
Capítulo 3
A clareira parecia saída de um conto antigo, envolta por árvores altas cujas copas entrelaçadas deixavam o espaço banhado pela luz prateada da lua. O chão estava coberto de grama macia, e o ar carregava uma energia palpável. Theodred ajustou o manto azul claro que usava, o emblema dos Potter bordado sobre seu peito como um lembrete constante do que aquele dia simbolizava.
Ele esperava que o nervosismo desaparecesse, mas a cada passo, sentia seu coração bater mais forte. Não era o ritual que o deixava apreensivo, mas o que vinha depois. A cerimônia era o início de uma vida inteiramente nova, e ele ainda não sabia como se encaixaria nela.
Harry estava ao seu lado, tranquilo como sempre. Sua presença era reconfortante, e Theodred odiava admitir o quanto dependera disso nas últimas semanas.
O ritual foi simples, quase íntimo. Eles recitaram os votos em uníssono, pedindo à magia prosperidade e companheirismo. Quando a energia do ritual os envolveu, Theodred sentiu algo mudar dentro de si, uma conexão sutil, mas poderosa, que agora o ligava a Harry. Quando terminaram, Harry se aproximou, segurando suavemente as mãos de Theodred.
— Bem-vindo à minha família, — ele disse com um sorriso genuíno. As palavras carregavam um peso que Theodred não esperava. Ele não respondeu, mas inclinou a cabeça em reconhecimento. Não havia necessidade de palavras; a cerimônia já dissera tudo.
De volta à Mansão Potter, o jantar de celebração os esperava. A família Weasley estava lá em peso, assim como alguns amigos próximos de Harry. A energia era leve e acolhedora, mas Theodore permaneceu à margem da festa, observando tudo com uma expressão neutra.
Harry percebeu o isolamento do jovem e, como anfitrião, decidiu intervir. Ele se aproximou com calma, sem invadir o espaço do garoto, mas deixando claro que estava ali.
— Theodore, você está gostando do jantar? — Harry perguntou, sua voz baixa e amigável.
Theodore demorou a responder, mas, finalmente, assentiu.
— Está tudo bem. Apenas... diferente do que estou acostumado.
Harry sorriu, compreendendo a hesitação.
— Eu entendo. Não espero que você se acostume com tudo de uma vez. Mas, se precisar de algo, estou aqui.
A sinceridade nas palavras de Harry surpreendeu Theodore. Ele olhou para o homem por um momento antes de murmurar:
— Obrigado, Lorde Potter.
— Pode me chamar de Harry. Somos família agora, não somos?
A pequena troca foi um primeiro passo, e Harry não tentou pressioná-lo mais. Ele voltou sua atenção aos outros convidados, mas não sem antes dar um sorriso encorajador a Theodred, que observava tudo à distância.
Nos dias que se seguiram à cerimônia, a rotina na mansão mudou. Theodore recebeu seu cronograma, repleto de estudos e compromissos para prepará-lo como herdeiro da família Potter. Apesar da disciplina exigida, Harry era paciente, ajustando os horários e concedendo tempo para que o garoto se adaptasse.
Para surpresa de todos, Theodore começou a responder positivamente às mudanças. Ele mostrava um respeito cauteloso por Harry, que, por sua vez, tratava o jovem com a mesma firmeza controlada, mas agora temperada por gentileza.
Durante uma reunião matinal na biblioteca, Harry percebeu que Theodore estava mais envolvido do que o esperado. O garoto fazia perguntas incisivas sobre os contratos que discutiam, questionava cláusulas e sugeria melhorias.
— Você tem um bom senso estratégico, Theodore, — Harry comentou após uma sugestão particularmente perspicaz. — Isso será valioso para a família no futuro.
Theodore ergueu os olhos, surpreso com o elogio. Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.
— Obrigado, Harry.
Quanto a Theodred, ele estava se ajustando ao novo papel com a mesma determinação que sempre mostrara em tempos difíceis. Mas, para sua surpresa, Harry se mostrou mais tolerante do que ele esperava.
Em uma tarde, enquanto discutiam os detalhes de um evento social que precisariam organizar, Theodred finalmente abordou o que vinha remoendo desde o início.
— Você parece... diferente, Harry. Menos rígido.
Harry inclinou a cabeça, um sorriso brincando nos lábios.
— Acho que é porque estou aprendendo. - Theodred arqueou uma sobrancelha, curioso.
— Aprendendo o quê?
— Que as pessoas precisam de espaço para crescer. Eu posso ser controlador, mas não quero sufocar você ou Theodore. Se vamos construir algo juntos, preciso ser tão flexível quanto espero que vocês sejam.
As palavras pegaram Theodred de surpresa. Ele se recostou na cadeira, permitindo-se relaxar pela primeira vez em semanas.
— Talvez você seja mais maduro do que pensei.
Harry riu.
— E talvez você seja mais teimoso do que imaginei.
O tom leve da conversa os pegou desprevenidos. Era um sinal de que, apesar das circunstâncias incomuns, algo genuíno estava começando a crescer entre eles.
As semanas se transformaram em meses, e a dinâmica na mansão continuou a evoluir. Theodore, agora mais confiante, envolvia-se ativamente nos assuntos da família, enquanto Theodred encontrava sua própria maneira de se sentir útil. Harry, fiel ao seu estilo, conduzia tudo com o equilíbrio entre autoridade e empatia que havia aprendido a dominar.
Em uma noite particularmente tranquila, enquanto observavam Theodore estudar em silêncio no salão principal, Theodred finalmente admitiu para si mesmo: talvez a vida que construiriam juntos não fosse apenas uma obrigação. Talvez houvesse espaço para algo mais.
Harry, sentado ao seu lado, parecia compartilhar o mesmo pensamento. Ele estendeu a mão, tocando de leve a de Theodred.
— Vamos conseguir, — ele disse, a voz baixa, mas cheia de certeza.
Theodred olhou para ele e, pela primeira vez, sentiu uma ponta de esperança verdadeira. Talvez fosse hora de aceitar os avanços que seu marido fazia.
— Sim, Harry. Vamos.
A mansão Potter estava vibrante naquela noite. As longas mesas no salão principal estavam decoradas com elegância sutil, o brasão da família gravado em pequenos detalhes dourados sobre as louças. Uma lareira imensa aquecia o ambiente, e o som das conversas se mesclava ao tilintar de copos e risos descontraídos.
Era uma celebração especial. Três anos haviam se passado desde o casamento de Harry e Theodred, e a família estava reunida para um jantar íntimo. O peso da guerra, finalmente vencida, parecia um eco distante.
Harry estava sentado à cabeceira, sua presença calma e autoritária como sempre. A seu lado, Theodred, com um brilho incomum nos olhos. Embora mantivesse a postura reservada, havia algo diferente nele. Ele mantinha uma das mãos pousada em seu ventre, o gesto quase imperceptível para os outros, mas não para Harry, que lhe lançou um olhar discreto e cúmplice.
Theodore, agora com vinte e um anos, estava sentado à direita de seu pai, Daphne Greengrass ao lado dele. Desde o momento em que Harry aprovara Daphne como uma possível parceira, Theodore relutara em conhecê-la de forma romântica, acreditando que não era hora de se comprometer. Mas algo na jovem bruxa o cativou: a inteligência afiada, a gentileza velada e a firmeza em suas convicções. Era como se conheciam Hogwarts, mas agora diferente, melhor.
Agora, três anos depois, Theodore sabia que ela era a única pessoa com quem queria compartilhar a vida.
O jantar seguia animado. Fleur conversava com Molly sobre receitas francesas enquanto Bill e Charlie riam de alguma história de seus dias em Hogwarts. Ginny, ao lado de Luna, debatia o último jogo de quadribol, e George divertia os mais jovens com piadas que arrancavam gargalhadas até dos elfos domésticos.
No entanto, Theodore estava inquieto. Ele lançava olhares nervosos para Daphne, que parecia não notar, imersa em uma conversa com Hermione sobre política mágica.
Harry, observando tudo, inclinou-se levemente em direção a Theodore.
— Está na hora, — murmurou, baixo o suficiente para que apenas ele ouvisse.
Theodore engoliu em seco, assentindo quase imperceptivelmente. Ele se levantou, batendo de leve na taça com a colher para chamar a atenção de todos. O som ecoou, e as conversas cessaram gradualmente.
— Eu... — Theodore começou, a voz hesitando antes de se firmar. Ele olhou para Daphne, que agora o observava com uma mistura de curiosidade e surpresa. — Eu queria dizer algumas palavras.
Todos os olhares estavam sobre ele, mas Theodore não recuou. Ele respirou fundo, encontrando força no olhar encorajador de Harry.
— Esses últimos anos foram... intensos. — Ele sorriu de leve. — Enfrentamos perdas, mudanças, e desafios que nunca pensei que superaríamos. Mas, apesar de tudo, também encontramos motivos para celebrar. Minha família encontrou um novo começo, e eu encontrei... — Ele fez uma pausa, seus olhos fixos em Daphne. — Encontrei algo que jamais imaginei.
Daphne piscou, confusa, mas o rubor em suas bochechas mostrava que ela começava a entender. Theodore se ajoelhou, tirando do bolso uma pequena caixa de veludo. Ele a abriu, revelando um anel simples, mas elegante, com uma pedra azul que brilhava à luz da lareira.
— Daphne Greengrass, você trouxe luz à minha vida de formas que eu nunca esperei. Você me desafiou, me apoiou, e me fez querer ser um homem melhor. — Sua voz tremia levemente, mas sua determinação era clara. — Você aceita se casar comigo?
O salão ficou em silêncio por um momento que pareceu durar uma eternidade. Daphne, visivelmente emocionada, levou a mão à boca antes de abrir um sorriso brilhante.
— Sim, Theodore. É claro que sim.
A explosão de aplausos e gritos de comemoração encheu o salão. Molly já tinha lágrimas nos olhos, e Fleur soltou um animado "Magnifique!". Harry sorriu, satisfeito, enquanto Theodred observava o filho com orgulho silencioso.
Mais tarde naquela noite, quando os convidados começaram a se dispersar, Harry e Theodred se retiraram para a biblioteca, como costumavam fazer. A lareira crepitava, e o ambiente estava tranquilo.
Harry se aproximou de Theodred, pousando as mãos em seus ombros e observando-o com um sorriso suave.
— Você está bem?
Theodred sorriu de volta, seus olhos brilhando. Ele levou a mão ao ventre, um gesto que já se tornara habitual.
— Estou. Melhor do que jamais pensei que estaria.
Harry inclinou-se para beijar sua testa, a intimidade do gesto um reflexo da conexão que construíram ao longo dos anos.
— Nós conseguimos. Não foi fácil, mas conseguimos.
Theodred assentiu, fechando os olhos por um momento. Ele sentiu a vida que crescia dentro de si, um presente inesperado de Lady Magic, e soube que, apesar de todas as dificuldades, havia encontrado um lar.
Juntos, eles observaram a lua cheia através da grande janela da biblioteca, a luz prateada iluminando o começo de um futuro brilhante.