
Prólogo
As duas crianças corriam pelo jardim de mãos dadas, um alfa e um omega, rindo como se não houvesse amanhã, correndo atrás de uma borboleta que o mais novo tinha visto e a queria pegar de qualquer maneira. Infelizmente não conseguiram pegá-la, mas isso não os abateu, já que no fim os dois acabaram estirados na grama rindo da missão fracassada, talvez o objetivo fosse apenas se divertir tentando e não pegar de fato a borboleta azul. No final, foram surpreendidos quando a borboleta pousou na mão do omega que apontava para as nuvens no céu, enquanto tentava mostrar ao alfa as figuras que via nelas, aquele acontecimento foi como um presente para o mais novo, que tinha seu mais lindo sorriso voltado para o mais velho.
Os dois meninos eram muito unidos, melhores amigos. O alfa, não entendia porque sentia uma necessidade imensa de proteger o pequeno ômega que parecia frágil e inofensivo, mas no fundo tinha personalidade forte e era destemido, não precisava de tanta proteção quanto aparentava, não tinha medo de dar uns tapas e brigar com o mais velho por qualquer motivo que fosse, pois sabia que ele jamais o machucaria e nem deixaria que alguém ou alguma coisa o ferisse.
Os pais do alfa sempre diziam que a relação dos dois era muito linda e a forma que ficavam perto um do outro, o ciúmes que o mais velho demonstra com quem se aproximasse do omega, o quanto eram próximos e sabiam quando um precisava do outro sem precisar dizer uma única palavra, era como se o alfa pudesse sentir tudo o que omega sentia. Ele sabia quando o pequeno estava triste, animado, empolgado ou quando tentava esconder alguma coisa e era a mesma coisa com o omega, mesmo que o alfa tentasse esconder suas emoções dos outros, era impossível esconder qualquer coisa do mais novo.
O que mais surpreendia os pais das crianças, era que mesmo com pouca idade, já se reconheciam, de alguma forma sabiam que estariam ligados para sempre. O alfa não entendia o que aquilo significava, mas tanto seus pais quanto os do ômega sabiam o que aquilo significava e sabiam que nada seria capaz de os afastar.
O modo que o mais novo dormia aconchegado ao mais velho ou em como ele era o único que conseguia acalmar o ômega quando o mesmo tinha pesadelos, ou como os abraços do alfa era suficiente para o acalmar durante uma crise de choro, para os pequenos aqueles gestos eram apenas sinônimos de uma grande amizade.
Ter o pequeno ômega ao seu lado era a melhor parte do dia do alfa. Ele não ligava se alguns dos seus outros amigos o achasse velho demais para brincar de esconde-esconde, pega-pega ou qualquer outra coisa que o mais novo quisesse, para ele nada daquilo importava além do sorriso e olhos brilhando de felicidade e claro ter o pequeno o abraçando.
[...]
Tobirama acordou atordoado devido ao sonho que teve. Aquele tipo de pesadelo, pois para o alfa aquilo não tinha como ser um sonho, era algo recorrente, que vinha tendo nos últimos tempos. Considerava pesadelo pois não se imaginava tão íntimo de alguém naquele ponto. Afinal, nunca se envolveu com alguém daquela forma, nunca sequer deixou alguém se aproximar de si com tamanha intimidade, nem mesmo quando era criança. As únicas pessoas que tinham certa intimidade eram seus pais e seu irmão e olha que demonstrações de afetos por parte de Tobirama eram praticamente nulas. Sua mãe as vezes tentava uma aproximação com o filho mais novo, raramente conseguia alguma receptividade e em algumas situações soltava frases como “Sinto falta do seu carinho”, “Você era mais receptivo Tobi” entre outras que o deixavam confuso, pois não se recordava de algum dia ter sido como a mãe dizia.
Abraços, principalmente, estavam fora de questão. Odiava contato físico, o máximo que permiti era aperto de mão, e às vezes muito raramente, um tapinha nas costas dos colegas de profissão e superiores quando fazia um bom trabalho. O único que permitia que o abraçasse, até porque não tinha como o impedir, pois mesmo que batesse em seu irmão Hashirama, e o albino já tinha feito aquilo diversas vezes, ele nunca iria parar então lhe restava apenas se conformar com aquilo.
Tobirama Senju é um detetive renomado, trabalha na Delegacia de Pessoas Desaparecidas, uma delegacia especializada em encontrar principalmente ômegas, e é considerado o melhor que existe, sendo reconhecido nacionalmente por seus feitos. Ninguém sabia como ou porquê do alfa ser capaz de encontrar qualquer pessoa em qualquer lugar, em especial quando se trata de ômegas, os quais infelizmente eram os que mais desapareciam. Alguns dizem que ele tem o faro apurado, capaz de sentir o cheiro de qualquer omega, até aqueles que estão escondidos, mas para o Senju, era algo diferente que nem mesmo ele era capaz de explicar, então deixava as pessoas criarem suas teorias.
Ao sair de casa e se dirigir para o Distrito, encontrou seu irmão Hashirama, que para seu azar morava próximo a sua casa e que estava acompanhado de um omega de cabelos longos pretos e repicados e com cara de poucos amigos, que a princípio não o achou estranho, mas não conseguia se lembrar de onde o conhecia e nem faria questão, não depois do olhar atravessado que recebeu, como se tivesse o julgando ou condenando. Seu pensamento foi “Quem aquele cara pensava que era para olhar daquela maneira?”
Assim que o outro homem se afastou, o Senju mais velho se aproximou do irmão e o abraçou, mesmo sabendo que aquele ato faria o albino querer o bater, correria o risco, afinal sempre foi daquele jeito e não mudaria agora.
— Hashirama! O que falei sobre abraços? Me largue — bradou Tobirama empurrando Hashirama para longe que apenas riu da atitude do irmão.
— Não seja tão ranzinza, irmão. Um dia você vai encontrar alguém que vai te abraçar e você não irá reclamar, vai até gostar e retribuir e vai voltar a ser como era — Hashirama soltou sem pensar e só se tocou ao perceber que o outro alfa o encarava com a sobrancelha arqueada.
— O que quer dizer com isso? Até nossa mãe já falou isso uma vez e eu nunca entendo o que querem dizer. Na verdade, nem me interessa também, tenho que ir trabalhar, Hashirama.
— Calma, Tobi… espera… Estava te esperando pra te chamar para jantar comigo hoje e te contar sobre o…
— Não vai dar — interrompeu Tobirama — Provavelmente trabalharei até mais tarde, tenho um caso para resolver e estou quase o solucionando.
— Um dia ainda descubro de onde vem essa sua habilidade assustadora de encontrar ômegas, até parece que é você que está procurando algo.
Antes que pudesse responder o irmão, o telefone de Tobirama começou a tocar. O mais novo atendeu assim que viu que era seu parceiro, trocou algumas palavras com ele e logo desligou.
— Preciso ir agora e evitar que uma tragédia aconteça antes que eu solucione o caso — suspirou profundamente, prevendo uma dor de cabeça enorme, que nem era relacionada ao caso que estava trabalhando.
— Kakashi e Iruka? — questionou Hashirama com um sorriso e Tobirama confirmou com um leve aceno, pois conhecia os parceiros do irmão, que viviam em pé de guerra e que o mais velho costumava dizer que era amor encubado.
Os irmãos se despediram rapidamente com um aceno e com o albino colocando a mão no peito do irmão, impedindo que se aproximasse para outro abraço e logo Tobirama seguiu caminho para a Delegacia, que também não era longe de sua residência. Em pouco tempo chegou para mais um dia de trabalho e antes de sequer chegar a sala que dividia com os outros dois e pode ouvir as vozes alteradas vindas do local, o que não era novidade para nenhum outro policial que já estavam acostumados com aquela cena. Ao entrar na sala viu Kakashi e Iruka se encarando mortalmente, a discussão já não existia mais, provavelmente deveriam ter sentido a aproximação do Senju e sabiam que ele odiava discussões sem sentido.
Essa era uma das poucas coisas que sabiam com certeza de Tobirama, já que ele sempre foi alguém fechado e raramente demonstra alguma emoção. Muitos diziam que ele não tinha coração, não possuía emoção alguma. Pois mesmo quando solucionava algum caso complicado, quando encontrava ômegas que muitos já haviam perdido as esperanças ele aparentava não sentir nada. Mas a verdade era que para o alfa, sempre que ele encontrava alguém, que salvava qualquer pessoa de situações de riscos, ele sentia um vazio em seu peito, como se faltasse algo. Muitas vezes ele se pegava pensando nos ômegas que encontrava e poderia jurar que seu lobo interior reclamava de algo, como se ainda não tivesse encontrado seja lá o que procurava.
— Agora que já acabaram de brigar igual um casal de velhos rabugentos, podem me passar as informações que temos sobre o caso do tráfico de omegas? — Tobirama foi direto ao assunto, não gostava de enrolações.
Iruka e Kakashi mantiveram a troca de olhares intensa por mais um tempo, mas logo o menor interrompeu o contato, indo até a sua mesa e pegando alguns papéis onde continha informações sobre o caso, tudo sob o olhar ainda penetrante e claramente irritado do maior.
Kakashi Hatake também era um alfa que havia sido treinado pelo próprio Senju e um dos únicos que aguentavam seu jeito sisudo e autoritário, talvez por ter a personalidade parecida com a do Tobirama. Quando entrou na Corporação muitos acreditavam que eles eram parentes devido a semelhança física que possuíam e chegou a ouvir rumores de que mesmo sendo novato e até ser considerado novo demais para a função, só estava ali por causa do outro, fato que foi desmentido quando viram o seu trabalho.
Iruka Umino era um ômega de presença marcante, não levava desaforo para casa e já havia deixado muitos alfas atordoados com sua fúria e pouca paciência. O Umino era o oposto do que a sociedade esperava dos ômegas, desde pequeno dizia que iria ser da Polícia e iria ajudar a encontrar pessoas desaparecidas e essa vontade aumentou quando seu melhor amigo desapareceu sem deixar pistas e quando conseguiu entrar para a DPD (Delegacia Pessoas Desaparecidas) fez tudo o que podia para encontrar seu amigo Deidara e conseguiu, infelizmente não conseguiu o tirar de onde estava.
— Então Iruka, seu informante passou alguma informação útil? Já sabemos onde estão mantendo os ômegas que serão traficados? — perguntou Tobirama quando viu que nenhum dos dois começaria a falar, pois a tensão entre eles ainda estava presente.
— Sim, já sabemos e não apenas isso. Descobri que no local ainda tem um centro de prostituição clandestino, onde forçam os omegas, em sua maioria, a se prostituir, além de os viciar em diverrsas drogas para aumentar suas dividas e tornar a saida deles daquele lugar, praticamente impossivel — informou Iruka com seriedade.
— E onde é esse lugar? — Tobirama estava ficando impaciente.
— Nada mais, nada menos que em Kabukicho — Kakashi respondeu antes de Iruka, não queria ficar para trás ao passar as informações para Tobirama.
Kabukicho fica localizado no distrito de Shinjuku, um dos bairros mais perigosos e quentes da grande Tokyo. Lá se encontra o maior centro da luz vermelha de todo o Japão, ou seja, um local cheio de boates, hostess, bares, clubes de strip, motéis, prostituição e cheio de pessoas estranhas e perigosas. Apesar de tudo, Kabukicho é um ponto turístico bastante famoso não apenas entre os japoneses, mas principalmente entre os estrangeiros, não importa se a pessoa é uma pervertida procurando um entretenimento, ou apenas alguém que queira dançar e curtir as milhares de atrações sadias que o bairro oferece.
— Tão à vista e ao mesmo tempo tão escondido. Mas aquele lugar é enorme, levaremos dias para conseguir encontrar o local certo. Como faremos isso? Não é como se o seu informante tivesse dado o endereço certo, não é mesmo Iruka?
— Não, mas eu tenho um plano…
— Um plano idiota e estupido e que não dará certo — Kakashi cortou a fala do Umino o deixando furioso.
— Cale a boca Hatake. Não sei porque toda essa preocupação toda? Você nem gosta de mim, apenas me suporta e nem faz questão de disfarçar. Eu posso ser um omega, mas fui muito bem treinado tanto pelo Tobirama quanto por você, e a menos que não confie em suas habilidades ou nas de Tobirama, estarei seguro.
— É perigoso demais…
— Eu repito, sou bem treinado e sei muito bem me defender e se as coisas saírem do controle, tenho você para ir ao meu resgate, como se eu fosse uma donzela indefesa — debochou Iruka, fazendo Kakashi quase explodir de raiva.
— Chega os dois! Sabemos de todas as qualidades que possui Iruka e sabemos também que sabe se defender muito bem, diga logo qual é o teu plano.
— Eu vou entrar no clube disfarçado. Meu informante já conseguiu uma "entrevista" com o agenciador para hoje. Irei me encontrar com ele, entrarei no local e vocês me acham. Vamos nos encontrar em um Oppai Club — Kakashi revirou os olhos, parecendo nada satisfeito com aquilo — Sei que não é onde irei “trabalhar”, que é apenas um ponto de encontro, mas depois dali é só me rastrearem e me tirarem de lá antes que eu seja despachado para outro lugar.
Tobirama percebeu e concordava com o irmão de que aquela troca de farpas e ofensas tinha algo a mais por trás e agora com o alfa sabendo que o ômega iria para um local que era um prato cheio para os pervertidos de plantão, pois como no nome sugere, em um Oppai Club* é um local onde as pessoas, normalmente alfas, pagam para conversar com uma garota ou garoto ômega enquanto tem liberdade com os seios e outras partes do corpo deles.
— Não se preocupe Iruka, não deixaremos nada acontecer a você, tem minha palavra — afirmou Tobirama — Agora vamos acertar todos os detalhes, essa operação não pode haver falhas.
— Confio em você… em vocês — Iruka afirmou intercalando o olhar entre Tobirama e Kakashi, tentando parecer o mais confiante possível, apesar de estar com um pouco de medo, não que desconfiasse dos seus parceiros, sabia que não deixariam nada acontecer com ele, era um outro medo que não sabia definir de onde vinha.
Kakashi não conseguia disfarçar sua raiva e descrença com aquela ideia. Achava aquele plano um absurdo, o cúmulo da estupidez, mas sabia que quando aquele omega teimoso colocava uma coisa na cabeça, era mais fácil tirar a cabeça dele de cima do pescoço do que ideia.
Depois de acertarem todos os detalhes, cada mínima ação que teria que ser executada com precisão e exatidão, sem brechas para falhas, pois não era apenas a vida do omega ali presente que corria risco, mas de todos os outros que eram mantidos como escravos naqueles locais.
Tobirama se sentia ansioso, o que era raro de acontecer. Sentia uma adrenalina correr por suas veias como se lhe dissesse que algo muito importante iria acontecer, que a partir daquele dia toda a sua vida mudaria completamente, tudo o que conhecia e acreditava seria colocado em cheque. Que em algum momento perderia todo o controle que sempre teve sobre sua vida, sobre seus sentimentos e sobre suas emoções.
E o alfa não gostava nada daquela sensação.