
Predestinada
“Mas eu a vejo no fundo da minha mente
O tempo todo
Como uma febre
Como se eu estivesse queimando vivo ao lado dela
Eu ultrapassei o limite?”
Wildflower - Billie Eilish
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Ele observava o amigo que estava à beira do lago cintilante parecendo abatido, como se não tivesse dormido há dias. Seu coração sempre tão firme, foi esmagado ao ver que o seu desleixo foi mais grave do que o rokudaime pareceu transparecer nos comunicados trocados naqueles dias. Esperou pacientemente que fosse atacado, surrado, ou ofendido pelos mais variáveis nomes, ao contrário do que imaginava, ele se segurou, mais uma vez...
Shikamaru detinha com ferocidade o prisioneiro, enquanto duas orbes esmeraldinas o esmiuçava atentamente. Ele tinha sorte em estar em uma missão ou teria que encarar a companheira de equipe. Todas as suas suspeitas pela fofoca que havia ouvido no festival se confirmaram ao ver a forma que o shinobi estava desesperado em encontrar Hinata, e no fundo ele torcia muito para que conseguissem, ainda sentia o gosto de bile amarga em sua boca por sua incompetência.
A câmara em que estavam era silenciosa, exceto pelo gotejar em alguma das inúmeras estalactites espalhadas pelo local. Deu alguns passos se aproximando de Naruto que estava inclinado demais sobre a superfície do grande espelho d'água. Na medida em que avançava um arrepio percorreu sua espinha assim que ondulações violentas formaram uma espiral pelo lago. Antes que seu braço direito o alcançasse viu o shinobi deslizar para dentro desaparecendo em seguida na negra imensidão. Às suas costas o grito de Sakura saiu abafado sobressaltando a todos. Um caroço inundou sua garganta impossibilitando que esboçasse qualquer reação. No segundo seguinte fez menção de se jogar no lago atrás do amigo, sendo impedido por Sakura que agarrou sua capa.
- Espera, precisamos descobrir primeiro o que tem nesse lago. - Ela informou séria estreitando os olhos verdes na direção do prisioneiro.
- O quê aconteceu? - Shikamaru parecia espantado questionando o Shin cópia.
- Chega! Eu vou ter as respostas que quero e vai ser agora! - O impaciente Uchiha avançou para o sequestrador, sendo interceptado por uma ave que voou tranquilamente entre eles pousando em seu ombro.
O animal soltou um grunhido baixo exigindo atenção, ele o segurou indo certeiramente na direção do documento contendo a insígnia intrincada da folha. Desenrolou pacientemente o pequeno papel, as palavras eram claras e objetivas. “ Hinata está em uma outra dimensão, ao que indica sob os domínios de um Otsutsuki. Estejam preparados.” Assim que terminou a leitura do pequeno bilhete, com as letras refinadas do hokage, estendeu para o companheiro mais próximo.
- Então, não podemos fazer nada... problemático. - O Nara resmungou rabugento. - Teremos que confiar no Naruto...
- Podemos, e eu irei fazer... - Um brilho transpassou pelos olhos de Sasuke que estava cada vez mais irritado com a falta de informações.
A médica ninja se adiantou segurando a mensagem entre os dedos, levou uma mão à cintura enquanto arregalava os olhos, ela fixou na direção do prisioneiro e depois assentiu para Sasuke que sorriu ladino com a concordância silenciosa.
- Diga, como podemos ajudar nossos amigos? - Ela avançou para o homem amarrado que se encolheu em um canto, antes que seu punho forte o acertasse uma mão entrelaçou em sua cintura, a fazendo petrificar com o contato e enrubescer a face.
- Deixe esse vagabundo comigo... - A voz grave sussurrou no ouvido feminino então o som gutural da garganta de Shikamaru os fizeram se separar rapidamente. Ele se sentiu estranho com aquele contato tão abrupto, desviando os olhos duros para o outro lado.
- Cara, então eu vou te deixar com o Uchiha. - O prisioneiro sibilou incompreensível com a fala do jounin.
- E-eu... olha... não precisa ser assim... - O homem ergueu as mãos e pareceu mais como se fosse um pobre coitado, diferente da forma que se apresentou quando tentou o atacar. Na penumbra Sasuke percebeu que o rosto dele era ainda mais bizarro, avançou até ele que se espremeu contra a parede parecendo tentar se fundir na mesma, tamanho era o medo que sentia, não pode de deixar de experienciar um triunfo com aquilo. - Eu conto... só ... só pede para ele se afastar.
O jovem de cabelos negros deu um passo atrás abrindo espaço entre eles, rindo ladino com o pavor causado. Os três se agacharam na frente do homem, os pares de orbes escrutinadores analisavam enquanto ele escorregava a cabeça contra o paredão de pedra, naquele instante prestou melhor atenção nas marcas no rosto dele, pareciam com queimaduras antigas.
- Esse lago é usado como uma passagem, o portal para a fortaleza...
- Naruto não submergiu, isso pode significar que... - O Nara juntou os dedos como se estivesse analisando o próximo movimento no jogo de shogi¹.
- Pode ser que algo ou alguém abriu o portal, a água é densa, se ele estivesse no lago as águas já teriam o cuspido de volta. - O homem uniu os braços contra as pernas, e Sasuke não duvidou do que ele disse.
- Conte-nos tudo que sabe... - Incentivou o homem que sem forças para resistir prosseguiu.
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A sensação foi semelhante a ser sugado para algo denso como uma geleia, ele tentou se debater por um momento, entretanto a água parecia pesada impedindo que nadasse de volta à superfície. Borbulhas dançavam por todos os lados e sua respiração era entrecortada, quase o sufocando. Suas pálpebras ficaram sobrecarregadas pelo esforço, quanto mais espremia os olhos menos conseguia ver pela escuridão profunda. Parecia estar indo em direção ao fundo de um oceano, mas sem a presença de qualquer ser vivo. O cansaço o venceu, e logo entregou-se ao sono que se apoderou de seu corpo.
O fraquejar de suas necessidades fisiológicas foram anuladas imediatamente, precisava manter o foco na missão. Com certo pesar se lembrou de Shikamaru ter insistido que descansasse antes de saírem de Konoha, e evidentemente, não acatou a sugestão. Examinou com mais afinco o líquido denso, apertando contra os dedos, sentiu como se fosse uma cola, forçou uma abertura, mas sem sucesso.
A luz quase o cegou por um instante, não sabia se era parte do lago, ou se era um sonho, apenas conseguia ver com nitidez uma resplandecência que instigava suas mãos a proteger sua íris. Com um pouco de dificuldade começou a se adaptar a luz pulsante, e uma sala começou a se materializar, um solo frio se formou então sentiu um toque em seu braço esquerdo, tossiu diversas vezes expelindo o excesso de água.
Aos poucos notou uma figura com orbes peroladas, cabelos negros-azulados como a noite, a boca vermelha que o lembrava de um morango maduro, pairando perante sua face, com um leve tremor nos lábios carnudos. Os braços delicados passaram por seu pescoço, e ele nem ao menos pensou em sua atitude. A apertou contra si, sentindo o perfume inconfundível.
- Hi...Hinata?! - Sua voz saiu esganiçada sem soltá-la, ele não conseguia, como poderia?
- Naruto-kun você está mesmo aqui? - Ah, aquele timbre doce chegou aos seus ouvidos, o fazendo sorrir.
Sentiu um arrebatamento no minuto em que o calor do corpo dela contrastou com o dele, que estava molhado, trêmulo pelo frio. Quando se uniram naquele abraço um formigamento começou a percorrer por todas as suas extremidades, embriagou-se no perfume, nos contornos, em seus fios negros... queria fazer morada neles.
Analisou ao redor, tomando ciência que estava em uma espécie de cenáculo, ou algo deste gênero. Estátuas estavam por todos os lados, e a sua direita um púlpito jazia parado e acima deste uma esfera luminosa pulsava. Desistiu de prosseguir com o seu exame pelo ambiente, aproveitando ainda mais o enlace terno.
Ajoelhada entrelaçada entre seus braços, ele podia sentir grossas lágrimas contra seu moletom, o peito dela subia e descia tremendo ofegante, ele se afastou levantando o rosto dela, nesse instante não pode se conter, não mais... Tocou a face de porcelana deslizando o polegar pela bochecha úmida, sua mão protética podia sentir a maciez, aproveitando o toque enquanto fazia o trabalho de limpar os vestígios dos sentimentos dela em vê-lo. Um fio de seu cabelo se soltou, e ele afagou entre os dedos o levando para trás da orelha, então pode ver um sorriso se formar naqueles lindos lábios, foi afrouxando o abraço, temia quebrá-la devido a sua ânsia em demonstrar a felicidade em encontrá-la.
Quando abriram espaço entre si um certo incômodo cresceu pelo calor ter sido tirado de seu corpo subitamente. Ficaram se olhando em silêncio, ele queria muito apertá-la contra seu peito, sentir os contornos menores que o dele se encaixarem em uma perfeita sinfonia. Seu peito explodia, como se fogos de artifício estivessem queimando por todos os lados de seus poros.
- Você está aqui... - Ela disse em meio a um soluço.
- Sim, estou... - Ele desceu as mãos dos ombros dela indo em direção aos pulsos observando com atenção a pele naquela região. - Você está bem?
- S-sim Naruto-kun... - Hinata pareceu envergonhada de repente tentando se afastar dele.
- Olha pra mim... - Ele pediu carinhosamente. - Preciso conferir se está tudo certo com você. Ambos se levantaram do chão, e ele segurou as mãos da jovem entre as suas vendo as marcas de contenções, depositou carinhos em ambos os pulsos dela e depois beijou os locais. - Eles machucaram você Hina... - Ela exprimiu uma reação diferente do que ele desejava, tentou se distanciar do toque corando violentamente as bochechas em tons vermelhos vívidos.
- E-eu estou bem... - Ela desviou os olhos e Naruto se sentiu como um tolo.
- Certo... - Coçou os cabelos constrangido com seu ato. - Não sei como vim parar aqui...
- Eu... eu o chamei Naruto-kun... - Hinata apertou as mãos ao dizer aquelas palavras, mas ele não entendeu o que ela quis dizer.
- Como assim? - Ela quase fechou os olhos sustentando os seus com muita firmeza.
- Tenho o convocado até aqui inconscientemente, então, fui capaz de abrir um portal, não tinha certeza do que estava fazendo, mas ... bem... não sei como isso funciona, eu apenas tentei algo ...
- Deu certo, estou aqui com você, e não vou a lugar nenhum... - Ele tocou no braço dela que se encolheu, não sabia se ela estava com vergonha, com medo ou apenas o repelindo.
- Não tenho muito tempo, preciso que me escute com atenção... - Ela falou firme entrecortando seu devaneio. - Fui trazida para cá a mando de Toneri Otsutsuki, ele acredita que posso despertar o tenseigan...
- Tenseigan? - Um vinco surgiu em sua testa quando ouviu aquela palavra.
- Isso, um tipo de doujutsu ocular, é meio complicado de explicar...
- Espera, esse nome... eu o li em um livro na biblioteca da folha... - Os olhos de Naruto se abriram em compreensão. - O que esse cara tem a ver com você?
- Aparentemente, temos uma ligação sanguínea... e ele...
O som de uma porta se abrindo chamou a atenção deles que caminharam pelo espaço indo em direção ao altar, automaticamente ele se colocou diante de Hinata que segurou a barra de seu casaco aparentando querer contê-lo. O que seria muito em vão. Ele iria protegê-la de qualquer forma, seja lá o que saísse por detrás daquela parede.
Diversos bonecos apareceram, com as mesmas características informadas por Sasuke durante o ataque que sofreu na vila do artesão, um paredão de marionetes se formou em poucos minutos e por entre eles surgiu um homem muito parecido com o prisioneiro que se denominava “Shin cópia”, mas este era bem mais velho, com falhas capilares grotescas e muito mais cicatrizes pelo rosto austero. Eles eram parecidos, mas não iguais. Os olhos azuis do shinobi estudaram rapidamente a expressão do algoz, ele parecia extremamente irritado e espantado ao vê-lo.
- Vejo que não é a primeira vez que se depara com minha figura herói da folha. - Apesar do elogio, as palavras continham veneno e Naruto estava ciente principalmente pela forma que ele as cuspiu.
- Fique onde está! - O loiro avisou assim que o homem fez menção em caminhar na direção deles. Hinata se colocou ao seu lado, porém mais uma vez ele a cobriu, ninguém iria colocar as mãos nela novamente, isso era indiscutível.
- Eu avisei aquele velho decrépito que você era um problema... - Shin informou penoso como se todos soubessem do que ele falava.
- Do que está falando? - Naruto não conseguia se conter mais, queria avançar sobre ele, entretanto precisava ficar ao lado de Hinata. - Hina, do que ele está falando?
- Do meu Pai. - Ela apenas cuspiu as palavras.
- Hiashi-sama? - O espanto fez com que se virasse para ela, então antes que conseguisse captar a confirmação que Hiashi estava envolvido naquela trama, os bonecos partiram para cima dele.
- NÃO O TOQUEM! - Hinata gritou com voz firme de comando, e surpreendentemente todos atenderam seu pedido.
- O-o quê? - Shin correu na direção das marionetes gesticulando e dando ordens, mas nenhum sequer se moveu. Naruto olhou perplexo para ela, e pela primeira vez após chegar naquele local percebeu que havia algo diferente.
As vestes prateadas de Hinata dava-lhe uma aparência pálida que reluzia pelo ambiente, seus olhos antes perolados, continham um tom lilás muito acentuado, e de forma discreta e quase imperceptível um formato de flor adornava a íris, ele quis questionar o que havia acontecido, mas sentiu dois chakras se aproximando ao passo que o homem cheio de cicatrizes pareceu um abobado dando voltas pelo espaço.
- Princesa! - Ele olhou para onde vinha a voz firme e viu um jovem de cabelos prateados sendo amparado por uma garota, que quando o viu correu para próximo de Hinata que gentilmente tocou em sua mão solicitando calma.
- S-senhora... o… – A garota o olhou com admiração e espanto para Naruto.
- Tamaki, não se preocupe, este é Naruto Uzumaki, herói da vila da folha, ele veio nos ajudar. - Ele ouviu as palavras de Hinata e quase estufou o peito orgulhoso de seus feitos sendo relatados na voz adocicada.
- Finalmente... - O jovem mantinha a cabeça em direção a Hyuuga, e foi nesse momento que Naruto percebeu que ele não continha globos oculares. - Princesa, finalmente dominou os portais, precisa completar o ritual.
- Que ritual? - Estava tonto, procurando respostas sem compreender ao certo o que estava acontecendo. Analisou ao redor, estavam em uma espécie de lugar sagrado, Hinata estava vestida como uma sacerdotisa, todos aqueles bonecos que a obedeciam, o despertar do tal tenseigan havia começado...
- Não posso ser o que quer Toneri. - O timbre forte de Hinata ecoou pelo espaço.
- Princesa, você precisa ser... ou... - A face antes suave do Otsutsuki se contorceu em desgosto.
- A escolha nunca poderia ser sua, por isso me arrastou até aqui... - Ela rebateu dando um passo adiante apontando para ele.
- Acho que sabe o que vai acontecer se não concluir da forma correta. - Ele apontou para os dois buracos onde deveria haver olhos. A ameaça fez com que Naruto explodisse mirando os punhos em direção a ele, mas foi interceptado por Shin que o golpeou de volta. Ficaram se encarando, ele na frente de Hinata e o sequestrador a frente de Toneri.
- Eu sei. - Hinata parecia tão segura, então baixou um pouco a voz explicando com calma. - Toneri, eu lamento por tudo que aconteceu com você, com sua família... mesmo que concordasse, jamais poderia recuperar tudo que perdeu. Eu sinto muito.
- Princesa... se me deixar explicar tenho certeza que ... - Toneri tentou dar alguns passos acabando por se desequilibrar e apenas não caiu porque segurou firme na parede. Naruto o olhou com muito cuidado, ele estava absolutamente fraco, os cabelos esbranquiçados pareciam opacos, e sua pele tinha uma aparência lamacenta e meio esverdeada.
- Não precisa, eu sei o que preciso fazer. - Ela olhou para Naruto com uma expressão de profunda tristeza, que angustiou o coração do shinobi.
- Senhora? - Tamaki perguntou aflita, mas a Hyuuga afagou o rosto dela, sorrindo gentil como fazia. Naruto conhecia aquela expressão, ele conhecia aquele sorriso...
- Eu disse que precisa me chamar de Hinata, tudo bem? - A jovem de cabelos castanhos a abraçou, ela sabia de algo que ele não estava inteirado. Um solavanco o despertou para o perigo.
Ela caminhou até uma escadaria que Naruto ainda não havia se dado conta que estava ali, no mesmo instante o paredão de marionetes entrou em formação em duas filas, uma de frente para a outra, enquanto ela subia cada degrau de forma calma, cada passo aparentando ser pesado demais. Uma reverência foi realizada, e ele pode sentir o agitar dos homens, Toneri sussurrou algo no ouvido de Shin que ficou atônito com a informação.
- Toneri, precisamos fazer alguma coisa! - O sequestrador disse alto e em bom som.
- Mas, o quê...
O herói da folha se virou a tempo de ver que a jovem estava próxima a esfera que correspondia a presença dela com explosões em seu interior, se assemelhava a um campo magnético. Foi no momento em que ela se virou para olhá-lo que teve certeza, aquele olhar que nunca o havia deixado.
“Porque, se for para te proteger, não tenho medo de morrer.”
Aquelas palavras brotaram em sua cabeça, petrificou no lugar, ela iria fazer algo insensato, como havia feito dois anos antes, vinagre inundou sua boca, um embrulho seguido de um ímpeto de levá-la para longe, tudo girou ao seu redor o fazendo se esquecer que ainda continuava sob ameaça. Seus olhos arregalaram quando ela tocou a esfera com uma mão e a luz se expandiu.
- Naruto-kun? - Ela o chamou com doçura, as pálpebras semi-caídas e os cílios perfeitos dançando com a força gravitacional da esfera.
- Sim? - Naruto deu alguns passos na direção dela, mas a mão livre e delicada solicitou que parasse.
- Eu sempre amei você. Acho que sempre vou amar.
Dizendo isso ela tocou no globo com a canhota que se afundou no peito dela, antes que seu corpo fosse lançado para longe uma marionete correu e a segurou. As partes do boneco se desmantelaram e Naruto se adiantou pegando em seus braços. Os longos fios estavam soltos agora, a pele fria dela dava a impressão de estar segurando uma boneca de porcelana, suas mãos estavam petrificadas, ela parecia...
- Hinata? HINATAAAA!
Seu grito era forte o suficiente para que todo o universo o ouvisse. Lágrimas brotaram de seus olhos sem se preocupar com a plateia que assistia a cena. Um caroço grande se formou em sua garganta, não conseguia entender o que estava acontecendo.
- Menina tola... - O loiro levantou o rosto para o local que a voz saia, Shin sorria satisfeito e a raiva invadiu o deixando cego.
- Eu. Vou. Acabar. Com. Vocês! - Com o incêndio se alastrando por seu interior, o ninja sentiu a energia de chakra começando a se acumular, aflorando sua força bruta. Ele fechou os olhos por um momento, controlando o calor que se espalhava por suas veias, sabendo que, se não mantivesse o foco, poderia perder o controle e se consumir.
Depositou o corpo de Hinata no piso delicadamente sendo revestido por uma armadura brilhante, as suas costas ouviu Toneri gritando para que Tamaki o ajudasse a se aproximar dela, não conseguiu se conter, rugiu como um animal ferido. Ninguém iria encostar nela, nem que pra isso tivesse que exterminar todos naquele lugar.
Colocou-se em pé enquanto acompanhava a garota de cabelos acastanhados correndo em sua direção, mesmo assustada ela sentou sobre os joelhos depositando a cabeça de Hinata em seu colo com muito carinho. E somente assim ele formou o selo de mãos.
- Kage Bunshin no Jutsu!
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Um silêncio sepulcral ressoava pelo escritório onde o altivo líder era solto do aperto dos agentes Anbu, seus braços, outrora fortes, sentiram a pressão dos dedos dos ninjas mesmo após desapareceram como fumaça assim que a ordem de Hatake foi informada. O bufar nos lábios do ninja copiador evidenciou que realmente a inteligência estava ansiosa para pôr as mãos nele assim como nos segredos do clã. Há anos que eram assediados a revelarem muito do que apenas ele tinha conhecimento.
Avançou apoiando a mão em sua bengala de apoio, o joelho machucado estalou quando sentou finalmente na cadeira fria e dura em frente a Kakashi, que sorria atrás de sua máscara, não era preciso que ativasse seu doujutsu, ele conseguia analisar as nuances de seus olhos. Apertou o leão entalhado no objeto com muita força, sentindo a palma coçar pela ponta pontiaguda que marcou profundamente a derme.
Observou com escrutínio a base da madeira que ornamentava a longa mesa do líder da folha, se perdendo nos entalhes, sobre ela havia pequenas pilhas sobre a análise que realizaram sobre o fragmento do pergaminho contendo a profecia roubada há anos atrás. Não teria como fugir daquela conversa, de qualquer forma o prazo de maturação que tinha conhecimento poderia ter passado, mesmo que revelasse tudo, não teria muito mais que pudesse ser realizado. Confiaria em sua filha.
- Então... - O ninja copiador juntou as mãos sob o queixo.
Sentiu um peso nas costas curvando a postura como se chumbo houvesse sido depositado sob seus ombros, tentou inútilmente recostar no apoio do assento, não teria mais como adiar ou evitar, seus planos sórdidos seriam todos revelados, não havia mais como remediar. A verdade é que não se importava com o julgamento do Sexto, o que temia mais que tudo era a decisão de sua primogênita. Cerrou os olhos causando um vinco profundo em sua fronte.
- Não sei por onde posso começar... - Pensou em voz alta, o que pareceu algo estranho partindo de si mesmo, uma vez que era alguém frio, que calculava cada passo, cada frase e principalmente cada consequência de suas próprias ações. Admitir o que estava prestes a relatar era terrível, todavia, mais condenável seria se fosse interrogado como um nukenin qualquer. Então que seja...
- Se me permite, sugiro que pelo começo. - O sarcasmo presente no timbre do homem o fez morder o interior da bochecha reprimindo a expressão de asco.
- Certo. - Ele o encarou descansando o item de apoio em ambas as pernas.
- Comece informando para onde Hinata Hyuuga foi levada.
- Para uma Fortaleza Lunar. - Kakashi o fitou com uma expressão tranquila, o que denotava que ele estava a par de algumas informações, ou ainda que suas elocubrações o fizeram cogitar aquela informação.
- Especifique, onde fica e que lugar é esse. - O hokage examinou um documento debruçando os olhos sobre o mesmo.
- Uma dimensão entre a terra e a lua, onde a família principal Otsutsuki se refugiou por um tempo... - O homem remexeu inquieto ao ouvir aquela revelação.
- O quanto Konoha está em perigo? - Orbes arregaladas o analisou, noticiando estar sentindo repulsa por suas ações, ou era apenas impressão de si mesmo...
- Estamos seguros. - Hiashi ergueu a cabeça encarando os rostos dos hokages ao longe, ouvindo o suspiro em alívio.
- Essa dimensão para a qual Hinata foi levada... O que sabe sobre...
- O que sei? Absolutamente tudo. - Ele apertou e soltou o cabo de sua bengala, uma nota de pesar pareceu pender entre os dois líderes.
- Ora, não me faça realmente perguntar... diga de uma vez que lugar é esse e qual o intuito de...
- Conhecida como Fortaleza Lunar, a mesma foi habitada por Hamura, o Deus da Lua, na tentativa de proteger os membros restantes do ramo principal, assolados pela guerra dentro do próprio clã Otsutsuki. - Um temor transpassou seu olhar ao dizer em voz alta, principalmente diante das diversas chamas alentadas a cada dia no próprio meio Hyuuga.
- O que há nesse lugar? - Kakashi parecia ansioso e irritado.
Rolou os orbes para o céu que àquela altura estava escuro, brilhando com muitas estrelas e uma lua redonda, cheia, quase como se fosse a maior que havia visto. Ignorou a pergunta, se ele queria saber exatamente suas motivações começaria realmente do início.
- Lembra-se de quando minha primogênita foi raptada há anos atrás?
- Claro, o incidente conhecido como “Caso Hyuuga²”. - Ele respondeu relaxando um pouco.
- Kumogakure, queria muito mais que uma simples vingança, ou ainda possuir os segredos do byakugan... Levei anos para entender isso. - Ele deixou os ombros caírem, sentia agora senil.
- Lamento, sei que isso custou a vida de seu irmão... - Kakashi apesar de desprezar os atos do homem, ainda assim sentiu por ele, e o líder reconheceu a verdade naquelas palavras.
Os dois sabiam que a diplomacia custou a vida de seu irmão gêmeo, assim como as regras em que ambos haviam sido moldados selou anos antes o destino do canino branco da folha, o pai do hokage. Hiashi assentiu para ele aceitando as palavras de conforto, prosseguindo em seguida.
- Ocorre que naquele dia muito mais foi levado. Pergaminhos antigos de nossos ancestrais, que eram mantidos em nosso templo. Na época não me importei com isso, jamais poderiam ser lidos, continham um selo que se quebraria apenas com a herança sanguínea correta. Não era algo que realmente me preocupava. - O homem mais velho encara o olhar do ninja que está em silêncio ouvindo atentamente. - Pelo menos era isso que acreditávamos.
- A quem se refere? Aos anciões do clã Hyuuga? - Kakashi se colocou de pé analisando com agilidade tais informações, era possível notar rugas em sua testa enquanto assimilava.
- Não, eu e Hizashi. Éramos um dos poucos que sabiam sobre os pergaminhos, mas, realmente não acreditávamos que a revelação que eles continham... - Ele suspira tentando recompor as lembranças que afligem seu coração. - Iria algum dia ser revelada. Isso mudou quando Hinata foi sequestrada, e os papéis levados, por um tempo achei que não era nada demais terem roubado os documentos...
- O que o fez mudar de ideia?
- Muitas coisas na verdade... Quando Hanabi demonstrou habilidades que considerava importantes para um líder, achei que toda aquela história de herança sanguínea fosse verdade, hipótese descartada rapidamente.
- Por quê? - O rokudaime quis saber caminhando para mais perto dele.
- Antes de Hizashi se sacrificar por nossa família, ele me disse que, escolhia a morte por vontade própria, que escolhia o próprio destino... essas foram as últimas palavras dele antes de partir para o fim certo. - Ele aperta o objeto com ambas as mãos realizando um rangido audível com o contato com a bengala. - Eu pensei muito nisso, então entendi uma coisa...
- A predestinada a qual os pergaminhos se referem seria alguém que escolheria o próprio caminho... é claro! - O hokage sorriu satisfeito por entender o mistério.
- Exatamente. Ela sempre se manteve fiel às próprias convicções, a cada obstáculo que eu achava que ela não seria capaz de ultrapassar, ela me surpreendia, e nos momentos em que sem pestanejar deu a própria vida para a proteção de todos, ficou ainda mais evidente. Em meu íntimo, sabia que era a Hinata, mesmo me apegando no talvez, era irrevogável... - Hiashi aperta os olhos e uma fração de um sorriso discreto transparece se desfazendo em seguida como fumaça. - Precisei fingir por um tempo, e quando fui procurado pelo verdadeiro herdeiro dos pergaminhos, não restava nenhuma dúvida... definitivamente, era ela.
- Um Otsutsuki... - O ninja de cabelos quase brancos murmurou para si mesmo.
- Sim, mas não é qualquer um deles, Toneri é o último membro da casa secundária, herdeiro dos responsáveis por afugentar e destruir a casa principal em uma guerra travada por um poder, que bem, somente a predestinada poderia despertar.
- E como ele te contatou? - O Hatake sentou-se na beirada da mesa com braços cruzados e uma expressão curiosa.
- Ele enviou um holograma há meses atrás, estava atrás dos pergaminhos, e precisava que um membro da casa principal do clã Hyuuga fosse procurá-los, foi quando montei uma comitiva e enviei Hinata. Quando ele enviou seu capanga para recolhê-los, achei que estava acabado, mas ele exigiu uma de minhas filhas para que pudesse usar seus olhos para despertar o tenseigan... Eu fingi que concordava em enviar a mais jovem, porém, ofereci a mais velha alegando que ela seria mais capaz.
- E ele concordou tão facilmente? - Com olhos felinos, o Hokage estreitou ambos buscando a falha em seu jogo.
- Aleguei que Hanabi era o futuro do meu clã, que seria a próxima líder, se fosse para perder uma das duas que fosse Hinata. - Vinagre. Foi este o gosto das palavras assim que as proferiu. - Não me olhe dessa forma, isso era o que eu acreditava anos atrás, mas agora eu sei, eu entendo... Hinata é, e sempre foi a herdeira do clã Hyuuga. Ela foi forjada pela folha, não, não... ela se forjou para isso... Sozinha, seguindo os próprios instintos e senso de justiça.
O ninja copiador o olhou de cima a baixo, o asco e nojo, foram se desvanecendo assim que sua declaração foi sendo consentida. O cenho antes profundo e severo desapareceu como cinzas, assimilando o que havia informado. O que ele alegou a Toneri e seu capanga foi apenas uma tentativa de esconder quem era de fato sua primogênita. Ele fez o que fez para que ela tivesse tempo em assimilar o poder dentro de si, pelo que Hizashi contara sobre o olho do destino, a predestinada sentiria o que fazer, então quis dar-lhe tempo.
- Acho que apesar de sua experiência, nada sabe sobre as pessoas... - Ele correu a mão nos cabelos espetados e bufou com desaprovação. - E se você não fizesse isso...
- Ele ameaçou acabar com o clã Hyuuga até que não sobrasse vestígios de nossa existência, além de ter ameaçado acabar com a vila da folha... não poderia arriscar, não sabia até onde os poderes dele se estendiam... O que sabia com certeza era que apenas Hinata poderia despertar o poder, mesmo que eu enviasse Hanabi, ou qualquer outro membro, não surtiria nenhum efeito. Era inevitável.
- E se ela despertar o que você ganha com isso? - Kakashi cuspiu acusador, era óbvio que ele teria muito a ganhar com uma filha com um poder tão grande como aquele.
- Essa não é a questão Senhor Sexto, a questão aqui é que apenas ela poderia completar o ritual... É o destino dela, e não há como evitar.
- Ainda assim ela corre perigo... você pode ter a enviado para a morte.
- Não, está enganado Hokage. Toneri jamais poderia obter tal poder, ele estava cada vez mais deteriorado nas vezes que me procurou, até que não pode mais, enviando seu representante... Acredito que tenha tentado realizar sozinho, porém, deu errado.
- Como Kumo sabia dos pergaminhos? - Hatake era astuto, a pergunta pairou um pouco entre eles, logo depois a resposta foi lançada crua, direta e simples.
- Existia mais uma pessoa que sabia desses pergaminhos.
- Quem? - Ele não queria dizer, não ousaria, em todos aqueles anos ele relutou muito em proferir qualquer palavra sobre o assunto.
- Minha falecida esposa. - Hiashi sentiu o ar faltar-lhe os pulmões, era a primeira vez em anos que falava sobre sua amada. - Naquele tempo Konoha não possuía muitos avanços no quesito medicinal, e queríamos ter outro filho... Então soubemos sobre uma curandeira que ajudava mulheres, bem enfim, a Senhora veio até o complexo com seu auxiliar, um menino que detinha conhecimento em ervas, e juntamente com nosso próprio curandeiro realizaram alguns tratamentos. Na época não foi importante, uma vez que dois anos depois tivemos Hanabi.
- É possível que sua esposa tenha comentado sobre o assunto?
- Pode ser que sim, ela temia a profecia, e nos meses que se submeteu ao tratamento as duas compartilhavam muitas histórias... - Uma recordação de sua amada dizendo que temia seus descendentes estarem realmente conectados com a lenda cruzou seus olhos.
- Quem eram essas pessoas? Você sabe? - A voz do hokage o trouxe a realidade o fazendo esquecer daquelas lembranças dolorosas.
- Oh, sim, a velha morreu pouco tempo depois de nos auxiliar, o jovem era um rapaz de uma vila qualquer que sofreu queimaduras após a casa onde morava pegar fogo. Lembro muito bem deles, principalmente do rapaz que possuía muitas marcas na face, sempre muito perdido...
- Marcas? - Kakashi abriu os olhos surpreso.
- Sim, queimaduras eu diria.
- O que aconteceu com esse rapaz?
- Não sei ao certo... - O hokage pareceu cansado bufando ao ouvir aquela informação.
- Seria possível que ele tenha compartilhado as histórias? - Hiashi coçou o queixo analisando aquela informação, era uma análise conhecida por si mesmo, obviamente havia pensado naquela hipótese, contudo, era muito capaz dos raptores de Hinata terem apenas pego os pergaminhos assim que os viram no antigo cenáculo que mantinha em sua sala. Muitas possibilidades para um fim certo, uma vez que se existia Otsutsuki vivo, eles saberiam do paradeiro de seus tesouros, eram os verdadeiros donos das relíquias afinal.
- Por que, não recuperaram os pergaminhos? - A face quase zombeteira que lançou não agradou o hokage.
- Recuperar Hinata quase causou uma guerra, não poderia chamar mais atenção para o clã Hyuuga ou Konoha, era preciso cautela e deixar a poeira baixar.
- Se era destino de Hinata, porque precisou montar uma emboscada para que ela fosse sequestrada?
- Não poderia correr o risco dela contar para o shinobi loiro... Kami sabe o quanto ele gosta de interferir na vida alheia. E também, eu queria controlar a situação de alguma forma, uma vez que colaborasse saberia quando ela seria levada...
- Oh, claro... - O hokage tamborilou os dedos pela têmpora. - Você fez movimentações para que eles se mantivessem afastados...
Hiashi assentiu positivamente, mas manteve o silêncio. Ele poderia negar, é claro, fingir que não havia feito nenhum joguinho inescrupuloso, mas que bem aquilo faria? Havia sido pego com a mão no pote de biscoito, então terminaria de degustar.
- Óbvio! As fofocas, a tentativa de drogá-lo, o seu pedido para que permitisse a saída de Hinata da vila... tudo fazia parte do seu plano. - Kakashi parecia atordoado com as peças sendo todas visíveis de uma única vez. - Como sempre, todo plano deixa vestígios...
- Como? - O entorpecimento da informação o fez ficar rígido.
- Veja, o piper methysticum, ou kava, que você usou para tentar embriagar Naruto foi a sua ponta solta... o mesmo elemento usado na caixinha deixada para trás quando Hinata foi levada. Essa erva é encontrada apenas em regiões desérticas, mais precisamente em Iwagakure. - Ele ficou atônito, não havia pensado naquela possibilidade. - Diga-me como conseguiu convencer alguém a batizar a bebida do herói da folha?
- Você se surpreenderia com o que alguns ryo³ são capazes de fazer... - Apesar de Tetsu tê-lo delatado, que lidaria depois, o hokage realmente estava se demonstrando perspicaz.
- Continue... por que era tão importante que Naruto ficasse longe de Hinata?
- Precisava que ela pudesse ter o período de maturação sem perturbações, uma vez que ele finaliza o despertar é imutável. Não poderia correr o risco, Hinata poderia ter contado para ele, e não sabemos como ele reagiria... - Mesmo sem nunca ter tocado no assunto, o líder Hyuuga era um pai que sabia muito bem dos sentimentos da filha para com o herói da folha, amor de sua infância, com certeza se ela soubesse contaria para ele, e sabendo do gênio impetuoso do rapaz, provavelmente interferiria em seus planos.
- Fortalecer o clã Hyuuga... - Kakashi voltou ao assento. - Com um poder como esse, poderiam facilmente controlar o país do fogo, além de se tornarem intocáveis... Contudo, Hiashi, existe uma falha em tudo isso...
Apertou os olhos, seu plano era infalível, ela retornaria após matar Toneri, Shin era apenas um inútil não seria difícil subjugá-lo, e assim o clã se fortaleceria. Não havia margens para erros.
- Hinata é muito mais parecida com o Naruto do que imagina, ela passou anos o observando o tendo como exemplo... - A bile subiu para a garganta do líder Hyuuga.- Ela pode escolher ainda assim se sacrificar e não permitir que ninguém obtenha esse poder. Algo tão grande não deve ser motivo de desejo, e isso já afetou a vida dela demais. Até o próprio pai...
- Kakashi, não tinha como ela escapar de seu próprio destino. - Ele interrompeu a frase do Hokage, era demais além da vergonha que carregava ainda ter que ouvir um sermão de um homem muito mais jovem que ele.
- É o que diz a si mesmo? Não finja que fez isso apenas para cumprir algo em papéis velhos, você queria o poder para si, para seu clã... Acaso não tem observado a sua filha nos anos que se passaram? Acha mesmo que ela seria controlada por você? - Raiva o inunda e as palavras prendem em sua boca, no fundo ele sabia que ela ainda escolheria por si só.. - Patético...
- A escolha sempre foi dela, eu sei disso... e mesmo assim, foi o que julguei melhor.
- Deveria ter vindo até mim, contado o que estava acontecendo, tenho tantas provas contra seu comportamento, que poderia prendê-lo sem qualquer consentimento prévio do conselho, e ainda assim não limparia a mácula que cometeu. - As palavras cuspidas o fez remexer na cadeira.
- Hokage, meu clã vem há anos enfrentando conflitos internos, o ramo secundário agora realiza reuniões, e me espionam para que possam encontrar qualquer prova da minha incapacidade, esta seria uma forma de acabar com os conflitos e reafirmar nossas tradições.
- Usando a própria filha... ato heroico. - O homem debocha em sua face, sua vontade é de se calar e sair da sala, entretanto precisava manter-se frio.
- Diga-me Sexto Hokage, quantos a vila da folha usou ao longo dos anos para proteger os próprios interesses? Quantas vidas foram perdidas ao bel prazer da falsa paz? - Pela primeira vez Hiashi pode ver a compreensão de seus atos passar pelos olhos do rokudaime. Mesmo sendo julgado ele ainda o compreendia. Era nítido.
- O que nos resta é confiar em Hinata então... a essa altura Naruto e equipe já podem ter encontrado o caminho para lá.
- Eles... eles... - O espanto causado com as palavras de Kakashi o fez se levantar da cadeira em um sobressalto.
- Oh, sim, acabei esquecendo de mencionar... - Mesmo através da máscara pode ver os olhos sorridentes e satisfeitos que se formaram no rosto do Hokage. - Eles estão com um dos sequestradores.
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A sensação de abraçar Naruto era como estar sobre as nuvens, o cheiro almiscarado que somente ele possuía, era como se a lembrasse de um local reconfortante... Ele tinha cheiro de casa. O viu se colocando em sua frente a protegendo de Shin que parecia estar alucinado por vê-lo, e não era para menos, Hinata entendeu assim que se aproximou da esfera que o poder estava despertando, muito mais adiantado do que Toneri concatenou. Foi um palpite tentar abrir o portal, e que bom que deu certo.
Um forte sentimento de reconhecimento e direção apertava em seu subconsciente, como se algo dissesse o que fazer, precisava seguir adiante. Observou o corpo musculoso do shinobi loiro com os cabelos bagunçados, muito mais do que nos dias em que o encontrava pelas ruas da vila ao retornar de uma missão. Pensou se ele havia sofrido por sua ausência, concluiu com pesar que sim, e se amaldiçoou por qualquer dor que causou. Soltou as mãos de Tamaki que a observou com olhos curiosos. Se virou para a escada subindo devagar, enquanto ressoava a suas costas um barulho de algo se movendo, espiou por cima dos ombros e viu de relance as marionetes em fileiras com uma posição de reverência. Pareciam ser os únicos além dela que sabiam o que iria acontecer.
- Naruto-kun? - Assim que se aproximou da esfera de energia a força gravitacional começou a puxar seu cabelo, sentiu os cílios balançarem como se um forte vento estivesse saindo do globo.
- Sim? - Safiras azuis se prenderam nela, uma sensação de déjà-vu a inundou, ele caminhou em sua direção, mas com a mão esquerda pediu que parasse. Seus dedos da destra estavam próximos a esfera que pulsava violentamente, reagindo a sua presença.
- Eu sempre amei você. Acho que sempre vou te amar.
Ela falou, deixou que saltassem de seus lábios as palavras, não importava mais o que ele pensaria, se estava com a Sakura, se estava sozinho, nada mais importava. Em seu âmago a certeza era que não poderia esquecê-lo de qualquer forma, não conseguiria se manter longe dele, ela tentou, e tudo que aconteceu depois foi em decorrência de sua covardia. Virou o corpo totalmente para a frente e segurou com a canhota o outro lado do globo. Uma luz muito intensa explodiu, e ao longe a voz de Naruto dizia seu nome.
Silêncio.
Foi o que preencheu seus sentidos assim que tocou a esfera com ambas as mãos, sendo dominada por um sono pesado, seu corpo pareceu flutuar por um momento e em seguida não sentiu mais nada. Pensamentos desenfreados pipocavam em sua cabeça, desde que colocou os pés na fortaleza seu doujutsu estava mais forte, permitindo que visse em todas as direções, nem mesmo o ponto cego dos Hyuuga que ficava na nuca era capaz de impedi-la acessar qualquer ambiente. Parecia que ela sabia exatamente o que fazer, quando e como, e sua conversa com o homem adoecido reforçou o que os pergaminhos lhe contaram. Seus sonhos eram portais, Naruto a encontrou porque ela havia o chamado, e dentre tantas pessoas, somente poderia ter sido ele que seu coração, mesmo durante os períodos de inconsciência, desejou. Aquele que estava enraizado profundamente dentro de seu coração. E se através de sonhos poderia comunicar com outras pessoas, o que aconteceria se tocasse a esfera?
Seus dedos deslizaram pela superfície que parecia frágil como vidro muito fino, então se concentrou, e o viu, através de algo como um espelho, a face radiante de um jovem loiro que parecia tristonho agachado na beira de algo. Sorriu lindamente com a figura maravilhosa dele, olhos tão azuis que tiraria o fôlego de qualquer pessoa. Então ela desejou que ele estivesse ao seu lado, e tamanha foi sua força que ele apareceu no meio do espaço. Não pode evitar correr abraçá-lo, o corpo musculoso e forte apertando contra si, seu estômago revirava com muitas borboletas dançando com o contato. Porém, foi algo antes que soltasse a esfera que a fez captar o que precisava fazer.
Assim que a imagem de Naruto se borrou, algo surgiu em seu lugar, um homem mais velho com vestes finas possuindo em suas laterais o emblema contido nos pergaminhos em dourado e preto. Ele a olhou como se a conhecesse e apenas informou com uma voz suave: “Volte.” Então ela soube o que precisava fazer.
Abriu os olhos lentamente, sentindo o ar quente de um dia de verão, o sol alto brilhava, levou uma das mãos para a testa tentando proteger a íris dos raios solares, esfregou as pernas ao tentar se sentar percebendo que estava deitada em uma grama muito verde e bem cuidada.
- Princesa do Byakugan. - A voz surgiu por cima de sua cabeça, e quando olhou um senhor de cabelos grisalhos sorria estendendo a mão para ela.
- Hãn... olá? - Tocou a mão do homem e realmente sentiu que ele estava presente, até mesmo o calor de sua pele parecia real. Ficou ereta limpando as folhas e musgos de seu vestido espalhafatoso.
- Estava ansioso pela sua chegada... Por que demorou? - Ele indagou gentil.
- Esperava? - Cerrou os olhos na direção dele, estavam realmente ali? Analisou a sua volta, cerejeiras dançavam, um rio mais adiante reluzia cristalino, e ao longe podia ver fumaça saindo de um teto, aquele lugar era muito conhecido.
- Oh, sim, esperei muito tempo... que bom que chegou. Posso? - Ele apontou para seu braço pedindo para que pudesse se apoiar no mesmo, Hinata o estendeu e o Senhor o agarrou levemente.
- Onde estou? - Eles começaram a caminhar pelo local a passos vagarosos.
- Em um mundo de paz. - O homem observou ao longe como se estivesse analisando algo que apenas ele pudesse ver. - Sabia que voltaria.
- Você é real? - Questionou temerosa pela resposta.
- De certa forma. - Ele respondeu simples.
- Quem é você Senhor?
- Isso importa? - Importava? Com certeza não, mordeu o interior da bochecha. Aquilo estava acontecendo apenas dentro de sua cabeça, ou estava em outra dimensão... era difícil dizer.
- Qual o seu nome? - Ele sorriu gentil com sua insistência.
- Nome? Oh! Os nomes são apenas rótulos que usamos para dar forma ao caos e encontrar sentido no que nos cerca...
Passaram por algumas corças que inclinaram o dorso como um gesto tímido de reconhecimento. O velho mantinha uma expressão gentil, andando pesadamente pelo espaço arrastando as sandálias como se estivesse debilitado pela idade ou por uma enfermidade. Aos poucos o sol antes brilhando foi sendo encoberto e tudo ficou cinza. Um calor ressurgiu ao seu lado, pequenas fagulhas de fogo começaram a queimar a vegetação, ao passo que animais corriam em desespero, ao longe avistou um monte de terra retorcido como massinha de modelar, duas crianças avançaram na direção oposta e uma delas acabou caindo quando uma kunai a atingiu na panturrilha.
- NÃO! - Se desvencilhando do Senhor tentou correr na direção das crianças, mas sentiu um puxão em seu braço sendo obrigada a parar no lugar. - O que é isso?
Aquela era Konoha.
O reconhecimento começou a enviar imagens para ela sobre a vila onde cresceu e desenvolveu durante todos aqueles anos, uma dor sufocante a invadiu, aquele era um sonho, tinha que ser. Sua mente começou a embaralhar de repente...
- Isso é o que vai acontecer se o tenseigan cair em mãos erradas... - Os olhos dela se arregalaram em desespero.
- Mas, eu ... não despertei...eu ... - Medo, era tudo que sentia.
- Você o tem despertado desde que foi trazida para o castelo do clã Otsutsuki. Seu destino sempre esteve a sua frente não há como fugir disso menina. Mesmo não podendo escapar do que foi traçado a você, não precisa fazer disso uma prisão.
O velho a puxou para o outro lado, e então viu muitos membros de seu clã que cresceram com ela espalhados em pilhas, nenhum deles possuíam globos oculares. O símbolo de seu clã queimava acima de suas cabeças especado em uma lança. Correu para dentro de sua casa então viu a destruição do local, Hanabi estava caída ao pé da escada, lágrimas inundaram seu rosto desviando da cena. Hiashi estava sentado no sofá de costas, foi até ele, mas quando tentou segurar em seu rosto, a visão foi horripilante a fazendo gritar.
- OUTO-SAN! HANABI!!? - Perdia a percepção do seu chão, caiu ao solo em desespero, o velho senhor estava de olhos fechados. - POR QUE ESTÁ FAZENDO ISSO? - Chorava desesperadamente, seus ombros tremiam.
- Não estou fazendo isso... - Ele se aproximou estendendo a mão. - Isso é o que acontecerá se o clã Hyuuga tentar dominar o tenseigan. No caso, dominar, você.
A paisagem então mudou, agora estava sentada em uma espécie de trono, ao seu lado Toneri tocava sua mão sorridente, quando virou a cabeça para a frente uma centena de cidadãos ajoelhavam demonstrando serem súditos ou algo desse gênero. Olhou para imagem de si mesma, estava pálida, roupas negras caiam a sua volta, com uma expressão pesada e de pura tristeza. O homem estalou os dedos e algumas pessoas foram levadas diante deles, estavam amarrados, observou com atenção e conseguiu distingui-los. Eram jounins da folha. Atrás de Toneri diversos bonecos e ninjas da vila da nuvem se mantinham eretos em posição de sentido.
- Ele...ele... - Um vinco muito fundo se formou no rosto dela se virando para o Senhor que agora estava sério.
- Este, será o destino das vilas se Toneri recuperar totalmente seus poderes, ele conseguirá controlar você realmente... a Princesa possuidora do tenseigan seria uma arma potente para subjugar o mundo ninja. Ele deteria todo o controle...
- Por que ele não pode despertar o ...
- Somente a predestinada poderia realizar tal feito, aquela que teceu o próprio caminho, que possui as qualidades corretas... Toneri quase morreu no processo, seu corpo físico talvez jamais se recupere dos danos ocasionados...
- Por isso ele está tão debilitado?
- A pressão espiritual e emocional em tentar acessar um poder tão alto pode levar a desorientação, perda de controle e até mesmo insanidade. - O homem continuou o que dizia ignorando seu apontamento. - O corpo pode não suportar o chakra necessário, levando a falhas ou perdas de habilidades...
- P-por favor pare ... - Então se levantou sendo ajudada por ele. A imagem mudou, e agora estavam no parque Senju. Ao longe pode ver uma criança com cabelos louros sendo soprados para longe, ele corria de um lado para o outro estampando um sorriso feliz.
- Princesa, a sua escolha não é fácil, mas o fio que teceu seu destino não poderá ser desfeito. - Então a criança olhou em sua direção, olhos azuis claros brilhantes, o local que ele estava parecia brilhar com uma luz radiante. Apertou mais os orbes e viu em suas bochechas bigodes de raposa... Estaria vendo Naruto quando criança? A pessoa responsável por ajudá-la a mudar. Estava compreendendo o que o Senhor dizia ...
- Eu-eu... não posso... - A criança correu e com ela o cenário modificou novamente, agora estavam na beira de um riacho.
- Eu sei que não pode. Contudo ainda assim a escolha deve ser feita. O olho do destino já foi despertado, Byakugan no Hime⁴. Se seu pai o controlar, Toneri o perseguirá assim como todas as vilas. Se escolher ficar com Toneri ele destruirá a terra, depois de controlar o mundo ninja... - Uma pontada em seu peito a fez arfar.
- E se eu o destruir? - O homem não expressou uma reação surpresa, apenas suspirou pesaroso.
- Se o destruir todos que possuem o byakugan morrerão com a perda de seu doujutsu... - O que ele dizia não fazia sentido, então ficou o olhando tentando entender sua fala, ele percebeu e se virou totalmente para ela tocando uma protuberância em sua testa, e pela primeira vez pode ver que ele possuía dois chifres discretos. - A energia do tenseigan está diretamente conectada com os usuários dos doujutsus oculares, tanto o primeiro a surgir, o byakugan, quanto todos os outros... seria o fim desse tipo de kekkei genkai.
- E qual outra alternativa eu tenho? - Ele sentou em uma pedra tocando os joelhos apertando e soltando, então virou-se para ela com olhos brancos como os seus.
- Pode selá-lo dentro de si... mas...
- Mas? - O homem olhou a palma da própria mão e ela pode ver um formato de uma meia lua como uma pequena tatuagem.
- Uma vez selado dentro de você, seus descendentes poderão herdar o poder... Não teria como garantir se isso acontecerá ou não... É uma hipótese.
- O que isso significa? Eles correriam riscos? - Ele se referia a filhos? Talvez aos parentes ou predecessores da casa principal Hyuuga.
- Não poderia afirmar, o futuro ainda poderá ser mudado, então não posso dizer com certeza. O que posso garantir é que eles carregariam a herança de sua ligação com meu clã Princesa. - Então ela se deu conta que aquele homem parecia com uma das imagens que viu na tapeçaria do castelo.
- E se eu morrer com ele? - Ela preferiria que sua vida acabasse do que ter que andar pela terra sendo alvo de desejo ou controle alheio.
- Ele não seria realmente destruído, então surgiria outra predestinada eventualmente. E essa pode não ser tão sensata quanto você. - Ele se levantou.
- Por que Naruto – kun apareceu nas imagens? - Precisava perguntar, mesmo que o momento não parecesse propício para isso.
- Naruto? - Ele franziu o cenho e as protuberâncias em sua testa pareceram movimentar rapidamente sob a pele.
- A criança a pouco... - Um pássaro pousa no dedo indicador do homem que após receber um leve beijo na cabeça bateu asas e voou.
- Oh! Sim, a criança... uma delas... - A expressão dele é de plenitude. - ... uma esperança, um dos vortéx...
- Eu não entendi... - O velho parecia estar divagando, falando palavras desconexas como se fosse uma charada que somente ele sabia, não entendeu o que ele queria dizer com vórtex...
- Faça sua escolha, o tempo está acabando. - Varreu seus pensamentos no momento em que foi encarregada em decidir.
- Sele-o.
Sem dizer mais nenhuma palavra, com uma das mãos o homem acionou o símbolo de meia lua que brilhou, uma energia de chakra rodopiou como um feixe de luz invadindo o peito da jovem.
Então tudo desapareceu.