
Capítulo 2
Não foi fácil. Nunca foi e ele suspeitava que não seria futuramente.
Ter um tutor um pouco mais novo que ele o ensinando como ser um parceiro submisso era mais que estranho. Como lidar ao sair em reuniões importantes, sempre pedir permissão, o dever de administrar a casa, educação dos filhos, perda de alguns direitos na sociedade, assim como tantas outras coisas começaram a mexer com ele. Qualquer dia antes no casamento ele ficaria louco. Só passando na pele que ele entendeu o quanto a sociedade cobrava das mulheres e ainda assim elas botavam um sorriso no rosto e equilibrava todo esse peso.
O homem vinha da França, perfeito em tudo e ele não conseguiu se ver daquela forma. Ele viveu grande parte de sua vida de uma forma e era difícil mudar completamente. Até assuntos e bailes seriam tratados nessas aulas. Ele devia se enturmar com outras damas ou parceiros como ele, negócios da família não seria discutido e encontros seriam arranjados para que ele pudesse ficar por dentro dos assuntos. Era assim que esses parceiros ajudavam, conversavam entre si e depois persuadia o marido.
Entre essas aulas, as montanhas de livros que devia ler e seus compromissos com o advogado, era difícil conseguir tempo para si mesmo. Seu filho ainda não comentara, mas sabia que ainda não estava confortável com a situação. Nem mesmo ele estava. Sabia que essa era sua última esperança e assim que a cerimônia fosse concluída, Theodore faria parte da família Potter, a proteção se estendendo a ele.
Como ele já havia sido casado e era Harry que o estava cortejando, eles não precisavam de alguém para acompanhá-los. Mas presentes e conversas sobre o que esperavam desse casamento eram necessários, assim como manter o mínimo de toque físico e beijos – essa última parte ainda não havia acontecido e ele suspeitava que não aconteceria tão cedo, se dependesse dele provavelmente nunca aconteceria. Não era um casamento por amor. Isso era política e proteção. Mais como uma troca de favores. Ele precisava livrar sua família das garras de Voldemort e Harry Potter precisava de um herdeiro. Dois coelhos numa cajadada só.
Ainda faltavam duas semanas para o dia escolhido para a cerimônia. E dentro dessas semanas, ele só teria mais um encontro com seu noivo. Theodore estava rondando pela casa, às vezes o encarava, mas nunca atreveu a falar. Uma mulher havia trazido suas vestes. Ele não usaria um vestido, seria um roupão cerimonial azul claro com o emblema Potter acima do peito. Algumas joias também foram deixadas, todas pertencentes à sua nova família.
Um pergaminho chegou até ele com o ritual a ser usado na cerimônia, nada muito grande. Fácil de decorar. Não falava de amor e nem de vida eterna – o que ele agradeceu profundamente. Eles caminhariam juntos até uma clareira descalços e apenas duas testemunhas eram permitidas, uma para cada. Juntos, recitaram os versos pedindo à mãe natureza companheirismo, prosperidade e amizade. Assim que ela abençoasse o vínculo, eles iriam direto para a mansão Potter onde um jantar estaria esperando junto aos outros convidados – toda a família de Harry.
Pensar e se preocupar com tudo isso o estava deixando louco. Talvez sua expressão tenha deixado isso muito claro porque durante o último encontro do cortejo ele estava em lugar mais calmo para jantar com seu noivo e ele evitou o tópico do casamento. Foram conversas leves, o que você gosta de vestir, onde gosta de comprar seus doces e tantas outras coisas que poderiam ser consideradas tão pequenas, mas que ao serem perguntadas fez tanta diferença.
Não, não era paixão. Mas ao ver como ele fez algo para manter o encontro confortável e como ele ouvia atentamente todas as suas respostas, mesmo aquelas em que ele divagava, fez algo quente se enrolar em seu estômago. Optou por ignorar aquilo.
-E você se formou em quê? - Harry perguntou quando seus pratos foram tirados e duas xícaras de chá foram colocadas na mesa.
- Me formei em política e economia. O primeiro foi ensino bruxo e o último foi no mundo trouxa. Eu sabia que tinha que lidar com o título que herdaria de meu pai na sociedade, mas também queria aumentar nossos cofres e assim pensei em investir em negócios bruxos e trouxas. - Então ele entrou em detalhes de tudo o que havia aprendido, como que funcionavam esses investimentos, como ele lidava com cada um, a mudança que ele fez no nome da família e no final percebeu que passou minutos falando sobre ele e divagando enquanto Harry calado o observava. - Me desculpe.
-Eu gosto de ouvi-lo falar. - Harry sorriu. - É bom vê-lo assim. Mostra um outro lado seu que eu não imaginava existir, espero ver mais. - Quando Theodred apenas abaixou a cabeça levemente envergonhado por um homem de sua idade ficar tão feliz por ouvir algo do tipo vindo de alguém muito mais novo, ele continuou. - Como que vão suas aulas?
Theodred quase se engasgou. Em sua última aula foi abordado como se preparar para receber seu marido. Feitiços, poções, banho, velas, perfumes e até mesmo algumas ações foram ensinadas. Ele não sabia dizer se a pior parte foi como dar prazer ao marido ou como se preparar e estar sempre pronto para ele. Foi uma mortificação como nenhuma outra. Ele balançou a cabeça na esperança de que aquelas imagens sumissem e então se voltou completamente para a conversa.
-Uma vergonha atrás da outra, mas acho que estou indo bem se o sorriso daquele homem for algo a ser levado em consideração. - Theodred tomou um gole de seu chá para se recompor. Folhas cítricas e sem açúcar. Perfeito. - Vou ter uma folga e voltarei para alguns tópicos depois da cerimônia. Me disseram que alguém virá para me ajudar a me preparar no dia, isso é mesmo necessário?
-Depois podemos discutir os horários que você terá as aulas, mas ver a melhor forma de arrumar um cronograma e incluir suas outras obrigações. - Harry estudou o homem mais velho com cuidado. - Como você bem sabe, é parte do ritual antes da cerimônia. Estaremos mexendo com a magia bruta para dar a segurança adequada para sua família. Pode ser invasivo, mas é necessário. Também terei alguém no dia.
-Sendo necessário ou não, não muda o fato de que sinto minha privacidade sendo invadida. - Theodred parou de falar quando notou o que saiu de sua boca. Se ele quisesse provar que estava bem nas aulas, ele não devia sair da linha. Quanto mais rápido vissem que ele aprendeu tudo, mais rápido se livraria dessas pessoas.
-Ninguém gosta de ter a privacidade invadida quando essa permissão não é dada livremente. Eu entendo o seu ponto, mas quando concordamos com isso, deixamos bem claro. - Harry falou firme na esperança de que o outro homem entendesse. - É o nosso dever. Depois que essa fase passar, você não precisará se preocupar.
Os dois homens ficaram em silêncio. Ninguém ousando quebrá-lo. Theodred sabia que seu futuro marido estava certo, mas era difícil readaptar toda a sua vida depois de anos vivendo de uma forma.
-O que vai acontecer com meu filho? - Theodred mudou o tópico da conversa, aquilo ainda não havia sido discutido.
-Ele se mudará junto com você, mas ficará em uma ala diferente. Enquanto você cumpre com seus deveres, ele terá os dele. Como minha ala, tudo o que ele fizer ou falar será refletido em minha família. Precisamos evitar que o pior aconteça. - Harry achou bom que começassem a conversar sobre Theodore. - Ele vai receber um cronograma com suas aulas, seus deveres como herdeiro, suas obrigações como membro da família e vamos discutir também alguns contratos de casamento e ver qual o melhor para ele.
-Terei algum tempo com ele? - Por mais que seu filho já tivesse se formado, depois de tudo isso acontecendo, ele queria um tempo de pai e filho.
-Vamos nos ver em todas as refeições, será obrigatório. Ou se senta à mesa para comer ou ficará sem a comida. Salvo os dias em que cumprir alguma obrigação na rua. Vou reservar um dia por semana, provavelmente sábado ou domingo, para vocês ficarem juntos, isso dentro da mansão Potter.
-Eu entendo. - Não era muito diferente do que tinha quando cresceu, mas era provável que Theodore não gostasse disso, ele e a esposa sempre foram indulgentes com o filho. - O que vai acontecer depois da cerimônia? - Ele sabia que teria um jantar, mas não tinha muita certeza do que esperar.
-Vamos jantar com os Weasley e alguns antigos colegas de Hogwarts. Theodore pode trazer um colega para se sentir confortável, mas deverá ser confiável e passar pela minha aprovação primeiro. - Harry não esperou por essa pergunta, já havia sido discutido antes.
-Estou ciente dessa parte. Quero saber sobre a noite de núpcias. - Claro, ele não era nenhum santo, mas não conseguia não se envergonhar com a pergunta quando as aulas vinham à sua mente.
-Felizmente esse ritual não é obrigatório a consumação logo após. Você terá uma ala da mansão para você, terá sua privacidade. Provavelmente você não está confortável com toda a ideia, mas espero que se acostume, em algum momento um herdeiro será necessário. - O bruxo mais jovem deixou claro.
- Eu entendo.
A noite terminou bem depois disso. Eles terminaram sua xícara de chá e Harry o acompanhou até a lareira do restaurante para ir para casa e depois aparatou diretamente na toca, querendo compartilhar a noite com sua família.
-Cheguei! - Não foi preciso gritar, todos estavam na sala o esperando.
-Como foi? - Fleur perguntou animada.
-Algum progresso? - Ginny logo estava ao seu lado querendo saber de tudo.
Era por isso que ele amava essa família, todos se preocupavam com ele. Estavam trabalhando juntos desde o início contra Voldemort, completamente escondidos de Dumbledore. Não que ele fosse uma má pessoa, mas seus métodos eram um tanto quanto questionáveis. O assunto das horcrux foi contado para toda a família, mas nem todos estavam na linha de frente. Bill, Fleur, Percy, Audrey, Remus e Nymphadora estavam na pesquisa. Charlie, Ron e os gêmeos estavam com ele na hora de ir atrás do maldito objeto e destruí-lo. Hermione desvendava os locais com a ajuda de Luna e seu pai, Xenofílio. Neville, Seamus e Gabrielle estavam trabalhando na proteção dos seres mágicos que viviam nas florestas de Hogwarts, até mesmo em famílias que estavam buscando refúgio, e esses últimos eram direcionados ao Castelo Peverell, o único com terras o suficiente e uma proteção forte para protegê-los. Ele poderia ter feito o mesmo com os Nott, dá-lhes proteção e não pegar nada em troca, mas ele já estava de olho em Lorde Nott fazia tempo e nada como uma leve torção para conseguir o que tanto queria.
-Calma. - Ele riu da empolgação e se sentou no sofá ao lado de Fred. - As coisas estão começando a afundar nele. Conversamos sobre sua ala na mansão e as obrigações de Theodore. - Harry riu ao se lembrar do rosto vermelho do mais velho.
-Harry James Potter, o que foi que você fez com o pobre homem? - Hermione, que o conhecia muito bem, perguntou ao notar sua diversão. Logo o rapaz ficou envergonhado do que estava prestes a admitir.
- Talvez, apenas talvez, eu tenha dito para Adam falar sobre como estar preparado para a noite ne núpcias.
-Não, você não fez isso. Não posso acreditar nisso. - Fleur balançou a cabeça negativamente. Todos haviam conversado com uma abordagem mais sutil depois que ele chegou uma noite cantarolando e admitindo que havia acabado de se meter em um noivado com lorde Nott, sua eterna paixão.
-Vamos lá gente, me ajudem. Os presentes não estão ajudando, o flerte não está sendo recebido e eu estou a ponto de subir pelas paredes! - Sua vontade de puxar o homem para um beijo e provar dele estava crescendo num nível alarmante.
-Você deve entender o lado dele Harry. Sim, disse que faria qualquer coisa pela proteção do filho, mas ele está numa situação muito diferente do que ele já viveu. E não vai ser fácil para ele aceitar essas investidas tão facilmente, para ele é só um contrato com certas obrigações. - Molly tentou mostrar a razão para ele.
-Estou tentando, mas é muito demorado. - Harry murchou e jogou a cabeça para trás do sofá. - Eu não vou pular nele assim que nos casarmos, vou deixá-lo ditar o tempo das coisas. Até lá, sofrerei sozinho com minha mão no chuveiro.
-Pelo amor de Merlin, Harry. Que nojo. Não precisa dar certos detalhes. - Ginny enrugou o rosto com as falas de seu amigo.
-Você está certa, não devia falar assim. - Harry se compadeceu de sua amiga. Ginny sentia repulsa por qualquer coisa que levasse ao sexo. Para ela, não era possível que as pessoas gostassem de tal ato.
- Não falta muito para a cerimônia. - Arthur falou pela primeira vez. - Que tal você pedir para Adam pegar leve com seu noivo e depois que tudo isso passar, você conversa francamente com ele? - Arthur levantou uma sobrancelha na esperança de Harry ver que aquilo não era um pedido, mas uma ordem. - O máximo que ele pode fazer é recusar seus sentimentos, mas ele ainda vai estar preso em suas obrigações.
-Leve tudo com paciência, querido. - Molly se juntou ao seu marido. - Nem todo relacionamento começa com amor, mas ele pode chegar lá um dia. Basta cultivar bem. Não há uma receita milagrosa, é tempo, carinho e companheirismo que vai regar essa árvore.
Harry se acalmou e deixou que as palavras de seus pais em tudo, menos sangue, afundasse em sua mente. Eles estavam juntos desde o quarto ano em Hogwarts e nunca tiveram outras pessoas. Tudo foi descoberto e cultivado juntos. Ele admirava o relacionamento que tinham. O encaixe era perfeito e era a prova de que quando você se entrega de corpo e alma, mesmo com medo, a recompensa por isso é maravilhosa.
Enquanto ele pensava no que poderia fazer para trazer a atenção de seu noivo para si, Theodred estava em sua mansão.
Sentado na cadeira atrás da sua mesa em seu escritório, ele segurava um copo de whisky enquanto sua mente ia e vinha na cerimônia. Tão perdido em pensamentos, ele se assustou quando ouvir duas batidas em sua porta.
-Entre, Theodore. - Ele podia reconhecer a magia de longe, por mais que Theo tentasse escondê-la. Ele viu seu filho com uma cara de derrota entrar na sala e fechar a porta atrás de si, então percebeu que seu filho não veio atrás de lorde Nott, mas sim de seu pai. - Venha até aqui. - Ele se levantou da cadeira e seguiu para o sofá, esperando seu filho se aconchegar ao seu lado.
-Me desculpe. - Theo fungou levemente e puxou seu manto para mais perto de si. - Eu sei que você quer apenas a nossa segurança e está se sacrificando para isso, mas foi muito de repente para mim.
-Eu sei. Também te devo desculpas. - Seu filho levantou a cabeça e o encarou confuso. - Filho, nós somos família. Temos apenas um ao outro. Não foi correto de minha parte fazer isso sem discutir primeiro com você. Estamos juntos nessa. - Theodred abraçou ainda mais forte seu filho, esperando que mais momentos como esse viesse. - Nossa vida vai mudar, mas não vai ser de todo o mal.
-Como você está lidando em ser o parceiro submisso nisso tudo? - A curiosidade era clara em seu tom. Ele não sabia tudo o que estava envolvido nesse contrato, mas sabia de alguns pontos.
-Não sou contra essa ideia. Ao menos não agora, tive tempo para me acostumar. - Theodred se lembrou do jantar. A forma como Harry o ouvia atentamente e os presentes como prova de que sempre se lembrava dos mínimos detalhes fizeram seu coração palpitar. - Eu amei muito sua mãe. Ela era uma mulher excepcional e eu não consigo ver uma vida sem nunca ter tido ela, mas tive tempo para aceitar sua morte e eu consigo me ver tendo ao menos o mínimo de felicidade lá na frente. - Theodred assumiu seus sentimentos e ficou calado. Ele sabia das investidas e da paquera, mas se recusava a tal. O medo de deixar de acreditar que era apenas um contrato o fazia evitar aceitar qualquer coisa. Depois de tantas decepções, ele não conseguia entender como aquele belo homem estava interessado nele. Devia ser alguma aposta.
- Você pode nunca se apaixonar por ele ou vocês podem viver uma vida baseada apenas em um contrato, mas se for para ir, que não vá até a metade do caminho. - Theo se levantou e deixou um beijo na cabeça de seu pai, era em momento com esse que ele percebia que não havia idade para demonstrar afeto ao pai, aquilo seria para sempre, todo o carinho e amor compartilhado entre eles.
-Boa noite, meu filho. Venha ao meu escritório amanhã cedo. Precisamos conversar sobre o que vai ser esperado de nós, mas já está tarde e já passei por emoções o suficiente.
-Até amanhã. - O jovem caminhou até a porta e a abriu. Antes de atravessar, se virou para o pai novamente. - Está tudo bem ter medo do desconhecido, e proteger seu coração vai te livrar de mágoas, mas também vai impedir que você possa encontrar a verdadeira felicidade. - E com isso ele saiu.
Andando pelos corredores até seu quarto, ele pensou em toda a situação. Sabia que Harry era galanteador o suficiente para atrair a atenção de seu pai. E pensando melhor, ele percebeu que esse era o motivo. Ele teria que compartilhar seu pai, suas vidas mudariam e o tempo juntos encurtaria inicialmente, era isso que o deixava com medo. Depois das merdas que seu avô fez e a morte de sua mãe, qualquer coisa o deixava apreensivo. Ele nunca teve muitos amigos e isso mudar de repente o fazia se sentir mal do estômago.
Depois de muito pensar e ter tempo o suficiente para avaliar a situação, ele viu que não estava perdendo seu pai, mas estava ganhando uma nova família. E se ele aprendeu bem estudando com os Weasley e os observando, foi que eles protegiam a família e tinha amor de sobra para os agregados.
Com uma nova visão e o coração mais tranquilo, ele chegou em seu quarto. Seu pai ficaria bem e sua mãe, de onde estivesse, estaria cuidando deles.