Flor, constelação e memória.

Good Omens (TV)
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Flor, constelação e memória.
Summary
“Aziraphale, você se casaria comigo?” As duas crianças olhavam o céu estrelado, um dia antes da loira deixar a cidadezinha.“Eu quero te encontrar de novo. Promete que a gente vai se casar quando nos encontrarmos de novo?” Aziraphale tremeu, estava com medo de sua própria resposta.“A gente só casa com quem a gente ama.” Novamente fugindo da questão, ela também fugiu do olhar penetrante da outra garota, mas quando percebeu que ela ficou em silêncio, voltou devagar a observa-la, percebeu que nem por um segundo os olhos amarelos deixaram de fita-la.Ela sentiu uma mão gelada encostando na sua, mas isso não a fez desviar o olhar, ao invés disso, só o intensificou.“Eu sei.”
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Frésias.

Merda. Merda. Merda. Merda.

Depois do dia que Crowley encontrou Aziraphale após dez anos sem contato nenhum, todas suas antigas memórias reviveram como se fossem Jesus depois do terceiro dia.

Aquilo era ridículo. Ela era ridícula. A loira nem sequer lembrava dela. Agora todo dia pelos corredores ela se pegava procurando por uma mulher baixa com cabelos tão loiros que eram quase brancos, tão felpudos que eram quase algodão. Ela não conseguia se impedir de tamanha idiotice.

Aziraphale provavelmente deve estar evitando ela. Crowley provavelmente foi muito estranha no encontro no jardim e a loira correu o mais rápido que pôde.

Era isso, ela tinha que aprender a viver de novo após descobrir que sua amiga de infância e amor da sua vida estava estudando no mesmo campus que ela. Que as chances de se verem mais frequentemente agora eram muito maiores porque Crowley com certeza a procuraria sem perceber.

“Você tá pensando tão alto que até eu to conseguindo escutar.” Anathema falou assim que fechou seu armário com muita força.

“E você está livre para ir a algum lugar que não possa me escutar.” Crowley respondeu seca.

“Eu juro que se eu ver essa menina pelos corredores eu te empurro pra cima dela, e você sabe que eu não to brincando.” A de cabelos negros apontou com força para a ruiva.

Crowley já não estava escutando, a garota estava andando na direção contrária a Anathema, como que pra fugir de qualquer medo. “Vou pro jardim, Ana.” Ela disse sorrindo ladina. “Tchaaauu.” e Anathema bufou revirando os olhos.

A verdade é que Crowley não iria no jardim hoje, mas ela precisava de um momento sozinha, mesmo longe de Anathema. Precisava pensar e colocar seus pensamentos no lugar. A de cabelos negros estava certa, seus pensamentos eram tão altos que nem mesmo ela conseguia se organizar de tão barulhento que estava sua mente.

Mas algo ela pôde escutar. O cantarolar baixo de uma loira visitando seu jardim. Aziraphale estava lá, em seu território, contra todas as probabilidades.

Ela voltou.

Crowley não ousou se mover, como se fosse uma criança tentando não espantar uma borboleta. E Aziraphale era uma borboleta. Linda, livre, em paz. A ruiva nunca conseguiria esquecer tal vista.

A ruiva nunca conseguiria esquecer Aziraphale.

Crowley se moveu mais um pouco e sem querer pisou num galho, chamando a atenção daquela borboleta. A ruiva ficou com medo da loira fugir assim que visse quem fez o barulho. Mas novamente, contra todas as probabilidades, a borboleta não fugiu quando o som de um galho quebrando a assustou.

“Que susto!” Aziraphale disse, enquanto se virava, quase que num grito. “Desculpa.” Crowley levantou as mãos como se dissesse ‘culpada’.

“O que te trouxe aqui de novo?” A ruiva perguntou fingindo desinteresse. Mexeu um pouco nessa rosa, mexeu naquela bromélia, tentando se distrair.

“A-ah….Claro…E-eu com certeza vim fazer algo muito específico aqui…Hmmm…” Ela ficou olhando rapidamente para todos os cantos procurando uma desculpa.

“Ótimo! Eu tava precisando de uma auxiliar.” Crowley fez a piada com intuito de suavizar o clima. “Auxiliar?…Ah, claro…Auxiliar!” Ela realmente achou que aquilo era verdade, tão linda.

Crowley soltou um arzinho pelo nariz e riu com a mão na barriga.

“Eu to brincando contigo, Azir-“ A ruiva se impediu antes de falar o nome inteiro, agora não era uma boa hora. Ela tinha que ir devagar para a borboleta não fugir. “Você pode pegar o regador que tá ali do lado e encher de água se quiser, não é um trabalho muito difícil.”

E como se estivesse num quartel do exército Aziraphale fez o que foi pedido rapidamente, Crowley apenas a observou enquanto a loira sorria para as flores e dizia o quanto elas eram lindas enquanto as regava.

Ela queria ser o motivo daquele sorriso tão puro, ela queria ser o alvo daqueles elogios.

E de tanto olhar a mais nova, Crowley foi pega. A loira percebeu que estava sendo observada, ela virou para a ruiva e sorriu. Crowley estava condenada, completamente perdida, por muito pouco ela não começou a cavar sua própria cova naquele jardim.

Aziraphale começou a se aproximar, e os batimentos cardíacos da outra começaram a acelerar. Não havia motivos para ela ficar desse jeito, a loira não sabia quem ela era. Não tinha com o que se preocupar. Ela não era mais alguém importante para Aziraphale. Isso a deixou triste, seu coração desacelerou.

“Eu sempre gostei de flores.” Ela estava em pé ao lado da ruiva. A loira se virou para Crowley quando terminou de falar.

“Só não me superestime.” Ela continuou dando uma risadinha. “Eu não sei cuidar delas de uma forma convencional.” A ruiva riu.

Crowley se abaixou e começou a arregaçar suas mangas para mexer com a terra, ela sentia a loira a fitando com certa curiosidade, mas fingiu não estar quase ebulindo de vergonha.

Aziraphale se abaixou e ficou no mesmo nível da ruiva observando cada passo. Crowley sentiu os olhos dela percorrendo todo seu corpo, ela não sabia se isso a deixava desconfortável ou não.

Até que os olhos da loira pararam. Pararam com muita intensidade e choque no braço de Crowley. A ruiva percebeu e olhou para o lado, Aziraphale estava mais pálida do que normalmente era, ela estava em completo choque, muitas mini expressões passaram pelo seu rosto, muitas que Crowley não conseguiu decifrar. “Você tá bem?” Ela so mexeu os olhos atônita e os cerrou levemente. “Você…” Aziraphale não parecia ser capaz de terminar a frase.

Ela segurou o braço de Crowley e alisou a parte de dentro, seguindo um caminho de pintinhas que pareciam ter sido colocadas de propósito daquele jeito.

Olhando novamente pra cima com os olhos marejados, a ruiva estava começando a ficar preocupada, Aziraphale abriu a boca para falar “V-você…” e hesitou um pouco ao colocar sua mão na bochecha de Crowley. “…Mudou tanto..”

Crowley ficou em estado de choque. Aquilo não era um sonho, né? Porque parecia muito que ela estava flutuando. Por um momento pensou que havia parado de sentir suas extremidades. Ela lembrava. Aziraphale se lembrava dela.

Seus olhos começaram a ficar molhados mas paradoxalmente sorriu. “Você não mudou nada.”

“E qual é aquela lá?” A menininha loira perguntou apontando para o céu estrelado.

“Deixa eu procurar aqui…” Crowley procurou pensativa em seu livro qual era a constelação que Aziraphale estava vendo. Ela não queria decepciona-la. “Ursa menor.”

“Aquilo não parece uma ursa. Deixa eu ver.” Aziraphale perguntou e a ruiva cedeu seu livro para a mais nova.

“Meu deus!” A loira disse enquanto pegava o braço da outra menina a força. “O que foi, Aziraphale?” Ela disse assustada.

Mas a menor não respondeu, apenas arregaçou a manga do moletom da ruiva e começou a contar suas pintas enquanto se auxiliava no livro.

“Crowley…Você é um céu estrelado.” Aziraphale disse aquilo olhando no fundo dos olhos amarelos da ruiva com a maior seriedade e sinceridade do mundo.

Crowley não era elogiada muitas vezes—-pelo menos não do jeito certo—- Mas aquele elogio poderia valer por milhões de palavras não ditas sua vida inteira.

“Você tem a constelação…” Ela voltou para ler no livro. “…A constelação de Cygnus, ou cisne, no seu braço!”

Aziraphale pegou a canetinha colorida que estava no meio do livro e começou a conectar todas as estrelas na pele da ruiva e enquanto ela fazia isso Crowley falou. “Você sabia que antigamente as pessoas usavam as constelações pra não se perder durante as navegações?”

Aziraphale parou de riscar o braço da amiga e disse. “Então é com essa constelação que eu nunca vou te perder”

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