
Chapter 2
Foi uma missão de rank D velha e que ela encontrou por acaso no balcão de missões a um mês. Ninguém parecia interessado em pegar ela, mesmo oferecendo o suficiente por três rank D.
Era uma rosa envolta de espinhos, que ninguém avisou.
Só depois, Sakura descobriu o motivo de ninguém pegar essa missão ou porque ela estar sempre presente, era simplesmente, porque a missão era cuidar de uma idosa em um Distrito que ela nem sabia que existia, mas que soube depois que era para shinobis aposentados.
Sakura respirou fundo e preparou sua mente e corpo para o desafio à sua frente.
Ela desviou da kunai em direção a sua cabeça assim que abriu a porta, desfazendo o leve genjutsu que seguiu, junto com outras armas afiadas que foram jogadas em sua direção. Uma quase a pegou, fazendo um leve arranhão em seu pescoço.
Ela precisava melhorar seus reflexos, caso contrário, vai morrer na próxima vez, onde as armadilhas de boas vindas sempre intensificam a cada semana.
Era a diversão mórbida da dona dessa casa.
A shinobi aposentada, uma mulher idosa que tem dupla personalidade e que é considerada maluca por Sakura.
- Boa tarde, Takuma-san! Como a senhora vai? Ainda com as dores no pé?
Sakura fez as perguntas de rotina, com um sorriso no rosto e voz alegre, recebendo um olhar frio e analítico da velha senhora sentada em uma cadeira na sala, enquanto fazia tricô com objetos muito afiados. Sakura sabia, porque a velha já os usou contra ela uma vez.
A garota de cabelos rosados ainda lembra dos cortes em seu corpo, aquela velha a pegou de surpresa e garantiu deixar marcas por sua desatenção.
Vamos dizer, que Sakura nunca mais quis ver um trico tão cedo outra vez em sua curta vida e garantiu de treinar seus reflexos depois desse episódio e tantos outros.
O dinheiro era bom demais para desistir da missão e a velha maluca parecia saber disso, porque gostava de aumentar a quantia toda semana.
Uma tentação muito perigosa para uma garota pobre e faminta.
Velha sorrateira.
Logo depois de sua introdução, a expressão da idosa mudou completamente e ela recebeu Sakura com um sorriso gentil no rosto e um olhar maternal cheio de calor.
A imagem perfeita de uma vovó dócil e inofensiva.
Sakura aprendeu a lição de nunca julgar um livro pela capa, por mais velho que ele seja.
- Olá, minha querida! Pensei que não veria você por uns dias, mas o pequeno Kuro-chan disse que você viria me ver.
- Nunca deixaria de vir cuidar da senhora, Takuma-san! - Sakura respondeu, não comentando sobre o fato que a velha sempre tenta a matar ou o tal de kuro-chan, que ela sabe que é um ser imaginário na mente da velha ou vozes em sua cabeça.
As duas riram um pouco e Sakura foi fazer seus afazeres de sempre.
Sabendo que mesmo em outro cômodo da casa, existia olhos em sua pessoa.
Conseguir dinheiro para sobreviver era muito difícil e um desafio todos os dias.
Já tendo passado horas limpando a casa com um clone das sombras, que aprendeu com Naruto escondido de Kakashi-sensei, o qual era fraco o bastante para durar muito pouco, por conta de suas baixas reservas de chakra. Sakura foi fazer sua última tarefa, que era organizar todas as linhas de crochê em uma caixa. O que não era tão simples, afinal, eram mais de 500 linhas e todas pareciam que travaram uma guerra.
Sentada no chão da sala, ouvindo o tricô da senhora Takuma-san, assim como mantendo os sentidos em alerta para caso a velha tente jogar qualquer arma nela, Sakura tentou apagar da lembrança, os momentos de mais cedo, contudo, foi interrompida pela voz da gentil senhora que sempre parecia trocar de personalidade.
O tom da voz era dócil demais. Sakura ficou em alerta.
Às vezes, a garota de cabelos rosados não sabia quando o momento acontecia, mas a velha gostava de fingir às vezes e esses momentos, eram os mais perigosos.
Lidar com shinobis aposentados era quase uma missão suicida.
A garota de olhos esmeraldas, às vezes pensa que está se tornando masoquista.
- Sakura-chan.
- Sim, Takuma-san - Sakura virou seu corpo para ela, não deixando suas costas para qualquer ataque, onde foi recebida por um sorriso harmonioso do rosto e olhos azuis penetrantes, que pareciam curiosos ao mesmo tempo que afiados como uma kunai que acabou de ser usada para matar alguém, o que a deixou bastante desconfortável e cautelosa. Ela escondeu bem seu desconforto, mas pelo sorriso divertido da senhora, não parece cumprir bem sua missão.
- Você sabia que antigamente, as rosas eram vistas só por sua beleza, para depois serem consideradas mais do que algo bonito? - Sakura acenou com a cabeça, ela leu muito dos livros de história na infância - Elas eram como um objeto que se não fossem bonitas, eram jogadas fora como algo inútil.
Uma bola grossa surgiu em sua garganta, envolta de espinhos que arranharam até tirar sangue.
- Você sabe porque elas eram consideradas inúteis inicialmente?
Um silêncio tomou conta da sala, aqueles olhos azuis como gelo a fitavam com uma intensidade opressiva.
- Porque não tinham utilidade para ninguém.
- Errado, minha pequena.
- O que? Então, por que? - Sakura não entendeu ao mesmo tempo que queria ir embora.
- Porque, no começo, no momento em que elas não agradavam a pessoa destinada ou ficavam murchas, eram ditas como algo inútil. Mas, veja bem, isso foi no início, até que por ignorância, as pessoas não perceberam que algumas dessas flores, ao ficarem murchas, soltavam venenos mortais que matavam ou causavam grande dor. Outras flores, que ao simples toque, induziram a morte aqueles que a viram, somente, como uma flor bonita. Foi só a partir disso, depois que sua ignorância se tornou mortal, que a flores ganharam um novo significado, mas verdadeiramente, descobriu que por pensarem que só existia beleza nelas, deixaram de lado o quão perigosas ela eram por baixo de suas pétalas coloridas e se iludiram com o que elas deixavam transparecer.
Sakura olhou para as mãos cheias de cortes pequenos e sujeira, unhas quebradas.
- Porém, às vezes, as flores morrem quando elas permitem serem manuseadas por mãos alheias e incapazes, que não sabem seu verdadeiro valor. Contudo, uma flor pode crescer sozinha para sobreviver por conta própria. Ela só precisa saber onde viverá e como vai sobreviver em um local, já que a ignorância dos que a rodeiam, pode ser sua maior arma de defesa e ataque.
Sakura olhou surpresa para a velha que a mirava agora com olhos azuis de um predador. Sakura engoliu em seco e levantou de seu lugar, ela já terminou seu trabalho e parecia que a qualquer momento, seria comida pelo animal maluco à sua frente.
- É uma história muito interessante, Takuma-san - Olhos azuis estavam cheios de escuridão e loucura dentro deles, o sorriso começou a ter bordas afiadas, Sakura sabia que esse era um bom momento para ela ir embora e salvar sua própria vida - Já terminei meus afazeres, vejo a senhora na semana que vem. Amei passar um tempo com você, Takuma-san.
Sua expressão era de felicidade, mas Sakura mordeu os lábios com força para manter o sorriso.
A sensação de mil olhos a mirando com sede sangue aumentou drasticamente nos últimos segundos.
- Antes de ir, querida! Lembre-se, que para pegar um caçador experiente, você tem que ser uma presa atrativa o suficiente e jogar as cartas certas, afinal, às vezes em um jogo, a presa vira o caçador. Ou será que a presa sempre foi um caçador escondido em pele de ovelha?
A velha riu, uma risada que deu calafrios em Sakura, principalmente, quando podia ver a loucura rodando naquelas piscinas de azul em intensidade.
Sua despedida foi breve e Sakura saiu calmamente antes de correr daquele Distrito bizarro, sentindo milhares de olhos a observando. Ainda bem que essa missão era uma vez na semana.
Com o coração ainda batendo no peito, Sakura correu por um caminho conhecido, mas que faz muito tempo que deixou de ir.
Ela entrou silenciosamente, fez a cara de uma Genin civil mais crível de todas, uma garota boba sem talentos e que só estava de passagem. Parece que deu certo pelo leve revirar de olhos do Genin de 40 anos no balcão. Fora ela, parecia que não havia mais ninguém na biblioteca.
Sakura andou pelas fileiras mais afastadas que eram originalmente de livros para Genins, mas que depois do ataque, houve muita bagunça e algumas seções ficaram com livros e pergaminhos misturados.
Não parecia que iriam arrumar tão cedo e Sakura descobriu esse fator faz poucas semanas, umas das crianças do prédio comentou com ela.
Indo para a sensação de Genins, Sakura caçou o canto mais escuro, onde esses pergaminhos e livros extras estavam.
Achando o que procurava, sentou no final do corredor e olhou a hora, ela ainda tinha três horas antes da biblioteca fechar.
Sakura tinha entendido muito bem o que Takuma-san queria dizer.
O título do livro em suas mãos mostrava isso.
Iron ninjutsu para iniciantes.
Se ela quisesse que a Hokage desse uma chance a ela, Sakura teria que mostrar que era melhor do que qualquer um, teria que impressionar a mulher loira, ao ponto de ela a querer no final.
Como não poderia levar os livros e os pergaminhos ao seu redor, que ela também inclui material sobre controle de chakra e genjutsu, Sakura teve que se esforçar para usar sua memória eidética ao máximo, para lembrar tudo que tinha neles e fazer anotações em casa.
Depois de um tempo, já no seu terceiro livro sobre corpo humano, Sakura olhou para sua mão, mais especificamente, para o corte em seu dedo.
Com concentração e foco em seu chakra, uma luz verde leve surgiu em sua mão, curando o corte até só restar um pequeno rasgão que logo sumiu.
Ainda não era perfeito, mas seu controle estava melhorando sobre isso.
Sua contemplação foi interrompida pela a presença de uma sombra no outro final do corredor, seus olhos se arregalaram assustados, pensando que foi pega com material da seção Chunin e Jounin, mas logo administra suas expressões para parecer o mais casual possível.
Qualquer pessoa vai ignorar, caso não demonstre que está escondendo algo.
Levantou os olhos esmeraldas devagar e descobriu quem estava no final do corredor, sentado no chão confortavelmente com um perna esticada e a outra dobrada, apoiando um dos braços.
Era um Anbu.
Tinha um maldito Anbu olhando para ela.
Sakura engoliu em seco e ficou encarando.
Ele parecia ser um homem grande e musculoso, tinha uma capa cobrindo sua cabeça, não deixando ver um único fio de cabelo. Sua máscara era a de uma raposa e usava um protetor negro como carvão.
Ele se levantou depois de um tempo e seguiu em sua direção, Sakura engoliu em seco.
Parou na sua frente e Sakura percebeu que ele era enorme, mais alto que Kakashi-sensei.
Sua mão tinha um livro que estendeu em sua direção, sem muita coragem e com as mão trêmulas, Sakura pegou o livro e olhou o título.
Pontos principais do corpo humano.
Quando Sakura olhou para cima, ele tinha sumido.
Ela abriu o livro e viu rapidamente que ele falava mais detalhadamente sobre as partes do corpo, assim como apresentava em imagens a função de cada um.
Tinha até informando, partes especificadas do corpo humano, caso fosse atacada de uma determinada forma, a pessoa morreria ou teria tal efeito nela.
Sakura engoliu em seco e se levantou para sair, ela agarrou os livros na mão com força. Não achava que fazia parte da biblioteca. E se o Anbu vier atrás dele depois? Parece que ele emprestou a Sakura, então era lógico pensar que vai voltar para pegar. Sakura levou junto com ela para fora da biblioteca por segurança, iria ler ele quando chegasse em casa.
O bibliotecário nem parecia estar prestando atenção nela, fixado em algum livro nas mãos.
Seguindo seu caminho em direção a um parque abandonado perto de seu prédio decadente, que passava pela Torre da Hokage. Sakura não resistiu e olhou de relance para Torre, em sua majestosidade, pensando no número 269.
269 vezes.
Seus punhos fecharam com força, marcando suas mãos.
Balançou a cabeça e seguiu seu destino, precisava treinar e testar sua teoria no iron ninjutsu. Porém, a pequena criança não percebeu um par de olhos cor de mel, quase dourados, a olhando na janela da Torre em contemplação.
Se tivesse, saberia que o caçador já estava de olho em sua presa.
Como era um parque abandonado perto do prédio já conhecido por ser amaldiçoado, Sakura não se preocupou com alguma companhia.
Ninguém o usava ou entrava nele.
Sentada no chão, ela verificou seus níveis de chakra, como Sakura tinha origem civil, ela já tinha o desprivilegio de não nascer com enormes reservas ou até mesmo reservas médias de chakra. Ou seja, ela tinha que treinar seu controle já natural, para que ele vá além do perfeito, onde não gaste nem se quer uma grama a mais do que o necessário em qualquer atividade relacionada ao uso de chakra.
O que não era uma tarefa fácil, mas como ela já andava fazendo isso desde criança, consegue manter o ritmo com facilidade.
Suas reservas estavam bem, o uso de apenas um clone poderia drenar muito, mas Sakura conseguiu minimizar a quantidade de chakra, sendo possível o uso de apenas um terço do que realmente usava nas primeiras vezes.
Uma conquista para um Genin civil, que não tinha importância suficiente ou dinheiro para ser atendido no hospital com exaustão de chakra.
Com os preparativos feitos, Sakura respirou e acalmou sua mente. Puxou uma kunai e cortou sua mão em uma linha reta e forte, a ardência a fez querer chorar, mas ela segurou as lágrimas. Já começou a ficar acostumada com essas dores.
Um sacrifício para seu objetivo.
Com a mão ainda sangrando, ela concentrou em fazer seu chakra ficar verde e nas instruções que o livro dizia na biblioteca.
Ela imaginou as células se juntando e um novo tecido sendo formado com a ajuda do chakra, que ajudava e acelerava o processo.
Seus olhos estavam fechados em sua concentração.
Ao abrir, percebeu que só restava um pequeno risquinho fino no lugar do corte médio que ela fez na própria mão.
Não a agradou.
Com a mão boa, pegou seu caderno velho, o qual sempre levava consigo e escreveu seu mais novo desenvolvimento, junto com todas as outras pesquisas e anotações sobre o que pode deduzir do iron ninjutsu.
Estava tão concentrada, que não notou uma sombra a poucos metros de distância.
- Você precisa colocar mais chakra para que o corte se cure completamente, mas sem exagerar para que não haja uma sobrecarga e danifique os caminhos de chakra em sua mão, garota.
A voz fria e cheia de comando a assustou o suficiente para derrubar o caderno no chão. Seus olhos esmeraldas caçaram a pessoa que ela já estava acostumada a ouvir sua voz nos últimos meses, reclamando de sua existência em sua vida.
Encostada em uma árvore não muito longe, Tsunade Senju, a Quinta Hokage de Konoha, se encontrava de braços cruzados, a olhando com olhos estreitos em contemplação.
Sua boca abriu para repetir as palavras que já virou rotina entre elas nos últimos três meses, mas a voz de Takuma-san em sua mente a fez pensar melhor, assim como o rosto de três garotas sorridentes.
Isso fez que uma sobrancelha delicada, arquear em questionamento, mas não impediu que a Hokage continuasse impedida de seus desejos.
- O que, já desistiu de mim, pink?
Sakura se levantou e parou diante da mulher que recusou seus pedidos de fazer ela sua aprendiz, em todas as suas 269 vezes que Sakura buscou sem pausa. Sakura sabia em seu interior, que ela só tinha mais uma chance e que não haveria nem possibilidade depois.
O número 270 seria seu último.
Ao invés de pedir para a aceitar como aprendiz, Sakura seguiu as orientações da velha maluca, Takuma-san. Nesses três meses que perseguiu a nova Hokage, Sakura praticamente começou a conhecer o que mais irritava e fascinava a mulher loira.
Com isso em mente, assim como a lembrança de um prédio prestes a cair e sozinha em um apartamento sem ninguém, com crianças pequenas morrendo de fome. Assim, como sabia, que possivelmente morreria em alguma missão, caso saísse da Vila, seu objetivo mudou. Ou seja, ela não tinha nada a perder em seu novo plano.
- Faça uma aposta comigo.
- O que? - Tsunade esperava outro pedido, o qual já estava acostumada, mas essa proposta a pegou de surpresa. Ela escondeu sua diversão muito bem da garota a sua frente e para satisfazer sua curiosidade e qualquer plano que a garota planejou, aceitou. Nunca alguém veio a ela para pedir uma aposta, isso estava ficando melhor do que assinar milhares de documentos na Torre.
- Faça uma aposta comigo - Sakura repetiu, pelo silêncio da Hokage, ela sabia que tinha aceito, mas para não ser pega desprevenida, esperou uma resposta verbal.
Tsunade cerrou os olhos para a garota, ela era precavida e esperta.
- Muito bem, me surpreenda, Pink.
Com a aceitação da Hokage, Sakura tentou controlar sua ansiedade para não atrapalhar o que iria propor.
- Faça um teste.
- Garota, eu já não diss-
- Eu não estou pedindo aprendizado, estamos fazendo uma aposta. Faça um teste! Um único teste, se eu passar nele, ganho um desejo.
- Hum. E se você… perder? - Tava ficando atrativo esse jogo improvisado. Ela viu que a garota engoliu em seco, medo em seus olhos esmeraldas, mas essas mesmas esmeraldas brilhavam em determinação e fogo.
Um fogo que atrai muito a Quinta Hokage.
- Eu desisto de ser uma shinobi e não apareço outra vez na sua vida..
Um silêncio opressivo preencheu o espaço entre elas. Tsunade sabia que essa era uma grande perda para a garota, ela estava jogando fora o que mais a fazia ser ela mesma, seu sonho. Ao mesmo tempo que arriscava uma chance que poderia muito bem, destruir seu sonho ou alcançar ele. Com um sorriso predatório nos lábios, Tsunade decidiu qual seria o teste.
- Muito bem - Com esmeraldas brilhando em felicidade ao mesmo tempo em cautela, Tsunade pensou em algo mais sombrio - O teste é muito simples.
Sakura esperou uma resposta, mas o que recebeu foi a Hokage chamando alguém e depois de um tempo, apareceu uma pequena lesma em seu ombro que deslizou até a palma da mulher loira, que pediu para Sakura estender uma de suas mãos.
Sem qualquer aviso, a lesma soltou uma substância em sua mão, Sakura só percebeu que era ácido puro, quando sentiu uma dor lancinante que a fez ficar de joelhos e soltar um grito.
Ela não estava preparada para isso.
A dor era tão grande, que queimava por fora e por dentro, seus ouvidos ficaram mudos por alguns segundos que pareciam horas, depois disso, ouviu a voz distante da Hokage, dizendo para se curar ou perder a aposta.
Dor. Tanta dor …
Doi… Doi… Doi… Doi…
Para, por favor… Para, por favor…
Seu corpo treme com a quantidade de dor que está sentindo, ela tenta segurar as lágrimas que caiam em sinal de tamanha angústia e sofrimento, que a garota de cabelos rosados estava sentindo. Com as lágrimas contidas parcialmente, Sakura encarou sua mão, contudo, não estava preparada para ver seu próprio membro tendo a pele derretida e continuando a ser destruída pelo ácido.
Seu corpo paralisou outra vez, mas foi de pavor pela visão.
Com a outra mão tremendo, Sakura pegou sua garrafa de água e jogou na mão ferida, já esperando a dor se multiplicar, o que não estava errada e a fez soltar mais mais gritos.
Dor. Tanta dor …
Doi… Doi… Doi… Doi…
Arrancou um pedaço de sua roupa velha e a colocou na boca, não queria ouvir os seus próprios gritos.
Doi… Doi… Doi… Doi…
Dor. Tanta dor …
Com o corpo ainda tremendo, tentou afastar a dor que sentia de sua mente e se concentrar em seu chakra.
Mas era tão… difícil.
Dói demais.
Ela não queria, mas a mulher loira fez o favor de ajudar em sua determinação. Ouviu a voz maliciosa e fria da Quinta Hokage perto de seu ouvido.
Sakura estava com a cabeça baixa e cabelos cobrindo os olhos, escondendo a raiva que surgiu após ouvir as palavras da Hokage.
- Como você fez uma aposta bem bonita e adorável, seria lamentável se eu não transformasse ela em todo o seu esplendor. Por isso, também pensei em ajudar no teste, com um toque mais… pessoal, gostou? Se não conseguir curar sua mão, vai ter que amputar ou ficar com um membro inutilizado, ou seja, sua careira shinobi acabaria hoje mesmo, Pink.
Com uma nova determinação encontrada, Sakura concentrou sua mente, unicamente, em focar no seu chakra. Qualquer pensamento de sofrimento pelo ferimento ou visão da pele derretida, foi afastada com pura força de vontade. Sua mão já estava livre do ácido, fechou os olhos e imaginou aquele chakra verde curativo.
Pensou em todos os tecidos que formavam o corpo humano e tudo que constituía a estrutura de sua mão.
Seu chakra estava mais da metade, mas para o shinobi normal, era praticamente uma migalha. Então, Sakura teve que fazer um milagre com o que tinha.
Com a maior concentração que já fez na vida, Sakura imaginou o chakra se dividindo devagar, mas com segurança em direção a sua mão. Imaginou partículas deles, bem finas, se instalando e cobrindo toda a extensão do ferimento. Depois, colocou mais uma camada e iniciou o processo de estimular as células a começarem a regenerarem com calma e de uma forma que conservaria mais o pouco chakra que tinha.
Suas reservas estavam diminuindo a um nível perigoso, mas Sakura controlou com mãos de ferro e tentou usar o chakra que já depositou na mão, para ser mais eficiente e que não fugisse.
Ela não sabe quanto tempo passou com esse processo e nem percebeu como seu corpo parecia que iria desabar a qualquer momento, só sabia que a dor lancinante diminui e ficou uma dor fantasma que a fazia estremecer, mas que já era suportável.
Abriu os olhos e viu sua mão totalmente curada, sem uma única pista ou rastro que foi queimada por ácido.
Existia apenas um pouco de sangue.
Um suspiro de alívio tomou conta de seu ser e ela procurou a Hokage. A mulher loira estava na sua frente, apoiada em uma árvore, a olhando com algo que Sakura não conseguiu identificar dentro daquelas piscinas de mel.
Sua voz saiu arrastada, mas o objetivo estava claro.
- G-Ganhei.
Tsunade olhou para o estado físico da garota, ela parecia uma merda, suas reservas estavam a um nível muito baixo, porém, a garota conseguiu.
- Muito bem, agora você é minha mais nova aprendiz, hein.
Sakura não conseguiu se levantar depois disso tudo, mas não gostou da frase e das palavras que saíram dos lábios da Quinta Hokage, porque a fez lembrar de três rostos sorridentes e o número 269.
269 vezes.
Ela passou por toda essa tortura sozinha e apenas aceitar isso, tão simples assim, causava um gosto ruim no céu de sua boca.
- Não.
- Não? - Tsunade perguntou sem entender, mas no fundo sabia o que estava passando pela mente da garota, seus olhos diziam tudo.
- Não disse que esse era meu desejo.
- Oh, então a boneca quer outra coisa. O que? - Tsunade ficou interessada em saber.
Sakura pensou nas palavras de Takuma-san, lembrou das três garotas sorridentes que eram as novas aprendizes da Hokage. Mesmo que ela se tornasse a nova aprendiz, não teria a atenção ou todos os privilégios que as outras possuíam, elas tinham seus senseis influentes e Clãs as ajudando. Assim como companheiros de equipe, que as apoiavam.
Sakura seria apenas uma concorrente, a qual tem chance de ser descartada como uma ninguém, em favor das outras três garotas.
Ela precisava que a Hokage visse ela como a principal entre todas.
Sua presa mais suculenta.
Mas, Sakura também não queria mais ser fraca e indefesa, porém, ela seria tudo isso, caso entrasse no meu de herdeiros de Clãs Shinobis ou deixar ser pega pela influência dos outros senseis.
Nada era garantido.
A garota de cabelos rosados lembra dos olhares dos pais de Ino quando ela era criança e eles ficaram sabendo que Sakura, uma garota civil, tirou uma nota maior do que a filha deles em um jantar simples de família. Vamos dizer que depois daquilo, Ino nunca mais a convidou outra vez e, subitamente, alguns professores, principalmente a encarregada para aulas de Kunoichi, a ignorava e colocava notas erradas em respostas que Sakura sabia que estavam certas.
Sakura decidiu, ela não seria mais indefesa.
Ela seria uma flor que usaria a ignorância de todos ao seu favor.
O que ela precisa não é o título de aprendiz da Hokage ou a fama que vem com ele.
Não.
O que ela precisa é de outra coisa.
Sobrevivência.
E para alcançar esse objetivo, precisava do treinamento e conhecimento que essa mulher possui e pode dar a Sakura.
- Quero que me ensine tudo que sabe sem limites. - O resto, Sakura iria cuidar por conta própria.
A Quinta Hokage a olhou por um tempo indeterminável, para depois, soltar uma risada divertida em sua direção. Depois que se acalmou da diversão que encontrou com o desejo escolhido por Sakura, olhos cor de mel que brilhavam em ouro, a fitaram com uma fome insaciável em suas piscinas profundas, um sorriso predatório adornou o belo rosto da última Senju.
- Muito bem…
Sakura sorriu com sua vitória, mas a Hokage não terminou de falar e isso a fez ficar sem entender.
- … vou ensinar tudo o que sei, mas não aceito erros. No menor que seja, você se vira sozinha - Sakura acenou, ela já conseguiu mais do que imaginou - Porém, você será sim, minha quinta aprendiz e fecha a boca para eu continuar, pirralha. Contudo, ninguém vai saber desse detalhe e como eu não tenho tempo para ensinar tantos pirralhos, você vai ter que ser autodidata muitas vezes.
- Tudo bem - Sakura já esperava a última parte, mas não entendeu o porque ela queria que fosse sua aprendiz, mesmo que seja em anonimato.
Ela a recusou por 269 vezes.
- Muito bem, faça algo com essa aparência de merda e apareça em meu escritório amanhã de manhã cedo - Com isso dito, a Hokage foi embora, deixando uma garota de cabelos rosados, que baixou a cabeça para não mostrar as lágrimas que desciam em seu rosto.
Sakura conseguiu.
Ela conseguiu.
A pequena garota de olhos esmeraldas cambaleou de volta para seu apartamento mofado e solitário, mas a sensação de vitória não tirou o sorriso do rosto.