Contagem Regressiva

Desde a notícia sobre o fim do mundo e o início da contagem regressiva, haviam se passado pouco mais de vinte dias.

Cada dia foi aproveitado intensamente pelos quatro. Eles faziam passeios pelas redondezas, encontraram um pequeno rio com uma cachoeira que trouxe conforto para as crianças. Elas não entendiam por que não conseguiam falar com os amigos, e Shikadai sentia falta do melhor amigo, Inojin.

Com um pouco de esforço, Shikamaru conseguiu um rádio antigo e, com a ajuda do pai e, por sorte, de Inoichi, pai de Ino, os pequenos puderam conversar. Todas as noites, as duas crianças contavam suas aventuras e faziam planos para o futuro.

Mesmo com o aperto no peito, tanto Neji e Shikamaru quanto Chouji e Ino, incentivavam os filhos a continuar sonhando.

Apesar de querer aproveitar cada segundo com os filhos, os pais de Shikamaru disseram que os dois precisavam de um momento só deles.

— Vocês estão sempre cuidando deles, fazendo o possível para que não sofram, para que nem percebam o que está acontecendo… Mas também precisam cuidar de vocês. Deixem eles aqui e façam algo só vocês dois. Aproveitem um momento de casal. Vocês precisam disso, ou não conseguirão manter essa pose até o final — disse Yoshino, sua voz gentil, com um toque de firmeza, carregada de preocupação e carinho.

Mesmo com receio, deixaram os filhos com os avós naquela noite.

Naquele dia, o casal preparou um jantar juntos, como se fossem namorados novamente, sem tantas preocupações além da faculdade e do início da vida adulta. Quando as únicas dificuldades eram os preconceitos enfrentados dentro da família Hyuuga, que não aceitava Neji estar namorando outro rapaz, e as adversidades externas — amigos que se afastaram, pessoas que mostraram sua verdadeira face ao vê-los juntos. Mas também foi quando encontraram apoio naqueles em quem menos esperavam.

Os pais de Shikamaru foram os primeiros a abraçá-los e a defendê-los de quem quer que fosse. Depois, vieram os amigos que permaneceram ao lado deles, como Chouji e Ino, e as primas de Neji, Hinata e Hanabi, que não pouparam forças para defendê-lo da própria família.

Quando concluíram a faculdade e conquistaram seus empregos, oficializaram a união. Por Shikamaru, teriam apenas ido morar juntos, mas Neji queria tudo do jeito certo, e o Nara nunca foi capaz de dizer não ao seu perolado.

Mesmo com as dificuldades do início do casamento, ficaram extremamente felizes com a chegada de Shikadai, uma cópia de Shikamaru com os olhos de Neji. Alguns anos depois, Aiko completou a família. Uma mini-Neji em todos os aspectos. Eles tinham tudo o que podiam querer e, como todo casal, como todo pai, esperavam um futuro grandioso para os filhos.

Infelizmente, esse futuro nunca chegaria.

Mas não pensavam nisso naquele momento. Tudo o que Neji queria pensar era no corpo do marido junto ao seu, o marcando, o possuindo como se fosse a primeira vez. Sua mente estava em branco, mal lembrando do jantar inacabado, pois o Nara decidiu provocar o Hyuuga enquanto cozinhavam e agora estavam deitados na cama, saboreando o êxtase após chegarem ao limite.

Uma trilha de roupas da cozinha até o quarto mostrava o caminho que fizeram, e a bagunça no local seria arrumada mais tarde, quando estivessem em condições de sair de onde estavam.

Neji se encontrava deitado sobre o peito de Shikamaru e a realidade, esquecida nas últimas horas, aos poucos rastejava sobre sua mente, infiltrando-se entre aqueles momentos de felicidade, lembrando-o de que ela ainda estava ali. Que o tempo ainda corria. Que a contagem regressiva não havia parado.

Neji tocou a pele de Shikamaru e notou o tremor sob seus dedos. O coração batia fervorosamente, como se quisesse sair do peito. Era uma angústia que o fazia paralisar e apenas observar tudo ruir, desmoronar bem diante dos seus olhos.

— Você está com medo?

A resposta veio em um sussurro:

— Sim.

Era raro Shikamaru admitir algo assim, mas o medo de deixar os filhos, de perder Neji, de ver o fim de tudo que conheciam… era esmagador.

— Eu estou apavorado, Shika… Não sei se consigo ser forte. Não consigo olhar para os nossos filhos e não pensar que a vida deles vai chegar ao fim em breve. Não consigo ouvir eles fazendo planos, pensando nos próximos aniversários, no que vão ganhar de Natal ou quando vão ver os amigos de novo…

Shikamaru envolveu Neji em seus braços, apertando-o contra si, sentindo sua respiração quente contra sua pele.

— Eu sei, meu amor. Mas mesmo com medo e apavorados, temos que dar o melhor para eles. Shikadai e Aiko precisam disso. Eles não precisam da dura realidade que os aguarda.

— Se não fosse por eles… não sei se aguentaria tudo isso…

Shikamaru segurou o rosto de Neji, seus olhos escuros encontrando os perolados cheios de angústia.

— Você aguentaria porque é forte. É a pessoa mais forte que conheço. E eu… eu daria minha vida por vocês, sem hesitação. Se houvesse qualquer chance, qualquer possibilidade de que vocês sobrevivessem… eu faria qualquer coisa.

Neji fechou os olhos, permitindo que uma lágrima silenciosa escorresse. Ele sabia que Shikamaru falava sério. Sabia que, se dependesse dele, Shikadai e Aiko teriam um futuro, mesmo que isso significasse que Shikamaru não estivesse ao lado deles.

— Mas eu não quero sem você… — Neji murmurou, sua voz embargada.

Shikamaru suspirou, beijando sua testa com carinho.

— Eu sei, meu amor. Mas, se for preciso… prometa que cuidará deles. Que viverá por eles. Que seguirá em frente. — Mesmo sabendo que não haveria nada para nenhum deles, Shikamaru ainda precisava acreditar que tudo ficaria bem, pelo menos para seu marido e os filhos.

Neji não respondeu. Apenas apertou o marido contra si, como se pudesse segurá-lo ali para sempre, como se, com aquele abraço, pudesse impedir o tempo de continuar correndo. Impedir o que estava por acontecer.

Lá fora, o cometa brilhava intensamente no céu, indiferente à dor humana, indiferente ao amor e ao desespero que preenchiam aquela pequena casa, onde uma família ainda tentava encontrar esperança em meio ao inevitável fim.