
Shiro XV
O sol invadiu o quarto de hospital, Hinata apenas fechou os olhos com força, mal conseguira dormir, estava cansada e a luz incomodava. Resmungou baixinho, recebendo a atenção imediata do homem ao seu lado.
Hiashi passara a noite sentado na poltrona, velando a filha durante toda a noite.
Não deixou que ela falasse uma palavra, somente que descansasse, a conversa poderia esperar para o outro dia, quando ela se sentisse melhor.
Mexeu nos cabelos negros da filha mais velha, esperando que ela confidenciasse o que sentia naquele momento. Mas nada foi dito.
— Ohayo! Vim trazer o café da manhã. — A enfermeira entrou no quarto, empurrando um carrinho com frutas, leite e algumas coisas que Tsunade ordenara.
Hinata desaprovou algumas coisas, enjoou com outras, e acabou sendo quase forçada a comer.
— Onegai, já comi muito, desse jeito vou por tudo pra fora. — A enfermeira não insistiu mais, deixando os dois a sós. Hiashi ajudou-a com os travesseiro, acomodando melhor na cama.
— Você precisa se alimentar melhor. Sempre comeu pouco, e sempre foi enjoada com frutas, mas agora não pode pensar somente em você. Hinata.
— Otousan, eu sei, eu não sinto vontade, só isso. Não consigo pensar nisso.
— Nisso? É assim que você se refere ao seu filho? — Sentou-se na cama, segurando as mãos da filha. — Agora você tem mais responsabilidades do que antes. Uma vida, uma vida está sendo gerada no seu ventre, e eu espero mesmo que você cuide para que meu neto venha com saúde. Porque eu não vou permitir que você e Neji façam besteira.
— Onde ele esta?
— Neji? Ontem a noite ele saiu, não estava com cabeça para conversar. Eu prefiro assim, não queria saber o que meu sobrinho fez com a minha filha, não antes de saber da boca da minha própria filha.
— Otousan...
— Me escute Hinata, antes de começar a chorar. Eu sou rigoroso sim, desde sempre fui impulsionado a tomar essa postura, porque eu cresci sendo preparado pra tomar conta de todo um clã, da mesma forma que você. Só que comigo era mais complicado, o pai de Neji... ele sempre foi mais adequado para esse cargo, só que por destino eu tive que servir a família como a tradição. Não estou me referindo ao fato de serem parentes, esse já é um outro problema, mas sim o fato de mantarem tudo em segredo.
As lagrimas de Hinata escorriam pelo seu rosto. Jurava que receberia um reprimenda do pai, mas não aquelas palavras, ele estava mais preocupado com ela do que com o que todos iriam dizer. Sentia-se tola ter imaginado o contrário. Neji estava certo o tempo todo em revelar tudo, como sempre dizia, mas o medo era maior.
— Gomenasai otousan. Me perdoe, onegai. — Abraçou-o com força, puxando o soro de seu braço.
— Yare, yare, não precisa de tudo isso. O que achou que eu fosse fazer? Você é uma mulher, adulta, e apesar de jovem, já esta na liderança da família. Claro que agora será mais complicado, porque a criança trará algumas questões complicadas de serem resolvidas. Mas faremos tudo juntos. Não chore. Apenas me diga uma coisa. Quanto tempo está tendo essa relação escondida com seu primo?
— E-u, eu, quanto tempo? — Avermelhou-se como antigamente, não era conversa que imaginava ter com o pai. — Um ano, ou mais. Não brigue com ele, por favor. Eu o amo, amo de verdade. Não como um irmão, eu amo Neji tanto. Não faça nada com ele.
— Apesar de estar muito ferido com essa mentira toda, não farei nada. Ele é um bom rapaz.
— Mas ninguém vai aceitar, ele é da segunda família, e eu...
— E desde quando você se preocupou com isso? Eu sempre vi injustiças acontecerem no nosso clã, mas eu tentei mudar isso quando fui nomeado, agora é sua vez.
Hanabi entrou no quarto, um pouco acuada, achando que poderiam estar tendo alguma conversa muito seria ali dentro, e não queria entrar no meio da confusão, apesar de também ter culpa.
— Como está nee-chan? — Juntou-se aos dois. — Trouxe umas coisas para você de casa. Não sei quanto tempo vai ficar aqui.
— Eu espero que não muito. Quero ir pra casa descansar, preciso dormir.
— Para isso, faça o que a Godaime ordenar. E não seja mais teimosa, pense no que eu disse. Agora são dois. Cuide-se. — Hiashi se levantou da cama. — Preciso ir, não é bom deixar a casa vazia. — Beijou a testa de ambas as filhas, quando estava perto da porta, virou-se. — Outra coisa, assim que Neji aparecer, mande-o falar comigo.
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O cheiro de ervas despertou-o. Passou as mãos pelos cabelos soltos, e em seguida sentindo o corpo. Estava sem camisa e com uma outra calça, que não era sua. Sentou-se na cama rapidamente, esfregando os olhos. Esperando que não tivesse feito nenhuma besteira.
Neji olhou ao redor, a sala estava impecável, sem qualquer vestígio de uma noite mais agitada. Olhando melhor, percebeu que aquele lugar estava muito mais bem cuidado do que antigamente, quando passava mais tempo ali. Provavelmente, o trabalho na ANBU trouxera mais ganhos para Tenten.
Deixou o vaso de barro, o qual olhava insistente de lado, e pousou os olhos na morena que entrava com uma bandeja na mão. Foi impossível não perceber como ela estava mais bonita.
Achou melhor não continuar os pensamentos.
Tenten colocou a bandeja no chão, ainda não havia comprado uma mesinha de centro.
— Bom dia. — Sorridente, encheu as xícaras com o chá bem quente. — Como dormiu? Se é que conseguiu. — Os lábios se abriram numa gargalhada, riu ainda mais quando olhou para o Hyuuga.
— O que aconteceu? Digo, ontem a noite, não me recordo bem. Nós por acaso...
— Assim me sinto ofendida, você não se recorda de nada que fizemos ontem? Você já teve dias melhores Hyuuga! — Ela o ofereceu algo pra comer. — Foi uma noite muito boa, ao menos para mim, inesquecível. — Aproximou-se dele, abaixando a voz, mexendo nos cabelos lisos negros.
— Tenten, eu não estava em condições.
— Ah! Estava sim. Mas não se preocupe. — Afastou-se, cruzando as pernas, assoprou o chá, bebendo um gole. — A noite foi inesquecível, porque eu acho que nunca mais vou ver um homem tão sério chorar. — Mordeu os lábios, segurando a risada.
— Não precisa dizer mais nada. — Neji fez o mesmo que ela, e bebeu o chá.
— Então esta decepcionado porque não me aproveitei de você?
— Estou é curioso pra saber o porque.
— Você não é o único homem do mundo Neji. Não seja convencido, eu tenho outros planos.
Ela mudou de assunto, indo buscar as roupas dele. Havia lavado e já estavam secas e passadas. Neji bem que gostaria de saber o porque daquela mudança, Tenten estava mais madura, ficou feliz por ela.
Vestiu-se e agradeceu pela hospedagem. Era hora de encarar a sua vida real. Antes de sair, abraçou a amiga mais uma vez.
— Arigatou.
— Não por isso. Só não some. Boa sorte. — Ela o beijou na face, respirando aquele cheiro forte que sempre seria de Neji. Inesquecível.
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Antes de ir para o hospital, achou melhor procurar algo para levar de presente para Hinata. Ficou um tempo parado no meio da rua, não sabia exatamente o que poderia ser. Por sorte, avistou ao longe alguém que poderia ajudá-lo.
Seguiu-a até a loja de flores, lá foi ainda mais complicado, descobriu que não sabia muito bem qual era a flor preferida de Hinata. Não teria muito sentido levar uma igual ao do jardim do clã, ela poderia achar que simplesmente arrancou as mudas e levou.
— Homens, são completamente sem noção quando se trata de flores. Vamos ver, pode ser camélias? Se ela não gostar, podem fazer um chá. — Ino sorriu com a piada que fizera, Neji já estava cansado em ver mais um rindo dele. Fechou a cara aceitando a dica. — Certo, vou fazer um arranjo lindo.
— Obrigada. — Assim que ficou pronto, pagou e saía da loja com pressa.
— Espera, ao menos compartilhe com os amigos quem é a sortuda. Essas flores tem cheiro de amor. — Ele poderia ter saído sem dizer nada, ou ter sido grosseiro, mas relevou.
— É para Hinata!
— Oh! Eu sabia. — A loira gritou, deixando-o ir embora.
O buque era extremamente chamativo, as camélias rosadas estavam desabrochadas, e o cheiro realmente clamava atenção de todos. No hospital foi a mesma coisa, assim que passou pelo corredor, deu de cara com a Hokage e sua pupila. Sakura sorriu com olhos brilhando ao ver as flores, suspirando.
— Admirável, mas acho melhor você não entrar agora no quarto. — Tsunade o alertou.
— O que aconteceu com Hinata? — O alerta da Hokage não resultou a nada, ele invadiu o quarto.
O susto dado rendeu algumas risadas à Godaime.
— Não se desespere, ela apenas estava enjoada, achei que não fosse querer receber flores desse jeito.
Neji aliviou-se, deixando que Hinata se arrumasse melhor, não queria que ela se sentisse mal. Era possível ouvir da sala de espera o choramingar, as reclamações de que jamais iria querer vê-a novamente.
Isso até o fez sorrir, porque, enquanto Hinata pensava assim, sua vontade era de entrar ali e não deixá-la mais.
Quando fora chamado, percebeu que a surpresa já havia acabado, as flores foram entregues, ela retirou uma do buquê para segurar, enquanto Hanabi foi atrás de algum vaso para por o restante.
— Poderia ter avisado que estava aqui, olha só como eu estou. Tão feia, não quero que me veja assim.
— Para mim você está linda. Perfeita.
— Não minta Neji, olhe só, passei mal a manhã toda, nada para no meu estômago, e agora vi o quanto engordei.
— Hinata, você está grávida. É o que acontece, não?
— Fala como se fosse fácil, não é seu corpo que está sofrendo.
— Por favor, não seja assim tão pessimista, alguma coisa boa há de vir, por exemplo, nosso filho.
Tentou beijá-la, mas foi afastado pelas mão dela.
— Não me anime, eu não estou mais aguentando as pessoas falarem pra eu ser forte, sorrir. Porque não estou me sentindo bem. Como vou sorrir? Ainda mais depois que papai passou a noite aqui comigo e foi totalmente carinhoso, como nunca fora antes.
— Vocês conversaram?
— Sim, ele quer falar com você. Mas não vá agora, quero que fique comigo, onde estava? Hanabi foi para casa e não te viu la.
— Depois falamos disso, acho que precisa descansar, você e o bebê estão...
— Chega!!! Chega!!! Não quero mais que fale assim. Para!! Tudo é “o bebê e você”, cansei. Para de querer cuidar de mim, não vai adiantar nada. — As lágrimas dela caíam desesperadas, as mãos tremiam. Hinata enfiou-se embaixo do cobertor, pedindo para ficar sozinha.
Sakura apareceu em seguida, levando Neji para a sala de espera. Tentou explicá-lo que algumas vezes é normal o descontrole, ela estava muito sobrecarregada e precisava apenas de descanso com os hormôniso enlouquecendo dentro dela.
Neji não queria deixá-la, mas após falar com Hanabi, achou melhor deixar Hinata nas mãos das médicas e ir até o Clã. Já havia passado da hora de conversar com o tio, e quem sabe futuro sogro.