Ainda existe nós?

Naruto
M/M
G
Ainda existe nós?
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Summary
Um casamento em crise, afetado pelo desejo reprimido ou talvez esquecido. Ou quem sabe até sem ter o conhecimento que o tinha.Filhos.Uma aproximação por causa de uma criança que sente falta do pai pode colocar a perder toda uma vida construída ao longo dos anos.Afastar é necessário.Os laços que os unem aguentaram? Escrita em parceria com Kendra, que não utiliza a plataforma, mas me deu permissão de postar aqui.
Note
Tenho fics para atualizar? Tenho.Vou começar outra com essa pessoa maravilhosa? Com certeza.Quem viu as tags, viu as menções que terão e aquele que vier falar que odeio qualquer casal citado, vou dar chilique, ninguém merece virem falando que odeio tal shipp e queriam outro, quem escreveu fui e a @k_Vanderpool e estamos felizes com o resultado.A Fic terá 8 capítulos, mas não irei postar todos os dias por detalhes técnicos (cof cof cof falta finalizar cof cof cof)Espero que gostem dessa nova fic, cheia de dramas bem ao estilo Banshee de ser.Boa leitura!
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Sentimentos Conflitantes

Em Konoha todos estavam surpresos com o Sexto Hokage. Há um tempo, ele poderia ter dito a Iruka que seria conhecido como “o pior Hokage” da história, mas isso, naquele momento, estava longe de ser verdade.

Sua mesa estava praticamente livre de papéis. Reuniões e acordos eram todos feitos no prazo. Todo o trabalho estava tão bem encaminhado que até o próprio Shikamaru tinha tempo para suas sonecas e até mesmo havia conseguido uma folga para poder passar um tempo com sua família. 

O Nara e Shizune imaginavam o porquê do Hatake estar tão focado no trabalho, afinal sabiam que Iruka havia pegado férias por tempo indeterminado e que algo havia acontecido entre o casal, mas não iriam se intrometer. Fora o fato de um certo loiro ter invadido o local gritando aos quatro ventos que se alguma coisa acontecesse ao seu pai enquanto ele estivesse fora, o Rokudaime poderia se considerar um homem morto.

Para Kakashi, manter a mente ocupada com documentos, acordos e pedidos era muito melhor do que ficar a toa e pensar em Iruka. Sentia falta do marido, de o ter em casa todas as noites, compartilhar uma refeição e uma cama. Não seria hipócrita em não assumir que as coisas que desejava fazer, era justamente aquelas que ele próprio havia deixado de lado.

“Otto, onde você está? Está bem? Pensa em mim, como penso em você, todas as noites? Como fui um idiota egoísta, como pude deixar tudo isso acontecer?”, o mascarado se lamentava mais uma vez em pensamento.

— Hokage-sama, está tudo bem? — Um dos comerciantes que estavam na sala o trouxe de volta para a realidade.

— Sim, está tudo bem. Peço desculpas por isso. Estava um pouco distraído — Kakashi falou um pouco envergonhado.

— Sem problemas, então, o que acha? Esse novo acordo com o País do Ferro e do Nuvem será vantajoso a todos.

— Claro. Além de trazer muitos outros benefícios e crescimento para ambos os lados, além de fortalecer os laços e a paz entre todos — declarou o Hokage.

A reunião ainda levou algumas horas para finalizar, encerrando somente ao anoitecer. Quando finalmente resolveu sair da sua sala, todo o prédio estava em completo silêncio. Retirou seu manto e o deixou na cadeira. Olhou para sua mesa e sorriu satisfeito ao vê-la quase sem nenhum documento e o local totalmente organizado. Porém, seu breve sorriso sob a máscara desapareceu quando focou em um porta-retrato que havia ali. Nele continha duas fotos, uma do prateado com seus alunos do Time 7 quando eram apenas gennins e outra com Iruka, no dia do seu casamento. Ele queria se lamentar, gritar, brigar com o céu e à terra, mas nada adiantaria, nada mudaria o que aconteceu. Só lhe restava esperar o retorno do Umino e assim, reconquistar sua confiança, seu amor. Suspirou pesadamente e enfim saiu da Torre.

O Hatake caminhava lentamente pelas ruas de Konoha, vez ou outra acenando para alguém que o cumprimentava. Muitos o olhavam curiosos pelo fato de estar sozinho e sabia que as fofocas não demorariam a surgir. Se é que já não haviam começado desde o dia que Iruka saiu da Vila. Ou melhor dizendo, aumentaram, pois, sabia que as pessoas já falavam sobre suas visitas diárias a casa de Sakura.

Por falar na rosa e em Sarada, o prateado não tinha mais aparecido lá. Parecia tão errado, principalmente por seu marido não estar ali. Imagina que a pequena Uchiha sentia falta da companhia e dos pequenos treinamentos que realizavam, mas simplesmente não conseguia ir até lá. Sentia-se como se estivesse traindo Iruka.

"Hipocrisia minha, mesmo não tendo feito esse absurdo, ainda parece que fiz. Talvez não da maneira que pensam, mas fiz, indiretamente.”, pensou.

Estava quase chegando na casa que dividia com Iruka quando sentiu dois chacras conhecidos e exalavam irritação, podia-se dizer estarem prontos a entrar numa briga se fosse preciso. Kakashi pensou que não precisa muito para isso acontecer e imaginava que o alvo seria ele próprio. Manteve-se com a mesma postura de sempre, feição entendiada, não estava com ânimo para o que quer que os dois conhecidos queriam consigo aquele horário.

De tudo o que poderia acontecer, o Hatake não esperava ser pego pelo colarinho, justo pela pessoa que nem deveria estar em pé. Realmente Gai estava furioso consigo.

— Me diga que os boatos a circular pela Vila são falsos!

Depois de recuperar do breve choque o Hatake voltou a feição entediada e respondeu o ex-sensei.

— Se não me disser qual deles quer que eu esclareça fica difícil. Ou devo esclarecer todos que já ouvi até o dia de hoje?

— Você, Hatake Kakashi, vai esclarecer todos eles. Porém, o mais importante agora é o que ouvimos sobre o Iruka. Você o traiu ? E com a Sakura?! — foi Yamato que o questionou, este que parecia mais controlado do que Gai, mas no mesmo nível de irritação.

— Eu não traí o meu mari…

— Suas visitas à casa da Sakura dizem outra coisa e deixam qualquer um na dúvida. — Interrompeu Gai.

— Tu tens muito por explicar, Senpai. — afirmou Yamato.

— Se me deixassem falar teriam a droga da explicação, pois, mesmo que não seja da conta de vocês eu ainda assim decidi falar — dizia o platinado já perdendo a paciência, que se diga de passagem não estava nada boa desde a partida de Iruka. — E me solte Gai, poupe as suas forças para acabar com a minha raça junto do Naruto.

Maito fez o que lhe foi pedido mas não sem antes apertar mais um pouco o platinado e olhar de maneira ameaçadora para o mesmo.

─ Anda, nós vamos para a sua casa e você vai explicar direito essa… coisa toda. — o especialista em taijutsu ditou e dando partida passou com a roda da cadeira por cima do pé do Hatake.

“Eu mereço. Eu juro que mereço!“  Pensou o Sexto.

Sem demora e num silêncio absurdo, os três seguiram em direção a casa do Hatake. Casa que ele praticamente evitava, pois já não tinha mais o cheiro do seu amado e reforçava o pensamento de que talvez, não voltasse a ter. Mal colocaram os pés no local e o prateado foi empurrado para o sofá.

— Pode começar a falar. — exigiu Yamato.

Sem saída Kakashi começou a contar aos amigos o que havia acontecido, desde que começou a conversar com antiga aluna e sua filha e a frequentar a casa da rosada. Só parou de falar após dizer que Iruka havia pedido férias e não sabia onde estava com exatidão.

Seus amigos ouviram tudo sem interrupções e no final não deixaram de dizer o quanto foi errada a atitude do platinado. Maito tinha vontade de xingar o rival, mas não teria efeito e nem faria diferença naquele momento.

— Entendo o que estava fazendo, queria poder dar a Sarada uma experiência do que é ter um pai em casa, coisa que pouco de nós tivemos. Deveria ter dito a Iruka e tenho certeza que ele te apoiaria e ainda daria dicas de como conversar com a pequena sobre seu pai — discursou o sobrancelhudo.

— Infelizmente pensar em outras ações que deveriam ter sido tomadas, não irá alterar o passado. Terá apenas que pensar no que fará de agora em diante e em como irá se reconciliar com o Umino, Kakashi-senpai — declarou Yamato.

— Espero que consiga reverter essa situação. Não consigo imaginar minha vida sem Iruka ao meu lado. Com ele é tudo mais fácil, sinto tanta falta dele — o Rokudaime tentou controlar as emoções, mas sentia-se vulnerável.

— Além disso, terá que resolver as coisas com a Sakura e encontrar uma forma de fazer os boatos se dissiparem, caso contrário, se por acaso chegar aos ouvidos do Umino, se souber, nem que seja mentira, que ainda se encontra com a Haruno, não haverá nada que os una novamente e sabe disso, meu rival — os outros dois se surpreenderam com a declaração do Maito, que foi diferente dos habituais discursos empolgados sobre a força da juventude.

Gai e Yamato resolveram então, mudar de assunto e falar sobre coisas que nada tinham a ver com os problemas matrimonias do Hatake. Pelo menos, por algumas horas, o Hokage se deu ao luxo de não pensar em seu amado marido que estava longe.

 

[...]

 

No hospital de Konoha, Sakura era encarada de tal forma que a fazia se encolher na cadeira e parecer aquela garotinha de anos atrás, que recém havia saído da Academia e era uma gennin assustada. 

A sua frente a Godaime Hokage a encarava de maneira assustadora a alguns minutos. Nenhuma palavra havia sido proferida até então. A rosada sentia-se sendo analisada minunciosamente, como se a Senju estivesse procurando algum indício ou evidência de que alguma coisa estava acontecendo.

— Senhora Tsunade, algo errado? — Perguntou apenas para iniciar a conversa.

— Você que precisa me responder isso. Afinal, é da sua casa que o Rokudaime Hokage foi visto saindo tarde da noite e de onde o diretor da Academia, que é marido deste, saiu furioso e que agora não se sabe onde está com exatidão — a cada palavra da loira, Sakura se afundava na cadeira, há muito tempo ela não se sentia tão frágil e incapaz de se defender.

— Iruka-sensei foi… embora? — a med-nin questionou surpresa.

— Não definitivamente, até onde sei. Única coisa que sabemos é que ele pediu um afastamento de suas funções, utilizando todas as suas férias acumuladas.

— Eu não que isso acontecesse.

— O que você queria, então? Sakura, você é uma das melhores kunoichis que temos, uma médica excepcional que se esforçou muito para chegar onde está. Como acabou se envolvendo em boatos dessa forma?

— Que boatos?

— Que você é a responsável pela separação de Kakashi e Iruka e estão em um relacionamento as escondidas — soltou Tsunade sem rodeios.

— ISSO É UM ABSURDO! UMA MENTIRA SEM CABIMENTO! — Bradou Sakura irritada, como que as pessoas poderiam pensar aquilo dela?

— Entendo a sua revolta, mas quero que me diga, olhando em emus olhos que não existe a mínima possibilidade disso ser verdade. Quero que me fale que não existe nenhum tipo de sentimentos além de amizade e respeito. Sei que posso estar parecendo dura, mas é uma questão que tanto você quanto Kakashi precisar ter certeza para não acabar machucando ninguém. Nem vocês, muito menos Iruka e Sasuke.

A de olhos esmeraldinos ficou em silêncio por um bom tempo, como se analisasse a situação e os próprios sentimentos. Entendia a preocupação da sua mestra, tinha a mulher como uma segunda mãe, aquela que estava sempre  ao seu lado.

— Acho que… estou gostando do Kakashi, muito além da amizade — a fala saiu baixa, mas Tsunade conseguiu ouvir.

— Acha? Querida, não pode ter dúvidas sobre seus sentimentos, especialmente nessa situação — a antiga Hokage declarou, segurando a mão da aprendiz com cuidado.

A Haruno não respondeu Tsunade, não conseguia, pois naquele momento seus olhos esmeraldas estavam banhados em lágrimas.

 

[...]

 

Naquela manhã nada parecia diferente para o Sexto, na verdade desde a partida do seu amado tudo parecia sem graça, cinzento e… exaustivo. Passou metade da manhã trancado no seu escritório e o resto dela em reuniões e quando se deu conta já passava do meio-dia e Shizune recomendava que o mesmo fosse almoçar e dar um passeio.

— É muito amável da sua parte Shizune mas eu ainda tenho assuntos a resolver e papelada a assinar.

—  Que papelada Hokage-Sama? — Questionou a morena apontando para a mesa vazia e organizada do outro. — E por hoje já nem têm reuniões. O dia esta lindo e dar um passeio vai lhe fazer bem.

— Eu vou pensar no caso, obrigado Shizune. — Agradeceu dando por encerrado o assunto e a mais nova entendeu o recado se retirando da sala.

O Rokudaime não seguiu a sugestão que lhe foi dada, preferiu ficar fechado na sua sala sonhando acordado e completamente perdido em seus pensamentos e foi assim o resto do dia. Não via graça em passear pela Vila, mesmo que o dia estivesse lindo, não sem Iruka. Deixou novamente seus pensamentos voarem nas diversas vezes em que praticamente arrancou o marido de sua sala na Academia apenas para darem um passeio e aproveitar o dia.

Em meio a pensamentos sobre Umino, um outro estava o incomodando a dias. Sarada. Desde a partida do chunnin, há quase três semanas, ele não havia mais visto a pequena Uchiha e tinha medo que ela se sentisse abandonada novamente e voltasse a ter as mesmas atitudes de antes. Não sabia dizer como ela estava, pois na maioria das vezes conseguia informação com Iruka.

Suspirou derrotado, não vendo outra saída a não ser ir até Sarada, afinal ela nada tinha a ver com os problemas entre ele e Iruka. Ela não fora a causa deles, o que levou ao afastamento dos dois homens, foram as escolhas do mascarado. Por isso decidiu, iria até à Academia e encontraria a Uchiha e conversaria com ela, mesmo que isso significasse o aumento dos boatos por toda Konoha, não ligaria para nada, como fez durante toda sua vida. Não se importava porque sabia que eram apenas mentiras e suposições dos outros, aquilo até o beneficiava em algumas situações, como quando enfrentava inimigos que acreditavam no que ouviam sobre si, era quase uma vantagem. Só não era apenas em momentos como o que passou com o marido.

Estava tão absorto em seus pensamentos que reparou quando chegou em frente a Academia. Percebeu chegar bem na hora em que as crianças estavam saindo. Foi cumprimentado por pais e alunos e até alguns professores. Nem se surpreendeu quando Anko, assim que notou sua presença, virou o rosto para o outro lado. Ele poderia ser o Rokudaime Hokage, um ninja de elite, mas para a mulher, naquele momento, era apenas o homem que fez o melhor amigo sofrer e se afastar.

— Anko, tem alguma notícia do Iruka? Ele está bem? Sabe quando ele volta? — O mascarado perguntou e viu a Mitarashi suspirar, como e pensasse se deveria ou não responder.

— Não deveria te dizer nada, mas pelo que vejo está sofrendo tanto quanto meu amigo. Não sei o que aconteceu direito, apenas escuto fofocas. Mesmo não merecendo, ainda acredito que nada do que dizem é verdade. A única coisa que posso te dizer sobre o ‘Ruka é que ele está bem, sente saudades de todos e que não deu previsão de quando retorna — claro que o diretor da Academia manteria contato com sua substituta e melhor amiga.

Mas o que ela não contou e nem iria era sobre os gêmeos que Iruka conheceu e se conhecesse bem o amigo, saberia que ele não voltaria até que Sora e Kasuaki estivessem bem, isso se não os trouxesse consigo para Konoha. E também não mencionaria que ele havia perguntado do marido.

— Obrigado. Ele não deu notícias desde que partiu.

— Só a ti é que ele não deu notícias Kakashi e fico admirada por esperar isso da parte dele.

E sem esperar uma resposta do Hokage a mesma seguiu seu rumo deixando o platinado com um gosto amargo na boca. Alguns minutos depois do balde de água-fria que levou, recobrou a sua postura e saiu a procura daquela que o fez ir à academia ninja.

Não demorou muito para encontrar a pequena Uchiha, que assim que o viu correu para o abraçar e só depois percebeu o que tinha feito e se soltou, ficando envergonhado do seu ato.

— Gomen-ne, Hokage-Sama — desculpou-se usando toda formalidade que conhecia.

— Ei, não precisa disso tudo Sarada, pode continuar me chamando de Kakashi

— Eu não acho que seja correto Hokage-Sama. Já causei problemas demais… — dizia olhando para o chão e de punhos cerrados — Ao senhor, a minha mãe e ao Iruka-sensei.

A pequena Uchiha a essa altura derramava lágrimas que há muito tempo guardava e soluçava copiosamente.

— Me desculpe Kakashi-Sama eu… eu não sabia, não era minha intenção arruinar o seu casamento, eu nunca quis magoar o Iruka-sensei e… e agora ele partiu e… e… e eu vejo, eu ouço tudo que dizem e eles culpam a minha mãe e o senhor, mas quem errou fui eu!

O Hatake via a cena com pesar no peito, ele sabia que a pequena não tinha culpa de nada e trataria de tirar essa ideia da sua mente mas por hora seria melhor deixar a mesma desabafar. O homem tratou de procurar um banco para ambos repousarem e assim ele poderia falar com Sarada com mais calma.

— Até o Boruto brigou comigo. — Voltou a falar, agora sem choro mas com a voz baixa e ressentida. — Ele disse… disse que a culpa do Iruka-sensei ter partido foi minha e ele tem razão. Eu passei tanto tempo com o senhor e nem sequer perguntei se era casado. Acho que não perguntei exatamente por isso, para não me sentir culpada ou decepcionada com a sua resposta caso fosse positiva… eu fui egoísta e agora a melhor pessoa que conheci e sempre esteve aqui para mim, partiu e eu… eu me sinto muito, muito mal.

Ela voltou a derramar lágrimas, mas parou assim que sentiu a mão do Hokage no topo da sua cabeça.

— A culpa não é sua Sarada, você não teve culpa de nada. E eu não digo isso para te consolar, digo porque é a verdade. Se formos procurar algum culpado, esse seria exclusivamente eu. Pense comigo, eu sabia que sou casado e no momento que vi o Iruka na sua casa eu podia ter deixado claro que ele é meu esposo, mas infelizmente não o fiz. Lamento imensamente que você tenha sido arrastada para esse problema de adultos e agora também esteja sofrendo, me perdoe.

— Eu não entendo tudo ainda, mas acho que agora está tudo bem — declarou a jovem Uchiha com um sorriso.

— Agora que está tudo esclarecido, porque não treinamos um pouco? Como fazíamos antes de toda essa confusão? — Sugeriu Kakashi.

— É sério? Mesmo? — A empolgação da menina era surpreendente, nem parecia estar chateada.

Kakashi nesses momentos até invejava as crianças, elas dificilmente guardavam mágoas ou rancor por muito tempo.

Os dois caminhavam pelas ruas de Konoha conversando, ignorando os olhares e murmúrios que alguns habitantes dirigiam-lhes. O Hokage já estava acostumado com aquilo e sabia que agora as coisas estavam piores devido ao afastamento do marido. Por isso tentava manter a Uchiha falando, assim ela não prestava atenção no que diziam, já que alguns não eram tão discretos em apontar.

Por sorte, não demoraram muito para chegar a residência da garota, que entrou correndo na casa para deixar suas coisas enquanto gritava para o prateado ir até os fundos da casa, onde sempre treinavam. O Hatake aproveitou aquele momento sozinho para pensar sobre sua vida e como um erro, uma falha como aquela virara sua vida do avesso e a culpa era toda sua. Esse pensamento já havia se tornado um disco arranhado em sua mente, como se estivesse preso em um genjutsu, revivendo a mesma coisa repetidas vezes e não conseguia se libertar. Não sabia quanto tempo aguentaria aquela situação, sabia apenas que precisava suportar até que Iruka retornasse.

— Estou pronta, Kakashi-sensei — Sarada tirou o mascarado dos seus pensamentos recorrentes.

Kakashi começou ajudando a pequena a ajustar sua mira para o lançamento de kunais, depois passaram para alguns jutsus simples como kage-bushin e o de transformação. Por fim, a ensinou os fundamentos do katon, elemento de maior afinidade dos Uchihas e que era uma das coisas que Sasuke poderia e deveria estar ensinando-lhe.

Estavam concentrados em suas ações que nem notaram Sakura se aproximando. A de olhos esmeraldinos estava fascinada com a evolução da sua filha. Lembrava muito o pai dela, tinha quase um talento nato, podia ser considerada um prodígio.

— Sarada! Não sabia que aprendeu o jutsu bola de fogo. Estou tão orgulhosa — Sakura puxou a filha para um abraço apertado, deixando a pequena envergonhada.

— Mamãe! — Reclamou a jovem.

Kakashi sentiu-se, pela primeira vez, um intruso ali e estava prestes a se retirar, não queria se envolver mais do que já estava.

— Estou indo embora, tenho algumas coisas para resolver — falou a primeira coisa que veio a mente se virou para sair, mas foi impedido pela Haruno que segurou seu braço.

— Podemos conversar — pediu a mulher.

— Mamãe… deixe o Kakashi-sensei ir. As pessoas já estão comentando — declarou Sarada para surpresa dos mais velhos.

— Sarada, querida. Sei disso, mas precisamos conversar. Então, por favor, entre e vá tomar um banho que logo prepararei seu jantar.

Mesmo não gostando daquilo, pois não queria causar mais confusão ao Hokage, a pequena se retirou, não sem antes se despedir de Kakashi e pedir para treinar novamente outro dia.

Assim que Sarada entrou em casa, um silêncio constrangedor se instalou entre os dois. Enquanto o Hatake só pensava no marido e no que ele poderia ouvir quando retornasse, Sakura analisava seus sentimentos em relação ao antigo sensei. 

— Kakashi, eu… — a Haruno começou, mas não sabia como continuar, como expressar o que sentia naquele momento.

Respirou profundamente, lembrando que não era mais uma garotinha, que havia mudado muito desde aquela época. Não precisava ter medo da reação do homem a sua frente, sabia que ele seria incapaz de lhe fazer algum mal. Tinha plena consciência de que ele era casado com seu outro sensei, mas não podia mandar em seu coração e precisava colocar para fora seus sentimentos ou seria sufocada por eles.

— Para começar, quero dizer que sinto muito pelas coisas terem terminado mal entre você e o Iruka, nunca quis causar discórdia, muito menos a separação de vocês. Sei que tenho minha parcela de culpa e não ouse negar e… 

— Nós não nos separamos, Iruka apenas precisou de um tempo para colocar sua cabeça no lugar e ele tem toda razão de fazer isso — o Hatake interrompeu a ex-aluna. — E nós dois temos culpa, eu ainda mais. Errei com ele e acredito que com você também.

A med-nin não entendeu o que o Hokage quis dizer, como ele poderia ter errado com ela.

— Sakura, acredito que não tenha sido claro sobre meus sentimentos e nosso envolvimento.

— Eu também não fui — Sakura o impediu de continuar, pois se ele falasse, não poderia dizer o que pretendia. — Sei que ama o Iruka-sensei, mas… com o passar do tempo, da convivência, acabei criando sentimentos que vão além de uma amizade e carinho por você. Não te vejo apenas como meu sensei, como Hokage e sim como o homem excepcional que é, por tudo o que fez por mim e pela Sarada. Kakashi eu…

— Por favor, Sakura. Não termine essa frase — implorou o Hatake, pois sabia das implicações daquela confissão.

— Não posso mais guardar isso comigo. Eu realmente gosto de você, sei que é errado, mas não posso evitar. Nesse pouco tempo que passamos juntos, com você me ajudando com Sarada eu pude experimentar o que é ter uma família, um pai para minha filha. Sei que tenho meus pais, mas é diferente com você. Sarada te vê como o pai que ela não teve e eu o marido que sempre esperei que Sasuke fosse ser — a kunoichi colocou para fora as palavras que sufocavam, sentindo um alívio por finalmente dizê-las.

— Me escute agora, com atenção. Não quero parecer insensível ou cruel com o que direi, mas é preciso. Você não me ama, ama os momentos que tivemos como uma família, projetou em mim o que esperava de Sasuke. Acredito que olhava para mim e imaginava ele no meu lugar. Quando confundimos os sentimentos, perdemos o controle da situação e no final alguém sempre sai machucado. Ou por amar demais, por nunca ter sido amado ou por criar uma ilusão, acreditando que o que sente é amor. Em todos os casos, o melhor a se fazer é deixar de lado esse sentimento. Sei que pode ser difícil e doloroso, mas só quando superar e acalmar a confusão dos sentimentos é que poderá seguir com sua vida sem mágoas — a cada palavra que saia de sua boca, confirmava o que todos diziam, deveria ter deixado as coisas as claras antes.

— Você não entende Kakashi, você não sabe o que é um amar e não ser amada de volta! Amar alguém e não receber nada em troca! Eu vivo isso com Sasuke desde que eramos gennins. Quando ficamos finalmente juntos eu acredite que tudo mudaria, que ele ficaria ao meu lado e seriamos felizes. Então veio a Sarada e ela nem lembra como é o pai porque ele não aparece por causa da sua missão. Entendo ser para proteger a Vila, mas eu e Sarada ficamos onde nessa equação? Eu nem sei se o que tivemos foi real, se realmente existiu amor em algum momento. A única prova que tenho que o amor foi real são as lembranças e a minha filha — desabafou a mulher aos prantos, sentindo-se ainda mais quebrada.

Apesar de tudo,  Kakashi sentia um grande carinho pela Haruno, a considerava como uma irmãzinha e queria o bem dela e faria de tudo para vê-lá bem, assim como qualquer um dos seus antigos alunos. 

— Vou tentar entrar em contato com Sasuke e suspender a sua missão por tempo, pedir para voltar e então vocês podem conversar e ver o que farão daqui para frente. Pelo bem de vocês, da Sarada e principalmente o seu — sugeriu o Rokudaime.

— Como se ele fosse ouvir — sussurrou Sakura, mas não passou despercebido pelo prateado.

— Ele vai, ainda sou o Hokage e ele responde a mim. Se eu ordenar que ele encerre a missão, ele precisará fazer — esclareceu.

— Mesmo se ele voltar, não sei como as coisas ficarão. Não tenho certeza de sentir algo por ele de ainda ter aquele amor, pois ele não se parece em nada com o que estou sentindo por você — afirmou encarando o mais velho.

— Sakura, por favor. Eu amo meu marido, sou feliz com ele. Apesar de ter errado e muito com ele nesses últimos tempos, sei que terei que correr atrás para recuperar o que tínhamos, mas farei o possível para voltarmos a ser o que eramos. Não existe a menor possibilidade de deixá-lo — ditou Kakashi, esperando que Sakura entendesse.

— Não precisa se preocupar, nada farei para atrapalhar, não mais do que já fiz. Quero que saiba que nada fiz de caso pensado. Apenas deixei as coisas acontecerem, estavam boas da forma que estavam e ignorei todo o resto.

— Nós dois erramos nesse aspecto e deixamos as coisas se complicarem para ambos, mas não adianta ficar remoendo o passado, precisamos nos concentrar no presente para garantir um futuro melhor para todos. Agora eu preciso ir e ainda voltarei para ajudar Sarada, mas apenas isso. Tenha uma boa noite — o Hatake se despediu da rosada e seguiu caminho para sua casa.

Sakura ainda ficou um tempo do lado de fora da casa, observando a escuridão da noite lentamente ocupar seu lugar. Sabia que o antigo sensei estava certo em alguns pontos e que talvez ela realmente estivesse idealizando um amor que gostaria de ter com Sasuke.

Já Kakashi pensava em como encontraria Sasuke, pois da última vez que teve notícias do Uchiha ele estava em algum lugar de Kirigakure atrás dos rastros do clã da Kaguya. Os Ōtsutsuki poderiam ainda ser uma ameaça, mas no momento ele precisava do homem em Konoha, com sua família. Para o bem de Sakura e Sarada e para ele próprio e Iruka.

 

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