
Cúpidos Mirins
Kakashi acordou no meio da noite, com Iruka deitado em seu peito, Naruto sobre as pernas do moreno, Sakura ao seu lado esquerdo e Sasuke abraçando a cintura do Hatake. Com cuidado se levantou e começou a levar os filhos para o quarto, redobrando atenção para não acordar o moreno. Quando terminou de levar os filhos ao quarto, voltou aos aposentos de Iruka apenas para verificar como o moreno estava, ao constatar que ele dormia tranquilamente, ajeitou a coberta sobre ele e se retirou, ignorando a vontade de deixar outro beijo no Umino.
O Hatake acordou mais cedo novamente e por incrível que pareça não se sentia cansado, parecia que sempre fazia aquilo. E era verdade, sempre acordava mais cedo para poder fazer suas atividades físicas, mas deixou de praticá-las quando se viu sozinho com três crianças. E foi o que fez naquela manhã novamente, dessa vez sem levar o Bull.
Se vestiu apropriadamente, calçou seu tênis e se dirigiu ao parque que ficava próximo a sua casa para mais uma corrida. Enquanto corria, sentindo o impacto do chão sob seus pés, ficou pensando em como conversaria com Iruka.
Ao chegar em casa, se deparou com o Iruka na cozinha, preparando o café da manhã para os pequenos que ainda estavam dormindo. Kakashi ficou parado no batente da porta, olhando Iruka trabalhar, enquanto cantava algo acompanhando a música que tocava baixo, alheio ao que estava ao seu redor.
— Deveria estar descansando — disse Kakashi assustando o Umino que quase deixou cair no chão a xícara que tinha em mãos.
— Kakashi! Que susto, não chegue assim de repente, quer me matar do coração?
— Desculpe, não foi minha intenção.
— Saiu para correr?
— Sim, é um hábito que tenho, mas deixei de lado. Estou tentando retomar com ele. Poderia me acompanhar um dia desse, é bom para começar o dia bem.
Iruka o olhou com uma cara desanimada com a ideia de levantar ainda mais cedo do que o habitual.
— Não me diga que é um preguiçoso que não gosta de se exercitar, Iruka? — perguntou o Hatake divertido.
— Não é isso, só não gosto de acordar ainda mais cedo. Se fosse um outro horário, até pensaria.
— Irei cobrar, e ainda te convencerei a acordar mais cedo para uma corrida. Mas voltando ao assunto principal, deveria estar descansando, o dia de ontem foi cansativo para você, tomou medicamentos fortes. Eu deveria mandar você subir e se deitar, e eu mesmo termino o café das crianças.
— Eu estou bem Kakashi. É sério. E trabalhar mantém minha mente ocupada. Prefiro assim.
— Iruka, por favor..
— Se eu ficar sozinho, com a mente desocupada, começarei a pensar demais e não será bom, e acabarei não descansando.
— Eu te entendo, mas só quero te ajudar Iruka. E para isso preciso que seja sincero e me diga o que aconteceu ontem.
— Sabe o que houve…
— Sei os fatos, não as razões que o levaram a ter aquela crise. Não irei te julgar, nem nada, se é o que está pensando. Eu só quero te ver bem. Pode confiar em mim.
Iruka suspirou cansado, se sentiu derrotado por não conseguir manter seus problemas apenas para si e agora se encontra pressionado a contar, mais uma vez, sua história. Mas ao mesmo tempo, sente que pode confiar no Hatake quando ele diz que só quer o ajudar, sente que sua intenção é boa. Iruka então puxa uma cadeira e indica para que Kakashi se sentasse, enquanto ele se sentava na outra ao seu lado, mas ficando de frente para o Hatake.
— Bem, por onde posso começar... — disse Iruka ainda com certo receio.
— Pode começar me falando sobre sua filha… — pede Kakashi deixando Iruka surpreso.
— Como… como sabe sobre minha filha? — pergunta surpreso, deixando Kakashi um pouco sem graça.
— Bem, Sasuke me falou sobre ela, mas não sei muito. Desculpe se pareci invasivo — disse Kakashi fazendo Iruka sorrir pela preocupação do outro.
— Tudo bem… Minha pequena se chamava Sayuri e apesar de eu ser casado, era somente eu e ela. A sua mãe, Anko, quase nunca parava em casa então nos tornamos muito unidos. Quando Sayuri fez cinco anos, foi diagnosticada com fibrose cística, que é uma doença genética hereditária e eu tive que me desdobrar para conseguir fazer o tratamento adequado. Eu fazia tudo pela minha filha. Infelizmente, um dia enquanto estávamos passeando no parque com nosso cachorrinho, um pug chamado Pakkun que está com Kurenai, ela… — Iruka começou a chorar, era sempre assim quando se lembrava daquele dia. Kakashi percebeu que a história não tinha um desfecho bom,por isso segurou a mão do Umino na tentativa de demonstrar apoio, o que funcionou, que mesmo com os soluços Iruka continuou — Ela saiu correndo atrás de Pakkun e eu não vi, deveria ter prestado mais atenção nela, quando percebi os dois estavam no meio da rua e…
Iruka não conseguiu terminar a frase sem desabar em lágrimas, um choro sentido, doloroso, que afetou o Kakashi, que num impulso de tentar consolar o moreno o puxou para um braço, deixando que ele chorasse em seu ombro.
— Iruka… eu sinto muito… — dizia Kakashi enquanto acariciava as costas do moreno.
Depois de alguns minutos, Iruka consegue se acalmar um pouco e controlar as lágrimas, mas Kakashi ainda mantém o Umino em seus braços. Um pouco envergonhado, Iruka se desvencilhou do abraço, mas não teve coragem de encarar Kakashi. Este por sua vez, se levanta e vai pegar um copo de água para o moreno, que aceita.
— Iruka, eu sinto muito, não queria te deixar assim. Não posso nem imaginar o que é perder um filho, não posso mensurar a dor que você deve sentir. Se soubesse que era isso que tinha acontecido, não teria pedido para me contar. Imagino também que a aproximação repentina do Bull deva ter desencadeado seu ataque de pânico ontem, te trouxe péssimas lembranças. Prometo que deixarei o Bull longe, posso até deixar ele uns dias na casa do Gai se quiser, sei que ele não vai se importar.
— Não precisa Kakashi, as crianças gostam do grandalhão, é só me manter longe dele e deixar ele longe de mim. Mas sabe, os três pestinhas, apesar das brincadeiras e das pegadinhas, me sinto muito bem na companhia deles, e isso tem me ajudado a superar um pouco a dor que tenho no peito. Posso dizer que esses dias que sorri com eles, foram os sorrisos mais sinceros que dei em meses.
— Fico contente ao ouvir isso. Mas me responda uma coisa, com sinceridade, você tem feito algum acompanhamento médico com psicólogo e psiquiatra? — pergunta Kakashi com medo de estar sendo indelicado, fazendo Iruka desviar o olhar.
— Na verdade não. Estou tendo que pagar as dívidas que fiz para o tratamento da Sayuri, depois me mudei de cidade e agora trabalhando, não tenho tempo para isso, mas ficarei bem, não se preocupe.
Kakashi pensa um pouco em uma maneira de poder ajudar o moreno e que fará bem para todos no final. Só espera que o Umino aceite.
— Iruka, vou te propor um acordo. A partir da semana que vem, todas as quartas-feiras eu te darei folga na parte da tarde e ficarei responsável pelo trio nesse dia. Levarei na escola, buscarei, passearemos e enquanto isso, você vai começar a ir ao médico.
— Kakashi, isso não é necessário. Não precisa fazer isso, sei que é ocupado com a empresa e…
— Mas não foi você mesmo que disse que eu precisava passar mais tempo com meus filhos? Acompanhar mais sua vida escolar? Só vejo benefícios para todos.
— Tudo bem, farei isso — disse derrotado, não podia recusar e já estava adiando demais os cuidados consigo mesmo.
— Já sabe quem irá procurar? Quer que te indique alguém?
— Não é necessário, a Tsunade já me indicou uma conhecida dela e me ameaçou se não for lá.
— Tsunade Senju? A diretora da escola?
— Sim, conheço ela há um bom tempo, mas como fiquei fora por alguns anos, nos reencontramos agora.
— Então, temos um acordo? — perguntou Kakashi se levantando e estendendo a mão para Iruka, que também se levantou e apertou a mão de Kakashi.
Os dois ficaram com as mãos dadas por um tempo, enquanto se encaravam. Parecia que um tentava ler o outro, tentava se colocar no lugar do outro para entender suas dores, suas perdas. Kakashi fazia, inconsciente, um carinho nas mãos de Iruka.
— Porque vocês tão de mãos dadas? — perguntou Naruto entrando na cozinha, assustando os dois que rapidamente soltaram as mãos, seguido de Sasuke e Sakura.
Sasuke deu um tapa na nuca do irmão, pois para ele Naruto tinha atrapalhado o pai e Iruka, que pareciam estar mais próximos do que o normal e o pequeno tinha gostado de os ver daquela forma.
— Eu vou tomar um banho e já desço para tomar café com vocês — disse Kakashi deixando um beijo em cada um dos filhos.
— Ruka, você gosta do papai? — perguntou Sasuke direto, fazendo o moreno se engasgar com a água que tomava.
Quando se recuperou, olhou para o pequeno que parecia aguardar ansioso pela resposta.
— Ele é legal, está sendo um bom amigo, está me ajudando bastante.
— Vocês vão namorar? — pergunta foi feita pela Sakura, deixando o moreno vermelho de vergonha.
— Claro que não Saky. Papai não pode namorar ninguém. Pois como ele vai ficar com a mamãe quando ela voltar? — Naruto falou como se fosse uma coisa certa.
— Ela não vai voltar! — Sasuke disse sério.
— Claro que vai, e porque você não chama ela de mãe, se ela é a nossa mamãe? — perguntou Naruto irritado.
— Ei, por favor, não briguem. Acabaram de acordar e já estão discutindo? Vem me ajudar com o café que ganhamos mais. Não estão com fome?
Os três assentiram e foram ajudar Iruka com o café da manhã. Quando estava tudo pronto e Iruka acabando de servir os três, Kakashi apareceu já pronto para ir para o trabalho, mas naquele dia não tinha pressa, iria tomar café da manhã com os filhos e adotar aquele hábito novamente. Quando se sentou em seu lugar à mesa, olhou para Iruka que estava para se retirar.
— Sente-se conosco, Iruka. Não precisa tomar café sozinho — pediu o Hatake que foi seguido pelo olhar pidão dos três mini Hatake.
— Eu tomo café com vocês, só vou pegar uma xícara para mim.
O café da manhã foi repleto de risos e brincadeiras dos três pequenos, que estavam felizes pelo pai estar com eles ali antes de ir para o trabalho. Kakashi e Iruka acabaram trocando olhares durante a refeição, tentavam disfarçar as vezes, mas em alguns momentos os olhares se prendiam um no outro e esqueciam que estavam na companhia de Naruto, Sakura e Sasuke, que notou aquilo e sua mente já começou a trabalhar em teorias e maneiras de juntar o pai e Iruka.
Mais tarde, enquanto brincavam no quarto, Sasuke pensava em uma maneira de pedir a ajuda dos irmãos. Sabia que Naruto seria mais difícil de convencer, mas não desistiria antes de tentar.
— O papai está mais feliz desde que o Iruka começou a cuidar da gente — começou Sasuke.
— Sim, ele até está tomando café da manhã com a gente — disse Sakura animada.
— Eu acho que o papai está gostando do iruka — completou Sasuke.
— O que? Nunca. O papai ama a mamãe — disse Naruto
— Naruto, quando vai entender que ela não vai voltar?
— Ela vai sim e nós voltaremos a ser uma família de novo, você vai ver — disse o loiro fazendo bico.
— E se ela não voltar? Não quero que o papai fique sozinho — disse Sasuke com tristeza.
— Eu também não. Eu… estou gostando de ver o papai mais feliz, brincando com a gente, mas eu ainda quero que a mamãe volte — disse Naruto.
— A gente podia esperar dois meses e se a mamãe não voltar, aí a gente deixa ele gostar do Iruka — falou Sakura.
— E quanto tempo é dois meses? — perguntou Sasuke, ele era esperto em algumas coisas, mas calcular o tempo era complicado ainda.
— A gente pede ajuda para a tia Sun, ela vai nos dizer quanto tempo é. E quanto falta para chegar.
— Tá, eu concordo. Mas como vamos saber se o papai e o Iruka vão namorar? — perguntou Naruto, confuso.
— Bem, a gente podia fazer como no filme que a gente viu, em que as irmãs fazem as coisas para juntar seus pais de volta.
— Vamos ser cupidos? — perguntou Sakura com os olhos brilhando.
— Acho que sim,mas… o que é cupido? Parece coisa de menina — disse Sasuke.
— É um anjinho que atira flechas de amor para fazer as pessoas se apaixonarem.
— Então vamos ser os Irmãos Cupidos — falou Naruto animado.
— Não gostei desse nome — disse Sakura com cara de nojo.
— Já sei… Seremos os “Cupidos Mirins” — falou Sasuke se levantando, sendo imitado pelos outros dois.
Aqueles três quando colocavam uma ideia na cabeça, era difícil de tirar. Então, se eles decidiram que iriam juntar o pai e o Iruka, eles fariam. Ou tentariam. Mas talvez o destino estivesse a favor deles e os ajudasse nessa árdua missão.