
Desígnio
“Quando você diz que me ama
Saiba que eu te amo mais
E quando você diz que precisa de mim
Saiba que eu preciso de você mais
Garoto, eu adoro você
Eu adoro você
Amor, pode me ouvir?
Quando estou gritando por você
Eu estou assustada, oh, tão assustada
Mas quando você está perto de mim
Eu sinto que estou de pé ao lado de um exército”
Adore you - Miley Cyrus
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“...dezembro pertencente a casa principal daqueles que descendem do Deus da Lua. Somente aquele de coração puro poderá despertar o poder do olho do destino, e somente ela poderá decidir. Assim foi escrito, assim será feito. A princesa prometida nascerá e cumprirá seu destino, como está no livro das estrelas e nas lendas de tempos antigos."
Ele segurava entre os dedos o pedaço de pergaminho amarelado, com algumas rasuras que denotava a sua antiguidade, assim como a forma brusca que havia sido arrancado de seu documento original. As marcas deixadas pela austeridade em que o mesmo havia sido conduzido com urgência e falta de cuidado, quase agredindo ainda mais o frágil fragmento. Esfregou os dedos sentindo a textura desgastada, franzindo o cenho no processo.
Sobre sua mesa os diversos relatórios estavam organizados meticulosamente em pilhas pequenas contendo o estudo obtido pela equipe de inteligência, desde o tipo de fibra daquele papel, assim como a origem da tinta utilizada, nada havia sido deixado ao acaso. Tombou os olhos ônix para o emblema dourado na lateral, um desenho que se assemelhava a uma lua cercado por um padrão intrincado que remetia a um globo ocular, aquela insígnia antes desconhecida, agora se apresentava de forma inconfundível: pertencia ao ramo secundário de um clã há muito tempo esquecido.
Algo chamou sua atenção naquele instante quando percebeu que o emblema parecia ter sido adicionado de forma posterior a escritura, era muito mais recente que os demais, o que poderia indicar que o mesmo pertencia a outro clã, ou ainda ao ramo principal do mesmo. O impressionante, e quase inacreditável, foi o fato da informação ter sido encontrada em um dos livros mais importantes para aqueles que iniciavam na academia ninja: “Konohakagure: a história das famílias fundadoras”. O quebra cabeça estava finalmente começando a se encaixar, as peças se moldavam como se estivessem dispostas abertamente.
Quase não pôde acreditar quando Tetsu o procurou afirmando que talvez possuísse uma pista para ajudar a entender o que ocorreu com Hinata, e se isso não bastasse, grande foi sua surpresa em constatar que o pedaço de papel era uma prova concreta de que Hiashi Hyuuga realmente manteve contato com pessoas que que não somente poderiam ameaçar a vila da folha, mas também, estavam ligadas ao sequestro de sua primogênita. Este não foi o único ato do genin, ele também precisou auxiliar a equipe na leitura das linhas que se apresentavam como símbolos estranhos para olhos comuns, porém, para o usuário do byakugan se mostrou totalmente entendível.
O hokage ainda estava perplexo com as informações trazidas por Ibiki após as inspeções. Como era possível ainda existir quaisquer elementos de um clã tão antigo que deu origem ao uso do chakra com Kaguya, a primeira Otsutsuki a estar na terra, e a primeira a dar luz a dois filhos com o poder. Hagoromo, mestre dos seis caminhos que disseminou o chakra pela terra, e Hamura, o protetor da lua que ajudou a selar a tirana, sua mãe. Sua obsessão acabou a isolando após sua prepotência atingir níveis estratosféricos. Sua busca pelo controle de todo o chakra do mundo culminou em sua ruína. O corvo que enviou para Sasuke mais cedo, solicitava que todos fossem cautelosos. Era pouco provável, entretanto, poderiam estar lidando com sobreviventes dos progenitores do chakra.
Mesmo relutante, diante de tantas provas consistentes, iria ter que agir, e era para este momento que se preparava. Havia perdido as contas de quantas xícaras de chá de melissa havia tomado, precisava manter a calma e a mente fresca para que pudesse agir da melhor forma possível. Se recostou na cadeira com grande pesar, ser líder era uma posição que o deixava entre a cruz e a espada, ainda que pudesse possuir muito poder, este era limitado. A responsabilidade que possuía devido ao seu cargo, o deixava temeroso, porque mesmo ali no posto mais alto da vila ainda tinha que lidar com decisões difíceis que evidenciava a falta de controle total sobre as situações, precisava equilibrar o dever de proteger o povo como um todo através da diplomacia, e apenas esta o impedia de obter respostas com as próprias mãos.
Seus devaneios foram todos interrompidos quando um agente Anbu escorregou para dentro da sala, informando com uma voz grave que o outro líder estava entrando no prédio naquele momento. Ibiki e sua equipe estavam a postos aguardando para seguirem com o interrogatório. O hokage sabia que evidentemente, quando a comissão soubesse o que ele havia feito teria uma breve crise interna, política era algo definitivamente complicado. Invariavelmente seguiria com seu plano, se funcionasse evitaria muitos problemas, se desse errado teria provas mais que necessárias para justificar que as medidas foram tomadas em prol de protegerem a folha.
Duas batidas à porta e um Hiashi abatido entrou no aposento, com suas vestes impecáveis, e com a postura de uma autoridade feudal. Caminhou pesadamente para a frente e dessa vez realizou uma reverência aceitável. O homem de cabelos acinzentados endireitou-se na cadeira sem a menor intenção de solicitar que o cidadão se sentasse. O Hyuuga observou o documento na mesa do hokage tomando nota silenciosamente, que ele estava a par de suas movimentações.
- Tem estado mais nesta sala do que a mim mesmo Hiashi-sama. - Kakashi exclamou sarcástico.
- De fato. - Simples e rude foi a resposta que o líder direcionou.
- Esta é a última oportunidade para que me conte o que foi que você fez. - O hokage segurou o papel envelhecido mostrando para o homem mais velho que estreitou os olhos sem surpresa. - Pelo visto sabia que o documento estava em minha posse.
- Eu sei absolutamente tudo que se passa em meu complexo. - O velho bateu levemente com a bengala ao chão afirmando sua fala.
- De fato. Assim como eu sei tudo que se passa na minha aldeia. - O golpe foi bem feito, pois o líder abriu e fechou os lábios apertando entre si como se tentasse refrear uma resposta ríspida.
- Não posso dar as respostas que procura. - Disse por fim.
- Hiashi-sama, você me toma por tolo ... Não preciso de suas respostas. Eu as obterei de qualquer forma... - Estalando os dedos Kakashi lançou o sinal para que dois agentes Anbu entrassem e segurassem o homem altivo, um de cada lado apertando os braços do mesmo sem cerimônia.
- Espere, o que pretende fazer? - Hiashi ficou atônito tentando se desvencilhar dos agentes que os seguravam com certa rispidez.
- O que deveria ter feito na primeira vez que esteve aqui. - Kakashi exclamou com raiva. - Levem-no.
Os dois ninjas começaram a conduzir o líder Hyuuga até a saída com este fazendo força para continuar no mesmo local, ao passo que avançavam pela sala ele parou abruptamente, forçando com que os agentes também petrificassem no lugar.
-Está bem! ESTÁ BEM! - Ele gritou para se fazer ouvido. - Eu falo.
-Tst... tst... tst... - Kakashi estalou a língua entre dentes em negação. - Morino vai ficar tão decepcionado.
O sorriso transpassou o belo rosto do rokudaime, seu plano havia funcionado.
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O par de jovens caminhavam por um longo corredor, ambas divergiam entre si de formas mais obtusas do que a aparência ou as roupas que usavam. A frente dela uma simples garota caminhava revestida com um vestido cinza simplório demais para o lugar imponente, e mais atrás desta Hinata dava passos incertos em um fino vestido prateado com pedras azuis, mangas bufantes que pinicava sua pele delicada, e os cabelos presos em um coque feito de forma desleixada.
À medida que avançavam, ela aproveitava para analisar as paredes adornadas com tapeçarias parecidas com as contidas em seus aposentos, exceto pelo emblema que parecia modificar um pouco, analisou que talvez as pessoas que viviam ali poderiam ter modificado o próprio emblema do clã. Felizmente a fraqueza de antes havia a deixado, e se sentia totalmente recuperada e forte, suas pernas estavam firmes assim como sua mente.
- Elas parecem guardar segredos, não é? Histórias de coragem e sacrifício... - Tamaki olhou para a parede e informou com um leve sorriso por cima dos ombros. Em meio a solidão causada por aquele enorme castelo, uma certa amizade crescia entre ela e a jovem destinada aos seus cuidados.
- Como você veio parar aqui? - Questionou a garota que desacelerou os passos surpresa pela pergunta.
- Fui trazida para cá para servir... - Ela agarrou uma mecha dos cabelos acastanhados enrolando nervosamente.
- Você já me disse isso Tamaki, porém queria entender... te sequestraram? - Havia mais naquela história, queria descobrir por quanto tempo ela estava sendo mantida naquela fortaleza, talvez ambas estivessem na mesma posição.
- Princesa, eu ...
- Me chame de Hinata, por favor... - Ela parou e tocou nas mãos da garota.
- Certo... sim... fui trazida para cá há cerca de cinco meses... - A criada levantou os olhos para Hinata e estavam cheios de dor.
- Como eles te encontraram? - Quis saber, embora temesse afugentá-la e perder a ligação que estavam construindo.
- Eu ... trabalhava com minha avó em uma loja, cuidávamos de alguns gatos ninjas... - Ela sorri com a recordação.
- Onde fica a loja de sua avó? - A garota se recolheu temendo dizer onde ficava loja, Hinata podia sentir a vergonha crescente nela. - Estamos entre amigas, pode me contar...
- Soraku... - O rosto enrubesceu e aquela informação fez com que Hinata compreendesse ainda mais a situação.
- Oh! Compreendo... - Soraku era uma vila de comerciantes do mercado negro, com certeza os homens que a raptaram estiveram no local, em busca de itens ilícitos. Provavelmente foi lá que encontraram a planta que adormeceu seus membros, constatou em pensamento.
Viraram para a direita onde uma escada estendia-se majestosa até um grande salão onde ao final cruzaram as portas para um jardim, percebendo que o local se tratava de uma colina cercada por uma floresta. As torres de ameias subiam altas com paredes cinzas e um pouco desgastadas, aquele era um alcácer antigo. Assim que Hinata passou pelas portas observou com muita atenção, os detalhes, a madeira maciça, sem sombra de dúvida, aquela era a mesma porta de seu sonho.
- Siga por esse caminho, até a fonte. - Tamaki informou inclinando o corpo em uma reverência.
Hinata caminhou apreensiva pelo corredor de folhagens densas, se parecia com um labirinto, mas não diria com firmeza. Ao alcançar a fonte um homem jovem estava em pé com os cabelos prateados, olhos muito azuis, e um sorriso gentil nos lábios. O traje que usava possuía desenhos de folhagens douradas, uma combinação que pareceu quase como de um anjo.
- Princesa...- O homem fez uma reverência exagerada. - Que bom que finalmente despertou.
- Quem é você? - Sua voz falhou um pouco, mas manteve-se firme. Em seu peito sentiu um solavanco de ansiedade, a vontade de apertar os dedos estava presente, mas ela se conteve.
- Sou Toneri Otsutsuki. - A resposta soou como se ela devesse realmente saber quem ele era. Então ele contornou a fonte tentando se aproximar, Hinata deu um passo para trás evitando o toque em suas mãos.
- O que você quer, por que estou aqui? - Hinata o olhou com desconfiança, havia algo errado, aquilo não poderia ser mais confuso do que já era...- Você me sequestrou... pra que?
- Lamento por isso, foi a única forma de trazê-la sem maiores conflitos. - Ele mantinha os lábios inclinados para cima como se aquela afirmação fosse algo banal. - Irei explicar tudo, mas antes que tal comermos algo...
Ele se aproximou dela estendendo o braço, mas Hinata apenas o ignorou seguindo o caminho que o mesmo indicou. Caminharam em silêncio de volta ao interior do castelo, uma mesa realmente grande estava elegantemente posta com inúmeros pratos apetitosos que brilhavam sob a luz dos lustres e castiçais. Um barulho semelhante a um trovão ecoou de seu estômago a denunciando, e o homem se aproximou puxando uma cadeira para que ela se sentasse, em seguida seguiu para outra extremidade.
Ela olhou para os alimentos servidos, um banquete digno de uma celebração celestial, todos os utensílios eram semelhantes assim como os tecidos finos, complementando o aroma exótico de pratos com carnes assadas, legumes cozidos, algumas frutas e uma bebida de cor vibrante. Ficou admirada com a quantidade de diversidade nos pratos, ainda mais em um lugar como aquele, que parecia mais abandonado do que uma residência.
Observou o anfitrião servir-se de algumas porções, notando que o chakra dele parecia não combinar em sua totalidade com o corpo, como se algo estivesse errado. Era como se a volta dele, houvesse uma energia diferente da que a compleição física poderia sustentar. Ela não sabia como podia ver tão nitidamente mesmo sem ativar o doujutsu, nem sabia como isso estava acontecendo, porém, ela poderia dizer com certeza que algo estava errado com aquela figura.
- Você deve ter muitas perguntas, certo? - O olhar profundo que ele lançou demonstrou que busca o consentimento para prosseguir. Hinata se sentiu incerta se deveria ou não dizer algo, optando por acenar discretamente. - Você está em uma Fortaleza Lunar, mais precisamente na "Casa dos Otsutsuki”.
- Entendo... - O choque da informação a fez perceber a gravidade de sua situação, estava longe de casa, muito longe de casa. - Conte-me tudo ...
- Sim Princesa... irei contar-lhe tudo. - O sorriso transpassou seus lábios. - Este é um refúgio da casa principal... - Ela franziu o cenho sem compreender o que o sujeito dizia, entretanto se sentiu incerta em perguntar.
- Mais precisamente, refúgio de Hamura e seus seguidores, um descendente direto de Kaguya, a primeira que esteve na terra. - Ele morde uma coxa de frango sem muito decoro, e a ação mais uma vez denuncia que havia algo errado com ele. - Infelizmente devido ao legado poderoso banhado a sangue e tragédias, a busca pelo chakra os destruiu, resultado de uma guerra entre a casa principal e secundária. A divisão familiar é algo arrebatador... - Uma fisgada dentro dela com aquelas palavras a fez recordar de seu próprio seio familiar. - Bem... após a queda de Kaguya o nome Otsustsuki se tornou sinônimo de medo...
- Lamento por isso... - Ela sussurrou baixinho. - Qual seu objetivo ao me trazer aqui?
- Acredito que preciso de alguém forte e puro, e a sua descendência é clara... - Ele exprimiu com uma voz firme, largando o osso no prato desleixadamente. - Para que possamos restaurar o clã.
Os olhos de Hinata se abriram em espanto, o que ele estava querendo dizer com restaurar o clã, ele esperava que ela...
- Juntos poderemos trazer equilíbrio ao mundo, corrigir os erros do passado... você é a Princesa que precisamos, digo, que preciso...
- Não sei se entendo o que você quer dizer com... restaurar o clã - A voz de Hinata saiu esganiçada com sua preocupação.
- Quero Hinata, que me ajude a despertar um poder capaz de mudar o futuro... quero que no tempo certo você seja capaz de fazer o necessário. - Ele sorriu ao informar as palavras com muita suavidade.
- Poder? Que poder?... E-eu... - As palavras daquele homem não faziam sentido algum, que poder ele esperava que ela despertasse? O restante do que gostaria de dizer murchou em sua garganta.
- No tempo certo irei explicar o restante, por enquanto peço que descanse, e aproveite sua estadia no castelo. Essa agora será sua casa. - Ele se levantou enquanto se retirava para deixar Hinata sozinha, se afastando a passos lentos. - Mais uma coisa, procure não se movimentar do outro lado da Fortaleza.
Sua mente dava voltas, que tipo poder ela poderia ajudá-lo a despertar, e o que sua descendência teria a ver com os objetivos daquele homem. Olhou para o prato a sua frente e o velho embrulho em seu estômago se fez presente, pareciam um zilhão de borboletas a fazendo perder o foco. Precisava de alguma forma encontrar as respostas para aquele mistério e sair daquele lugar. Por isso não se conteve.
- Lamento, mas quero as respostas agora. - Ela informou se levantando desafiadora.
- Não neste momento. - Ele respondeu ainda de costas a deixando no cômodo, contudo sua energia estava renovada. Precisava se movimentar por aquele lugar, encontrar respostas, de um jeito ou de outro.
- Tamaki-san! - Chamou a moça com sua habitual gentileza.
- Senhora? - Ela estava atrás de uma pilastra com um pano nas mãos alisando a superfície, a ninja de cabelos pretos conseguia vê-la com perfeição.
- Preciso que me ajude... onde posso obter informações precisas? - Questionou observando a garota que pareceu nervosa torcendo o tecido entre os dedos. Ela sabia, era evidente.
- Na-na-na... - Gaguejou – Biblioteca.
- Claro! - Dançando sobre o vestido longo girou nos calcanhares para a direção que estranhamente não precisou questionar onde ficava, sentia-se mais forte, destemida e com um certo reconhecimento. - Mais uma coisa... Tamaki, você sabe o que fica do outro lado do castelo?
A jovem empalideceu naquele instante, colocou os braços para trás apertando as mãos, olhando para o assoalho sem conseguir encarar Hinata, ela sabia muito mais do que estava falando, porém temia algo, ou alguém.
- O-o... apenas os aposentos do meu Senhor. - As mãos da menina tremeram, então Hinata entendeu que a resposta que buscava estava além de seus limites. A criada fez uma reverência e se retirou do ambiente.
Ajustou o laço do elegante vestido que estava usando, apertando mais em sua cintura pequena, que devido a sua falta de apetite pareceu diminuir, a última vez que havia se alimentado com dignidade foi no “artesão do sabor” ao lado de Sasuke. Se perguntou se ele estaria bem, ou o que ele havia feito após notar seu sumiço. Varreu os pensamentos prendendo os cabelos em um rabo de cavalo, sua inspeção começava agora, e seja lá quem fosse esse Toneri descobriria por si as respostas que precisava.
Seguiu caminhando como um animal que caçava. Pisando levemente no assoalho fazendo o mínimo de atrito possível. Seus pés a levaram precisamente para as portas entalhadas com o mesmo símbolo que estava presente em todo o ambiente. Bastou um leve empurrão para que a porta de madeira abrisse com um ruído baixo. Dentro do aposento estava silencioso, com uma imensidão de prateleiras altas a perder de vista, repletas de livros empoeirados e volumes encadernados em couro, alguns adornados com símbolos antigos e brilhantes.
A iluminação era fraca, vinda de velas trêmulas dispostas em suportes de metal, projetando sombras dançantes conforme arrastava seus pés pelo espaço. O ar estava carregado de um odor de papel envelhecido e um toque de umidade, como se o conhecimento estivesse guardado por eras. Notou neste momento que apesar da pouca iluminação conseguia ver com precisão os nomes incrustados nas capas.
Seus dedos serpentearam sobre alguns títulos que iam desde agricultura até um livro estranho sobre segredos da linhagem sanguínea. Hinata parou no meio da sala, tudo realmente parecia como uma biblioteca antiga, algo precisava dar-lhe uma dica, uma pista. Fechou os olhos aguçando sua audição, quando ouviu baixinho um uivo, apenas um sussurro de vento, aquilo vinha de alguma fresta, era possível compreender uma vez que o som saia abafado.
Seu doujutsu poderoso indicou o caminho até uma prateleira que continha diversos volumes com cadeados intrincados, outros com suas laterais amareladas, evidenciando que todos tinham algo em comum, exceto um livro pequeno quase que deixado erroneamente em meio aos outros de capa em couro. Este não continha nenhuma grama de pó, estava impecavelmente limpo, e quando Hinata o puxou um barulho surdo, quase como um estampido ressoou pela sala.
O mecanismo oculto se ativou instantaneamente fazendo uma seção da prateleira se deslocar para o lado revelando um túnel estreito. A passagem era envolta a uma penumbra acolhedora, com paredes de pedra e um chão de ladrilhos frios. O ar era fresco e carregado de um cheiro de ervas e incenso, a curiosidade a impulsionava para seguir cada vez mais adiante. Deu alguns passos para dentro, e notou que seu byakugan não havia sido capaz de ver além das portas escondidas, havia ali um jutsu de ocultação ou algo colocado exclusivamente para repelir usuários do doujutsu ocular. Achou aquilo peculiar...
O hall era amplo e sombrio, iluminado apenas por uma luz que emanava de uma espécie de altar. Acima de sua cabeça havia um círculo, como um recipiente de energia, que brilhava suavemente, pulsando, enquanto por todos os lados símbolos e tapetes mostravam uma história que era ainda desconhecida por ela. Diversas estátuas estavam espalhadas pelo lugar, olhando para cada passo que a jovem dava. Aos pés de uma grande escadaria ela pode ver uma espécie de púlpito e em cima desses diversos pergaminhos com um símbolo cravado que ela conhecia. Já havia visto aquele símbolo.
Ela passou os dedos pela figura que lacrava o documento, circulares e linhas que se entrelaçavam, semicerrou os olhos percebendo que aqueles pergaminhos já haviam estado em suas mãos há algum tempo atrás. Sem dúvidas eram o conjunto de papéis antigos encontrados por ela e sua equipe nos escombros da antiga casa do seu raptor da infância, o Ninja Chefe de Kumogakure.
Ao tocá-lo, ela sentiu a textura áspera e desgastada do papel, manchado pelo tempo, as bordas estavam levemente queimadas, como se tivesse sobrevivido a incêndios ou um evento cataclísmico. Ela desenrolou o pergaminho revelando uma caligrafia intrincada e elegantemente desenhada. Os símbolos e caracteres estavam em um idioma desconhecido, que pareciam dançar sob seus olhos, pulsando misteriosamente, a fazendo inconscientemente ativar o byakugan. Uma vez que seu doujutsu se fez presente, os símbolos e o idioma começam a fazer sentido. Pareciam como em um sonho se movimentando em sua frente de forma a formar frases inteiras.
O texto citava um futuro incerto, onde a busca por poder e controle poderia levar a humanidade ao extermínio, deixando este de lado segurou outro documento nas mãos onde as mesmas palavras eram repetidas, porém neste dizia-se sobre decisões cruciais que poderiam mudar o destino sombrio, um terceiro foi desenrolado e este falava de um herói alguém com o coração puro capaz de perdoar aqueles que um dia quiseram o destruir, este seria conhecido como um herói e seu sangue seria forte e passado para seus descendentes.
Hinata agora estava trêmula, pois atrás de si havia ouvido passos ao longe, a pressa se fez presente quando desenrolou um quarto e este continha uma espécie de profecia. Correu os olhos de uma vez, analisando que um pedaço estava arrancado e no meio o mesmo símbolo que continha nas tapeçarias, um raio de sol de oito pontas. Talvez aquele fosse o mais importante, uma vez que continha muitas marcas de dedos, diferente dos demais. Mesmo com medo de ser pega, leu com calma.
"Quando o crepúsculo da era se aproximar e o céu se encobrir com as sombras das nuvens escuras, surgirá uma luz na forma de uma jovem Princesa. Em seu coração, ela carregará a chama de um destino há muito aguardado, um destino que será revelado nas horas mais sombrias.
Ela será conhecida não apenas por seu sangue real, mas por um espírito indomável e uma coragem inabalável. Em tempos de grande desespero, quando as trevas ameaçarem consumir todas as esperanças, a princesa prometida surgirá como o farol de uma nova era.
Com o poder do antigo legado e a força das estrelas, ela desferirá a espada da verdade e quebrará as correntes da opressão. Suas escolhas, guiadas por sabedoria e amor, determinarão o curso do destino, unindo corações e reconciliando reinos divididos.
Ao seu lado, uma companhia leal a acompanhará, escolhida pelas forças do destino. Juntos, enfrentarão os desafios que surgirem e superarão as provas que testarão sua coragem. A vitória não será fácil, e o caminho será repleto de perigos e sacrifícios.
Mas quando a lua estiver alta e o sol nascer sobre um horizonte renovado, a promessa da princesa se cumprirá. Ela trará uma era de paz e prosperidade, uma nova era onde a justiça e a esperança reinarão, e a escuridão será banida.
Assim foi escrito, assim será feito. A princesa prometida nascerá e cumprirá seu destino, como está no livro das estrelas e nas lendas de tempos antigos. A jovem de coração tão puro como um lírio nascerá em ...."
O restante do texto estava rasgado, mas a palavra princesa estava se repetindo sequentemente o que significava que talvez... Seus olhos foram atraídos pela luz pulsante do recipiente acima de sua cabeça, caminhou por alguns degraus e o tocou com uma das mãos. Um pulsar forte fez com que a luminescência do objeto ficasse mais potente, e um lampejo o transpassou rapidamente…
- Então a Princesa Hyuuga é mais esperta do que imaginei. - A voz dura cortou o espaço a fazendo se virar assustada. O homem de cabelos prateados continha uma expressão de ódio ao perceber sua teimosia.
- O que de fato estou fazendo aqui? E quem realmente é você? - Seus olhos estavam mais vívidos ela conseguia ver a desconexão agora entre ele e a figura de seu corpo.
- Já disse... sou Ton...
-Não minta pra mim, sou Hinata Hyuuga, próxima líder do clã Hyuuga, a que possui melhor alcance do byakugan eu vejo muito mais do que coisas distantes... revele-se.
Em posição de ataque ela aguardou, e o jutsu de transformação foi desfeito.
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Ele harmonizou a energia natural com o seu próprio chakra rapidamente, podendo localizar exatamente onde o ex nukenin estava, e junto a ele mais um que não sabia a quem pertencia, definitivamente não era de Hinata. Ao pousar com os colegas de missão pode contemplar com precisão a expressão cansada de um deles, enquanto um corpo estava ao seu lado. Naruto se aproximou agachando ao lado do imbecil que com certeza deveria ter tentado atacar Sasuke, saindo na pior.
- Já não era sem tempo... - O Uchiha se pôs em pé assim que o trio se aproximou dele.
- Seu desgraçado ... - Naruto saltou por cima do corpo estirado no chão agarrando Sasuke pela borda de sua capa o puxando para seu rosto. - Eu vou acabar com você...
- NARUTO! - Sakura chamou a atenção de ambos os ninjas, mas nenhum deu a importância necessária.
- Vá em frente. - O jovem de cabelos negros cuspiu raivoso.
- Era para você ter tomado conta dela! - Gritou estarrecido com a incompetência dele.
- Naruto, Sasuke, por favor, vamos resolver isso de forma civilizada.- Shikamaru parou entre os dois com as mãos no peito de ambos com um semblante irritado.
- Qual o seu problema? - Naruto soltou a gola do Uchiha e começou a andar de um lado para o outro. - Cara, Kakashi-sensei só pediu uma coisa pra você... e você ... FALHOU!
Cuspiu enraivecido a última palavra, sentia-se indignado com o companheiro de equipe, mas, bem lá no fundo, ele experenciava uma cólera voltada a si mesmo.
- Naruto, ele também foi atacado, lembra? - A rosada estava ao lado de Sasuke agora se colocando um pouco mais a frente como um escudo.
- Sakura... eu não quero ser indelicado com você, mas .... ATÉ NESSE MOMENTO VAI DEFENDER ESSE CARA? - Como borbulhas quentes vulcânicas o furor explodia, e bastou as palavras saltarem para se arrepender delas, principalmente quando os olhos da companheira se encheram de ódio.
- Não desconte nela Naruto, vamos resolver isso aqui e agora. - Sasuke informou indo em direção ao loiro que puxava os fios enquanto balançava a cabeça negativamente buscando se controlar.
- Gente, acho que no momento deveríamos resolver algo com ele... - O Nara apontava para o homem ferido que gemia dando os primeiros sinais que estava recobrando a consciência.
- Filho da puta! - Naruto saltou com tanta rapidez que deixou os membros estarrecidos. Apertou o pescoço do sujeito com a raiva o dominando em ondas. - O que fez com a Hinata??
- Eu-eu... So-socorro... - O homem gaguejou olhando a volta buscando auxílio dos outros presentes.
Naruto apertava cada vez mais o pescoço, percebendo as cicatrizes no rosto do prisioneiro, chamando a atenção para uma que iniciava desde sua testa até o final da bochecha. Nesse instante pode ver que o braço do sujeito estava ferido, com certeza foi atingido pela kusanagi. Sasuke e Shikamaru o ladearam segurando seus pulsos o forçando a largar o pobre homem que parecia a ponto de desfalecer de medo do herói da folha.
- Calma... - Sakura toca em seu ombro e suspira temerosa. O Uzumaki se afastou com punhos firmes sem dizer nada.
- Posso tirar as informações dele com facilidade... - O Uchiha sorri malicioso e o homem se assusta evidenciando as suas feridas sob o sol escaldante que dava os primeiros sinais que logo mergulharia no horizonte.
- Vamos dar a oportunidade pra ele falar ... - Shikamaru o olha com desdém. - Diga quem é você ...
- Posso me sentar? - O prisioneiro solicita baixo e com um certo drama na voz.
O encostaram em uma pedra, e ele abraçou as pernas com dificuldade por conta das amarras em seus pulsos e pernas feitos com linhas de chakras. Naruto se colocou do outro lado a distância com a companheira de time ao seu lado, contendo um certo afastamento devido ao desentendimento entre eles.
- Diga-nos, qual seu nome. - Sasuke cospe com raiva por ter sido impedido de usar suas habilidades.
- Sou Shin, mas não o original. - Ele olhou para a areia.
- Você quer dizer? ... - O ninja de cabelos espetados rodou uma kunai nos dedos próximo ao rosto do prisioneiro.
- Sou o Shin, mas uma cópia... - Algo transpassou nos olhos dele, Naruto não soube bem o quê...
- Certo, você sabe algo sobre o sumiço de nossa amiga? Hinata Huyuuga? - O loiro não se conteve e invadiu o interrogatório que não parecia estar dando frutos.
- Ela foi levada pelo original... para uma Fortaleza Lunar. - Ele sustentou o olhar oceânico sem ao menos vacilar.
- Fortaleza Lunar? - Todos repetiram em uníssono.
- Para quê? - Sasuke agarrou a bainha de sua espada apertando com raiva ao ouvir aquelas palavras, a sua falha foi pior do que supunha.
- Ela tem um papel a cumprir. - Shin cópia disse abaixando a cabeça pesadamente.
- Como chegamos lá? - O Nara passou a lâmina pelo pescoço do prisioneiro se aproximando mais dele.
- Com... c-com o fragmento lunar, mas, se partiu quando tentei reabrir o portal... não tem como irmos para lá... - Naruto avançou para ele rangendo os dentes agachando a sua frente como um predador pronto para rasgar a carne de sua presa.
- Aponte a merda da direção. - Ele soprou controlando seu timbre, e a cópia apontou para o sudeste. Sem aguardar qualquer um dos companheiros, ele correu tão rápido que lembrava o relâmpago amarelo da folha.
O horizonte começava a ser banhado por tons arroxeados e o azul vibrante estava sendo substituído pelo início da penumbra noturna. Ele sussurrava para si mesmo que ela estava bem, ele a encontraria, seja lá qual esse papel que ela deveria cumprir, estaria ao seu lado.
Algo fez sua atenção ser captada, quando se afastou ainda mais da equipe, avistou um galho seco com um objeto emaranhado. Desacelerou o passo se aproximando da pequena planta ressecada pela aridez do ambiente. Ele se inclinou tocando o fio vermelho entre os dedos, seguiu até mais adiante onde havia pontos de tricô do que parecia ser um trabalho manual. Seus dedos sentiram a textura macia, e algo dentro de seu estômago fez com que percebesse que era muito peculiar a peça estar naquele deserto hostil.
Ele deu passos incertos acompanhando a trilha deixada pelo fio, avistando que se perdia para dentro de uma caverna. Esquadrinhou todo o espaço percebendo que, provavelmente, era algo propositalmente colocado naquele galho, como se para mostrar o caminho. Seu cenho ficou franzido com tanta força que apenas uma fenda de seus olhos proporcionava a visão de onde findava a linha.
- Naruto! - O som chamou sua atenção fazendo olhar para a direção dos companheiros que corriam em sua direção com o prisioneiro. Seu braço antes ferido, parecia bem, Sakura deveria ter tratado. - Você precisa nos esperar.
- Shikamaru não enche. - Respondeu rabugento.
- Isso é... ? - Sasuke se aproximou pegando de sua mão o fio que estava enrolado em seus dedos.
- Você sabe o que é? - Sakura olhou para ele com uma expressão que denotava um pouco de insatisfação e surpresa.
- É da Hinata. - Ele afirmou mirando a entrada da caverna.
- Como sabe? - Naruto deu um passo em sua direção, uma fisgada o avisou novamente que o Uchiha estava mais ciente da jovem de cabelos negros do que ele.
- Ela dormiu abraçada com o cachecol... - Ele girou a cabeça fitando nos olhos do Uzumaki. - Ela o carregou até aqui e deixou como pista ...
- Por que ela andaria por aí com um cachecol nesse calor? - Suas palavras saíram o fazendo ser visto como um belo idiota pelos seis pares de olhos que o observava com atenção e cautela.
- Você é tão idiota Naruto! - A ninja de cabelos cor de chiclete se colocou à frente trocando olhares ansiosos com Sasuke , ela fez menção de dizer algo mas se calou quando o ex nukenin a encarou de volta.
- Não tem um jeito melhor de dizer isso, mas ... - O Nara se aproximou arrastando o prisioneiro que parecia estar inerte, talvez preso em algum genjutsu. - Hinata fez o cachecol para você.
As palavras o atingiram em cheio, se ela havia se dado o trabalho de produzir algo para ele, significava que o sentimento entre eles era realmente mais que uma amizade. E ao que parecia todos sabiam, menos ele... Um pesar o atingiu nesse momento, o que ela poderia pensar de sua falta de atenção… ele fraquejou, quis se recolher e juntar as pernas entre os braços, entretanto, faria isso mais tarde… Descartou aquelas ideias se voltando para a caverna, não precisou que dissesse para que o acompanhasse, porque todos o fizeram.
A caverna era vasta com uma formação esculpida pelo tempo e passagem de eras, era nítido pelas deformações em sua superfície. Caminharam silenciosamente para mais dentro dela, onde os ouvidos do shinobi captaram um gotejar de água ao longe. Aprofundaram-se pelo espaço estreito com a escuridão se formando rápido pela noite que já caia sobre o deserto de Iwagakure, trazendo um frio repentino.
Quanto mais passadas eram dadas o som aumentava como uma melodia hipnótica que os atraía. Estalactites pendiam do teto, sendo necessário que desviassem de algumas para que suas cabeças se mantivessem protegidas. A fina camada de musgos abafava os passos dos cinco intrusos. E ele tentava se concentrar, porém quanto mais forçava a mente mais pensava em Hinata. Assim que alcançaram uma entrada mais estreita, se depararam com uma gigantesca câmara e no meio desta um lago brilhante que estava posicionado diretamente para uma fenda no teto que fornecia uma visão privilegiada da noite estrelada.
- A entrada é aqui? - Shikamaru chacoalhou o prisioneiro que assentiu. - Como atravessamos?
- Sem o fragmento ... impossível. - Ele informou temeroso.
Naruto caminhou até a beirada daquele rio, tocou com as mãos vendo que realmente se tratava de apenas água sem nenhum tipo de outro material. Em concha acomodou um punhado em sua mão deixando escorrer. Levantou a cabeça para cima e viu um lampejo passar pelo céu, como se fosse uma estrela cadente. Apenas a imaginação de uma Hinata frágil sendo jogada naquele local o fazia embrulhar o estômago.
O desprezo por Sasuke não ter cumprido seu papel, a forma que Sakura o tratou como se fosse apenas um imbecil, e Shikamaru que parecia querer sempre dizer coisas óbvias sem nunca explicar propriamente. Seu sangue ferveu, mas então contemplou a água vendo seu rosto cansado e abatido. Observou o próprio reflexo na água límpida e tranquila, a irritação foi sendo dispersada dando lugar a uma intensa vontade de chorar, haviam chegado até ali, e agora não tinham como prosseguir. Uma lágrima solitária escorreu por sua face caindo na superfície espelhada. Sentiu-se egoísta, todos estavam fazendo o seu melhor, não era culpa deles... Imagens da jovem amarrada com correntes invadiram seus pensamentos, o medo prestes a dominá-lo, queria ir ao encontro dela, mas sem o fragmento seria impossível. Frustrado, ele socou a água, que provocou uma reação em cadeia, ondas começaram a se formar vindo de encontro com seus pés.
- O que você fez? - Sakura questionou se aproximando.
- Eu...- O lago antes pacífico, começou a se agitar com um rodopiar em formas espirais.
Naruto olhou atônito para o lago e sua figura borrada pelo agitar da água se transformou na imagem de uma bela jovem de cabelos negros que sorriu de volta para ele, a atração o fez estender a mão para tocar aquele belo rosto. Seu coração se encheu de esperanças, ela poderia estar no fundo daquele lago, ele a resgataria. Contudo antes que pudesse ajustar sua posição deslizou para dentro com os gritos de seus companheiros sendo abafados pela água que tocou ao redor de seu corpo.
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O jovem de cabelos prateados foi substituído por um homem corpulento, com uma imensa cicatriz no rosto, cabelos ralos pela idade, falhas capilares por tantos lugares, e uma pele em um misto de pálida e sem vida. Ela arregalou os olhos em pires, sua suspeita se fazendo correta. Assim que o jutsu de transformação foi desfeito ela percebeu que agora sim o chakra dele combinava, encaixava …
Como ela estava conseguindo vê-lo com tanta nitidez?
- Princesa, o que pensa que está fazendo? - Ele deu um passo para mais próximo dela revelando uma Tamaki trêmula de ombros caídos em suas costas. Ela havia delatado Hinata, era evidente.
- Estou apenas buscando as respostas que você não quis me dar. - Ela caminhou em volta dele com os punhos em posição de ataque, ele apenas riu e estalou os dedos.
Por todos os lados diversas figuras como bonecos a cercaram agarrando-a com brutalidade. A jovem girou o corpo para longe derrubando alguns deles enquanto partia em direção a figura corpulenta do estranho. Ao contrário do que ela esperava, ele se afastou e mais uma centena de marionetes choveram no espaço. Ela não poderia lutar contra todos, então olhou para o ponto de luz acima de suas cabeças. Parou assimilando que não teria saída.
Não naquele momento.
Seus braços foram presos em pesadas correntes que contrastavam com a delicadeza do tecido que usava. Ela olhou para o rosto estranho do sujeito que parecia tranquilo com toda a situação tensa. Tamaki se escondeu atrás da porta pesada da entrada, e alguns dos bonecos baixaram a cabeça em reverência quando ela se virou os encarando.
- Venha, o mestre irá recebê-la agora. - Ele informou.
Seguiram para mais fundo no cômodo alcançando uma fechadura que surpreendentemente dava para um quarto muito maior do que aquele que a mantiveram. Na cama a figura do jovem de pele alva, e cabelos prateados, estava imóvel com um pano em sua testa. Ela olhou para ele, e uma certa tristeza invadiu seu coração, mesmo sem saber o motivo.
- Aproxime-se Princesa. - Quase como um sussurro a voz dele soou.
Hinata caminhou pelo ambiente visualizando e absorvendo cada métrica contida naquele quarto. Era simples, com alguns livros na cabeceira da cama, um candelabro pequeno iluminava o suficiente apenas, e as janelas estavam tampadas com uma grossa cortina preta. Com certeza o protegendo de qualquer luminosidade. Ao chegar à beirada do dorsal, ele virou o rosto e ela pode ver que no lugar de seus olhos havia apenas um espaço onde deveria haver globos oculares. Ela engoliu em seco. A figura frágil ficou impassível quando ela levantou os braços para conter o espanto tapando a própria boca, o que provocou o ressoar metálico das correntes.
- Oh!.... - Ela exclamou pavorosa, e assim compreendeu porquê Shin estava se passando pelo jovem, o homem deitado na cama parecia apenas uma centelha de alguém muito doente e debilitado.
- Shin?... Você acorrentou a Princesa? - Ele informou com certa repreensão. - Solte-a e saia.
O homem olhou com raiva para Hinata, entretanto não debateu com Toneri, a soltou como solicitado e retirou-se do aposento.
- Lamento pela grosseria dele. - O jovem sorriu penoso.
- Por que me trouxe até aqui? - Hinata precisava de respostas claras, muito embora ela começava a entender o porquê estava naquele local.
- Princesa, acredito que tenha lido o pergaminho com a profecia da Princesa do Byakugan? - Ela assentiu sem interrompê-lo. - Por toda minha existência tenho buscado uma forma de recuperar meus olhos, meu clã, refazer minha família... após a guerra não sobrou muita coisa...
- E você acha que sou essa Princesa? - Ela questiona com pavor da resposta.
- Você é... mas eu não sabia com certeza até sua chegada. - Ele fez força para se levantar em vão, a fraqueza era explícita. Então em um gesto sem pensar, Hinata o ajuda a recostar sobre os travesseiros. - Obrigada. Sua natureza gentil a precede realmente.
- Gostaria que me explicasse absolutamente tudo sobre isso... - Ela apenas o incita a continuar.
- Bem, eu passei anos tentando despertar o tenseigan...
- O que seria esse tenseigan? - Hinata franziu o rosto apertando as mãos temerosa.
- Um doujutsu despertado primeiramente por Hamura Otsutsuki, o Senhor desta fortaleza... - Ele vira o rosto na direção da jovem prosseguindo com o relato. - Eu tentei despertá-lo através do conhecimento passado por meu pai, entretanto a cada tentativa meu corpo foi infligido ao estresse extremo, na última quase morri. Perdi minha sanidade por um tempo, e quando recobrei os sentidos finalmente compreendi que faltava uma peça no quebra cabeça. Então iniciei minhas pesquisas e descobri a ligação do seu clã com o meu. Eu estudei absolutamente tudo sobre vocês, e soube que o rapto de uma das filhas do líder do clã Hyuuga por ninjas da vila da nuvem, poderia ter sido mais que apenas uma forma de vingança entre vilas. Vasculhei eu mesmo os escombros da casa do antigo líder assassinado, e foi então que conheci Shin. Ele é filho do líder de Kumogakure... e foi ele que me contou que naquele dia muito mais foi levado.
Hinata prestava atenção a cada palavra proferida por Toneri, mas nada do que ele disse a fez se sentir mais pavorosa do que naquele instante. Shin era filho do mandante de seu rapto na infância, o pai dele foi aniquilado por seu pai, e na sequência seu tio foi morto em pagamento dessa dívida. O quanto de perigo ela correu ao estar na presença dele? Aquilo era uma espécie de vingança?
- Você se refere aos pergaminhos que passei meses tentando recuperar? - A incredulidade começava a tomar conta dela, se realmente eram eles então seu pai...
- Os pergaminhos foram selados especialmente, somente poderia ser rompido por membros da linhagem correta, para garantir a informação contida nele... eu não fui digno de encontrá-los. Então precisei procurar Hiashi. - A expressão de Toneri era tranquila, mas a de Hinata continha um pesar, uma dor que a cortava, enquanto a sua frente as respostas de suas perguntas que nem sabia que estavam presentes eram formadas.
- Meu... meu otou-san ... ele está ciente disso? - Apertando os lábios ela reprime uma lágrima que teimosamente tentava se formar.
- Sim... eu precisava de uma das filhas do líder, mas seu pai insistiu que deveria trazer você... E com sua chegada o recipiente de energia está mais agitado e pulsante... Está muito claro agora, somente você pode despertar o poder Princesa... Eu preciso que faça isso... - Ele suplica estendendo a mão para tocá-la.
- Ele sabia que o filho do líder de Kumo seria o responsável para me trazer aqui?
- Ah! Isso?... não, ele não sabia. - Toneri disse de forma tão segura que ela não pode conter o fio de alívio que a atingiu.
- Eu não farei isso... - Ela afirmou dando um passo para trás. Ainda estava em choque absoluto com tudo que o homem revelava, entretanto ela era uma ninja, precisava focar no importante naquele momento, deixasse os sentimentos para depois.
- Mas isso já está acontecendo... - Ele explicou calmamente. - Seus sentidos estão mais apurados com certeza, a sua comunicação por sonhos pode ter começado a esta altura, em breve conseguirá controlar os portais lunares.
- O quê...? Portais ...
- Diga-me com quem você sonha Hinata? - Ele ignora sua pergunta com uma espécie de expressão curiosa e divertida. - Não se engane o processo de maturação de seu poder iniciou. Logo estará completo e poderei restaurar …
- N-não posso fazer isso... - Ela se retirou do local batendo a porta sem nem ao menos responder as investidas do jovem.
Aquilo era uma loucura imensa, correndo ela retornou ao espaço onde o altar permanecia pacífico. Aproximou-se novamente do púlpito olhando os pergaminhos que ela mesma havia resgatado. Usada por seu pai, e agora instrumento de um moribundo ajudado por seu raptor. Precisava sair daquele local, mas como? O tenseigan poderia ajudá-la?
Ela subiu a escada até o círculo com energia tocando com ambas as mãos. Em suas palmas sentiu como um leve choque percorrendo em sua corrente sanguínea, fervendo como eletrodos, a luz se tornou tão forte que fez seus olhos se fecharem para proteger da forte luminescência, e foi assim que seu pensamento escorregou a levando diretamente para o shinobi de olhos azuis, aquele que chamava em seu sonho, uma fagulha em seu estômago a lembrou que sentiu que ele estava a caminho. Será que Toneri tinha razão? Ela conseguia se comunicar por eles? E se ela...
Como se pudesse estar novamente na torre do Hokage ela recordou do toque de Naruto, a intensidade que seus olhos se prenderam um no outro, recordou quando cozinhou para ele quando criança, de todas as vezes que conversaram animados sobre suas missões, lembrou do desastroso encontro no lago no festival, seu coração retumbava forte em seu peito, porque ali, sozinha perante o silêncio não sentia medo em dizer.
- Naruto, eu amo você.
Uma leve explosão ocorreu dentro da esfera, Hinata abriu os olhos e um fragmento voou diante de seus olhos para desaparecer como uma fumaça. Uma luz se fez presente, muito forte as suas costas, ela se virou e no chão uma forma circular brilhou, uma luz azulada que reluziu algumas vezes até que um contorno apareceu.
Primeiro o contorno daquele corpo, então os cabelos bagunçados, os fios loiros brilhando como um sol, o moletom laranja tão característico... Ela coçou os olhos, devia ser uma alucinação, estava tão louca que estava vendo o shinobi a sua frente. Então ele tossiu, cuspindo um pouco de água pelo assoalho.
Ela não pensou, nem sequer calculou sua atitude seguinte. Desceu os poucos degraus tropeçando na barra do vestido enquanto disparava em direção a ele. Se ajoelhou diante do corpo musculoso que se esforçava para sentar contra o piso frio, ela estendeu a mão direita tocando primeiro em seu braço, apalpando de leve, precisava realmente conferir se era real.
Olhos azuis se abriram desfocados, e depois de alguns segundos se prenderam aos dela, o sorriso invadiu os rostos joviais de ambos, em um alívio mútuo em estarem na presença um do outro, incendiando os corações. As palavras se prenderam em seu âmago, e sem pensar entrelaçou os braços no ombro do jovem. Ele estava úmido, mas não se preocupou com isso naquele momento. Em resposta sua cintura foi enlaçada por pares de bíceps fortes, a puxando contra o corpo molhado, o rosto dele foi enterrado em seus cabelos, enquanto a sua temperatura quente contrastava com o tremor pelo frio que ele sentia. E assim ela pode comprovar, ele realmente estava ali.
Naruto havia finalmente chegado.