – Sussurrou, encostando o queixo no ombro dela. Finalmente, pararam em frente à estátua da velha corcunda. – Agora, aponte a varinha diretamente pra ela e diga “Dissendium”.

Respirou fundo e então repetiu o feitiço que ele havia indicado. A estátua rangeu de forma branda, afastando-se lentamente para permitir que acessassem a passagem. Na parede, abriu-se uma fenda com largura e tamanho suficientes para permitir a acesso de uma pessoa. Narcissa caminhou em passos lentos, empunhando a varinha como se suspeitasse ser vítima de uma armadilha. Ele a seguiu pé ante pé, até que atravessaram por completo a abertura, abandonando o corredor. A exclamação de surpresa da moça ecoou pelas paredes, assim que a estátua retornou ao seu lugar e eles se viram em completo escuro. Soltou os braços, tirando a capa que os encobria e se afastou um pouco dela. Narcissa acendeu um feixe de luz na ponta da varinha, clareando o local.

- Quando chegarmos ao alçapão, eu vou sair na frente, por que já tenho prática e consigo me erguer usando a capa. Assim que a barra estiver limpa, estendo a mão pra te ajudar a subir.

- Céus! Onde eu estava com a cabeça quando aceitei isso? Se alguma coisa acontecer comigo, Potter, eu juro que...

- Vamos, Narcissa! Não custa tanto confiar em mim. – Ele a interrompeu antes que pudesse ameaçá-lo.

Tomou a frente, percorrendo os caminhos já conhecidos. A umidade contida entre aquelas paredes era enorme e o silêncio se impunha de forma tão firme que parecia capaz de engoli-los. A garota o seguia de perto, iluminando o que estivesse à frente. Perguntou-se o que ela estaria pensando e se estaria de fato arrependida de tê-lo acompanhado. Caminharam alguns minutos até chegar ao fim do corredor. Tocou o braço dela, para que abaixasse a varinha e ela desfez o feitiço, permitindo que a escuridão tomasse conta do local.

- Eu já volto. – Prometeu, antes de cobrir-se completamente com a capa.

Tateou sobre a cabeça, até encontrar o ponto exato e ergueu vagarosamente a pedra, deixando que seus olhos se acostumassem a claridade alaranjada do porão da Dedosdemel. Perscrutou o chão do ambiente em busca de pés, mas parecia vazio. Ergueu-se para fora, mantendo-se sob a capa. O barulho de passos descendo a escada o alcançou e ele fechou a pedra, deixando Narcissa presa no escuro. Estava seguro de que a garota o mataria assim que ele a puxasse para fora. Prendeu a respiração por alguns instantes, até que o vendedor tornou a subir as escadas carregando uma caixa enorme de penas de algodão doce. Contou até 30 depois dos passos desaparecerem na parte de cima e só então abriu o alçapão. Estendeu a mão e os dedos alvos da moça o agarraram firmemente. Em menos de um minuto, estavam novamente colados para permanecer completamente sob a capa. James empurrou a pedra com o pé, fechando a passagem.

- Falta pouco agora. Suba as escadas, vire à direita e estaremos na Dedosdemel. Depois, espere alguém abrir a porta para sair logo atrás. Há um beco do lado esquerdo.

Narcissa ofegava, visivelmente inquieta e nervosa pelo medo de ser descoberta. Caminhavam com mais vagarosidade do que nunca e o rapaz precisou pará-la para que não se chocasse contra uma criança que vinha correndo até o expositor de sapos de chocolate. Quando afinal chegaram ao beco, foi um alívio. Ela se desvencilhou da capa e se encostou contra a parede, respirando profundamente.

- Voilà, mademoseille. Sã, salva e em Hogsmead!

- Como diabos você descobriu que dava pra sair assim do castelo?

- Um homem tem seus truques, Narcissa. Se eu te contasse tudo sobre eles, perderiam a graça. – Dobrou  a capa e enfiou no bolso do próprio casaco.

Quando ergueu os olhos, a loira já estava acendendo um cigarro. James estava acostumado a ver Sirius fumar, mas jamais havia cogitado que ela o fizesse. A possibilidade era muito remota para ser real. Narcissa parecia primorosa demais para isso e a imagem de uma bonequinha como ela sustentando o pequeno cilindro entre os dedos não era compatível. Ele estava aprendendo que Narcissa era capaz de dar um jeito de transformar qualquer coisa para torná-la apropriada para sua imagem, ainda que fosse algo grosseiro em sua essência.

O anel que envolvia o dedo anelar da moça sustentava uma delicada pecinha de prata onde o cigarro estava preso. O objeto era perfeitamente desenhado para contornar o problema da falta de classe. Encostada contra a parede, Narcissa protagonizava a cena mais sedutora que ele já presenciara. Os lábios rosados entreabriam-se suavemente a fim de permitir que a fumaça saísse por entre deles.  O movimento da boca era acompanhado pela ressaltar das maçãs do rosto, que estavam rubras sob o frio. De forma desalinhada, algumas mechas de cabelo ondulavam ao sabor do vento. O quadro se complementava pelos últimos raios de sol do entardecer, que pincelavam de forma tímida os olhos dela, deixando a impressão de que os cílios eram quase tão brancos como a neve.

- Qual o problema, Potter? – O tom desconfiado se sobrepôs à voz melodiosa da garota.

- Eu, não sei... – Murmurou de forma vaga, apenas para encerrar o assunto e cercear a vontade de dizer-lhe a verdade, que pinicava em seu corpo.

Imaginou-se tomando fôlego, virando para mirá-la dentro dos olhos e confessando em alto e bom tom: “Bem, talvez eu esteja apaixonado!”. Desde que abandonara as cobertas, no dormitório, a ideia dava-lhe voltas e voltas na mente.

A conclusão na qual havia chegado durante a festa havia se transformado em um obsessivo pensamento. Embora não devesse, havia tomado conta de tudo por dentro dele, perturbando até o seu sono. Há algum tempo seus sonhos haviam sido tomados pela presença dela. Acordava no meio da noite, encharcado de um suor que era o sentimento lhe brotando pelos poros, à flor da pele.

A cada vez que se aproximavam, notava o fogo que lhe queimava por dentro ser atiçado.  Chegava a sentir-se febril, como se de alguma forma a inquietação em seu peito fosse ocasionada por uma festa em seu interior. Receava que o calor lhe subisse a face no momento em que Narcissa pusesse o olhar sobre ele, porque já não se julgava capaz de dissimular o que sentia.

James tinha plena consciência de que era teimoso e insistente. Quando queria algo, não havia nada que pudesse lhe tirar a ideia da cabeça. E o anseio por ela havia se tornado uma sede impossível de saciar! Havia tentado se convencer de que o que sentia era desejo, atração, afeição ou um tipo perigoso de fascínio. Mas de nada adiantara. Estava certo de que jamais sentira por ninguém o que sentia por ela. Era mais voraz que desejo, mais enigmático do que atração, mais terno do que afeição e muito mais profundo do que fascínio. Só havia um nome para o que ele estava sentido e embora relutasse, não havia mais como negar a si mesmo que se apaixonara. No ponto em que havia se deixado ir, nenhum tipo de feitiço, poção ou alquimia poderia fazê-lo arrancar de dentro de si a paixão que havia se enraizado ali. Nem mesmo a razão.

A adrenalina e a frustração do quadribol haviam sido capazes de anuviar seus pensamentos e mantê-lo afastado por algumas horas. Julgou por breves momentos haver superado a fixação. Mas depois, tudo voltara subitamente, como um balaço lhe atingindo. Pensava nisso o tempo inteiro e a cada vez que pensava, acaba pensando ainda mais sobre o assunto: Estava apaixonado. Não conseguia parar de pensar nisso nem por um instante.

Quando tempo seria necessário para que isso desaparecesse? Não sabia. E tampouco importava, porque já havia decidido dar meia volta e encarar de frente o que sentia. Os livros, as músicas, as poesias... Tudo ao seu redor evocava a paixão e todos pareciam estar procurando alguém por quem se enamorar. Por que então sufocaria seus sentimentos? Ele não sabia nada sobre o amor e a situação havia caído em seu colo da forma mais complexa possível, complicada e incorreta em todos os sentidos. Narcissa Black era um problema enorme!  Mas ele estava pronto e ansioso para enfrentá-lo.

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- Potter? – Perguntou desconfiada.

Embora o rapaz tivesse os olhos postos sobre ela, era notável que estava perdido em seus pensamentos. Desencaixou o cigarro da peça metálica e o lançou ao chão, empurrando contra a parede com a bota até que apagasse. Depois, guardou o suporte de volta na caixinha.

- Enquanto você não sabe, que tal irmos à Florean?

- Você ‘tá falando sério? – Ele pareceu voltar a si ao ouvir o convite absurdo.

- Eu sei...O sabor aqui nunca é tão bom quanto o da matriz do Beco Diagonal.

- Estava pensando mais no clima, na verdade. Sorvete seria uma escolha um tanto incomum para o dia de hoje.

- Eu não diria que estamos fazendo as coisas de forma muito ordinária hoje. – Narcissa abriu um sorriso espirituoso. – Além disso, é melhor evitarmos que alguém nos veja fora da escola.

- Se você está certa de que é isso que quer...

Florean Fortescue era dono de uma famosa sorveteria no Beco Diagonal. Não havia ninguém capaz de encantar paladares como ele! Talentosamente unia os mais variados sabores a uma textura incomparavelmente cremosa. A cada semana, novas combinações de iguarias eram oferecidas. Mesmo as mais inesperadas se provavam deliciosas. Desfrutando do sucesso, abrira uma filial em Hogsmead, principalmente para vender suas delícias entre os alunos de Hogwarts. Apesar dos burburinhos dizerem que o sabor não se igualava ao da loja original, durante o verão era comum que a fila de adolescentes sedentos por uma deliciosa e refrescante bola de sorvete chegasse a contornar o quarteirão.

Naquele dia gélido de outono, a loja estava totalmente vazia. Narcissa empurrou a porta cor-de-rosa, fazendo com que a campainha soasse para indicar a chegada de clientes. O espaço pequeno, usualmente abarrotado pelos estudantes, parecia amplo sem ninguém. As mesas e cadeiras em tons pastel permaneciam milimetricamente postas, aguardando para ser ocupadas por uma família ou um pequeno grupo de amigos. O couro cor de creme dos banquinhos altos em frente ao balcão reluzia. Os dois caminharam cuidadosamente pelo piso quadriculado de preto e branco, em direção ao guichê.  Na parede atrás da caixa registradora, o quadro de sabores usualmente ia de cima a baixo. Hoje, as pequenas letrinhas indicavam apenas cinco deles, apertados no canto superior.

- Especiais da temporada: Torta de abóbora e cidra de maçã. Regulares: Baunilha, chocolate e morango. – Potter leu em voz alta precisamente o que estava escrito.

- Bem-vindos a sorveteria Florean Fortescue! Eu sou Willy e é um prazer atendê-los.  O que vão querer hoje, meus jovens? – O homem magricela surgiu do nada, quase completamente encoberto pela caixa registradora e Narcissa se perguntou se ele estivera sempre ali.

Vestia uma camisa estampada com longas listras verticais, cujas cores combinavam propositalmente com a decoração. O uniforme se complementava por uma gravata borboleta e um avental amarrado na cintura, moldava-o rigorosamente ao colorido pálido do ambiente.

Ao lado do quadro de sabores, uma enorme estante comportava dezenas de potes de vidro. Cada um deles tinha pendurado uma pequena concha de metal, utilizada para derramar no sorvete os mais variados tipos de doces e caldas à gosto do cliente. Ela analisou os sabores, enquanto metia a mão no bolso para buscar a bolsinha de moedas, mas encontrou o lugar vazio. Xingou a própria estupidez mentalmente. Saíra apenas pra fumar um cigarro na escola. Por qual razão teria levado dinheiro? Soltou as mãos ao lado do corpo, conjecturando como dizer polidamente que aceitava apenas um copo de água.

- Acho que... Pode ser um só para nós dois? – O garoto a mirou e ela balançou a cabeça em concordância, aliviada. – Um simples, com duas colheres, por favor. – Mexeu na carteira, entregando dois sicles na mão do atendente.

- Qual será o sabor? – Indagou o homem, abrindo um sorriso amigável ao devolver à James alguns nuques de troco.

- O que você prefere, Narcissa? – Levou os olhos até ela, depois de enfiar a carteira no bolso.

- Não há muito o que pensar, não é? Que tal baunilha?

- Por que alguém, em sã consciência, escolheria baunilha? – Potter mantinha uma expressão de profunda indignação, quase insultado.

- Por que não? Um sabor delicado e primoroso na sua aparente simplicidade, ainda que dotado de uma essência autêntica cuja profundidade apenas os paladares mais requintados são capazes de perceber. – Ela ergueu uma das sobrancelhas, desafiando-o. – Qual a sua escolha, então?

- O bom e velho chocolate, óbvio! Familiar e aconchegante, com um equilíbrio único entre o amargor e a doçura. Denso, mas versátil o suficiente para agradar a todos.

- Credo, que paladar mais infantil!

Um sorriso debochado marcava o canto da boca dele. Narcissa sustentou o olhar, como uma velha ranzinza. Era óbvio que James a estava enfrentando de pirraça, para ver se cederia às vontades dele. Ela trancou o rosto, séria. Os olhos castanhos cintilavam repletos de um prazer irreverente, satisfeitos em enfrentar a teimosia que ela alegara ter. Pareciam crianças envolvidas num jogo para ver quem cairia no riso primeiro.

- Por que não experimentam o delicioso sabor de morango? Tem pedacinhos da fruta! – A conciliadora voz do atendente lembrou-lhes de que não estavam sozinhos. O homem segurava a casquinha e uma grande colher de metal reluzente, esperando a decisão dos dois.

- Uma trégua? – James esticou a mão, segurando as pontas dos dedos dela e fingindo que o fizera de forma despretensiosa.

Deixou que seus olhos passeassem pelo rosto dele por um instante, reconhecendo os traços que já estavam se tornando familiares. Por trás dos óculos, a expressão dos olhos havia se suavizado, quase como se as pupilas traduzissem para o olhar um meio sorriso. Nada daquilo era sobre sorvete. Sabia que aquela pergunta continha muito mais do que uma decisão sobre o sabor que degustariam. Balançou a cabeça afirmativamente, concordando enfim.

- Vai ser morango, então. – Potter confirmou a decisão, pintando um simpático sorriso na direção do vendedor.

- Aqui, uma porção bem generosa do mais delicioso sorvete de morango! Com uma cortesia de chantili para a senhorita. – Sobre a casquinha, uma enorme bola de sorvete se equilibrava. No topo, o creme branco escorria suntuoso, adornado por um par de cerejas e dois palitinhos de biscoito. - Vou deixá-los à vontade... Se o casal precisar de alguma coisa, toquem a campainha sobre o balcão e Willy virá atendê-los!

Constrangeram-se diante do comentário do sorveteiro. Algo se revirou no ventre de Narcissa, como se seu estômago estivesse boiando, e ela sentiu o rosto queimar. James baixou os olhos, arrumando os óculos. Por que o vendedor concluíra tão facilmente que eles estavam envolvidos? Eles não eram um casal. Eram? Deu-se conta de que o rapaz ainda segurava sua mão apenas quando sentiu que ele a soltava para receber a sobremesa.

Caminharam até a mesa mais ao fundo, sentando-se lado a lado e de costas para a parede, num acolchoado banco de cor lilás. O silêncio recaiu espesso sobre eles. Raspou a colher contra a lateral da sobremesa, levando-a aos lábios em seguida. O sorvete era encorpado, mas derretia como uma nuvem contra o céu da boca. Sob a língua, o sabor era intenso. Num primeiro instante, o dulçor espalhava-se, envolvendo toda a boca de forma amena. Logo depois, a acidez se sobressaia e ela franziu o rosto. Cada colherada era fresca e convidava à seguinte, exatamente como as gargalhadas que haviam dado durante o almoço há quatro dias.

As risadas eram leves porque ele era leve. A presença de James Potter era um arroubo de frescor.  Talvez por isso sentisse crescer a cada dia a vontade de partilhar com ele o seu tempo. Estar ao lado dos colegas da Sonserina havia se tornado uma atividade enfadonha nos últimos meses. Assim como acontecera mais cedo na sala comunal, ela passara a sentir-se vazia e apartada daquilo. Ao seu redor, tudo parecia pintando em tons de sépia. Um dia atrás do outro, havia ponderado que o mundo não era toda aquela coisa que ela pensara que fosse.

Como uma brisa que começa suave e transforma-se numa ventania, Potter havia revirado tudo em volta dela. Ou talvez, ele tivesse revirado apenas o seu interior e isso despertara nela um novo olhar. Não importava o quão desestimulantes fossem as circunstâncias, ele estava sempre pronto para remar. E ainda que saísse encharcado delas, daria um jeito de transformar tudo em brincadeira. Sobre ela, a vida derramava-se impositiva, ditando seus caminhos. Ao avesso, ele parecia inventar a própria vida, redefinindo os contornos e modificando os tons. 

O sorvete derretia e um pouco escorreu, caindo sobre o dorso da mão dele. Depois de limpar a mão com uma lambida, o garoto abriu um sorriso envergonhado e cúmplice. Narcissa desejou morar dentro daquele sorriso. Maldito James Potter! Por que tinha que ser tão charmoso?

- Narcissa... – Chamou baixando, desfazendo o silêncio quando já alcançavam as últimas colheradas. – Posso te perguntar uma coisa? – Compreendeu o silêncio dela como consentimento e continuou. – Por que você nunca tira esse colar?

Institivamente, ela levou a mão até o pendente oval, pousado sobre seu colo. Nunca alguém havia reparado no discreto adorno. Seu coração saltitou no peito, entendendo o quanto James andava atento a ela. Abriu o pequeno fecho com delicadeza, tirando o colar e o estendeu na direção dele. O pingente era moldado em ouro branco, com uma rosa desabrochando entalhada na parte frontal e pequenos arabescos contornando a borda.

- Quando se nasce em uma família com tantas garotas, não lhe sobram muitas joias. A primogênita recebe de presentes as mais tradicionais, que carregam a história da família. Outras, menos importantes, podem ser dadas à sua irmã mais nova. Eu, sou a terceira. Não me restou nada dos Black. Mamãe via meus olhares infantis para as meninas a cada vez que elas recebiam uma joia de presente, ansiosos de início e, logo depois, decepcionados e conformados pelo azar de ser a última. Decidiu guardar esse relicário, que herdou de sua avó, para me dar no meu aniversário de 17 anos. – Notou que os dedos dele percorriam o relevo da delicada rosa. – Casa Rosier.

- É lindo!

- Abra! – Apontou o fecho lateral para que ele soubesse como fazê-lo.

As duas metades do relicário escondiam pequenas fotos. A fotografia do lado direito era preta e branca e havia sido tirada no casamento de Druella e Cygnus, há 22 anos. A moça de feitio esguio e lábios cheios sorria para a câmera com as maçãs do rosto bem proeminentes e em seguida voltava a olhar para o noivo com um semblante apaixonado. O vestido branco que ela usava era inteiro coberto de renda, tinha mangas longas e uma cintura extremamente estreita que se abria no que parecia ser o início de uma saia enorme. Os cabelos loiros estavam presos num coque e um longo véu pendia da reluzente tiara que ela usava. O pescoço estava ornado com um colar de pérolas bem rente e ela segurava um buquê de graciosas flores de um tom claro. O alto rapaz estava ao seu lado, embora alguns passos para trás, e pousava delicadamente a mão sobre o ombro dela. Para a câmera, tinha um olhar voraz sob as pupilas, que eram tão negras quando o terno elegante que trajava. Mas, quando trocava olhares com a esposa sua figura se iluminava e ele abria um sorriso discreto.

- Eles parecem felizes.

- E são! Tirando o inconveniente de nunca terem trazido ao mundo um herdeiro para carregar o sobrenome da família.

- Se não fosse pelo formato do queixo, eu poderia dizer que era você. Vocês são iguaizinhas!

-  É o que todos dizem. – Ela revirou os olhos, embora soubesse que estavam certos. Por fora, Narcissa parecia entalhada perfeitamente ao modelo de Druella. – Esta outra foi tirada há 2 anos, na comemoração das bodas de porcelana de papai e mamãe.

Na imagem à esquerda, três garotas posavam para a foto, olhando diretamente para a câmera. Ao centro, Bellatrix mantinha um semblante sério, com olhos negros tão ferozes quanto os do pai. Assim como Sirius, a moça tinha um jeito de olhar desafiador e insolente. Seus cabelos escuros e revoltosos caiam em cachos pelos ombros, cobrindo parte da pele que o decote em vê do vestido carmim revelava.  Do lado direito da irmã, Andrômeda sorria, com uma versão suavizada dos traços da mais velha. Os curtos e lisos cabelos castanhos chegavam apenas até a altura dos ombros e a parte de cima estava presa com uma fita amarela, que combinava com o vestido composto que ela usava. O braço repousava sobre o ombro de Bella, trazendo-a mais para a perto e gargalhando. Narcissa ocupava o outro lado, trajando um vestido de cetim azul marinho com um cinto de mesma cor para demarcar sua finíssima cintura. Os cabelos loiros estavam presos em um coque alto, deixando bem à mostra o decote redondo da peça. Tinha um sorriso enorme nos lábios pintados de vermelho e seus olhos cintilavam a cada vez que ela abraçava as irmãs, deixando-se levar por Andy e permitindo-se soltar uma risada.

- Se uso o colar, elas ficam sempre perto de mim. Entende? – Admitiu, com um sorriso no canto dos lábios.

Ele fechou o relicário com delicadeza, estendendo a mão em frente a ela. A garota tomou o colar e o pôs de volta do pescoço, verificando se o fecho estava bem firme. Sob o silêncio que faziam, quase se podia ouvir as formigas caminhando pelo chão da sorveteria vazia.

- Se este é o jogo, creio que seja a minha vez de te fazer uma pergunta. – As palavras abandonaram seus lábios com facilidade, embora ela estivesse relutante.

- O que quiser. – O rapaz se arrumou no banco, sentando-se de frente para ela.

- Por que você tem tanto medo de mim? – Indagou num quase sussurro. – Eu não mordo. Há menos que você peça...

James deu um sorriso franco e as covinhas se formaram em seu rosto. Soltou o ar, balançando a cabeça de forma displicente e bagunçou os cabelos, antes de responder, olhando-a bem dentro dos olhos.

- Eu não tenho medo de você, Narcissa. – Tomou a mão dela que repousava no colo, acariciando os dedos dela com o polegar. – Eu tenho medo de fazer algo errado e estragar tudo. Não deu pra perceber? Eu estou apaixonado por você.

Por um breve instante, ela sentiu o mundo desequilibrar-se, como se a gravidade perdesse seu poder e o seu cérebro flutuasse em direção ao teto. O ritmo em que seu peito palpitava alavancou-se. Questionou-se se ouvira direito. Ele havia dito “apaixonado”? Já havia saído com alguns garotos e “desejo” era a palavra que saltava dos lábios deles. Outros haviam alegado estar loucos por ela. Mas Potter era o primeiro a lhe declarar paixão. James Potter: O melhor amigo do seu atrevido primo, o prepotente apanhador da Grifinória, o algoz de seu amigo Severus, um traidor do próprio sangue. James Potter: O sorriso mais sincero que ela já havia visto, o rapaz mais divertido, irreverente e charmoso com quem já conversara. Será que o súbito vazio em seu estômago era isso? Paixão?

- Já está na minha vez de perguntar? – Parecia ansioso, mordiscando o lábio inferior e analisando as reações dela. – Eu posso te...

Sua boca derramou-se sobre a dele antes que o garoto pudesse concluir o questionamento. Os lábios dele eram quentes e acolhedores, exatamente como ela se lembrava. Porém, dessa vez, não estavam regados pelo atrevimento ou pelo impulso, ao contrário, entregavam ternura aos dela, estampando no beijo os sentimentos que vinha reprimindo nos últimos dias. James tinha um cheiro confortante, que ela não conseguiu identificar. Algo que a fazia sentir-se segura. Uma mistura amadeirada e amanteigada que a lembrava a sensação de acordar na manhã de Natal e comer torradas.

As mãos dele envolveram sua cintura com firmeza, levando-a em sua direção. O beijo era fluído, como se já tivessem feito aquilo centenas de vezes. Talvez o tivessem, em pensamentos. Inspirou profundamente, tomando fôlego e deixando-se afundar mais dentro da maciez daqueles lábios. Pousou os braços sobre os ombros do garoto, permitindo que uma das mãos desbravasse aqueles cabelos, curiosa por conhecer a textura dos fios que ele tinha mania de desarrumar.

James a abraçou, aconchegando seus corpos. Mesmo sob as camadas de roupa, podia sentir as batidas aceleradas do coração dele. Arrancou os óculos dele do rosto, soltando-o sobre a mesa, para que ficassem mais próximos. Potter a beijava de forma curiosa. Os lábios eram suaves, mas o ritmo era caloroso e determinado. Cada vez que suas bocas se afastavam e voltavam a se aproximar, ela sentia-se borbulhar por dentro. Seu peito aqueceu-se, saltitando como um tamborim. Envolvida por ele, o interior de Narcissa estava derretendo. Como uma última bola de neve rolando em direção à chegada do primeiro dia de primavera, dissolvendo-se sob o céu azul e a luz do sol. Ela havia se rendido ao sorvete de morango. A princesa da neve estava aprendendo a apreciar o calor.

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Murmurou um feitiço silenciador contra os próprios sapatos assim que entrou no corredor do sétimo andar. A calma do fim de noite imperava no castelo, mas preferiu se precaver. Encostado contra a parede, esperou por mais de meia hora que algum aluno voltasse tardiamente do salão principal e abrisse a porta, para que ele pudesse se esgueirar junto. Quando as luzes começaram a diminuir, desistiu de esperar. Era improvável que alguém passasse pelo retrato até a manhã do dia seguinte.

- Melodia harmônica. – Deu a senha à mulher gorda no menor volume em que ela aceitava corresponder.

O quadro afastou-se e James apressou-se em entrar, pra que se fechasse logo. Ao contrário do que havia visto antes de sair, a sala comunal estava vazia e em silêncio. Caminhou passo a passo de forma lenta, ouvindo a lareira crepitar. Avaliou o ambiente por um instante e decidiu deitar-se ali para se aquecer antes de subir para o quarto e, quem sabe, ganhar algum tempo. De certo Aluado já estaria dormindo, mas não tinha a mesma certeza sobre Rabicho e Almofadinhas.

Procurou um local menos visível, imaginando que perto da janela estaria menos vulnerável pro caso de alguém entrar. Surpreendido, mordeu os lábios veementemente para se impedir de xingar em voz alta. Puta merda! Sentiu o gosto de sangue na boca. Com o coração acelerado pelo susto, parou a pouca distância do assento que pretendia ocupar.

Com a camisa aberta ao peito, Sirius já estava utilizando o sofá, deitado sobre o corpo de uma garota que James reconheceu como Marlene. Beijavam-se de uma forma nada recatada e a mão do rapaz estava enfiada por baixo da saia dela. Afastou-se lentamente até às escadas, desejando como em uma prece que Lily Evans não resolvesse fazer uma inspeção surpresa naquela noite. O imprudente amigo precisava mesmo de algum combustível para aguentar a volta pra casa durante as férias de Natal.

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