Shiro

Os olhos estavam fracos, sonolenta e cansada. Os enjoos pareciam aumentar, mas ainda mantinha-se consciente. Hinata segurava firme a mão de seu companheiro.

Tsunade apareceu entre os corredores infinitos do hospital. Recebera a mensagem de Sakura assim que a paciente chegou. Era necessário manter a discrição naquele momento. Hinata não poderia ser alvo de fofocas na Vila, iria piorar sua situação. Estavam num quarto particular no último andar do hospital.

Neji teve que esperar do lado de fora do quarto, enquanto a Hokage examinava e coletava o necessário para exames. Tudo muito rápido.

A chegada de Hiashi não era surpresa para o Hyuuga, estava ali sentado na sala de espera, com as mãos inquietas, pensando a melhor forma de dizer tudo. Mas ainda era de vontade de Hinata ser ela mesma a contar para o pai.

— Onde esta minha filha? — Perguntou enérgico, fora complacente até demais com as loucuras da jovem. — Vou entrar no quarto.

— Não!

Neji se levantou, enfrentando-o. Informou o que Tsunade havia dito, era melhor esperar ali. Hanabi viu o clima mais tenso, somente pelo olhar do primo. Deixou os dois ali sozinhos, dizendo que procuraria na lanchonete algo para beberem e comerem.

O silêncio estava perturbador para ambos, sem notícias de Hinata, não havia nada para fazer, além de esperar.

A porta se abriu e no mesmo instante os homens se levantaram e rodearam a Godaime.

— Yare. Se acalmem. Me deixe respirar. — Ela deixou os papéis nas mãos de Sakura, que seguiu direto para o laboratório do hospital. — Bem, Hinata já devia ter vindo aqui antes, não é nada bom manter-se enclausurada em casa nesse momento. Encaminhei alguns exames, vão ficar prontos até amanhã. Mas já diagnostiquei uma anemia leve, e também pressão baixa. Não é nada bom para o início gestacional.

Os olhos brancos de Hiashi enuviaram, a respiração falhou por alguns segundos, enquanto Tsunade falava sem preocupação a situação da Líder do Clã Hyuuga.

Neji estremeceu internamente, mas manteve sua pose, os olhos cravados na médica, mesmo sentindo o tio ao seu lado prestes a perder o controle.

— Repita por favor, Godaime-sama. O que minha filha tem?

Tsunade colocou os óculos de graus, coisa que Shizune fazia questão dela usar, leu um papel aleatório que estava em suas mãos, repetindo o que acabara de fazer, como se não fosse nada demais. Justamente, tomou essa posição para manter a tranquilidade. Sabia que era ainda um segredo, mas também sabia que Hiashi jamais aumentaria o tom em sua frente.

— A gravidez é recente, sete semanas mais ou menos, farei uma ultra sonografia para ter certeza. E a anemia foi causada pela falta de ferro, isso será tratado rápido. Não se preocupe. Preciso terminar o meu trabalho, acho que vocês tem muito o que conversar.

Ela sorriu, saindo do meio dos dois e voltando para dentro do quarto, logo depois Hanabi chegou com uma sacola de papel e algumas coisas para comer.

— Eu não achei aqueles bolinhos que o senhor gosta otousan, mas tem dango. Quer agora ou...

Ela parou de falar assim que percebeu o olhar fuzilante do pai para o primo.

— Hiashi-sama. Posso explicar.

— O que Neji? O que você tem para explicar? Por acaso sabia que a minha filha estava grávida e nada me disse? — A voz era mantida baixa, mas a imposição era tão dura quanto sempre fora. — Diga!

— Sim, eu sabia sim.

— E não me disse! — Hisashi respirou fundo de olhos fechados, continuando —, Hanabi?

— Otousan, eu prometi pra Hinata que não ia...

— Me falar? E que eu jamais iria saber de algo assim? Como podem achar que eu seja tão burro?

— Gomen, era meu dever cuidar de Hinata...

— Não Neji, esse não era seu dever. Seu dever era estar ao lado dela somente a benefício do clã. Você não tem qualquer obrigação com a saúde de Hinata, ou o que acontece na vida pessoal dela.

Não houve nenhuma frase que rebatesse o raciocínio, fazendo o homem pensar melhor no que dizia. Viu a filha afastar-se para o lado de seu sobrinho.

— Demo... — Hanabi pousou a mão no ombro de Neji, mas ele a impediu de continuar a falar. Todos ali já haviam falado mais do que devia da sua vida.

— Hiashi-sama, eu sou tão responsável quanto Hinata. — Recebeu o mesmo olhar de antes que fora direcionado para a Hokage. — Sinto muito destruir a confiança que tinha por mim.

Os olhos brancos do mais velho fecharam-se imediatamente. Virou-se para o sofá no canto da sala, sentando-se. Os pensamentos se confundiam em sua cabeça, era como ver o passado bater na sua porta.

— Otousan, esta tudo bem? Onegai, beba um pouco de água. — Hanabi entregou um copo, que fora ignorado. — Beba. Droga Neji, porque não esperou outra hora para falar isso? Sabe que papai não pode receber notícias assim. Ainda bem que estamos num hospital, posso pedir para alguém vir aqui ver como o senhor está. Seu coração...

— O meu coração ainda aguenta algumas punhaladas.

— Calma otousan, não fizeram por maldade. — ela tentava ainda em vão ajudar. Hiashi virou-se para a filha, sério.

— Você é uma menina, não sabe nada sobre esse assunto! Não é?

— É, digo, não sei nada, eu só queria ajudar. — Hanabi calou-se e encolheu-se no sofá, era melhor deixar Neji falar, e não mexer mais com o coração do pai, o que ele ia dizer se a pequena dele sabia mais do que imaginava.

— Nos deixe a sós filha. — ela saiu sem pestanejar. — Então? Explique, como minha filha está grávida do primo? — Era uma pergunta com resposta óbvia, mas era necessária.

— Hiashi-sama...

白

A noite chegou rápida na Vila, ao menos era o que parecia aos olhos de Neji. Saiu do hospital, e caminhou sem rumo por Konoha. Queria poder ficar ao lado de Hinata, mas Hiashi fora mais rígido do que nunca. Não poderia esperar menos, após uma mentira depois de outra ter sido revelada. Remoía apenas a falta de oportunidade para se explicar. Jamais a abandonaria como o mais velho disse. Então preferiu não iniciar uma briga num local de silêncio, e ele próprio decidiu encerrar a conversa por hora.

Sem perceber chegou há um local conhecido de antigamente, era onde seu time costumava almoçar ou lanchar após horas e mais horas de treinamento e missões.

Entrou ali e sentou-se numa mesa do fundo. Não viu, mas era seguido por um olhar muito familiar.

— Pelos olhos perdidos, diria que precisa da famosa bebida pra levantar o astral. — Dois copos grandes eram depositados em cima da mesa, enquanto o Hyuuga fechava os olhos esperando o momento para dispensar a companhia que se alojava no outro banco na sua frente. — Vamos. Deixa de cerimônia, beber com os amigos ainda é um bom programa a noite. Não acha? Neji-kun.

Ele respirou fraco, até erguer o olhar para a mulher, que agora mantinha os cabelos castanhos soltos. Viu o sorriso dela se desmanchar quando a feição preocupada fora inevitável.

Tenten adiantou-se, perguntando o que havia acontecido. Mas Neji preferiu não dizer nada. Tomou um gole da bebida forte que era trouxera.

— Neji, não o vejo assim desde... não sei, acho que desde que perdeu a luta contra Naruto no torneio, e isso tem dez anos. — ela ainda tentava fazê-lo falar, mas sem sucesso. — Ah! Não te contei, mas sabe quem retornou a vila?

— Quem?

— Lee. — Sorriu, esperando ouvir algo, o silêncio foi maior, então ela continuou. — Marquei com ele aqui a noite pra comer algo e falar da viajem, mas ainda não chegou. Gai-sensei também.

— Então é melhor eu ir. Não estou num dia bom para conversar em grupo.

— Espere! Se quiser, podemos ir pra outro lugar, e quem sabe você me contar o que está acontecendo.

— Melhor não. Preciso voltar ao hospital. — Sentiu que falara demais.

— Hospital? O que você tem?

— Não sou eu Tenten, não se preocupe, não é comigo. — Estava se ajeitando para sair, mas outros dois copos foram servidos, e ele relaxou no banco. Se fosse agora para o hospital, provavelmente não iria poder ver Hinata.

— Está bem, não vou forçar a nada. — Calou-se e apenas bebeu, fazendo companhia para o amigo.

Ficaram assim por alguns minutos.

— Eu fiz uma besteira. — Neji desabafou, deixando a amiga mais preocupada. Ele pediu mais bebida, e o convite que Tenten fizera inocente, estava deixando-a nervosa.

— Não vá exagerar, você nunca foi muito bom pra beber tanto. Neji? Ta me ouvindo?

— Tenten, eu acabei de ferrar com a minha vida e a de outra pessoa, e você está preocupada com isso? — A bebida já falava mais alto, Tenten olhou em volta e todos os encaravam.

— Chega, vamos sair daqui. Vou deixar uma mensagem no bar para Lee, e levar você pra casa.

— Não, não, eu não volto mais para aquele lugar.

— Agora ficou louco!

Ela se levantou, pagando a conta e em seguida puxando Neji para fora do lugar. Não foi tão difícil como imaginou, mas ele era ainda mais pesado do que se lembrava. Levou-o então para o seu pequeno apartamento. Lá, o sofá virou a cama para ele.

Enquanto ouvia lamentações, foi para a cozinha, e preparou um chá forte.

— Beba logo isso e para de choramingar. — Ela segurou a xícara, forçando-o a beber tudo. — Agora me diga o que aconteceu homem.

— Ela está grávida. — soluçou, continuando. —, e agora Hiashi-sama vai nos manter separados. Você vê a burrada que eu fiz? Porque isso foi acontecer?

Tenten sentiu por ver Neji naquele estado, era óbvio o desespero dele, a dor, mas não combinava em nada com o homem que conhecia. Abraçou-o, dando força para continuar a falar. Sentindo as mãos dele tão fortes no seu corpo, era uma sensação que jamais imaginou poder sentir novamente. Fechou os olhos, afastando-o aos poucos, não era justo, não era certo aproveitar-se de um momento desse.

— Porque foi acontecer? Ora essa, não quer que eu explique né? — Sorriu, segurando o queixo firme dele. — Hiashi-sama o expulsou do clã?

— Não.

— E Hinata que está no hospital?

— Sim.

— E que diabos você está fazendo aqui na minha casa? Porque não está com ela la?

— Hiashi entrou no quarto, proibindo minha entrada, até que ele ouvisse de Hinata o que havia acontecido. Ele não deixou eu falar nada. Então saí.

— Por muito menos que isso, já vi Hyuuga Neji ser mais feroz. E agora quando se trata da mulher que você ama... fica se lamentando e esperando outra pessoa resolver sua vida? Me polpe. Você não é aquele mesmo homem de antes.

Neji a olhou incrédulo, Tenten nunca falava assim, não quando estava de bom humor. Tentou se levantar para ir embora, definitivamente parecia estar sendo um incomodo, mas a mulher o segurou pelo braço, impedindo-o de continuar.

— Ao menos tome um banho e cure a bebedeira, não vai ver Hinata com essa cara. — Foi com ele até o banheiro, praticamente jogando-o para dentro do box. — Vou buscar uma toalha, e fazer algo pra comer. Não se atreva a sumir de minha casa sem eu ver, como fazia antigamente.

Deu as costas, fechando a porta. Neji apenas cumpriu as ordens dela.