
A alegria é a flor da saúde
Sasuke acordou com o toque do celular, ele bocejou e espreguiçou-se na cama, sentindo um formigamento na perna, que ia da panturrilha até mais acima na coxa. Ele fez uma massagem na região, sentindo uma fisgada no músculo. Isso o deixou de molho por um tempo na cama.
Ele notou que Naruto havia mandado diversas mensagens perguntando se estava bem, pois não atendeu suas últimas ligações.
Fazia dois dias que eles tiveram aquela conversa. Dois dias que Naruto estava excitado com a novidade.
Não que Sasuke estivesse incomodado com isso, muito pelo contrário, no momento atual, tudo parecia ser muito grande para Sasuke. Os sentimentos bons e ruins, então ele se sentia também carente demais, sozinho demais, medroso demais. E as palavras carinhosas e o cuidado de Naruto, eram como um afago em seu coração.
Contudo, precisavam estipular um limite na relação deles, para que não houvesse interpretações equivocadas.
Além disso, ele ainda precisava conversar com Neji sobre o bebê, e faria isso no almoço daquele dia. O almoço era de trabalho, mas não poderia deixar passar a oportunidade. Agora que Naruto já sabia, precisava contar para Neji rapidamente.
A assistente virtual fez uma lista dos afazeres daquela manhã e Sasuke cancelou alguns compromissos que não eram necessários sua presença, que poderia resolver por e-mail ou uma chamada de vídeo.
Assim que chegou no escritório, Sasuke observou a expressão enrijecida na face de todos. Aquele era o primeiro dia do novo chefe, pois Kakashi acabou adiantando o dia da aposentadoria, e naquele momento estava se preparando para viajar para a Europa.
Maito Gai, o outro sócio, aparecia apenas quando era de suma importância, pois ele dava mais atenção para sua outra atividade, uma academia de artes marciais. Maito compareceu naquela manhã, apenas para desejar um bom começo para o novo sócio.
Sasuke observou que alguns de seus colegas não estavam presentes e Konohamaru disse que eles foram demitidos, assim como os outros estagiários, ficando somente ele.
A presença de Sasori foi notada devido aquele cheiro insuportável de seu perfume. Parecia que ficava cada dia pior e Sasuke já não sabia mais como lidar com a presença dele. Mas tudo que é ruim, pode sempre piorar. Com as mudanças no escritório, o novo chefe decidiu mudar também a organização das mesas e salas privadas. Sasuke era um dos poucos que possuía uma sala somente para ele. E agora já não possuía mais uma sala. Seus pertences estavam ao lado da mesa de Konohamaru.
Sasuke sentou-se na cadeira próxima do estagiário, olhando por cima dos ombros dele o grupo de Sasori e alguns novos colegas de trabalho entrarem onde era a sua sala.
— Pelo menos a gente ainda tem nosso trabalho. — Konohamaru tentou animar Sasuke, mas não parecia conseguir tal feito.
— Pelo menos eu não preciso mais sentir o fedor daquele perfume.
— Sério? Eu até gosto do cheiro, estava pensando em comprar...
— Não faça isso, por favor. — Sasuke virou-se e olhou para Konohamaru. Somente então ele percebeu algo que eventualmente não era uma coisa importante até aquele momento. — Você é ômega, não é?
— Sim.
— Parece que ficamos somente os ômegas no andar todo. — Sasuke ergueu o queixo e deu uma olhada geral. — Karin é beta, Suigetsu e Kimimaro também.
— Você acha mesmo que ele ia mandar embora somente os alfas?
— Não, mas qual motivo ele teria em mandar os outros embora? Eles eram ótimos.
— Verdade, mas, o que isso quer dizer?
— Nada, ainda não quer dizer nada. — Sasuke levantou-se novamente, quando Maito Gai e Zetsu deixaram o escritório de reuniões, apertando as mãos e sorrindo. Assim que Gai foi embora, o homem de terno branco e gravata preta convidou todos a se aproximarem para dizer algumas palavras.
Quando soube quem compraria a parte de Kakashi no escritório de relações públicas, Sasuke fez uma pesquisa sobre ele.
Zetsu era formado em direito, tendo trabalhado com direito administrativo por um tempo, depois que saiu da faculdade. Ele então deixou o direito para se dedicar ao agenciamento de um grupo popular que era escolhido a partir de um concurso televisivo.
O grupo fez muito sucesso, mas, depois de alguns anos, o sucesso declinou e ele precisou se reinventar, trabalhando para diversos artistas. Até então não era nada demais, um trabalho como outro qualquer, caso ele não estivesse sendo acusado de diversos crimes cometidos ao longo dos anos, principalmente de abuso psicológico com os artistas que ele agenciou, fraude e alguns escândalos sexuais.
Sasuke não acreditava que Kakashi vendeu metade da empresa que deu tanto duro para construir, para alguém como Zetsu, mas não poderia culpá-lo agora, pois Sasuke se recordava de Kakashi dizer que ele não perderia espaço na empresa, pois Zetsu sempre gostou de bons funcionários.
Agora, se bons fosse sinônimo de ômegas, então provavelmente ele não perderia o emprego.
A manhã teve um clima intenso por parte de alguns funcionários, enquanto os novos funcionários pareciam muito à vontade. Sasuke pegou seu casaco e vestiu, dizendo para Konohamaru que teria um almoço com Neji e provavelmente demoraria, pois iriam discutir assuntos de trabalho.
— Eu já estou pronto. — Sasori comentou, aparecendo atrás de Sasuke, apesar do cheiro desagradável ter chegado antes e revirado seu estômago. — Podemos ir no meu carro, se não se importa.
Sasuke virou-se e só então entendeu que Sasori estava mesmo em seu encalço. Zetsu ainda reforçou que queria um relatório sobre o encontro, e por isso Sasuke não conseguiu se livrar da sua companhia fedorenta.
Neji estava impecável como sempre, aguardando-o no restaurante. Ele percebeu que Sasuke parecia incomodado com algo, por isso tentou ser o mais agradável possível. Sasuke sempre achou interessante como ele lidava com situações que exigia cuidado com as palavras. Neji era educado, sabia tratar bem as pessoas. E quando não gostava de alguém, até parecia que ele tratava ainda melhor.
— Vou terminar isso aqui, e podemos voltar para o escritório. — Sasori comentou, enquanto ele comia a sobremesa.
— Pode ir na frente, eu tenho algumas coisas para resolver no banco. — Sasuke mentiu e no final da refeição, cada um foi para um lado diferente.
Sasuke respirou fundo, retornando para o restaurante, para usar o banheiro. O novo chefe, nem os colegas de trabalho, sabiam que ele estava esperando um bebê. Isso parecia bobagem, pois a chegada de uma criança era sempre muito celebrada por todos. Mesmo assim, Sasuke não queria que mais ninguém soubesse, antes de resolver a situação com os possíveis pais.
— Sasuke, está tudo bem? — Neji entrou no banheiro do restaurante, pegando-o de surpresa.
— Neji? — Sasuke virou-se, balançando as mãos molhadas. — Achei que tivesse ido embora.
— Era o que eu queria que Sasori pensasse. — A cabeça de Neji moveu-se um pouco para o lado, e um sorriso gentil iluminou sua bela face. Neji então se aproximou e fechou a torneira, pegando uma toalha morna e entregando nas mãos de Sasuke. — Você precisa de algo?
— Não, está tudo bem, eu só... — Sasuke estava quase dizendo algo sobre a gestação, quando ele parou um momento. — Digo, eu queria tirar algo do meu dente.
— Sim, claro. — Neji não se moveu do lugar. — Posso levar você ao banco.
Sasuke soltou os ombros rígidos, então revelou que aquela era apenas uma mentira para ele se livrar de Sasori.
— Eu não suporto o cheiro do perfume dele. — Sasuke completou a frase, dando uma risadinha e Neji o acompanhou, rindo também.
Eles deixaram o banheiro do restaurante.
Neji parecia também querer fugir de algo do trabalho, mas Sasuke não quis se indelicado e perguntar. De qualquer forma, o próprio Neji falou o que o preocupava.
— Minha mãe. — Ele começou falando. — A minha mãe adotiva, ela não está bem. Eu ando preocupado e não posso ficar de braços cruzados enquanto ela faz uma operação. Queria estar com ela agora, mas decidi ocupar minha mente com o trabalho.
— Sinto muito, eu não sabia sobre isso.
— Ninguém sabe. — Neji moveu um pouco a cabeça, tentando confortar Sasuke.
— Podemos ir ao hospital agora, o que acha? — Sasuke perguntou, ele sentia o peito aquecido e estava emotivo pelo desabafo de Neji. A sensação foi retribuída e Neji tocou seu ombro.
O Hyuuga dirigiu seu carro importado com bastante atenção, enquanto Sasuke o olhava algumas vezes. O semblante de Neji estava mais rígido conforme se aproximava. Eles desceram do carro e entraram no hospital. Sasuke sentiu náuseas assim que colocou os pés no hospital.
Ele recebeu uma máscara facial da atendente, assim como Neji, para se protegerem e também protegerem as outras pessoas.
Na sala de espera, Sasuke percebeu que Neji ia ficando mais nervoso e não conseguia parar de balançar a perna.
Sasuke estendeu a mão até o joelho de Neji e fez um carinho, dizendo algumas palavras de conforto. Levou quarenta minutos para terem notícias da cirurgia.
— Ela está bem, ainda sedada, então não poderá receber visitas.
Assim que o médico terminou de fazer as explicações, Sasuke virou-se para comemorar com Neji e o viu chorando.
Neji levou as mãos ao rosto, sua face estava toda molhada das lágrimas, mas possuía um sorriso genuíno e aliviado.
— Neji... eu preciso te contar uma coisa. — Sasuke falou baixinho e então sentiu as mãos de Neji segurarem as dele, eram mãos quentinhas e macias.
Neji suspirou e então aproximou-se mais, dando um beijo no rosto de Sasuke.
— Você vai ter um bebê, não é?
Sasuke ergueu o queixo, olhando para ele com uma expressão surpresa.
— Como sabe?
— Ora, Sasuke... — Neji soltou uma de suas mãos e acariciou o rosto de Sasuke, mexendo depois na franja que insistia em cair sobre seus olhos. — Os enjoos foram só o primeiro palpite, mas você estava bem diferente no almoço.
— Sim, mas poderia ser qualquer outra coisa.
— Será? — Neji deu um breve sorriso. — Na faculdade eu nunca nem vi você de ressaca, então eu duvidava de que fora descuidado e pegado algum tipo de infecção estomacal. Além disso, você tem fugido de mim com tanto afinco desde o ano novo.
— Neji, entenda, não é algo tão simples. — Sasuke queria explicar de uma vez, mas o sorriso de Neji era como um conforto em seu coração. Seus olhos ainda brilhavam pela notícia da cirurgia da mãe, mas as lágrimas que escorriam agora eram por outro motivo. Ele parecia feliz.
— Eu sempre sonhei em ser pai, dar ao meu filho ou filha tudo o que eu mais desejei na vida. — Neji segurou firme as mãos de Sasuke, beijando-as em seguida. — Dar o meu amor, a minha vida, se for preciso.
Sasuke sentiu-se balançado por aquelas palavras, principalmente pelo tom da voz de Neji que exprimia muito um desejo íntimo. Mesmo assim, ele precisava terminar de explicar para Neji a situação em que estavam. E, depois de ver sua face de pura alegria, as palavras saíram com dificuldade.
Neji não mudou sua expressão, ele ainda segurava a mão de Sasuke, olhando-o fixamente enquanto ouvia-o falar sobre tudo o que aconteceu desde o ano novo. É claro que ele omitiu muitas coisas pessoais, mas tentou ir direto ao ponto.
— Parece que eu me descuido, não é? — Sasuke virou o rosto, mas o olhar de Neji era como um imã que ele não poderia desviar.
— Você não deve se sentir descuidado, você não é o único responsável. Eu tenho a minha parcela de culpa, o outro homem também tem sua parcela de culpa.
Neji parecia controlado no momento, mas Sasuke começou a sentir que as mãos dele esfriavam.
— Minha consulta é daqui dez dias, eu acho que pode ser um bom momento para a gente falar com a médica sobre o exame de DNA.
— Certo, eu posso levar você na consulta.
Sasuke crispou os lábios, Naruto fizera a mesma sugestão. No fim, Sasuke disse que eles poderiam se encontrar na clínica.
— Sasuke. — Neji o chamou, antes dele partir. — Obrigado.
— Por quê?
— Por me fazer sentir essa felicidade, mesmo que por pouco tempo. Não é sempre que os nossos sonhos se realizam, não é? — Neji o beijou no rosto, e então direcionou Sasuke até o carro que o aguardava na frente do hospital.
***
Yamanaka Ino trabalhava em uma loja de roupas de grife. Ela trancou a matrícula da faculdade porque não conseguiu conciliar o trabalho e os estudos. Sasuke sempre a achou corajosa por trancar a faculdade e seguir outro trabalho, ao invés de conseguir um estágio remunerado em sua área. Mas a verdade era que ela estava mais feliz agora, do que antes.
Ino frequentava desfiles de moda, bastidores de grandes revistas e conhecia muita gente interessante nesse universo. Ela também era cativante e o trabalho de vendas se tornava divertido. O seu sonho era poder ter a própria loja, mas enquanto não era possível concretizar esse sonho, ela seguia sendo a melhor vendedora que poderia ser.
— Vamos, não reclame, você precisa experimentar a roupa antes de comprar. Vista essa camisa. — Ino ofereceu-se para ajudar Sasuke, mas ele apenas pegou o cabide de sua mão. — Logo mais terá que comprar roupas que sejam mais confortáveis e que se moldem ao seu novo estilo. — Ela moveu as mãos no ar e fez um formato mais arredondado diante da barriga.
Sasuke apertou os lábios, fechando a porta do provador.
— E quem disse que eu vou usar essas roupas? — Sasuke despiu-se para vestir a camisa que Ino escolheu. Ele estava começando a sentir uma diferença no tamanho das roupas.
Sasuke comprou apenas algumas peças, pois não pretendia aumentar o número de seu manequim conforme Ino sugeria com sua brincadeira.
— Vamos, querido, não é tão ruim. — Ino tentou animá-lo, enquanto eles tomavam café na hora do intervalo dela. — A moda para gestantes está no ápice, muitas coisas bonitas estão sendo lançadas nessa nova coleção de primavera e verão. Você vai precisar de sapatos também, meu colega, Kiba, os pés dele incharam tanto que eu fiquei assustada.
Sasuke mexeu os pés dentro dos sapatos, certificando-se de que o tamanho ainda estava bom. Ino deu uma gargalhada, dizendo que a cara dele estava ótima. Ela tirou o celular da bolsa e tirou uma fotografia.
— Estou preocupado com a consulta. Será a primeira vez que eles vão se encontrar.
— E você tem medo deles serem violentos? — Ino apoiou o cotovelo na mesa, enquanto mexia o café com uma colherzinha.
— Não, não, eles não são esse tipo de pessoa. — Sasuke balançou a cabeça.
— Naruto é o seu namorado da escola, e Neji é o namorado da faculdade. Como você chegou a esse ponto?
Ele pensou em quando conheceu Neji, era a primeira semana de Sasuke na faculdade e ele estava perdido. Havia acabado de se mudar para a cidade grande e ainda não tinha amigos.
Neji o ajudou a encontrar alguns autores que ele precisava e também o ajudou com os estudos. A faculdade demandava muito de Sasuke e ele estava sempre fechado em seu quarto no dormitório de estudantes. Uma noite, Neji o convidou para uma das festas que acontecia no campus. Sasuke aceitou e eles terminaram aquela noite no campo de futebol da faculdade, olhando para as estrelas. Os dois estavam chapados e rindo sobre algo que Sasuke não se lembrava.
— Eu não sei, digo, nós sabemos.
— Sim, sabemos. — Ino deu uma risadinha maliciosa. — Então, o que você pretende fazer com esses dois?
— Nada, o que você acha que eu vou fazer?
— Ah! Sasuke? — Ino tornou-se mais séria.
— Eu não estou interessado em casamento, não estamos mais no século passado.
— Mas quem disse que eu estou falando em casamento? — Ino abaixou mais a voz. — Se, por acaso, você se sentir carente...
— Ino...
— Espera, deixa eu terminar. É perfeitamente normal ficar carente e querer um pouco de atenção e amor. Não é? — Ela piscou.
— Se a situação fosse diferente, eu concordaria. Mas eu não quero tornar mais problemática e constrangedora essa situação. Em breve vamos saber quem é o pai, e eu sinto como se estivesse prestes a mudar a vida de um e magoar profundamente o outro.
Sasuke não esperava que a reação de Naruto e Neji fosse tão receptiva, até mesmo para a confusão de ele não saber quem é o pai do seu bebê. Contudo, aquele sentimento de magoar alguém era muito forte para ele ignorar.