
Shiro X
As mãos tremiam numa ansiedade incontrolável. Esperava pacientemente a resposta do exame que fizera. Fazia uma semana que Neji partira para uma perigosa e importante missão. Hinata ficou sozinha no Clã, já que seu pai havia viajado com Hanabi para visitar uma outra família importante para os negócios dos Hyuugas, pois expandiram suas terras, criando mais oportunidade de trabalho em plantações.
Aproveitando a ausência de todos, foi mais fácil escapar da vigilância acirrada de e fazer uma visita inesperada ao consultório médico de uma velha conhecida.
Não tinha tanta intimidade assim com a kunoichi, durante muitos anos o máximo que tivera de sentimentos para com Haruno Sakura fora somente inveja, por ela ter o amor de Uzumaki Naruto, além de admiração, por ser uma shinobi tão forte. Não que Hinata não se sentisse forte e capaz de ser tão boa quanto a outra, mas que via nela uma forma de superar amores impossíveis e destrutivos.
A porta se abriu e de lá veio Sakura, com um papel nas mãos. Entregou a Hinata e sentou-se na mesa do consultório. Ela não costumava fazer aquele tipo de exames, estava sempre no pronto socorro do hospital ou em missões para resgate, mas quando viu Hinata e o pedido de sigilo dela, não teve como recusar.
— Bem, nessas ocasiões geralmente damos congratulações, mas eu não sei qual o seu caso. — Sorriu a kunoichi médica, observando a reação da Hyuuga ao ver o resultado.
— Eu já sabia. A gente sabe essas coisas, né? — Ela sorriu. Não devia explicações a ninguém, mas dentre tantas pessoas em seu clã ou conhecido, Hinata se viu sozinha, não tinha amigas que pudesse confidenciar, essa era mais uma coisa que invejava na Haruno, ela sempre tinha o apoio e a amizade da Yamanaka para tudo, até mesmo para a rivalidade. — Demo...
Respirou fundo, enquanto Sakura se levantava e pegava um copo com água. Entregou a Hinata, que agradeceu.
— Gomen, Hinata, nós não somos assim tão íntimas, não tenho porque fazer perguntas. Tem todo o direito de se manter resguardada, mas nesse caso, acho que eu jamais imaginei que fosse acontecer com você. — Ela não queria acusar, mas no mínimo tentar ajudar.
— Deve estar pensando que eu fui enganada por alguém que se aproveitou de mim.
— Jamais pensaria isso.
— Tudo bem, Sakura-chan. Eu sei que não sou um modelo de mulher altiva e famosa, ou atraente aos olhos dos homens, muitos tem até medo de se aproximar de mim, mas isso não quer dizer que eu não tenha uma vida pessoal e feliz.
— Desculpe, novamente. Não é assim minha visão de você, mas é que sempre a vejo tão tímida e quieta, nunca faz nada errado. Não que isso seja algo errado... — Sakura calou-se, pediu mais uma vez desculpas, não conseguia manter o ritmo da conversa.
— Sakura-chan, eu que devia me desculpar, você não tem qualquer obrigação em fazer esse favor para mim, nem ouvir os meus problemas e lamentações. Mas, eu me sinto só, gostaria de ter alguém de fora do meu mundo para conversar. Kiba e Shino não contam, eles são homens, não iriam entender o que eu estou passando.
— Que tal se fossemos almoçar na minha casa? Podemos conversar um pouco. — Sakura se levantou do sofá, estendendo a mão para Hinata, essa aceitou o convite com um sorriso mais estimulante, apertando firme o papel do exame. — Yare! Acabo de descobri que nunca a convidei para ir na minha casa.
白
O almoço fora tranquilo, as conversas eram lançadas naturalmente, falaram do passado, de quando eram mais jovens, as missões de seus times. Os momentos difíceis. Sakura guardou para si a tristeza que passara com Sasuke, e a morte dele tão prematura. Hinata imaginava que aquilo a feria ainda, então nem quis mais falar sobre tais assuntos.
— Obrigada pelo almoço, posso ajudar a arrumar tudo se quiser.
— Você é a convidada, não vai fazer nada. — Levantaram-se na mesa, Sakura a puxando para o seu quarto, ali poderiam conversar mais a vontade, antes que a mãe dela aparecesse. — Okaasan tem mania de sumir e aparecer dando susto, venha! Aqui é meu quarto. Não repare na decoração, eu acho que não consigo deixar de ser menina.
A Hyuuga mesmo percebeu aquilo logo quando entrou no quarto. Bonecas e ursos em prateleiras, junto com livros e kunais. O quadro do time sete, e ao lado uma foto de Naruto com ela em algum festival. Perfumes e armas dividindo o mesmo lugar.
Hinata viu como era diferente de Sakura, enquanto a Haruno continuava dividindo dois mundos, ela como Líder se mantinha numa postura totalmente séria numa redoma de vidro.
— Já pensou em morar sozinha? Casar, ter filhos? — Não sabe porque perguntou, mas saiu tão natural que Sakura não se assustou com a pergunta.
— Muitas vezes já sonhei com isso. Mas a cada dia que passa, o trabalho, as missões, essa movimentação toda a nossa volta, o mundo mudando... eu tenho medo! Não quero que meu filho venha se machucar por ser meu filho, entende?
— Mas não sente falta de uma companhia? Amor? — Os olhos brancos pousaram sobre o quadro, onde o casal sorria apaixonados.
— Eu já tenho minha companhia, e não quero perdê-lo. — Sakura suspirou, procurando uma forma de tentar falar sobre o outro assunto. — E você? Eu sei que quando era mais nova. Digo, quando éramos...
— Sim! Eu o amava. — Era óbvia a próxima pergunta. — Mas era uma forma diferente. Puro e sem malícia. Eu não estava preparada e nem sabia exatamente o que era amar e ser amada. Minha mãe morreu cedo, desde então não me recordo de como era sentir carinho. Ao menos até alguns meses atrás.
Hinata caminhou até a janela, tentando descifrar o porque de estar tão nervosa em falar sobre o amor que sentia pelo primo. Seria vergonha?
— Fico feliz por você. Sempre te achei muito corajosa e forte. Ficava as vezes até com inveja quando o Naruto falava entusiasmado de você quando voltava de alguma missão completada com seu time. — A revelação surpreendeu a Hyuuga, que sorriu com a mão nos lábios, sentando-se ao lado de Sakura na cama. — Ele sempre fala que uma kunoichi de verdade deve ser persistente e mostrar seu valor, assim como você fazia desde pequena. Pode parecer até engraçado, mas Naruto sempre observava todo mundo, eu só descobri isso agora, que ele me confidenciou.
— Ele sempre nos surpreende. Eu espero que tudo fique bem entre você. — Não gaguejou, não tremeu, e nem seu corpo se arrepiou ao falar e ouvir de Naruto. Era real quando disse não sentir mais amor por ele, mas sempre que vinha em sua mente, os olhos azuis, algo no seu coração fazia recordar do passado, mesmo que não houvessem assim tantas lembranças amorosas, ou nenhuma. — Neji!
Hinata falou, enquanto os verdes de Sakura a olhavam curiosa, sem entender o que ela queria dizer com aquilo. Mas o rubor no rosto da Líder, destacando mais sua pele pálida, fazia a Haruno entender, ou ao menos encaixar o que acontecia.
— É ele? O pai da criança? — Após uns segundos, a confirmação veio com uma lágrima de Hinata, fazendo Sakura ficar sem saber o que pensar e falar, era mais do que surpreendente. — E agora? Como vocês... como vão...
— Quando ele voltar da missão eu falarei com meu pai. Um bouke e um souke, pode parecer fácil, ou até mesmo insignificante para quem esta de fora, mas esse é um motivo pra uma guerra.
— Realmente, para mim não faz muito sentindo isso. Me desculpa, Hinata, gostaria de poder ajudar.
— Já fez muito, Sakura-chan. Arigatou. — Hinata levantou-se, ajeitando o obi preso ao kimono — Não posso demorar, logo sentirão minha falta, saí sem avisar, e sem escolta, os Líderes também cumprem regras.
As lágrimas ainda caíam, mas agora o sorriso nos lábios rosados da mulher não era mais coberto pela mão. Ela parecia mais a vontade.
Sakura levou-a até a porta, num gesto simples, Hinata a reverenciou, agradecendo por tudo. Estava na hora de voltar ao seu mundo.
白
O céu, antes azul, parecia tomar num vermelho profundo. A nuvens negras se aproximavam e as cores avermelhadas eram ainda mais visíveis. Não! Não era o por do sol, era sangue.
Espirrava no ar a cada golpe desferido e recebido. Ninjas encapuzados pareciam brotar da terra. O Juukenhou não parecia dar conta de tantos inimigos.
Um golpe, na primeira vértebra, fez o Hyuuga cair no chão de terra. O sangue escorreu pela boca. Arrastou-se por alguns metros, tentado se levantar. Como poderia deixar ser abatido daquela forma? De onde surgiram tantos shinobis. Virou-se, com dificuldade para respirar. O céu tornava-se escuro, ou a sua visão que já estava turva e não consegui mais manter-se acordado?
Os olhos brancos, da mulher que o aguardava em casa, tomaram conta de seus pensamentos naquele instante. Pedindo desculpa mentalmente à ela por falhar.
Antes que o golpe de misericórdia acabasse com a vida promissora do ninja da folha, o céu mudou mais uma vez a sua tonalidade, era como uma chuva, mas não de água. Uma chuva de armas sendo arremessando naquela direção.
O corpo de Neji pareceu tomar uma força incrível, levantou-se mesmo que ferido, conseguindo usar de sua defesa absoluta, repelindo as armas invocadas, que acertou os ninjas ali perto.
Caiu no chão, com o ombro deslocado e ferimentos nas costas, enquanto via o ANBU de máscara vermelha derrotar os demais ninjas.
Quando tudo acabou, fora levado em silêncio até uma caverna, aquele ponto da fronteira era perigoso até mesmo para experientes shinobis.
A máscara vermelha foi retirada, deixando brancos focarem castanhos preocupados. Balbuciou algo como um agradecimento, mas foi ordenado que se calasse para não fazer esforço.
Dormiu, logo depois que a kunoichi revelada, lhe colocou o ombro no lugar, com uma força descomunal.