
O silêncio é uma flor espinhosa
Sasuke se apresentou na recepção de uma torre comercial no centro da cidade. Foi realizado um cadastro e ele recebeu via e-mail um cartão de identificação que gerava um QRcode de liberação sempre que fosse passar pelas catracas eletrônicas.
Assim que o celular foi escaneado, ele foi liberado e entrou no primeiro elevador que abriu as portas, ouvindo um chamado para que segurassem o elevador. Sasuke apertou o botão para manter as portas abertas. Assim que o homem entrou, Sasuke liberou a porta.
Ele estava olhando para os e-mails na tela do celular, por isso não observou a aparência do homem ao seu lado. Mas não deixou de notar o cheiro desagradável de sua fragrância. Na verdade, ele reconhecia muito bem aquele perfume. Era uma fragrância de uma marca francesa, ao qual seu ex-namorado usava. Contudo, Sasuke não achava desagradável a fragrância apenas por esse motivo. A verdade era que ele se sentia desconfortável com o cheiro de muitas coisas.
Segundo a médica, ocorria com algumas pessoas nessa fase, o olfato poderia ficar muito mais sensível, assim como o paladar. Uma teoria, era de que esse sistema era como um alerta do corpo, informando a pessoa em fase gestacional o que era bom ou ruim para comer e inalar.
Isso poderia explicar porque Sasuke estava tão incomodado com aquela fragrância, que o fazia se sentir enjoado. O mesmo aconteceu, mais cedo, com o cheiro da linguiça frita que o pai dele estava preparando para o almoço. Sasuke não conseguiu ficar no apartamento por mais um minuto sequer e inventou uma desculpa sobre ter que chegar cedo no trabalho.
Aquela semana estava sendo uma verdadeira prova de fogo para Sasuke. Ele vinha sentindo cada vez mais sono, e muito enjoado, não conseguia terminar uma refeição e, para piorar, seu humor estava ficando cada vez mais delicado. Precisava lembrar de respirar fundo e relaxar. Os clientes não poderiam ser prejudicados por causa de sua condição. Kakashi ainda tentou conseguir para ele alguns dias de folga, mas Sasuke não poderia ficar em casa por tanto tempo, trabalhar era tudo o que ele sabia fazer. E queria mostrar para todos que a gravidez não mudaria nada.
Mesmo assim, ele não aguentou o cheiro do perfume e decidiu sair no andar seguinte. Por precaução, ele subiu os três andares seguintes pela escada de emergência. Mas seu esforço não adiantou nada, porque o homem estava lá. O cheiro do perfume também.
— Que bom vê-lo, Sasuke. — Disse Neji Hyuuga, e somente naquele momento ele notou sua presença.
— Olá, obrigado por me receber. — Sasuke olhava na direção do homem do elevador, ele estava de costas e vestia um terno cinza escuro. Os cabelos eram ruivos e sua voz parecia divertida, teve a impressão de já tê-lo encontrado antes.
— Está tudo bem? Parece um pouco pálido. — Neji rapidamente pediu para seu assistente levar bebidas para seu escritório. Em seguida, ele direcionou Sasuke para uma sala.
Sasuke fez o exercício de respiração assim que entrou na sala. Quando abriu os olhos, notou que Neji estava o observando com um pequeno sorriso de canto.
— Eu tive uma manhã agitada. — Sasuke tentou se justificar, mas mudou de assunto, querendo saber qual seria o cronograma daquele dia.
Neji indicou a poltrona para Sasuke se sentar, e esperou que o assistente servisse a bebida para eles, antes de sair e fechar a porta.
— Já iniciamos as reuniões em grupo com uma psicóloga muito atenciosa. Agradeço a colaboração em encontrar alguém como ela. — Neji moveu a cabeça, com um cumprimento, depois ele entregou para Sasuke uma planilha com os eventos daquela semana. — Fizemos algumas reuniões em grupos pequenos para coletar ideias dos funcionários, e depois uma reunião com todo mundo, foi no final de semana, eu te enviei o convite, mas...
— Sinto muito. — Sasuke ergueu a mão. — Eu estava indisposto.
— Sim, o Kakashi nos esclareceu tudo. Espero que esteja se sentindo melhor.
A voz de Neji era tranquila, embora sua entonação fosse firme.
— Então, como foram as reuniões?
— Foram ótimas, Hanabi participou e isso deu mais confiança para os nossos empregados. — Ele moveu a cabeça ligeiramente, enquanto seus cabelos castanhos moviam de forma displicente. Os fios muito finos brilhavam e dava um ar ainda mais belo para Neji.
Sasuke apertou os lábios, e seus pensamentos o traiu. Ele começou a divagar sobre como seria a reação de Neji ao saber que ele poderia ser o pai de seu filho. Se ficaria feliz, ou se ele se distanciaria? Mas não era a hora e nem o lugar para fazer de um assunto tão pessoal e delicado.
Ele percebeu que Neji parou de falar, e estava o olhando, como se esperasse uma resposta. Sasuke tentou disfarçar, mas Neji percebeu que ele estava distraído. Então decidiu repetir a pergunta.
— Você quer conhecer nossas instalações? — Neji ofereceu um passeio pelos cinco andares que compunham a empresa Hyuuga Telecomunicações naquele prédio. As outras divisões ficavam em um prédio próprio em um bairro mais afastado do centro.
Sasuke concordou e eles deixaram o escritório de Neji, foi só nesse momento que o Uchiha se recordou do homem de cabelos vermelhos, que estava conversando com uma das assistentes daquele andar.
Quando ele se virou, Sasuke ficou surpreso, confirmando o que já estava incomodando. Ele realmente o conhecia.
— Podemos ir? — Neji perguntou, direcionando o olhar para os dois. Tanto Sasuke, como aquele homem.
Com os olhos sobre Sasuke, o homem de cabelo vermelho sorriu fracamente e respondeu com um aceno de cabeça.
— Estou ansioso. — Ele disse e depois desviou seu olhar para Neji.
Aquele era Sasori Akasuna, um administrador que Sasuke conheceu em um evento da empresa. Eles trocaram telefones, mas não chegaram a se encontrar, pois Sasuke cancelou o primeiro encontro que eles haviam marcado.
Sasuke não estava entendendo o que acontecia, pois Sasori trabalhava para uma empresa que fazia agenciamento de celebridades. Contudo, quando a conversa se estendeu, ele soube que seu chefe comprara a parte de Kakashi na empresa em que Sasuke trabalhava e era por isso que ele estava ali, para conhecer um dos clientes mais importantes.
A aposentadoria de Kakashi só seria revelada para o público dali um mês. Depois de sua aposentadoria, era natural que as ações da empresa sofressem um abalo, então eles estavam trabalhando para fazer uma transição discreta e cuidadosa.
A presença de Sasori, em nome de seu chefe, não era nada cuidadoso e discreto.
Eles começaram por aquele andar e Sasuke caminhou um pouco distante de Sasori, devido ao aroma do perfume que o enjoava. Eventualmente, Sasuke acabou precisando ir no banheiro, foram pelo menos três pausas, até que Neji pediu desculpas para eles, dizendo que possuía um compromisso inadiável.
Sasuke percebeu que Neji estava mentindo, ele mesmo mostrou o cronograma do dia para ele mais cedo e o Hyuuga reservou toda a manhã, incluindo o almoço, para dar atenção a ele.
— Obrigado. — Sasuke disse em tom baixo, próximo de Neji. — Sinto muito, pelo trabalho que dei hoje.
Neji o olhou de forma carinhosa, mas depois melhorou a postura e disfarçou o semblante para que ninguém notasse como ele olhava para Sasuke.
— Almoce comigo então. — Neji fez a proposta e Sasuke sentiu um alerta soar em sua mente. Aquela era uma ótima oportunidade para conversarem sobre o futuro deles, por isso ele aceitou.
Embora o almoço estivesse agradável, assim como a companhia e a conversa, Sasuke estava com uma aparência peculiar. Ele suava, e secava o suor da testa com um lenço de bolso. Nunca usara um lenço desses de verdade, eles ficavam no bolso do paletó apenas por estética.
As idas e vindas ao banheiro chamaram a atenção de Neji, que perguntou se ele precisava de ajuda. A pergunta soou discreta, em uma voz baixa e confiável. Sasuke olhou para ele, agradecido por Neji ser uma pessoa tão reservada, principalmente por ser alguém gentil.
— Eu preciso de ar. — Sasuke respondeu no mesmo tom baixo e Neji pediu a conta.
Eles caminharam pela calçada, após deixarem o restaurante. Sasuke olhou as horas, precisava retornar para o escritório. Ele sabia que havia enrolado demais naquela conversa, mas também sabia se tivesse dito a verdade, Neji não poderia voltar a trabalha tão tranquilamente.
E pensar dessa forma deixava Sasuke mais confortável com a situação, achando que o estava ajudando.
Ao se despedirem, Neji o convidou para saírem no final de semana e Sasuke não sabia como dizer não, sem parecer estranho. Ele se lembrou dos pais que estavam hospedados em sua casa, dizendo então que não poderia deixá-los. Neji compreendeu e depois da despedida, ele partiu.
***
O sono estava começando a atrapalhar sua concentração no trabalho. Sasuke se levantou e foi até o banheiro do escritório para lavar o rosto. Ele levou uma bolsinha, de onde tirou um sabonete refrescante. Embora estivesse frio do lado de fora, dentro do escritório o aquecedor deixava todo o ambiente mais aconchegante. Na verdade, Sasuke não gostava nada disso, pois dava ainda mais sono. Principalmente depois de almoçar.
Seus pais ainda estavam hospedados em sua casa, somente por mais dois dias. Por isso, Izuna preparou comida para vários dias e congelou. Sopas, caldos, compotas de vegetais. O armário estava abastecido, assim como a geladeira.
Sasuke sempre cuidou bem de sua alimentação, mas entendia todo o trabalho de seu pai. Porque, quando ele chegava em casa, a única coisa que sentia vontade de fazer era deitar no sofá. Estava sem energia para qualquer outra atividade.
— Aqui, querido, tome suas vitaminas. — Izuna entregou para o filho um copo de água e alguns comprimidos, explicando que era as vitaminas que a médica receitou.
Sasuke bebeu todo o conteúdo do copo, depois de ingerir os comprimidos. Ele ouviu as recomendações do pai, sobre as frutas que deveria comer mais naquela fase. Contudo, seus pensamentos estavam ainda em Neji, que insistia enviando mensagens diariamente convidando-o para jantar.
— ‘Zuna o menino não tá nem aqui. — Tobirama comentou, fazendo Sasuke endireitar as costas no sofá. Ele pediu desculpas para os pais, dizendo que ficou um pouco distraído.
— Tudo bem. — Izuna deu leves batidinhas em seu ombro, ao se aproximar do sofá. — Eu vou preparar um banho para você.
Sasuke nem sabia como agradecer a ajuda de seus pais. E, por um momento, ele se sentiu egoísta ao pensar que seus pais deveriam ficar com ele durante toda a gestação. Ou, quem sabe, ele poderia tirar uma licença para trabalhar em casa e morar com os pais.
Ele pensou mais sobre essa possibilidade ao entrar na banheira. Não havia velas, nem sabonetes com cheiros estranhos. Usava agora um sabonete de camomila, que possuía um cheiro tranquilizante.
Assim que saiu do banho, o jantar estava servido. A mesa farta era um deleite para seus olhos, embora ele soubesse que dificilmente a comida ficaria em seu estômago. Mesmo assim, Izuna insistiu para que ele comesse um pouco de cada coisa, pois fazia bem para o bebê, e para ele também.
Sasuke concordou, comeu bem e depois precisou de um chá para tranquilizar o estômago. Passou mal na hora seguinte, mas a refeição valeu a pena.
— Isso vai passar. — Izuna sorriu, ao se recordar de que, com ele, os enjoos passaram depois da vigésima semana. E Sasuke contava com isso.
— Já confirmei nossas passagens de trem, vamos viajar de manhã. — Tobirama sentou-se na poltrona, com uma lata de cerveja na mão, entregando outra para Izuna. Ele então olhou para Sasuke, que sabia muito bem sobre o motivo daquela lembrança.
— Pai, eu sei que está preocupado, mas eu vou resolver isso em breve.
Sasuke olhou para Izuna, pedindo ajuda para com o olhar.
— Claro, que vai resolver, nós confiamos em você, né... Tobirama?
— Confiamos. — A expressão dele ainda era sisuda e Sasuke suspirou.
— Eu nunca me senti assim antes. — Sasuke confidenciou, e seus pais se aproximaram mais dele. — Eu acho que estou com medo das reações deles, do que vão falar para mim. Nossa, é tão estranho isso... — Sasuke levou a mão ao peito.
— Está tudo bem se sentir vulnerável, filho. — Tobirama quem falou, estendendo a mão e tocando o peito do filho. — Isso mostra que nós nos importamos.
— Se quiser, podemos te acompanhar. — Izuna sugeriu, mas Sasuke balançou a cabeça.
— Não, eu tenho que fazer isso sozinho. — Sasuke agradeceu o apoio deles.
Seus pais partiram no dia marcado. Sasuke se sentiu solitário naquele apartamento, estava tudo silencioso. Ele então ativou a inteligência artificial, que estava off-line desde que seu pai Tobirama chegou e achou muito estranho um computador cuidar da casa. Ele discutiu com a assistente virtual algumas vezes, antes de Sasuke decidir desconectar a casa.
IA_: Olá, a atualização do software foi concluída. Deseja configurar a sua rotina da semana?
IA_: Rotina configurada com sucesso.
IA_: A temperatura do lado de fora é de 15°, a recomendação é que fique em casa em caso de chuva. A probabilidade de chuva hoje é alta.
IA_: Você recebeu uma atualização enviada por Uchiha_Izuna, deseja fazer o download da imagem?
IA_: Download concluído, enviando para a tela digital.
Sasuke estava sentado no sofá e viu a fotografia que seu pai enviou para ele. Era uma foto de Izuna e Tobirama sentados no ultimo vagão do trem, era um vagão com janelas cumpridas, que dava a sensação de estarem em uma varanda, sendo possível observar a paisagem das montanhas.
A expressão deles era de felicidades, sorriam e se abraçavam. Sasuke suspirou longamente, abraçando-se na almofada. Era tão difícil lidar com a mudança hormonal, se continuasse assim, era provável que chorasse em qualquer reunião do trabalho.
***
Sasuke conseguiu uma semana de afastamento, mas prometeu trabalhar em casa.
Mas, depois de algumas horas trabalhando, e outras horas dormindo em cima do teclado do laptop, Sasuke se arrumou e decidiu respirar ar puro, antes que começasse a chover. A primavera se aproximava, e o cheiro das plantas era agradável, até certo ponto.
Sasuke se sentia mais sensível com o passar do tempo.
Ele caminhava por um shopping a céu aberto. As lojas estavam se preparando para o lançamento da coleção de primavera e Sasuke parou diante de uma loja infantil. A vitrine era convidativa, com roupinhas e acessórios reunidos de uma forma adorável. Ele sentiu o coração balançar quando viu o macacão de cor creme, com um coelho estampado. Outro macacão era branco com desenhos de cenoura espalhados. Tudo parecia tão delicado. Sasuke entrou na loja e foi atendido por uma vendedora simpática, ela pegou o conjunto de roupas para bebês com estampas iguais aos da vitrine.
Ele acabou levando algumas peças, por impulso, comprou também um par de pantufas que, provavelmente, levaria muito tempo para o bebe usar.
Sasuke saía da loja, quando se encontrou com Naruto, parado do corredor do shopping. Ele parecia distraído, bebendo um chá gelado, quando viu Sasuke.
— Oi! Sasuke. — Naruto acenou, erguendo a mão que segurava uma sacola de loja esportiva. — Está fazendo compras?
Sasuke colocou a sacola com estampa da loja infantil para trás do corpo, mas não fazia sentido escondê-la, já que ele estava praticamente na porta de entrada.
— Apenas, estou... eu só comprei umas coisas para uma conhecida do trabalho que vai ter bebê.
— Que legal. — Naruto sorriu para ele. — Eu vim comprar um tênis.
— Você mora por aqui?
— Não, mas a academia é aqui perto. Eu estou treinando com meu preparador físico. — Naruto ainda olhava para ele, por um instante ficou calado. — Desculpe não responder sua mensagem, eu estou cheio de trabalho.
— Entendo, eu também estou trabalhando muito. — Sasuke pensou na bagunça que deixou a mesa de trabalho antes de sair naquela tarde.
— Então vamos comer alguma coisa, assim a gente recupera a energia.
Sasuke poderia recusar aquele convite, mas estava com fome, e Naruto estava sorrindo, e ainda piscou para ele.
Ele aceitou o convite, mas tomou cuidado com o pedido que fez, ou passaria mal na frente de Naruto.
Apesar de ter ouvido do pai que era normal se sentir vulnerável, Sasuke odiava essa sensação. Isso porque seus sentimentos estavam fora de controle.
Pediu uma salada verde simples e para sobremesa, um sorvete de abacate. Era uma das frutas que mais o ajudava a se manter bem.
Enquanto Naruto falava dos treinos, Sasuke notou como ele parecia mais bonito desde a ultima vez que se viram. Os cabelos estavam um pouco mais cumpridos, e seus olhos, como sempre, brilhavam em excitação com o que dizia.
Naruto demonstrava muito amor pelo seu trabalho.
Sasuke falou pouco, pois ele se sentia ameaçado pelos seus próprios hormônios. Era capaz de cair no choro naquele momento caso começasse a falar como suas costas doíam quando ele se sentava na mesa de reuniões do trabalho. E como ele estava odiando cada momento de Sasori o seguindo de um lado para o outro, dizendo que estava aprendendo o oficio com ele.
A aposentadoria de Kakashi estava quase para ser revelada, e Sasuke não sabia o que seria de sua profissão depois disso.
— Você trouxe guarda-chuva? — Naruto perguntou para ele, olhando para o tempo que estava diferente de quando Sasuke vira pela última vez. Até minutos atrás aquela chuva não caía do céu.
— Não, eu me esqueci. — Sasuke segurava a sacola de compras e Naruto a pegou de sua mão, dizendo que iria ajudar, para não molhar. Como era uma sacola de papel pardo, ele colocou dentro da sacola em que estava seu tênis.
— Vamos chamar um carro, eu tenho um cupom de viagem extra no aplicativo.
Naruto pegou o celular do bolso e perguntou para Sasuke onde era seu endereço para ele inserir no registro de onde o motorista deveria deixar o outro passageiro.
Sasuke sentiu as mãos suarem, o estômago não estava nada bem e as lágrimas verteram em seus olhos. Naruto abriu a boca, assustado, nunca o viu agir daquela forma e logo achou que ele estava passando mal.
Naruto abanou o rosto de Sasuke com a mão, pois ele estava ficando vermelho.
— Desculpe, eu só estou me sentindo um pouco cansado.
— Está trabalhando muito? — Naruto estendeu a mão e tocou a testa de Sasuke.
— Sim. — Sasuke abaixou os olhos, seu coração batia acelerado e ele não segurou mais as lágrimas. Não sabia o motivo do choro, mas ele começou a chorar descontroladamente e Naruto o abraçou, acariciando suas costas e dizendo frases como “está tudo bem”.
Assim que ele se tranquilizou, Sasuke aceitou a água que Naruto ofereceu.
Sem mais nenhuma demora, Sasuke olhou para Naruto, ainda com o peito dolorido, o coração acelerado e as mãos ensopadas.
— Eu vou ter um bebê. — Sasuke falou de uma vez, como em uma confissão.
Uma confissão acelerada, atropelando as palavras. Naruto ficou parado olhando para ele, tentando entender o que ele havia dito, até que compreendeu.
— Um filho? — Naruto balbuciou, depois sua expressão se tornou eufórica, mas, ao mesmo tempo amorosa. Era tudo tão intenso com Naruto que Sasuke não sabia como interpretar aquela reação. — Uau! Sasuke, que coisa incrível. Parabéns. Eu estou surpreso, mas até faz sentido, você parece que ganhou uns quilinhos.
— O que? — Sasuke olhou para a suas roupas, ele vestia uma calça sem o cinto e estava com a camisa um pouco mais apertada na cintura. Só não tinha reparado, porque ainda era muito cedo.
Mesmo assim, Naruto teria notado que ele engordou tão pouco?
— Calma, não quis ser rude, você está bonito. Alias, era o que eu ia falar. Você está muito mais bonito, apesar desse suor todo na testa.
Sasuke procurou o lenço de bolso e não encontrou. Naruto então se levantou e foi até uma cafeteria e pegou alguns guardanapos, entregando para ele secar o suor da testa. Ele só conseguia pensar que conseguiu falar a primeira parte, agora era a segunda parte, ainda complicada. Dizer que Naruto era um dos possíveis pais, mas Naruto começou a falar sobre como era divertido o treinamento com as crianças e um dia gostaria de fazer isso com seu filho.
— É claro que vai demorar para eu ter um filho, nem estou namorando. — Ele sorriu, um pouco sem graça. — E então, você também pretende se casar?
— Casar?
— Sim, digo, não é da minha conta. Mas, sabe... desculpe, não sei porque estou nervoso.
Então Sasuke notou que as mãos de Naruto estavam inquietas, e ele também parecia suar um pouco.
— Naruto, eu não vou me casar.
Naruto olhou para ele, novamente Sasuke não soube definir sua expressão.
— Não vai?
— Não. Porque achou que eu fosse me casar?
— É, é que é comum? — Naruto passou a mão no pescoço, tentando disfarçar o nervosismo. — É o que as pessoas fazem, não é? Casam, tem filhos.
— Nem todas as pessoas.
— Eu sei, eu sei. — Naruto pediu desculpas novamente, dizendo que estava dando muitos foras naquele dia.
Sasuke viu os dedos de Naruto baterem um no outro, bastante nervoso. Então ele segurou suas mãos e o encarou sério. As palavras pareciam entaladas em sua garganta até aquele momento, mas, quando saíram pela boca, um alívio tomou conta de seu corpo. Pelo menos metade do corpo agora estava mais aliviado.
Naruto, por sua vez, mal piscava os olhos, encarando o Uchiha com um par de olhos azuis estáticos.
— Eu... eu vou... eu vou ser pai.
— Não temos ainda certeza.
— Eu vou ser pai.
— Naruto, antes preciso fazer o exame.
— Eu vou ser pai! — Naruto se levantou, falando mais alto e Sasuke pediu para ele não gritar.