
Passado do Iruka
Assim que Iruka entrou na sala de Tsunade, a mesma indicou a cadeira à sua frente para que ele se sentasse, enquanto a mesma fechava a porta e indo se sentar em sua cadeira, de frente a Iruka, o encarando.
— Muito bem senhor Umino, pode começar a falar.
— Foram tantas coisas, mas começarei pelo princípio. Sabe o motivo que me levou a ir embora daqui? — perguntou Iruka.
— Não sei muito a respeito disso. Um dia simplesmente soube que você havia ido embora e nem teve a decência de se despedir de mim, fiquei muito brava com você.
— Eu fui embora porque ia ser pai…
— O quê?! Como assim Iruka? Como não me contou uma coisa dessas — Tsunade quase gritou batendo na mesa.
— Deixa eu te explicar, senhora Tsunade, aí entenderá meu lado — pediu Iruka, vendo Tsunade acalmar.
— Desculpe Iruka, continue.
— Como disse, eu fui embora porque eu ia ser pai. Se lembra que na época eu namorava Anko...
— Namorava apenas por obrigação, por seus pais não aceitarem o fato de você ser gay e te empurraram para cima da Anko, que também não era lá uma flor que se cheire...
— Tsunade, por favor, não fale assim dela, não depois de tudo o que aconteceu. Ela poderia não ser a melhor pessoa do mundo, mas não merecia nada daquilo.
— Você é uma pessoa de um coração muito puro, Iruka, que não vê a maldade nas pessoas. E isso é bom em alguns aspectos, mas em outros, te impede de ver a verdade e não me olhe assim pois sabe ser a verdade. Agora, continue tua história.
— Como dizia, estava namorando a Anko, mas nós nunca havíamos feito nada, avançado um passo naquele relacionamento, porque eu simplesmente não conseguia e sabe meu motivo.
— Se ele tivesse um pinto, teriam evoluído rapidamente — disse Tsunade calmamente, como se não fosse nada, deixando Iruka vermelho.
— Mas na única vez que aconteceu, na única vez em todos os anos que transamos, devido à eu ter bebido um pouco além da conta, o que não é desculpa para nada, acabou resultando em uma gravidez não planejada e muito menos desejada, principalmente por ela. Apesar de não sermos menores de idade, nossos pais nos trataram como se fossemos e como se tivéssemos feito algo muito errado e vergonhoso e nos obrigaram a casar para juntos assumirmos aquele filho. Um exagero, mas eu não queria decepcionar ainda mais meus pais, acabei aceitando. O período da gestação foram terríveis, ela estava mais sensível e me obrigava a realizar todas as suas vontades e se me recusasse, era motivo para ligar para meus pais ou os dela e eu sempre acabava saindo como errado. Pensei que depois que nossa filha nascesse, as coisas melhorariam, mas não mudaram, na verdade pioraram, se é que era possível. Quando ela se recuperou do parto, ela não quis voltar a trabalhar e eu pensei que era porque ela queria ficar mais tempo com nossa filha. Enganei-me novamente. Ela me disse que havia perdido muito tempo e precisava recuperá-lo e que eu não iria a satisfazer, nem se quisesse pois eu não gostava de mulheres, não gostava dela e ela precisava de alguém. Ela ficava a maior parte do tempo fora de casa, mal via a pequena Sayuri. Tive que deixar a faculdade para poder ficar com minha filha e ainda trabalhar em lugares onde poderia levar minha filha. Foram meses muito difíceis. Quando ela ficou mais velha e pude a colocar em uma creche as coisas melhoraram um pouco, apesar de Anko ainda não estar tão presente em sua vida, mas minha pequena parecia não se importar, já que eu tentava lhe dar todo o amor que ela precisava. Eu nunca imaginaria que eu teria que passar por uma das maiores provações da minha vida, passar por uma coisa daquelas foi muito, muito difícil. Cheguei a pensar que não conseguiria. Não desejo a ninguém a dor que senti e espero que ninguém tenha que passar pelo que passei…
A essa altura Iruka já se encontrava em lágrimas e Tsunade sentiu que o jovem rapaz a sua frente, que conhece praticamente desde criança, passou por um grande trauma, ou algo parecido e o que ele precisava desabafar, pois parecia que segurava aquilo há muito tempo.
— O que aconteceu depois Iruka? O que houve com você para estar tão machucado?
— Quando Sayuri fez cinco anos, ela foi… — Iruka começou a falar, mas foi interrompido pelo seu telefone que estava chamando, era Chiyo — Desculpe Tsunade, preciso atender.
— A vontade, Iruka.
“Senhora Chiyo, está tudo bem?”
“Sim, querido. É que você ainda não retornou depois de deixar as crianças na escola e fiquei preocupada."
“Me desculpe por isso, é que encontrei uma amiga na escola deles e fiquei conversando com ela e perdi a hora.”
“Tudo bem, mas eu preciso de você aqui em casa. Se puder retornar, ficarei agradecida.”
“Já estou indo dona Chiyo. Desculpas novamente. Até breve”
“Estou te esperando.”
Assim que desligou, olhou para Tsunade como se pedisse desculpas por ter que ir e não terminar de contar o que aconteceu.
— Esse aqui é meu número, me ligue quando estiver livre, pois quero saber o restante dessa história. Sei que tem muito mais e precisa pôr para fora — disse Tsunade entregando um cartão para Iruka.
— Obrigado Tsunade, prometo entrar em contato em breve.
— E Iruka, o que estava fazendo aqui na escola?
— Vim trazer os filhos do senhor Kakashi. Estou trabalhando como babá dos três.
— Kakashi Hatake? Um dos homens mais desejados de Konoha?
— Bem, isso já não sei e não me importo.
— Sei, vai dizer que não o achou charmoso e bonitão?
— Bem, sim, ele é charmoso, bonito, educado, um pouco frio, mas não é o meu foco e ele é meu patrão.
— Nada mais clichê que isso. Aproveite e invista.
— Senhora Tsunade?! Não estou atrás de amor, pois sempre me dei mal nesse campo. Agora preciso ir ou posso ganhar as contas com menos de dois de trabalho.
Se despediram com um abraço forte e com Iruka prometendo, novamente, que ligaria para a Senju para terminar de contar a história. Assim que o moreno saiu da sala, Tsunade sentou na cadeira e ficou pensando no Umino, no que havia acontecido com ele.
— O que houve com você Iruka? Você sorri, mas seu sorriso não chega aos seus olhos. Cadê aquele jovem animado, alegre? Espero que não tenha se perdido e que essas crianças possam lhe trazer de volta, já que você sempre gostou de crianças e seu sonho era ser professor infantil. Espero que consiga realizar esse sonho ainda e que não se machuque mais do que já está.
Enquanto isso, Iruka se dirigia para casa do Hatake, onde Chiyo já o aguardava. Assim que chegou, se desculpou novamente por não ter avisado e nem retornado logo para casa. A senhora explicou que pediu para ele voltar pois havia esquecido de lhe informar sobre algumas atividades e rotinas da casa. Disse ao Umino que Kakashi a tempos não jantava em casa com os filhos e queria que ele a ajudasse a mudar aquilo, pois os pequenos sentiam falta do pai, não só no jantar, mas em atividades da escola e até passeios em família.
Iruka se viu em um grande dilema, tentar reunir uma família, que apesar de viverem sob o mesmo teto, estavam mais separados do que ele com a sua. Seria um desafio, pois ele queria ajudar aquela família a se encontrar novamente ao mesmo tempo que esperava não se apegar ao trio, pois apesar das pegadinhas que haviam feito e que com certeza teriam mais, sabia que eles estavam carentes de afeto e carinho e se conhecia bem o suficiente para saber que faria todo o possível para os ajudar, mesmo que significasse se envolver muito além do esperado com a família Hatake.