
Vereda
“Você me encontrará no eco da escuridão
Decifrando o mistério do seu coração
Perdi você em um labirinto, agora me deixe sair
É amor, é amor, é amor
Sem aviso, sem sinal
Você vai me ligar ou vai se esconder
Há uma sombra em minha mente
Como posso saber disso
É amor
Diga-me
Onde estou no seu coração agora
É amor, é amor, é amor
Diga-me, o que você sente durante a noite
É amor, é amor, é amor
É amor”
Is It Love - Loreen
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No alto da montanha dos hokages, onde horas antes havia sentido o chakra cada vez mais distante de Sasuke e Hinata, Naruto observava os primeiros raios de sol tímidos que subiam como um prelúdio de um novo dia que estenderia ao seu belo prazer. O aperto que sentiu em seu peito com a sensação da longitude crescendo entre eles ainda estava presente. Questionar os motivos de ambos terem saído da vila no mesmo instante não seria possível, já que Kakashi–sensei estava inclinado a evitá-lo. Seria possível que estivessem juntos em outra missão? As perguntas se acumulavam em sua mente enfraquecida pela ânsia em obter respostas.
No dia anterior após seu encontro com Sakura, decidiu que iria conversar com Hinata, mesmo com receio de que Kiba e Shino o repelissem para longe dela, ou que o constrangimento fosse tão gritante que simplesmente não pudesse dizer o que queria. Quando encontrou os meninos do time oito sem a presença da jovem, assistindo os fogos de artifício, ele não pôde evitar, ativou seu modo sábio e percebeu que ela escapou mais uma vez por seus dedos. Aquilo era tão frustrante.
O sono que não o alcançou naquela noite o fez vestir seus moletons cinzas, e sua jaqueta laranja para ir ao parque Senju que ainda estava silencioso, para praticar alguns exercícios como técnicas de jutsu, concentrando os movimentos rápidos e precisos auxiliado por seus clones da sombra. Ao final seguiu para uma corrida intensa ensopando sua camisa azul e colando os cabelos em sua testa. Durante a sessão de exercícios esqueceu do que acontecia à sua volta nos últimos dias, agora sentado contemplando a beleza de um novo amanhecer, pensamentos desenfreados surgiam como faíscas a sua frente. Se os clones já não tivessem virado fumaça, poderia jurar ser eles os causadores daquelas frases que dançavam por seu cérebro.
Lembrava-se de meses antes quando Hinata perguntava como estava a sua adaptação com a prótese, oferecendo ajuda caso precisasse. Pensou sobre todas as vezes que ela retornava de uma missão e eles acabavam conversando sobre os desafios, assim como ele se via ansioso para atualizá-la de suas próprias desventuras. O riso frouxo entre eles, a conversa descontraída, que não era algo que compartilhava com outros amigos. Sentiu uma fisgada ao lembrar do tempo em que não sentia estranheza em conversar com ela.
Sempre a teve por perto, como sua ouvinte, incentivadora, o protegendo de sucumbir ao lado sombrio em ocasiões pontuais, e agora que sentia o abismo entre eles começava a compreender que ela se assemelhava ao sal de rámen. O ingrediente estava presente para que todo o resto fizesse sentido, e na falta dele todo o restante não tinha sabor, não tinha a menor graça.
“Talvez ela fosse o seu sal.”
Fracasso orgulhoso ela o chamou uma vez, como se não fosse nada demais, mas para ele significou tudo, e quando lutou ele fez por ela, cumprindo seu juramento de sangue a procurando na arquibancada. Era apenas os olhos dela que ele buscou, a primeira pessoa que viu seu coração, que o reconheceu, que acreditava nele além dele mesmo. É engraçado como as palavras de alguém pode marcar nossa vida como um ferro quente, deixando para sempre tatuado dentro de nós. Hinata o marcou, mas ele foi idiota demais notando apenas quando ela deixou de se fazer presente. Faltava um pedaço, uma parte importante de sua vida que ela levava toda vez que se afastava.
A vontade que sentiu em correr atrás dela, ultrapassando os portões da aldeia, pronto para se tornar um renegado apenas para que pudesse obter as respostas que buscava, foi imensa, mas tão logo a reprimiu porque ele sabia que se o fizesse e se prejudicasse, Hinata iria se culpar. Não poderia sequer suportar a ideia de vê-la sofrer, não por ele, jamais por ele. Ela dominava seus pensamentos, cada vez mais sentia sensações ao lembrar de suas mãos unidas, de seu toque suave, de sua voz sempre delicada, a forma que ela colocava os cabelos atrás da orelha... algo mudou, mas restava saber o quê exatamente.
Estava incompleto, e quanto mais analisada tomava ciência que a Hyuuga era a grande culpada disso. Se aproximar dela na porta do líder da folha trouxe uma sensação elétrica para sua mão quando sobrepôs a pele alva e delicada. Mesmo agora, após o episódio, ainda podia sentir o choque correndo por seu braço acordando partes de si, alertando para o que aconteceria a seguir.
“Desejou mais. “
O vento gélido soprou seus cabelos espetados para longe e com ele seus pensamentos conflitantes, não poderia ficar sentado aguardando uma grande revelação surgir a sua frente, procuraria respostas por conta própria.
Saltando entre os telhados precisou de poucos minutos para aterrissar na fachada de vidro elegante que permitia a entrada de luz natural. Caminhou para a entrada não sendo incomodado pelo assistente que arrumava algumas das cadeiras confortáveis, bastou um aceno para que pudesse estar livre entre as estantes organizadas por categorias, gêneros, e vasta coleção de livros.
O primeiro andar da biblioteca da folha era uma espécie de ambiente interativo, para alunos ou aulas especiais. O segundo andar possuía uma seção de referência, já o objeto de seu interesse estava no terceiro andar. Cruzou mais alguns corredores, para então encontrar o que procurava. “ Konohakagure: a história das famílias fundadoras”. Sai estava o tempo todo buscando se aprimorar nos anos seguintes que foi absorvido ao time sete, e os resultados foram positivos. Às vezes encontraria alguma resposta para a mudança abrupta da jovem mestre em juuken.
O livro pesado possuía uma capa de couro marrom escuro, com detalhes em dourado nas lombadas e nas letras do título. O acabamento era clássico, com um toque de sofisticação que refletia a importância histórica do conteúdo. A capa também exibia um emblema da folha e um brasão de diversos clãs discutidos em seu vasto interior. Passou os dedos pelo índice encontrando a página que desejava.
Uma longa descrição dos significados do símbolo do clã, para em seguida ver algumas das técnicas do doujutsu byakugan, deslizando mais os dedos, virou a página e encontrou uma árvore genealógica. Nada demais. Leu alguns nomes de predecessores da técnica ocular, correu os dedos pelos sobrenomes contudo parou em um que desconhecia, aquele nome em particular chamou sua atenção.
- O..o...t... - Já ouvira em algum lugar, tentou forçar a mente para se lembrar, tendo seus esforços interrompidos com a voz que o fez sobressaltar.
- Naruto, o que...que faz aqui? - Shikamaru apareceu por entre uma fresta do espaço deixado pelo exemplar que segurava.
- N-nada.. Como vai Shikamaru? Estudando hein? - Fechou o livro com um estampido seco o colocando rapidamente de volta ao seu lugar. Levou a mão esquerda para a nuca coçando os cabelos nervosamente. Se sentiu como uma criança travessa pega com a mão no pote de biscoitos.
O jounin deu a volta pela estante se aproximando do livro lendo o título do exemplar com as sobrancelhas erguidas, e com a boca sorriu ladino com a constatação que somente ele estava ciente.
- Entendo. - Falou com certo ar displicente. - Me diga de uma vez, o que faz aqui? Acaso pesquisava sobre um clã específico?
A certeza na voz do amigo fez algo se agitar dentro de seu estômago.
- Eu só...estava...estudando...preciso estar bem preparado para ser o próximo Hokage, dattebayo! - Elevou o dedão em sinal positivo.
- Chega disso, você está agindo de forma estranha, andando por aí em atitudes suspeitas... o que está acontecendo? - Shikamaru levou a mão na cintura esperando ouvir a resposta.
- Bem... A Hinata tem me evitado sabe, e quis ler mais sobre o clã para tentar captar algo que me ajudasse a entender o que está acontecendo... eu sei que Hiashi-Sama é bem rígido, talvez ele não queira que ela se aproxime...eu.... só...
A revelação escorregou por seus lábios, dando a sensação que ansiava a oportunidade de pôr em palavras audíveis o que somente ele sabia.
- Isso é um saco. - O moreno deixou a feição pesar. - Escute Naruto, por acaso você já se perguntou os motivos dela ter se arriscado por você contra Pain? Acaso alguma vez reparou a forma que ela olha pra você? - Ele encostou na estante defronte para o loiro.
- Eu pensei...tentei ... mas doía, só... ela é tão corajosa...eu até pensei que..., mas sabe por mim, por que alguém como ela se arriscaria por alguém como eu? - Não era o que queria dizer, mas foi o que saiu sem freio ou qualquer ponderação.
- Você se dá muito pouco valor, sabia? - Tocando em seu ombro o inteligente Nara o olhou com ar de compreensão. – Naruto... há coisas que sentimos que os livros são incapazes de nos ajudar a entender... Só, tente se recompor. - Ele se virou para um corredor deixando o shinobi pesando sobre seus próprios devaneios.
Hinata era a primogênita de um poderoso clã, próxima líder, a aluna mais inteligente de sua turma, gentil, corajosa e... linda. Uma princesa e ele apenas... o atrapalhado Naruto, tratado com desprezo por anos a fio, sem amigos, respeito ou reconhecimento. Somente após a Quarta Guerra Ninja, finalmente conseguiu o reconhecimento que almejava. Agora as pessoas o parabenizavam por suas conquistas e sua importância para o mundo ninja. Era uma nova fase, recebendo apreço de outros ninjas de vilarejos distantes, presentes e saudações por onde passava. Ele tinha tudo isso agora, e mesmo assim não estava à altura dela. Eram como a Bela e a Fera de Konoha.
Ansiava por estar com ela, queria poder conversar sobre assuntos corriqueiros, ver a bela face enrubescer por ele mais uma vez, entretanto, algo havia escorregado de seus domínios. Estava ficando muito evidente que ela estava tentando manter-se longe dele de certa forma, e o medo que assombra seu coração se fazia presente. O tremeluzir de uma possibilidade de nutrir um sentimento um pouco mais forte do que somente uma amizade preciosa. O temor dela simplesmente não estar interessada.
Eles passaram por tantos desafios, que era algo absolutamente surpreendente estar ciente que caso cometesse um erro grotesco poderia estragar o restinho de ligação que ainda poderia existir. Precisava encontrar uma forma de entender todo o caleidoscópio de emoções que vivia, esse era o primeiro passo para poder se reconectar com Hinata.
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Ao abrir os olhos a luz já se infiltrava através da tenda surrada, projetando padrões geométricos suaves. Em seus braços o cachecol que apertou durante a noite a lembrava de todos os motivos que a trouxeram até ali, longe dos olhos e longe do coração. Pelo menos é o que ela esperava.
A temperatura dentro da barraca era fria por isso apressou-se a surgir na clareira. As copas das árvores criavam um padrão de sombras dançantes no chão. As primeiras luzes do sol já haviam sido quebradas com o passar das horas, pelo jeito Sasuke havia a deixado descansar um pouco além do necessário. As cores do acampamento eram naturais e terrosas. Fechou os olhos para absorver melhor a sintonia natural de pássaros cantando suavemente, o farfalhar de folhas em contato com o vento, o murmúrio de um riacho, aquela alma mágica em contato com a natureza em sua forma mais crua. O cheiro de pinho se misturava com o aroma de cinzas deixado pela fogueira da noite passada.
Seu parceiro não estava perto, o avistou há alguns metros coletando água em seu cantil. Reunindo seus pertences, desmontou a barraca adiantando o trabalho para que partissem. Em todo o percurso que realizou no encalço do Uchiha, era evidente que ele sabia de sua presença. Se ele permitiu ou se estava agindo com descaso não sabia, porém não desejava descobrir. A oportunidade e a vontade haviam se aberto para ela, assim que o calado ninja retornou a folha. Todos sabiam que em breve ele partiria, e ainda não estava em uma posição de segurança para estar na estrada sozinha, era uma ninja, mas ainda assim segui-lo pareceu uma opção melhor do que sair errante pelo país.
O hokage havia sido bondoso com sua solicitação, um tempo fora da vila poderia proporcionar a escassez das fofocas, e das visões de Naruto sendo cercado por jovens, ou ainda em contato íntimo com Sakura. O surpreendente de toda aquela inusitada situação foi seu pai, um homem absolutamente rígido sugerir que ficasse fora de vista, imune ao turbilhão de falácias que agora atingiram uma camada estratosférica, com pessoas afirmando que o herói da folha estava noivo. Quando o encontrou na torre não reparou em nada que pudesse indicar um compromisso mais sério, porém, era o Naruto, talvez não estivesse pronto para mostrar.
O toque que ele forneceu em sua pele queimava como uma marca febril, a distância entre eles que foi encurtada trazendo um redemoinho de sensações, percorrendo como fogo por todas as suas extremidades. O letreiro de perigo estava bem à sua frente, alertando, gritando sobre a necessidade de seguir em frente. Fazia tanto tempo, como poderia algo ainda estar tão vivo após a inércia daqueles anos. Analisando agora, o passar do tempo apenas promoveu que as raízes desse sentimento se aprofundassem mais dentro de seu coração, se entrelaçando ao seu ser, convergindo em seu DNA. Sabia o que precisava fazer, mas o que precisamos e o queremos, são duas vertentes diferentes.
A figura escura do ninja tocou suavemente o solo, abafando o impacto que foi absorvido pela grama. A postura equilibrada estava em alerta, com a presença dela, era palpável o desconforto. Ele olhou em volta, certificando que todos os itens foram coletados, enquanto ela estava sentada no mesmo tronco da noite anterior. Ajeitando a capa ele se aproximou com ar seco e direto.
-Estamos próximos da vila do artesão...preciso ir até lá antes de seguir caminho. - Ele estava dizendo entre linhas que o caminho era dele, sendo ela uma parte inesperada.
- Sasuke-kun, tudo bem... – Concordou com o anúncio, mesmo que não houvesse a chance de se posicionar contra.
Não eram amigos, nem parceiros, poucas foram as oportunidades de estarem em uma missão juntos, o respeitava como o excepcional ninja, tão estimado por Naruto. Contudo em seu íntimo carregou mágoa por todo o sofrimento que ele causou. Ainda recordava do ar cabisbaixo do shinobi loiro, seu sofrimento quando seu companheiro de equipe, seguindo suas próprias ambições, afastou-se da vila para treinar com Orochimaru, trazendo grande dor para aqueles que o amavam. Contudo já não sentia mais aquela condolência.
Ela não continha muito apreço por ele, entretanto compreendia a sua ânsia em provar que estava sob novas perspectivas. Presumivelmente, foi por isso que não a repeliu na noite passada. Fazia parte de sua busca para reintegração. Em um futuro poderia utilizar da premissa que estava a protegendo em seu breve afastamento da vila, uma Hyuuga do ramo principal. Não havia jogo entre eles, sabiam o que eram e o que buscavam, a junção de ambos era apenas uma complementaridade de objetivos para cada um.
A caminhada ao longo da trilha sinuosa pela floresta que os levaria aos portões de entrada, possuía uma vista panorâmica com montanhas e paisagens circundantes. O dia já estava mais claro com o passar das horas, o calor já começava a se fazer presente. O colete de proteção de sua veste ninja começava a provocar suor por suas têmporas. Prendeu os cabelos em um coque solto em busca de melhorar a sensação de calor. O ritmo entre eles era moderado, ocasionalmente lançava um olhar para a capa que serpenteava a sua frente. A postura ereta e tensa do Uchiha parecia estar um pouco mais relaxada conforme se aproximavam do destino.
Após uma longa caminhada, cruzaram os imponentes portões da vila dos artesãos, a madeira continha padrões esculpidos e desenhos que representavam a tradição do local. Logo estavam em um pátio espaçoso e bem cuidado, com um caminho de pedra pavimentado que os levavam para dentro da vila.
Havia a sua volta jardins exuberantes com plantas e flores que denotavam o esmero dos cuidados que recebiam. Ao lado da entrada existia uma espécie de recepção, para informações gerais sobre o povoado.
A profunda contemplação da vida simples das pessoas que passavam por eles, os observando com uma certa curiosidade, transmitia um sentimento genuíno de conforto. Embora Sasuke não expressasse verbalmente, parecia estar aproveitando o mesmo. Ambos estavam calados, e ainda não tinham trocado muitas palavras, o que era algo positivo. Ajudava a pensar e reorganizar os pensamentos. Quem sabe eles poderiam ser amigos silenciosos.
A vila especializada em artesanato e criação de itens ninja, já contava com o início da movimentação de pessoas por suas ruas, e o falatório de crianças que brincavam enquanto se dirigiam a academia ninja. O estilo arquitetônico refletia o negócio do povoado, muitos dos edifícios eram de materiais de alta qualidade apresentando um design detalhado e elaborado. O Uchiha apenas continuou caminhando enquanto ela absorvia o ambiente, as pessoas, e o barulho da vida acontecendo a sua volta. Por um momento parou para contemplar uma camélia vermelha, uma das flores preferidas de sua mãe. Ao seu lado sentiu a presença do ninja, parado observando a pequena flor em seus dedos.
- Uma Tsubaki... – Ela sussurrou - representa humildade, discrição e amor perfeito. - Explicou mais para si do que para Sasuke.
- Como sabe? - Sua voz era direta, mas não continha nenhuma gota de desdém.
- Eu as prenso...- Ressaltou com um sorriso amável. Um som saiu de seu estômago, o sinal sonoro foi claro e audível como um trovão.
- Está com fome, Hinata? - A pergunta saiu estranha e embaraçosa fazendo seu rosto queimar ficando da cor de uma beterraba em chamas.
Desviou os olhos e confirmou com a cabeça, então a expressão do ninja sombrio antes dura suavizou em algo que quase esboçava um sorriso.
- Vem. - O Uchiha indicou o caminho enquanto ela ainda segurava a delicada flor nos dedos.
Tudo que precisaram fazer foi atravessar a rua para serem inundados com o cheiro de alho, cebola e salsa, provocando uma espessa saliva em sua boca. Ao entrarem no restaurante pitoresco, “Artesão do Sabor", que servia diversos pratos especiais, escolheram uma mesa mais afastada, ao fundo do estabelecimento. Os cardápios estavam sobre a mesa, lendo os diversos pratos acabou optando por um muito conhecido, o sabor da montanha. Um robusto ensopado com curry, ingredientes frescos e especiais. Sasuke pediu o mesmo apenas levantando os dedos quando o garçom anotou o seu pedido.
Sentados nas confortáveis poltronas marrons um de frente para o outro, sentia–se deslocada com a presença do sério ninja que causou tanta dor a Naruto em tempos passados. Observava sua postura tão ereta e dura com um olho sendo coberto por seus negros e grossos fios, enquanto o olhar livre corria para fora do vidro.
- Sasuke–kun... você ainda não perguntou por que eu quis vir com você. - A cabeça se moveu lentamente enquanto ele se voltava para ela.
- Realmente... - A expressão estava relaxada, contudo um lampejo de luz passou em sua profunda orbe negra. - Diga-me Hinata, por que quer ficar longe de Konoha?
Pega de surpresa pelo questionamento tão direto, correu o olhar para as mãos apertando os dedos nervosamente, juntou os dedos entrelaçando em seu colo a par do jovem que assistia o seu desequilíbrio repentino. Um rubor subiu para suas bochechas como se estivesse febril. Mordeu a carne macia da própria boca internamente reprimindo a sua resposta.
- E-eu ... - O garçom se aproximou com as tigelas depositando em frente a ambos a salvando do interrogatório que o Uchiha havia iniciado, por culpa exclusivamente dela.
Agarrou a colher levando o sabor do caldo a boca, sentindo um aconchego instantâneo quando engoliu a primeira porção, fechou os olhos para aproveitar a mistura de temperos, que dançaram em seu estômago a fazendo se acalmar. Os momentos seguintes foram de barulhos de ambos sugando o caldo, enquanto ela pedia uma outra tigela. Sasuke subiu uma sobrancelha quando a terceira tigela era esvaziada. Ela não se importou em comer a quantidade que sentia vontade, e ao final recostou-se na cadeira observando a rua pelo vidro do restaurante.
Do outro lado uma jovem de cabelos azuis passava sorridente com um jovem ao seu lado mais alto que ela, que contava algo aparentemente engraçado, riam alto chamando a atenção de algumas poucas pessoas que estavam próximas. Não conseguiu deixar de sorrir no instante em que o garoto beijou a mão da jovem a fazendo levar a mão à boca e encher o rosto de uma coloração vermelha. Voltou ao ambiente do estabelecimento observando o enigmático ninja à sua frente. Queria há muito tempo fazer uma pergunta a ele, mas não sabia como pôr em palavras.
- Posso te fazer uma pergunta? - O moreno não a respondeu ao invés disso observava a cena do casal do outro lado, agora ambos estavam abraçados. Sem consentimento ou repreensão, prosseguiu. - Como é apenas...seguir em frente?
Sasuke a mirou com uma feição estranha, como se sentisse dor ou apenas estivesse chocado com a audácia na pergunta dela. Ele recostou o tronco no assento, baixando os olhos e na sua frente pela primeira vez, ela conseguiu ver um jovem como qualquer outro. A barreira invisível que ele mantinha desapareceu por poucos segundos, para logo emergir.
- Viver a vida não se explica Hinata. - O jovem levantou a cabeça agora mirando algo acima dela.
Automaticamente, ela ativou o byakugan, mas tudo que viu foi um homem mais velho que estava no balcão fazendo um pedido, enquanto dezenas de cidadãos se amontoavam pelo estabelecimento em busca de uma mesa.
A resposta e a pergunta se perderam, entretanto o carrancudo colega de viagem poderia ter razão. Seguir em frente é escolher viver, e isso ela já havia decidido há tanto tempo, é que era apenas difícil desistir, aceitar o imutável. Desde que se lembrava buscou a aceitação e reconhecimento, não dos outros, mas de si mesma, em toda etapa de seu caminho manteve a firmeza de sua determinação e provou seu valor. É mais fácil quando algo depende exclusivamente de você, entretanto quando precisamos entender as escolhas alheias, torna-se um tópico mais sensível. Em seu coração a gravura permaneceria, assim como a esperança de que com o tempo e espaço as novas perspectivas ajudasse a curar suas feridas.
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As portas de papel de arroz estavam fechadas e seladas para que os outros habitantes não ouvissem a pauta abordada daquela reunião. A mansão tradicional da residência do ramo principal, presidia mais uma vez um aglomerado de importantes membros ajoelhados, ou sentados com as pernas dobradas nos confortáveis tatames. Na mesa central incensos queimavam emanando um cheiro de canela pelo espaço. Precisava atrair sorte e boas vibrações.
Sentado diante dos ilustres presentes, Hiashi trajava impecavelmente seu formal quimono, denotando a alta patente. Os anciãos e, membros de destaque demonstravam extremo respeito por sua trajetória, e ainda assim não deixavam de pressioná-lo a todo instante nos variados assuntos abordados. Primeiramente falaram da cerimônia do Hokage e como a nova liderança afetaria o clã. Discutiram estratégias para que pudessem equipar ainda mais o complexo de treinamento. Um de seus liderados apresentou um plano para reforçar a defesa dos muros a fim de evitarem transgressões ou invasões. Citando o rapto de sua primogênita, anos antes por membros da vila da nuvem.
Lembrar do episódio o fez endurecer a postura recordando dos momentos de angústia que sentiu sem saber o que acontecia com sua filha mais velha. O caso ocorreu no terceiro aniversário dela, quando Kumogakure e Konoha estavam em guerra. A tentativa de colocarem um fim ao confronto, utilizando a assinatura de um tratado para a paz, revelou-se ser nada mais que um plano para sequestrar a herdeira Hyuuga em busca dos segredos do byakugan. Ele moveu todos os recursos possíveis para seu resgate. E quando a mesma foi recuperada, a vila da nuvem negou todas as acusações exigindo sua morte em troca do Ninja Chefe que foi abatido no processo.
As consequências foram catastróficas, trazendo sofrimento para todos, inclusive para a própria jovem. O fato jamais foi esquecido, e quando solicitou a emissão para que fosse feita buscas nos escombros do antigo lugar onde Hinata foi mantida em cativeiro, simplesmente não puderam negar.
Nos anos que se seguiram, seus esforços foram concentrados em fortalecer a primogênita para que pudesse suprimir sua natureza amável e gentil. A falta de confiança dela era frustrante, no fundo apenas buscava que ela fosse bem sucedida, e no final o que conseguiu foi um afastamento emocional. Com o tempo, passou a reconhecer o seu valor, assim como suas ações corajosas e seu crescimento como ninja, alguém que de certa forma admirava por manter-se fiel a suas virtudes e qualidades irretocáveis. Era uma mistura de expectativas, preocupações e amor. E apesar de tudo ainda assim a jogou para o lobo se justificando que era o que deveria fazer. Isso o levava ao momento à sua frente.
A reunião extraordinária foi solicitada por um dos proeminentes membros do clã, avô de Tetsu, um dos mais preocupados quanto à sua sucessão. Ele gesticulava irritadiço enquanto questionava o paradeiro de Hinata.
-Como podemos apenas aceitar que a primogênita esteja pelo mundo sem proteção, ela ainda é a próxima líder, é a herdeira Hiashi-Sama. - O homem de cabelos tão brancos quanto algodão argumentava com repulsa na voz.
Hiashi estava completamente inteirado de que o assunto seria debatido no encontro, e suspeitava que a audiência era justamente para que pudessem obter maiores informações. Meses atrás quando comunicou que a jovem acompanharia a equipe até a vila de komugakure enfrentou protestos e acusações de não se importar com a segurança da própria filha.
“Se eles soubessem tudo que estava em jogo ainda assim seriam contra suas ações?” Não deixava de questionar.
Além do ojiisan de Tetsu, outros membros agora prestavam atenção em sua postura analisando com olhos argumentadores o que ele responderia. Ocorre que de certa forma incompreendida alguns membros souberam da solicitação de Hinata junto ao hokage. A agnição da partida solicitada pela ninja desencadeou uma atmosfera de desconfiança e apontamentos sobre a falta de satisfação fornecida pelos passos dela. Sempre foi desta forma, avisá-los das missões, de sua partida e retorno, assim como o desempenho da jounin. Esta havia sido a primeira vez que algo escapou de seu controle, e a informação foi fornecida longe de sua eloquência.
- O assunto de Hinata é apenas dela, logo ela retornará.
- Ela é a herdeira! O assunto dela é de todos nós!! - Um outro membro mais velho que o primeiro ressaltou.
- Essa questão ainda não foi definida. - Controlava a voz com sua frieza de sempre. Não desejava iniciar um novo debate sobre a sucessão do clã. - Bem prezados senhores, isso é tudo por hoje.
Com um levantar de mãos todos os que cochichavam se calaram, e no momento em que o líder sinalizou para que abrissem as portas, a reunião foi finalizada. A preservação do clã assim como a honra era importante, porém o legado e sua sustentação se sobrepunham. O dever antes do sangue.
Pesadamente ergueu-se para ir até seu escritório. Sobre a escrivaninha o bilhete com a letra redonda e bem desenhada de sua filha mais velha ainda estava no mesmo lugar, sendo segurado por um de seus muitos bibelôs. Sentou em sua cadeira alta e bem adornada lendo as linhas graciosas:
“Outo-san, segui o seu conselho. Eu sei, foi sutil, mas já o conheço bem para entender as entrelinhas em suas palavras. Irei me afastar e dentro de poucos dias retornarei. Aishiteimasu"
Ele também a amava, era evidente. A garota era a imagem de sua esposa, sua amada, que deixou dois tesouros para que cuidasse e protegesse. Contudo, ainda assim, precisava tomar conta daqueles que dependiam de suas decisões. Será que algum dia ela o perdoaria? E se não conseguisse, ele viveria bem com isso? A hora já se aproximava, o momento traçado há meses anteriores estendia-se à sua frente. A traição de sangue era algo imperdoável, ele sabia dos riscos. E ainda assim confiava que ela faria a escolha certa.
Deslizou as mãos para a gaveta lateral rodando o disco giratório para que a combinação de números e marcações conectasse em um clique audível. Em seu interior o fragmento do pergaminho deixado para trás possuía a preciosa confirmação. Franziu o cenho para a porta quando uma Hanabi muito dançante passou por ela sem bater.
- Oi papai. - A menina tinha nas mãos uma Kunai com um enfeite pendurado o rodopiando entre os dedos alegremente. Hiashi não respondeu, voltando o papel ao cofre e o trancando com um giro rápido. - O que estava lendo?
- Você deveria estar na cama. - Sentada em uma das poltronas ela agora estava com as pernas esticadas no braço de descanso do móvel.
- Vim apenas perguntar se a mana vai demorar a voltar...ela não me disse nada. - Estreitou os olhos para o pai.
- Acredito que logo teremos notícias...
- O que quer dizer? - Ficou em silêncio, ela era esperta poderia perceber. - Tem algo a ver com o fato de ter me pedido para contar para ela sobre o namoro do Naruto? Aliás, outo-san, por que me pediu que fizesse isso? Ela ficou bem mal depois...
- Hanabi, chega de conversa. Retorne ao seu quarto. - A garota parou de girar a Kunai o olhando com ar de desentendimento.
- Outo-san... – Ela fez beicinho para ele levantando-se, agitando o quimono verde limão saindo pela porta dando pisadas fortes e duras pelo corredor. Ele sabia que futuramente haveria mais perguntas da filha sobre o que andava ocorrendo, mesmo sendo cauteloso ainda seria difícil conter o seu interesse pela vida privada de Hinata. Até esse momento chegar, tudo já teria acabado.
Sentiu pesar suas atitudes mais uma vez. Usar uma criança para aquele jogo sujo de manipulação era cruel, baixo e egoísta visto de fora. Para ele, era necessário fazer o que era preciso. Pelo menos era o que vinha repetindo há meses a fio. O abraço que deu na jovem quando retornou chorosa do Yakiniku o fez repensar se tudo valeria a pena, seu coração de pai se afundou ao vê-la daquela forma. O sabor amargo de suas atitudes inundava sua boca.
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O caminho até a vila dos artesãos foi silencioso o agradando profundamente. A presença de Hinata era muito sutil. Diferente de sua colega de equipe, que era barulhenta quase como Naruto, a jovem Hyuuga era calma, transmitindo uma serenidade que apenas se encaixava com sua forma de ser. Talvez tenha sido por isso que nunca tenha tido muito contato com ela no passado. Ela não forçava sua presença, apenas mantinha a aura dócil e tranquila, uma verdadeira herdeira. Logo se acostumou com sua compleição caminhando suavemente ao seu lado. Em algum lugar dentro de si começou a avaliar que ter companhia não era algo tão ruim.
A vila estava desperta quando atravessaram os portões, e por onde passavam muitos olhos caiam sobre eles, talvez por suas vestes de ninjas, ou pela faixa da folha que sua parceira utilizava no pescoço. Não saberia dizer.
Assim que seguiram pelas pedras do caminho para mais ao centro da aldeia, sentiu a sombra de Hinata parar abruptamente para coletar uma flor vermelha em suas mãos pequenas. Ficou surpreso pelo hobby que ela disse ter, prensar flores era algo que definitivamente combinava com a figura da garota. Ele mesmo não tinha um passatempo preferido, ou algo que fazia por simples prazer. Há muito tempo que sua diversão era apenas treinar e meditar sobre suas ações, porém aquilo não poderia ser considerado como um hobby. Poderia?
O som do estômago da Hyuuga o fez rir, embora por fora o que saiu foi um sorriso discreto e contido, ele também estava faminto e ficou surpreso com a quantidade de sopa que a pequena kunoichi foi capaz de sugar. Percebia que passar tempo com alguém poderia revelar muitas coisas, mesmo no silêncio abafado. Ele desejava uma oportunidade de questionar o que a repeliu para longe da vila, entretanto receava da mesma se assustar e fugir. Precisava seguir com o pedido de Kakashi e mantê-la por perto, ficar de olho nela. Ele temia isso, mas mesmo assim a pergunta foi lançada e não respondida, já que o garçom possuía um timing péssimo chegando no mesmo instante. Ao invés dela responder sua pergunta, foi ele que acabou respondendo o questionamento dela. Esperta.
Enquanto mirava a face corada a sua frente não pôde deixar de perceber um homem com uma cicatriz no rosto, prostrado no balcão com o olhar fixo em sua mesa, um segundo depois ao voltar os olhos ao local ele já não estava. Hinata instintivamente ativou o byakugan, mas já não tinha nada a ser captado. Deu de ombros, àquela altura o restaurante estava apinhado de clientes, deveria ser apenas mais um. Eles seguiram pela vila, precisava comprar alguns itens de viagens, talvez até uma nova cinta para sua espada.
- Hinata, o que era aquilo que você segurava enquanto dormia? - Estava ao lado dela caminhando em seu ritmo quando fez a pergunta. Ela o olhou com olhos arregalados com um tom de algo mais, que ele não captou. - Fala sério, só estamos os dois aqui...
- Um cachecol Sasuke-kun...- Ela apertou os dedos a frente do corpo, seu corpo tencionou e ele percebeu que havia atingido um ponto sensível.
- Nesse calor? Por Kami ... - Ele não conseguiu refrear as palavras. - Então a pergunta que fiz no artesão do sabor...você ainda não me disse ... Do que está fugindo Hinata?
A jovem de cabelos negros azulados, parou por um breve instante, seu rosto vermelho e os lábios contraídos para baixo dando uma sensação que em breve começaria a chorar.
- Acho que você sabe...assim como todo mundo não é mesmo? - Os olhos dela prenderam nos negros do Uchiha, havia ali uma dor que ele se amaldiçoou por ter provocado. Quis se desculpar por sua grosseria, mas era o Sasuke e as palavras não sairiam.
- Fugir...quando retornar o problema ainda vai estar lá...- Foi o mais próximo de um pedido de desculpas que conseguiu.
- Sábias palavras... - Ela hesitou observando seu rosto inexpressivo. - Mas não sou a única que está fugindo de algo Sasuke-Kun.
As palavras da tímida Hyuuga fizeram a bile surgir em sua boca, queria contradizê-la, mas a verdade é que ela estava certa. Sem nada a acrescentar, prosseguiram o caminho. Percebia agora que ambos carregavam muito dentro de si mesmos, e assim como ele, Hinata estava em uma jornada, e cabia apenas a ela decidir por quais caminhos prosseguir, fosse este o mais difícil ou um atalho.
No centro da aldeia havia diversas barracas com vendedores que ofertavam seus produtos enquanto eles passavam por eles, mesmo alguns passos à frente Sasuke não deixava de estar ciente dos passos lentos da Hyuuga. Em uma das ruas mais afastadas ela se prostrou mais rápido indo em direção a uma tenda pequena com uma Senhora de cabelos brancos que sorria gentilmente. A atitude o irritou um pouco o fazendo ter que ficar esperando enquanto ela olhava para os itens dispostos.
- O que está fazendo? - Contrariado se aproximou dela com seu costumeiro mau humor.
- Comprando material para prensar ...- Ela mostrou a pequena flor que ainda tinha em seus dedos. - Desculpe fazê-lo esperar Sasuke-kun.
Ele olhou melhor para a bancada com papéis finos, outros mais amarelados, tesouras de pontas, materiais de metal, caixas de madeira adornadas com desenhos de flores, pinças e vários outros itens que não sabia para que serviriam. Hinata sorriu para ele com seu ar despreocupado e leve. Ele girou a cabeça para a velha senhora que olhava para ele com um rosto gentil, contudo ainda denotando estar intimidada com sua presença.
- Certo. Estarei na barraca de lâminas. - Se afastando rodopiou a capa observando mais uma vez enquanto a vendedora abriu uma pequena caixinha de madeira mostrando algo para a jovem.
Alguns metros à frente um Senhor baixinho com inúmeras verrugas no rosto interceptou seu caminho realizando uma reverência exagerada. Detestava ser interrompido daquela forma, entretanto precisou parar devido ao caminho estreito.
- Olá jovem senhor! - O homem olhava com um sorriso largo e receptivo, porém Sasuke não gostou da interrupção em seu trajeto o fazendo fitar o homem com um certo asco. - Vejo que possui uma linda espada ...venha a minha... loja temos excelentes armas e acessórios. - Gesticulando para a loja do seu lado esquerdo.
O ninja de cabelos negros franziu o cenho enquanto observava o antiquário, não havia estado naquele local em suas visitas anteriores a vila. Na vitrine pode ver a quantidade de armas esguias e bem lapidadas. Meio incerto entrou no estabelecimento, onde um outro homem, este um pouco mais alto que o Senhor que o abordou na rua, aguardava os clientes atrás do balcão. O rosto do atendente parecia familiar de alguma forma, porém não se recordava de já tê-lo visto.
- O que procura meu jovem? - O tom do atendente era amigável, mas ele não respondeu, ao invés disso tomava ciência do velho sorridente atrás de si.
Ao invés de seguir com um cumprimento seus dedos deslizaram pela lâmina de uma Kyoketsu Shoge disposta sobre o balcão de atendimento. O corte curvo contendo em sua ponta uma corrente com uma garra de espinhos usada para prender ou restringir movimentos era brilhante e chamava a atenção pelos detalhes elegantes. Sasuke segurou nas mãos o objeto sentindo o peso do metal, rodou em sua única mão com habilidade enquanto seus olhos captavam o engolir seco do homem. Depositou a arma novamente sobre o suporte dando mais um passo próximo do atendente, assustado ele caminhou para trás com um olhar perturbado, medo. Ele podia sentir as fagulhas no ar de algo se formando.
- Vá. - Disse baixinho para o homem que saiu correndo de trás do balcão no mesmo instante. Empunhou sua espada dando passos para mais fundo na loja.
A sombra que sobrepujou suas costas o fez se virar apunhalando algo que demonstrando agilidade correu para o outro lado deslizando vários metros. O velho sorridente havia acabado de se transformar em uma espécie de boneco. Sasuke impulsionou-se sobre a imponente criatura a sua frente acertando o braço que caiu no chão com um barulho estrondoso. O seu atacante se colocou em pé vindo em sua direção apenas para que o distraísse, atrás de si podia ver mais dois bonecos gigantescos tentando atingi-lo, o que foi em vão quando se protegeu com seu susanoo. As figuras tentavam utilizar os braços e habilidades para atacar, que eram repelidos pelo ninja. Diversos itens eram derrubados e os sons de vidros se estilhaçando pelo chão percorriam o espaço, enquanto ele se agitava com diversos golpes cortando partes das criaturas. Quando uma delas o atingiu nas costas, ele percebeu que precisava terminar com aquilo.
Com uma pirueta no ar se põe afastado dos seres para então formar em sua mão uma grande quantidade de chakra sendo conduzido em alta intensidade e velocidade para sua Kusanagi, uma vez o Chidori canalizado, ele corre entre os atacantes para enfim terminar do outro lado do espaço com ambos caindo atrás de si.
Voltando a espada a sua cintura, ele se vira observando, eram três bonecos imensos, com um design que misturava elementos tradicionais, exceto por detalhes ornamentais que se alinhavam com símbolos desconhecidos. As figuras usavam uma máscara deixando apenas os olhos de fora. Ele se abaixou puxando o pano de um deles, observando que seu rosto era inexpressivo e vazio. Não eram humanos. Um deles caído mais a sua direita se remexeu, e quando se aproximou pode ver um fio de chakra escapando por suas costas.
“Estavam sendo manipulados por alguém.”
Quando Sasuke passou a espada pelo fio o boneco se desfez e todos os outros desapareceram, franziu o cenho para a cena. Quando um entendimento passou por seus olhos. Ele correu o mais rápido que podia, passando pelas pessoas, as empurrando, ofegante, seu coração estava acelerado e não conseguia deixar de pensar que havia perdido muito tempo.
Avistou o local que ela tinha ficado, se aproximando não encontrou sinal da velha Senhora, o local estava revirado e no chão a caixinha de madeira que viu Hinata segurar jazia esquecida e meio quebrada. Olhou em volta em busca de mais detalhes, quando seus olhos visualizaram sob a bancada as pétalas vermelhas da camélia, que ainda permanecia brilhante depositada delicadamente na superfície.
Sasuke a pegou entre os dedos percebendo seu erro.
- Merda!