
Shiro XI
Neji despertou após um pesadelo onde não conseguia sobreviver ao ataque inesperado que sofrera. Levantou-se de uma só vez, sentindo ainda que o ombro estava enfermo. Levou a mão até ali, massageando o músculo.
A luz forte do sol entrava displicente na caverna, deveria ter dormido a noite inteira. A fogueira, em seu fim, ainda queimava fraca.
Do outro lado, estava a sua salvadora. Um agradecimento mais formal era necessário. A missão fora concluída, mas não imaginava que seria apenas uma isca para ser capturado. Cerrou os olhos, afastando os pensamentos negativos.
Uma respiração mais forte e a mulher fez-se colocar numa posição de defesa. Respirando aliviada depois, praguejando por ter dormido enquanto deveria estar vigiando.
— Ohayo. — Tenten disse, voltando a relaxar na pedra desconfortável. — Acabei pegando no sono assim que amanheceu. Gomen.
— Não há porque pedir desculpas, Tenten, aqui quem deve algo sou eu. Arigatou!
Tenten sabia que aquele seria o máximo que arrancaria de Hyuuga Neji, um obrigado solene e educado, como o Hyuuga sempre foi. Deixou de lado as formalidades, arrumando seus pertences, já que estavam acordados e visivelmente ele parecia melhor, poderiam seguir para Konoha.
— Estava em Suna, e recebi um aviso inesperado, vim o mais rápido que pude. Só você sobreviveu? — Ela perguntou enquanto ajeitava a máscara no rosto delicado. Dando então uma expressão nada suave para a kunoichi. O uniforme largo, e as faixas, nada fazia lembrar que ali era uma mulher.
— Os outros se sacrificaram... eu... tentei... — Ela sabia que ele jamais deixaria outra pessoa se sacrificar por si próprio.
— Eu sei. Mas aconteceu. Você está bem, então acho que deve honrar a memória e agradecer por estar vivo. — Tenten levantou-se, prendendo a pequena bolsa na lateral da calça. — Vamos?
Seguiram pela floresta, em silêncio. Havia ali uma saudosa lembrança de quando eram mais jovens, faltava, é claro, mais dois para manter o time completo, mas Lee e Gai partiram numa missão de auto conhecimento num lugar distante, até que eles voltassem, Tenten não iria entender o tal motivo.
— Missão em Suna? — Neji quebrou o silêncio, sabia que ela não poderia revelar nada por ser sempre missões secretas. Mas o silêncio também era algo assustador, principalmente depois de ver a morte tão próxima.
— Mais ou menos. — A kunoichi parou um instante, caminhavam lentamente, aquela parte inicial da floresta de Konoha não era segura para pular pelos galhos. — Eu me acostumei tanto a usar o uniforme, que até mesmo em viagens procuro me vesti assim, é mais vantajoso.
— Se parecer com um homem?
— Sentir esse poder. — ela quebrou um galho seco, girando-o entre os dedos. — Na verdade estou afastada da ANBU. Se me pegarem nesse uniforme posso ser expulsa. — Sorriu sem jeito.
— O que você fez... — Lembrava-se de como Tenten poderia ser dócil e ao mesmo tempo perigosa. — Dessa vez? — completou.
— Admiro-me que ainda não tenha chegado aos seus ouvidos o que ando aprontando. Parece que todos já devem saber.
— Eu não costumo ouvir fofoca das pessoas, e nem elas me contam. — A dor no ombro voltou, mas esforçou-se para não demonstrar.
— Tem razão, Hyuuga Neji está sempre muito ocupado para os amigos. Creio que ainda posso me aproveitar desse título, não? — Fitou-o, procurando que seus olhos estivessem raivosos. Não estavam, então continuou. — Não é nada bom quando se coloca uma segunda vez a vida do Kazekage em risco.
Ela esperou que ele perguntasse o que aconteceu, mas era até pedir demais, a pergunta fora feita lá no começo, se quisesse falar, que falasse, mas não esperasse o Hyuuga continuar.
— Certo Neji! Pode me chamar de irresponsável, ou dizer que é coisa de mulher, que um homem não faria tal coisa. Mas sabe de uma coisa? Se eu fosse um homem a reputação do Kage não seria muito boa. — Gargalhou, revelando a verdadeira Tenten, animada e descontraída.
— Eu não pensei em nada. — poderia ser verdade, ou mentira, mas era fato que alguma coisa fazia Neji imaginar o porquê dela ser tão adepta ao dificultoso. Tudo sempre fora batalhado pela kunoichi, o mais difícil cargo, os homens mais complicados. Isso deveria ser de sua natureza, exigente e arriscada. Sempre!
— Esta muito calado para quem não pensa em nada. — Brincou, já recebendo um olhar que conhecia bem. — Vamos! Deixe de ser durão. Eu sei que no fundo está louco para saber.
— Certo, se isso a deixa mais feliz. Me diga o que fez com o Kazekage dessa vez. — parou um minuto para pensar — e da outra também. Já que eu não sei de nada.
Tenten parou, pousando as mãos na cintura. Desde sempre aquele ali na sua frente fora um amigo, companheiro de muita coisa. Tentou afastar as lembranças que tinham na cama ou no meio do chão, mas o que a fazia sorrir mesmo, era a proteção que recebia de seu time, algo que nunca recebera de outra pessoa.
Acabou mudando o assunto em sua própria cabeça, sacudindo-a de um lado para o outro, retornando ao assunto em questão.
— Antes que tire conclusões precipitadas, eu já adianto que não estou apaixonada e nem tenho a intenção de viver um romance. Mas nos últimos meses, venho desviando a atenção do Kazekage. Ele anda displicente com algumas coisas por minha culpa.
Corou no mesmo instante, agradecendo por estar de máscara, assim Neji não iria ver. Mas o que Tenten não imaginou, foi ver um sorriso crescer nos lábios do Hyuuga. Não se lembrava qual fora a última vez que havia presenciado aquilo.
— Você e o Kazekage são amantes?
— Falando desse jeito debochado fica parecendo algo errado. — Emburrou-se, cruzando os braços.
— Realmente você gosta das coisas mais difíceis. — Neji aproximou-se dela, ainda com um sorriso nos lábios. Aquilo fez Tenten se arrepiar, de medo, ou algo que não entendia. Neji era assustador daquela forma. — E ainda tem coragem de me dizer que não quer viver um romance?
— Hyuuga Neji! Eu te proíbo de pensar em algo assim, ou falar naquela palavra que começa com A.
Dessa vez a risada pode ser ouvida mais longe. Tenten tirou a máscara, estava sem ar, e suando um pouco.
— Eu não vou falar nada, você é que vai. Eu te conheço. Não sabe ficar calada. Vai acabar falando, mais cedo ou mais tarde. — Virou-se iniciando a caminhada, sendo seguido por uma kunoichi mal humorada. — Arigatou! Não me divirto assim tem tempo.
— Ora seu... — Tenten abriu um pergaminho, invocando alguma arma. — Volta aqui!
白
O Distrito estava mais frio do que nunca. O vento insistia em bagunçar os cabelos lisos de Hinata, sentada em um banco de madeira, ao lado das flores que perdiam suas pétalas a cada balançar.
Entrelaçava os dedos, uns nos outros, organizando seus pensamentos, com dificuldade. Buscou lá no fundo a força para não perder a coragem que tiveram quando tudo aquilo começou. E como foi isso?
Hinata não tinha certeza, mas estava carente, e como um manto aquecendo seu corpo no inverno, Neji tomara posse de seu coração, aquecendo-a da solidão fria.
Ambos precisavam de amor, ambos queriam atenção, ou quem sabe afogar mágoas e tristezas. Que importa agora os primeiros passos que já foram dados? Precisavam então olhar o futuro.
E o futuro de Hinata passava pelos portões do distrito Hyuuga naquele exato momento.
Seu pai chegou da viagem, juntamente com Hanabi sorridente, que seguiu correndo até a irmã mais velha, falando tudo ao mesmo tempo, como fora a viagem, o que vira, o que gostara, o que não a agradara.
Hinata esperava que Neji chegasse antes, assim poderiam conversar melhor, sem ninguém por perto. Com o pai ali, era mais complicado, ele sempre a cercava, querendo saber tudo o que acontecia na liderança do clã. Como se ainda não confiasse plenamente nas decisões dela.
Foram para uma sala, onde o chá era servido. Logo após isso, seguiram para uma reunião de última hora. Os conselheiros sempre encontravam algo errado para jogar naquelas reuniões, querendo de alguma forma desanimá-la, ou apontar os defeitos que não pareciam ser assim tão graves aos seus olhos. Mas sempre discutidos com veemência.
Só mais tarde teve tempo para ficar sozinha. Ainda assim tinha Hanabi que queria continuar a conversa. Pediu para deixar pro outro dia, estava cansada.
Na manhã seguinte, acordou cedo com batidas na porta. Alguém havia sumido.
— Como assim sumiu? — Hinata vestiu um kimono por sobre sua roupa de dormir e caminhou apressada pelo corredor. — Ninguém some sem algum motivo. Byakugan...
Hiashi estava logo mais a frente e a impediu de continuar. Não era a obrigação de a Líder fazer aquele trabalho. A mais jovem respirou fundo, ordenando que fosse feito uma busca completa na propriedade e avançasse pela Vila, num raio de dez quilômetros a partir do ponto central do clã.
— Hinata. — Ela se virou, com a voz grave do pai lhe chamando. — Venha comigo. — Entraram numa sala, sozinho. — Vá para seu quarto, vista uma roupa apropriada que eu tomarei conta disso.
— Não, otousama. Eu não posso deixar que todos riam nas minhas costas achando que deixo tudo nas mãos de outros.
— Eu não sou outro, sou seu pai. E francamente, está claro como água que essa história de desaparecimento é uma cilada, feita pelos que não aceitam sua posição. — Hinata admirou-se com a voz soada diferente.
— Não importa! Eu tenho que mostrar do que sou capaz.
A porta fora aberta sem ser ordenado. Era Hanabi aos gritos.
— Encontraram! — Ambos seguiram para onde a pessoa que sumira estava.
Uma jovem, da família secundária. Deveria ter no mínimo uns dezessete anos. Ela não era uma kunoichi, trabalhava como vendedora numa pequena loja de verduras.
Os olhos lacrimejados da jovem, fizera com que Hinata pedisse para levá-la até algum lugar reservado para conversarem a sós. Assim, levaram-na até a cozinha, onde a própria Hinata adiantou-se em fazer um chá para acalmá-la. Pediu que bebesse devagar, para não engasgar.
Minutos de silêncio foram necessários para que a jovem assustada pudesse confiar seus segredos aquela mulher que lhe aparentava força e segurança.
— Se sente melhor?
— Sim. — Respondeu, cabisbaixa, deixando a xícara em cima da mesa.
— Qual o seu nome? — Poderia se desculpar por não lembrar, mas era difícil saber o nome de todos ali.
— Yuki.
— É um bonito nome, Yuki-chan, seu nome combina com seus olhos, iguais a neve. — Ela tentava amenizar a conversa, não querendo fazer a jovem ficar mais intimidada do que já estava. — Posso te perguntar uma coisa?
— Sim, Hinata-sama. — Estreitou os olhos para o lado.
— Você sumiu porque quis, ou foi obrigada? — Hinata não sabia explicar o que sentia, mas acreditava que uma jovem como aquela não tinha motivo algum para ser sequestrada. E como imaginou, ela estremeceu com a pergunta.
— Eu… eu... Não posso... — As lágrimas começaram a rolar pelos olhos brancos de neve. Yuki empalideceu.
— Pode e deve, eu sou a Líder, não deixarei nada de errado acontecer com você. — As palavras de Hinata pareciam um sedativo, acalmando a menina.
— Ele me mandou sumir, me deu esse dinheiro e disse para eu sumir. — Ela tirou da pequena bolsa presa na cintura, um bolo de dinheiro amassado. — Me perdoa pelo que fiz Hinata-sama, foi minha culpa, somente minha, ele não teve nada haver com isso.
— Quem? Me diga! O que aconteceu? — Não compreendia o que a jovem queria dizer com aquilo. Um palpite lhe passou pela cabeça, mas preferiu guardá-lo. — E seus pais?
— Eu não tenho. Otousan morreu numa missão, para proteger alguém da família principal, e okaasan faleceu quando eu nasci. — Ela abaixou a cabeça, gemendo de dor, baixinho. — Eu sou só.
— Nunca estamos só. Agora precisa se acalmar e me dizer o que lhe fizeram. Porque alguém mandaria você ir embora e dando dinheiro. — Ela esperou a resposta, que demorou a vir.
— Eu-eu estou grávida. — Yuki respirou fundo tomando coragem. — Hatori! Ele…
Não precisou terminar, Hinata sentou-se ao lado dela. Abraçou-a com força. Era tão nova e indefesa, sozinha então. Entendeu porque disso, ninguém ficaria ao seu lado quando soubesse. Hatori, filho de um dos conselheiros, família principal. Jamais iria aceitar um filho vindo da família secundária.
Junto com Yuki, a Líder do clã chorou. O que esperaria então quando soubessem de sua gravidez. Desejou mais do que nunca ter Neji ao seu lado, para confortá-la.