Ainda existe nós?

Naruto
M/M
G
Ainda existe nós?
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Summary
Um casamento em crise, afetado pelo desejo reprimido ou talvez esquecido. Ou quem sabe até sem ter o conhecimento que o tinha.Filhos.Uma aproximação por causa de uma criança que sente falta do pai pode colocar a perder toda uma vida construída ao longo dos anos.Afastar é necessário.Os laços que os unem aguentaram? Escrita em parceria com Kendra, que não utiliza a plataforma, mas me deu permissão de postar aqui.
Note
Tenho fics para atualizar? Tenho.Vou começar outra com essa pessoa maravilhosa? Com certeza.Quem viu as tags, viu as menções que terão e aquele que vier falar que odeio qualquer casal citado, vou dar chilique, ninguém merece virem falando que odeio tal shipp e queriam outro, quem escreveu fui e a @k_Vanderpool e estamos felizes com o resultado.A Fic terá 8 capítulos, mas não irei postar todos os dias por detalhes técnicos (cof cof cof falta finalizar cof cof cof)Espero que gostem dessa nova fic, cheia de dramas bem ao estilo Banshee de ser.Boa leitura!
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Abismo entre nós

O casal se encarava sem dizer uma única palavra. Para qualquer um era possível sentir a tensão entre os dois homens, que estavam tão perto, mas sentiam ter um abismo entre eles.

O primeiro a fazer uma ação, a quebrar aquele silêncio foi Kakashi, que deixou Iruka surpreso, principalmente pelas palavras que saíram de sua boca.

— Vocês devem ser Sora e Kasuaki, estou certo? — O Hatake perguntou, se abaixando para ficar na altura das duas crianças, que instintivamente se agarram ao Umino. — Me chamo Kakashi Hatake, sou Hokage de Konoha, sabem o que isso significa? — Pediu e esperou a resposta de um dos dois.

— Você é o líder da Vila, a pessoa mais importante, que devemos respeitar. Iruka-otousan que falou — Sora explicou e não notou o rubor que surgiu no rosto do Umino ao ser chamado daquela maneira, nem notou os olhos arregalados e um pouco úmidos do mascarado.

— Sabemos também que é marido do Iruka-sama e que fez alguma coisa para ele, que o deixou muito triste e chateado — Kasuaki declarou olhando mortalmente para o prateado, que não pode negar. Era verdade.

— Mano, não diga essas coisas! — Repreendeu a menina.

— Mas é verdade — insistiu o pequeno albino.

— Hei, hei! Sem brigas! — Iruka interveio antes que aquilo se prolongasse e lhe desse mais dor de cabeça.

O Hokage olhou para cada um dos três, vendo o quanto eles estavam confortáveis na presença um do outro. Se bem que aquilo era algo de se esperar,  o chunnin sempre conseguia trazer as pessoas para perto, as acolhia e as amava independente de qualquer coisa. 

Outra coisa que chamou a atenção do jounin era o fato de que realmente Kasuaki era parecido consigo: os cabelos, os olhos, até mesmo o jeito de agir. E Sora, mesmo com seus belos cabelos azuis, ainda lembrava muito Iruka em suas atitudes. Os dois poderiam dizer ser uma mistura perfeita dos dois. Kakashi esperava que conseguisse torná-los uma família, mas tinha que ir aos poucos, sem apressar os acontecimentos.

— Tudo bem, eles não estão mentindo e não vou fingir que não cometi muitos erros ultimamente. Mas o importante no momento são esses dois seres animados, não é Iruka? — O platinado apenas concordou com as crianças, elas estavam certas.

— É claro — o Umino respondeu vago. — Como falei no relatório que enviei, precisamos de um lugar para eles ficarem e que possa ficar junto. Não há nenhuma possibilidade de me manter afastado, até que eles se sintam confortáveis aqui em Konoha e se acostumem com toda essa mudança — lembrou o ex-sensei, não que precisasse, Kakashi tinha todas as palavras decoradas, mesmo sem seu sharingan.

— Não se preocupe, já cuidei de tudo. Espero que aceitem ficar no local que arrumei e… — o mascarado foi interrompido pelo outro.

— Espero que não sugira a no… a sua… a casa que dividíamos. Ela é pequena para quatro pessoas, só tem um quarto e… — agora foi a vez de Kakashi interromper Iruka.

— Eu sei que a nossa casa é pequena, por isso com a ajuda do Yamato, Naruto e Gai, que não ficaria de fora e algumas outras pessoas, acredito que tenha o local perfeito. Preciso apenas que mantenha a mente aberta e não tire conclusões precipitadas — declarou o Hatake segurando a vontade de massagear aquela ruga de preocupação e apreensão que surgia na testa do marido, até que desaparecesse. Como fez diversas vezes durante todos esses anos juntos.

Os dois ficaram alguns segundos se encarando, um tentando decifrar as expressões e falas do outro, tentando ver o que havia por trás daqueles gestos. Iruka conseguia ver todo o esforço que Kakashi estava fazendo para mantê-lo perto, cuidando cada palavra que dizia para não ser mal interpretado, tentando demonstrar sinceridade nelas todas. Não podia evitar pensar que queria toda essa sinceridade tempos atrás. Se ela estivesse presente quando se afastaram, as coisas teriam acabado de outra forma. 

— Podemos ir logo? Estou cansada e com fome. Quero comer lamén — reclamou Sora, fazendo o Hatake sorrir por baixo da máscara, especialmente ao encontrar o rosto do Umino ruborizado.

— Não acredito que os viciou em lamén? Naruto e Teuchi ficaram felizes em conhecer eles. Bem, acho que posso dar um jeito no seu pedido Sora, até chegarmos ao seu novo lar, garanto que terão um delicioso lamén para o jantar — garantiu o mascarado.

— Aonde nós vamos, Kakashi? O que está aprontando dessa vez? — Quis saber Iruka, desconfiado com todo aquele mistério.

— É uma surpresa e espero que gostem, pois se não gostarem, não sei o que farei. Mas antes… Cat, apareça — o Hokage chamou e um Anbu apareceu, fazendo Kasuaki e principalmente Sora, encararem o ninja surpresos e fascinados.

— Poderia me fazer um favor? Passe no Ichiraku e peça quatro lamens para viagem. Diga que é para mim e Iruka que a Ayame e Teuchi saberão quais fazer — pediu o jounin e tanto Iruka quanto o Anbu suspiraram audivelmente e Kakashi apostaria que ambos reviraram os olhos.

Sem falar nada, o Anbu acenou em concordância antes de desaparecer. O Hatake se surpreendeu ao sentir um tapa vindo de Iruka em seu braço.

— Sabe que não deveria usar os Anbus para esse tipo de serviço. Você é o Hokage e deveria dar o exemplo, não abusar do seu posto — o diretor da Academia acabou ficando ainda mais vermelho ao se dar conta do havia feito. — Me desculpe, eu não queria ter lhe desrespeitado dessa maneira, me perdoe Hokage-sama.

— Iruka, por favor, não me chame assim — apertou o braço do outro suavemente antes de deslizar a mão pelo braço e entrelaçar seus dedos.

Como sentia falta de poder tocar em Iruka, sentir o calor de sua pele, daria qualquer coisa para sentir seu sabor novamente. Infelizmente o contato logo foi desfeito, pois a mão que segurava foi puxada com rapidez.

— É melhor irmos, se o caminho é longo, como falou, e demorarmos mais, nossa comida chegará antes de nós — advertiu o Umino, pegando em seguida as mochilas dos gêmeos, enquanto Kakashi pegou a sua, este que fingiu não notar o olhar de repreensão que recebeu.

O mais velho indicou o caminho, seguindo os três de perto, nem notando que não muito atrás deles estava Sasuke, que encarava a saída da estação de trem com apreensão, como se fosse um inimigo prestes a lhe atacar. Quem o via, nem imaginava que o Uchiha estava com receio e até certo medo de sair dali e ir em direção a sua casa, para sua família. Respirou fundo, ignorou os olhares curiosos e alguns de insatisfação por ele estar ali e seguiu em direção a saída, assim que chegou às ruas um pouco movimentadas de Konoha, tomou seu caminho, esperando que ainda tivesse uma casa e uma família para voltar. Se não tivesse, faria o seu melhor para tentar reconquistar aquilo que perdeu. Mas falar, pensar, era muito mais fácil do que fazer, principalmente conhecendo sua esposa.

“Será que ainda posso te chamar de minha?”, pensou antes de finalmente partir em direção a casa da mulher de cabelos rosas e sua filha.

 

[...]

 

Sora e Kasuaki estavam encantados e um pouco assustados com Konoha. A Aldeia da Folha era muito maior que Maibotsu, havia muito mais pessoas nas ruas, muitos comércios, barracas de comidas, lojas. As crianças faziam diversas perguntas, que eram prontamente respondidas por Iruka e Kakashi.

Os quatro caminharam por um bom tempo, até chegar numa região um pouco afastada, longe do centro e da agitação de Konoha que ficava cada dia mais moderna. Iruka sentia saber para onde estavam indo, mas tinha medo de estar certo, não saberia dizer o que faria se suas suspeitas se concretizasse.

Quando chegaram a um portão, selado, como o Umino notou quando se aproximaram, sentiu seu coração acelerar e o estomago revirar de ansiedade. Uma placa pendurada, indicava (confirmando suas suspeitas) onde estavam. Estavam no antigo Complexo Hatake.

— Kakashi… — Iruka quase sussurrou, não encontrando sua voz para falar mais alto.

— Fiz algumas mudanças e está bem diferente de quando te mostrei pela primeira vez. — Tocando do portão e liberando um pouco de chakra, sobre os olhares atentos dos gêmeos, o portão foi finalmente aberto para que entrassem.

— Bem-vindos ao seu novo lar. Espero que gostem — declarou Kakashi dando espaço para que os outros entrassem.

Sora e Kasuaki entraram primeiro e a garota saiu correndo pelo local, ignorando os chamados de Iruka e do irmão. Ela estava fascinada com o local. No centro havia uma casa maior, a principal, estilo tradicional, muito bonita e parecia aconchegante. Ao redor haviam mais três casas menores. Pelo que Iruka lembrava, duas poderiam servir de moradia, uma era dojo para treinamento e onde Kakashi guardava armamentos. Ainda recordava de quando haviam conversado sobre morar ali, mas como eram apenas os dois e o lugar era muito grande, se tornava inviável, mas agora, parecia perfeito.

— Por quê? — perguntou Iruka enquanto Kasuaki ia atrás da irmã para impedi-la de quebrar algo. 

A resposta que Kakashi gostaria de dar teria que ser adiada, pois logo Cat apareceu com os pedidos do Ichiraku.

— Depois conversamos. As crianças precisam comer e descansar, os últimos dias foram agitados. E você também merece um descanso — afirmou Kakashi, levando a mão ao rosto do Umino, fazendo um leve carinho. Porém, Iruka interrompeu o gesto, retirando a mão do mascarado e indo atrás dos pequenos.

— Não apresse as coisas, sei como está se sentindo. Tudo o que mais quer é o abraçar, envolvê-lo em seus e o segurar com força e nunca mais soltar. Quer o proteger do mundo e garantir que nada mais o machuque — o Hatake se assustou ao ouvir a voz do Anbu, não esperava que ele ainda estivesse ali.

— Pensei que as coisas seriam mais fáceis, que Iruka estaria mais receptivo, mas ele está tão distante. Inalcançável.

— Não tenha pressa — insistiu o ninja. — Agora vá lá cuidar da sua família, dê o seu melhor para cuidar deles e tenho certeza que as coisas vão se acertar.

Com aquelas palavras, o Anbu desapareceu e Kakashi segui em direção a casa, onde os três o aguardavam.

— Prontos para conhecer sua nova casa? — Perguntou aos gêmeos que assentiram.

O jounin abriu a porta e entrou, sendo seguido pelos outros. Deixaram os calçados no genkan e suas mochilas ao lado do sofá. O interior era ainda maior do que imaginava. Tinha uma sala espaçosa, com jogo de sofá e uma televisão. Ao lado uma cozinha bem equipada e funcional. Um corredor dava acesso aos quartos e ao banheiro social. Haviam três quartos que já estavam arrumados e prontos para uso, um deles sendo o principal, com um banheiro privativo e que o mascarado esperava em algum momento dividir com o chunnin. Até mesmo o que seria usado por Sora e Kasuaki havia sido preparado com a ajuda de Naruto e Hinata, que ajudaram o Hokage a escolher as coisas necessárias para duas crianças. Teria sido melhor e perfeito se Iruka estivesse junto.

— Querem comer primeiro e depois conhecer o resto da casa? — Pediu Kakashi e riu ao ouvir uma resposta dos três juntos pedindo pela comida.

O mais velho pediu para eles se sentassem ao kotatsu enquanto buscava os itens para poder realizarem a refeição. Quando todos estavam sentados, agradeceram a refeição e começaram a comer, em silêncio.

— Iruka-sama, este lamén aqui é melhor do que o seu — declarou Kasuaki.

— Nem posso negar, lamén do Ichiraku é o melhor do mundo… Bem, só perde para o Kakashi quando… — começou a falar empolgado, mas se interrompeu assim que notou estar se animando ao falar do mascarado.

— Você sabe fazer lamén, Kakashi-sama? — Sora perguntou curiosa.

— Sim e muitas outras coisas. Gosto de cozinhar e terei maior honra de preparar diversos pratos para poderem experimentar — garantiu o Hatake para alegria dos dois.

— Como se tivesse tempo, com sua outra família ocupando boa parte dele — Iruka sussurrou, mas Kakashi conseguiu ouvir e suspirou, querendo dizer que as coisas seriam diferentes a partir daquele momento.

Sora e Kasuaki continuaram a comer avidamente, lembrando Naruto quando se deliciava com aquela refeição que não era a favorita do prateado, mas não precisavam saber, não agora. Por sorte, não prestavam atenção em seu rosto, não que fosse um problema, conviveriam por um bom tempo juntos, uma hora viriam, não tinha motivos para o esconder deles.

Logo que terminaram, Kakashi os chamou para conhecer o quarto onde ficariam, pegando as bolsas que estavam próximas à porta. Os gêmeos os seguiram e param em frente à porta. O Hatake informou que eles dormiriam ali e que ele e Iruka estariam nos outros dois quartos em frente á eles. Não passou despercebido o suspiro que o sensei deu ao saber que teria um lugar apenas para si. O mais velho declarou, um pouco envergonhado, que não sabia os gostos dos dois e por isso pediu ajuda para deixar o mais confortável e agradável para ambos.

Assim que entraram, Sora não resistiu as lagrimas. A última vez que havia tido um quarto tão bonito e ajeitado foi quando seus pais estavam vivos.

— Isso é tudo para nós? — Kasuaki perguntou analisando o ambiente ao seu redor.

Havia duas camas, uma com um cobertor em tons de azul e a outra com cobertor acinzentado. O garoto se dirigiu até a cama cinza e sentou-se, como se testasse a maciez. Seus olhos vasculharam todos os cantos, encontrando um guarda-roupa, que se abrisse encontraria algumas roupas novas, que o mascarado esperava que servisse e mais tarde, comprariam outras, de acordo com seus gostos. Tinha também uma poltrona, uma mesa para estudos, uma prateleira com alguns livros e brinquedos. Havia se esforçado para tornar o local perfeito. Até Iruka estava surpreso.

Kakashi estava observando as ações de Kasuaki e não viu quando Sora saiu de perto de Iruka e abraçou sua perna.

— Obrigada, Kakashi-sama — agradeceu a pequena.

O Hatake nem pensou quando a pegou em seus braços e sem esperar, sentiu pequenos braços rodearem seu pescoço e um beijo ser depositado em sua bochecha, por cima da máscara.

— O que acham de irem tomar um banho e dormir? Amanhã é um novo dia e temos muitas coisas para fazer. Precisam começar a se familiarizar com a Vila que será a nova casa de vocês. Vamos, andem — ordenou Iruka, fazendo Kasuaki sair reclamando e Sora descer do colo do Kakashi com relutância.

Kakashi se retirou do quarto, deixando os três a vontade para se ajeitarem, não queria deixar as crianças envergonhadas com sua presença.

Não demorou muito e Iruka apareceu na sala, um pouco deslocado, sem saber o que fazer e como agir. Tentava levar as coisas com naturalidade, por causa das crianças, mas agora ali, sozinho diante do Hatake, não sabia o que fazer.

— Por quê? — Repetiu a mesma pergunta que fez quando chegaram ao complexo.

Kakashi demorou um pouco para entender o que ele queria dizer, mas logo entendeu o que Iruka queria saber.

O Umino podia ver a mente daquele que dividiu uma vida trabalhar, tentando organizar os pensamentos de maneira que pudesse se expressar com clareza.

— Queria um novo começo, começar a escrever uma nova história aqui. Apagar as memórias ruins que tenho, as substituir por novas. Tirar de uma vez por todas a sombra da morte que paira aqui e acredito que conseguirei com a ajuda de Sora e Kasuaki e a sua também, é claro. As poucas lembranças boas que tenho do meu pai, quando era criança, me trouxeram uma nostalgia e queria poder fazer as mesmas com minha família, com meus filhos…

— Com Sarada e… — Iruka o interrompeu. Aquilo ainda o magoava.

— Não, Iruka, com você e os dois. Otto… senti tanto a sua falta — declarou o mais velho, enquanto buscava a mão do outro, que não impediu o toque.

— Está dizendo isso apenas porque não tem mais as duas? Está fazendo tudo isso apenas porque fui embora, me afastei? Quis isso de verdade em algum momento? Quis ter filhos? Qual a razão por trás disso tudo, Kakashi? — Iruka perguntou com olhos cheios de lágrimas, sentindo tantas emoções que reprimiu durante todo aquele tempo. 

— Otto, por favor…

— Não… não me chame assim, você não tem esse direito!

— Você ainda é meu marido e eu te amo. Respeitarei teu pedido, não te chamarei assim. Mas quer a verdade? Após a Guerra, quando finalmente alcançamos a paz e comecei a ver meus alunos e seus colegas formando suas famílias, eu comecei a pensar como seria ter uma, ter alguém para transmitir o meu legado, passar o contrato de invocação adiante…

— Mas não teria como ser comigo, não é? Eu não posso te dar um filho. Então…

— Não! Não tem nada a ver com isso. Não pense isso, por favor. Cheguei a conversar com Pakkun sobre o passar contrato de invocação para alguém que não tenha o sangue Hatake e falou que poderia ser arranjado para ser repassado a outra pessoa.

— Eu não entendo… Se isso era tudo o que queria, por que não me falou nada? Por que foi buscar isso em outra pessoa, se tinha a mim?

Kakashi nem pode responder, pois os gêmeos apareceram, de banho tomado e prontos para dormir, tinha mexido até mesmo no guarda-roupa e agora ambos usavam pijamas combinando. Sora estava gostando daquilo, mas Kasuaki parecia emburrado. Iruka secou as lágrimas que insistiam em aparecer e deu seu melhor sorriso para os dois. 

— Vocês estão lindos — declarou o Umino se aproximando dos pequenos. — Agora, vamos para cama. Se despeçam do Kakashi.

Kasuaki apenas desejou boa noite de longe, enquanto a menina se aproximou e abraçou o Hatake e sussurrou algo em seu ouvido, que não foi ouvido pelos outros dois, deixando o prateado sem reação. A azulada se afastou e seguiu o irmão e Iruka para o quarto, deixando o mascarado estático, parado no meio da sala. Sem pensar muito, seguiu para seu quarto e sentou-se na beirada da cama, as palavras da garota repetindo em sua mente, num looping infinito: “Não faça mais o Iruka-otousan chorar, por favor”.

Kakashi não dormiu aquela noite.

Na manhã seguinte, o Hatake levantou cedo, bem mais do que o normal. Seguiu para o dojo treinar um pouco, na tentativa de aliviar seus pensamentos e tirar toda a tensão que tinha em seu corpo. Passar a noite toda sentindo seu marido a uma parede de distância, querendo que ele estivesse ao seu lado, compartilhando uma cama, sentindo calor do seu corpo. Infelizmente, tinha a impressão de que a cada minuto, eles se afastaram ainda mais e aquilo que os unia, que um dia os uniu, estava prestes a se romper permanentemente.

Ficou um bom tempo treinando, levando seu corpo ao máximo até se sentir pronto para retornar para casa e preparar o café da manhã. Quando estava terminando de arrumar as coisas, Sora e Kasuaki apareceram, ainda sonolentos, seguidos por Iruka, que ajeitava seus cabelos, ganhando atenção do prateado: aquela era uma das coisas que mais gostava de admirar na vida, seu amado de cabelos soltos.

Os gêmeos, especialmente Sora, não deixou aquilo passar despercebido e comentou com o irmão.

— Parece o papai quando ficava olhando a mamãe, lembra mano? — Começou a garota, 

— Ele era sempre sério, mas quando via a mãe, ficava com essa cara de paspalho — completou o pequeno de cabelos brancos.

— Quando olhamos aquilo que amamos, ficamos mesmo com cara de paspalho — concordou Kakashi divertido, deixando Iruka corado. — O café está pronto. Porque não tomam café e depois acompanho vocês até o centro da Vila, devem estar ansiosos para conhecer mais Konoha — Sugeriu o mais velho para empolgação dos pequenos.

Os olhos deles brilhavam, pois há muito tempo eles não tinham ninguém que preparasse todas as refeições. Que os mandassem tomar banho, arrumar as camas, escovar os dentes. Há muito tempo ninguém os colocava para dormir. Há tempos não tinham uma família.

Após a refeição os quatro seguiram para o centro da Vila, mostrando onde ficavam todas as coisas, as lojas, parques, onde alguns amigos moravam, a Academia Ninja, onde Iruka trabalhava e avisou que os levaria até lá em breve e a Torre do Hokage, local  onde Kakashi ficava e onde fariam sua primeira parada para ajustar suas informações como novos moradores de Konoha, até que conseguissem dados o suficiente para que Iruka pudesse os adotar oficialmente.

Os pequenos estavam maravilhados com tudo e faziam perguntas sobre tudo o que viam. Sora era quem fazia a maioria delas, Kasuaki apenas observava e o Hatake notou que ele estava analisando as coisas, as pessoas, fazendo anotações mentais dos locais por onde passavam. Entendia os receios e as preocupações do jovem, um local novo, pessoas diferentes. 

Os quatro chamavam atenção por onde passavam e os cochichos corriam solto, pois a vida do atual Hokage e a suposta traição e separação daquele casal era um prato cheio para os fofoqueiros de plantão. Não duvidava que logo estariam falando que os gêmeos eram filhos de Kakashi ou Iruka fora do casamento. 

Ao chegarem na Torre foram direto para a sala do Hatake, passando por Shizune e Shikamaru e os chamando para entrar com eles, para poder resolver algumas questões. 

— Então essas são as crianças que estão sobre sua proteção — declarou Shikamaru, tipicamente entendiado. — Problemático. 

Kakashi apenas ignorou o último comentário, afinal o nara falava aquilo a cada duas frases.

— Sim, esses são Sora e Kasuaki — apresentou Iruka. — Crianças, esse é Shikamaru, assistente e conselheiro do Hokage e essa moça é Shizune, outra assistente e uma amiga.

Os pequenos fizeram uma pequena reverência e Shizune teve vontade de apertar suas bochechas, mas não o fez porque não parecia ser o certo, por enquanto.

— Avisou Naruto que Iruka estaria aqui? — Perguntou Kakashi a Shikamaru, pois sabia que se não o fizesse o loiro iria revirar a cidade toda atrás do Umino.

— Sim, ele deve aparecer a qualquer  momento. Enquanto ele não aparece arrombando a porta, quero avisar que os documentos dos dois estão prontos e que já entramos em contato com Kumo e o Raikage nos mandou uma resposta. Disseram que o Clã Yotsuki está praticamente extinto, muito foram embora da Vila e não se tem notícias deles. Irá mandar um representante para conhecer as crianças e para conversa com elas e com vocês sobre o que farão com relação aos dois. Não irão exigir que elas sejam enviadas para Kumo, o que é bom, pois acredito que isso poderia causar alguma instabilidade politica entre as duas Aldeias. Ele deve estar chegar hoje, no final do dia — Shikamaru atualizou a todos sobre as solicitações do Rokudaime.

— E também, as crianças poderão, por enquanto, participar da Academia como visitantes. Terão algumas coisas que não poderão fazer, como sabe bem Iruka, é o diretor — completou Shizune.

Todos riram das feições desanimadas que Sora e Kasuaki fizeram ao saber que teriam que ir para escola, mas não tiveram tempo, pois a porta foi aberta num rompante e um loiro animado entrou. Às vezes Naruto agia como se ainda tivesse doze anos e não como se fosse casado e pai de duas crianças.

— Iruka-otousan — bradou o Uzumaki abraçando o Umino apertado, com os olhos lacrimejando.

Não era preciso dizer o quanto adorava o mais velho e o quanto se preocupou quando soube que ele havia sido atacado. Se não fosse por Kakashi e Hinata, ele teria ido até I Sora e Kasuaki ficaram apenas observando aquele homem apertar o Umino tão forte que parecia que iria o partir ao meio e não estavam gostando nenhum pouco daquilo. Kakashi notou a tensão surgindo dos gêmeos e se aproximou dos dois para os confortar diante daquela situação.

— Não precisam se preocupar. Esse é Naruto Uzumaki, ele vai ser o próximo Hokage e Iruka é como um pai para ele. Ele praticamente o criou desde que tinha a idade de vocês — explicou o mascarado.

— Então quer dizer que nós temos um irmão mais velho? — Quis saber a azulada, deixando o Hatake um pouco desconcertado.

— Quase isso.

— Hei, você! — A garota chamou atenção de Naruto e Iruka.

— Oi, pequena, quem é você? — Perguntou o loiro arqueando a sobrancelha, só agora notando a presença das duas crianças na sala do seu antigo-sensei.

— Eu me chamo Sora Yotsuki e esse é meu irmão Kasuaki. Nos viemos de Maibotsu para ficar com Iruka-otousan. Kakashi-sama falou que você também é filho dele, então você vai nosso irmão? — Desandou a falar, quase deixando Naruto desorientado.

— Então vocês dois são os gêmeos que ouvi falar? Você quer ser minha irmãzinha? Vou poder te chamar imouto e você — olhou para Kasuaki que havia se agarrado a Iruka —,  de otouto? — Ninguém se surpreendeu com o pedido do herói da guerra, todos ali presentes conheciam sua personalidade.

— Eba! Agora tenho um mano e um onii-san — a azulada correu para Naruto, que nem teve outra reação a não ser pegar a pequena em seus braços, enquanto o pequeno de cabelos brancos ficou no lugar. Não era tão espontâneo e sociável quanto a irmã.

— Pelo visto, você vai se dar bem com meus filhos e com os amigos deles — garantiu o Uzumaki enquanto fazia cócegas na menina que ria empolgada. — O que acham de ir jantar lá em casa, todos vocês?

— Pare de dar tanto trabalho para sua esposa! — Repreendeu Kakashi, sabia que o antigo aluno sempre aprontava alguma e deixava Hinata sobrecarregada. — Acho que podemos ir, quando terminar o trabalho. E ajudo Hinata a preparar a comida, desde que ela esteja a favor e ciente que vai nos receber — ordenou Kakashi.

— Sim, sim. Vou falar com ela agora — o ninja colocou a pequena Sora no chão e saiu em disparada, nem se despedindo dos demais. Shikamaru o seguiu para garantir que ele fosse fazer o que havia afirmado.

Aquele era Naruto, afinal de contas.

— Kakashi, desculpa atrapalhar, mas temos algumas questões para resolver sobre a vinda do ninja de Kumo. Sei que gostaria de ficar com sua família, mas temos assuntos para resolver — Shizune declarou, ciente de como havia se referido a Iruka e as crianças e saindo em seguida, deixando os quatro sozinhos.

— Eu deveria ir, preciso passar na Academia, ver se a Anko ainda não enlouqueceu e resolver algumas coisas. Tem certeza que conseguirá ir jantar na casa do Naruto da Hinata? — Iruka acabou provocando, lembrando-se muito bem das vezes que fora deixado de lado pelo mascarado que passava a noite fazendo jantar com outra família.

— Sim, tenho certeza. Por mais difícil que seja de acreditar, me livrei de quase todos os documentos pendentes — apontou para a sala que não tinha mais papéis e pergaminhos espalhados. — E quanto a outra questão, treino com a Sarada duas vezes na semana, cerca de uma hora. Chego em casa a tempo do jantar.

— Quem é Sarada? — Kasuaki perguntou, finalmente falando algo desde que chegaram a Torre do Hokage.

— Uma garotinha da idade de vocês. Em breve vão a conhecer. Agora vamos, Kakashi precisa trabalhar e eu tenho outras coisas para resolver e apresentar vocês a mais algumas pessoas. Tudo bem?  — Pediu Iruka e viu os pequenos concordarem.

O Hatake ganhou um beijo de Sora de despedida e bagunçou os cabelos de Kasuaki e tentou se aproximar do Umino para o tocar, mas ele se afastou sutilmente e se despediu, fechando a porta atrás de quando se retirou.

Kakashi desabou em sua cadeira frustrado. Parecia que Iruka ainda estava em outra Vila, longe de Konoha e aquele vazio, aquele frio entre eles, crescia a cada minuto. Queria poder ficar pensando em meios de quebrar o gelo entre eles, de atravessar aquele abismo que se formou, mas tinha obrigações com sua Vila também e ficar remoendo seus problemas pessoais, não faria bem para ninguém.

 

[...]

 

O Rokudaime havia finalizado boa parte do seu trabalho e quando pensou em sair um pouco mais cedo para ir até a casa, Shizune entrou em sua sala, sendo seguida de perto por um ninja de loiro, não tanto o Uzumaki, curto e bagunçado que contrastava com sua pele, olhos castanhos escuros, vestindo uma camisa preta sem manga com uma jaqueta mostrando um ombro, protetor de testa com símbolo de sua Vila, protetor de cotovelo e braço e caneleira vermelho e branco. Um ninja de Kumogakure. 

— Cee? — Kakashi cumprimentou o ninja, era um velho conhecido. 

O Hokage o conheceu durante a reunião das Cinco Grandes Nações antes da Guerra, ele acompanhava o Raikage junto a Darui. 

— Rokudaime Hokage — fez uma reverência.

O clima entre os dois homens não eram os dos mais leves, pois quando se conheceram o ninja de Kumo tinha certa antipatia pleos ninjas de Konoha, se referendo a eles como “cães”. Kakashi não havia gostado daquilo.

— Acredito que veio em nome do Raikage para tratar sobre Sora e Kasuaki, os gêmeos que Iruka trouxe de Maibotsu, de Takigakure — declarou o prateado.

— Sim, fui mandado especialmente para isso, talvez pela razão deles terem meu sobrenome. Ay e o Bee acreditam que somos parentes distantes — respondeu Cee.

— Podemos discutir isso amanhã logo cedo, pois tenho um compromisso importe agora e não posso me atrasar. A Shizune vai lhe mostrar onde ficará hospedado e a que horas será nossa reunião — informou se preparando para sair.

— Os rumores são falsos, então? Pelo que ouvi, você sempre se atrasava — o ninja de Kumo não conseguiu evitar a provocação.

— Às vezes eu me perdia pelos caminhos da vida, mas dessa vez, não posso. Shizune, passe todas as informações para Cee — O Hatake não havia gostado daquele comentário, mas não poderia se indispor com um representante de uma Aldeia aliada.

— Pode deixar, Hokage-Sama. O senhor deveria ir, Naruto e os outros devem estar lhe esperando. Cee-san, poderia me acompanhar?  — A kunoichi indicou o caminho e o ninja visitante saiu e o mascarado a agradeceu com um aceno.

Não sabia porque, mas sentia que aquele assunto com Kumo, que envolvia Sora e Kasuaki, ainda lhe traria dores de cabeça. Deixaria para ter enxaquecas com o trabalho em outro momento, agora tinha um encontro com toda a sua família.

O mascarado chegou na casa dos Uzumaki antes de todos e claro que teve que lidar com as implicâncias de seu antigo aluno sobre não precisar ajudar uma velhinha, ou desviar de um gato preto, ou qualquer outra desculpa esfarrapada que conhecia. O jounin ajudou Hinata a preparar o jantar para os demais, que chegaram quando a comida estava sendo posta na mesa.

Iruka evitava ao máximo Kakashi, já Sora o contava animada tudo o que viu e quem conheceu naquele primeiro dia em Konoha, com o irmão fazendo um ou outro comentário. Logo os gêmeos estavam entretidos com Boruto e com a pequena Himawari, que adorava toda aquela confusão e atenção que recebia.

Naruto notou como aquele que considerava como pai desviava do outro, fugindo de qualquer pergunta, olhar ou toque que o prateado ousasse dirigir a si.

A noite, apesar disso, transcorreu bem e o Uzumaki estava feliz por ter todos os que ama ao seu redor novamente. 

— Vocês precisam conversar. Logo — sussurrou o loiro quando se estavam na porta se despedindo. — Sei que está magoado, mas apesar de não merecer nenhuma consideração pelo que fez e talvez tenha merecido, Kakashi-sensei sentiu sua falta. Acho que aprendeu uma lição.

— Quando se tornou sábio com as palavras? — Brincou o Umino e viu o loiro desviar o olhar para sua esposa e filhos. Aquela era a resposta. — Nós vamos, não se preocupe.

Se despediu dos Uzumaki e seguiu com Kakashi para casa, em silêncio, já que carregavam os gêmeos adormecidos em seus braços. O Hatake até sugeriu o Hiraishin, mas o Umino negou. Teve tanto tempo para pensar em sua situação, mas agora, frente a frente com o homem que é casado, está perdido. Felizmente, o mais velho o conhecia bem e parecia entender todo o conflito interno, por mais que quisesse o fazer falar e esclarecer e resolver toda aquela situação, não iria impor sua vontade.

Afinal, fora por causa das suas vontades e “caprichos” que tudo aquilo aconteceu.

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