A bússola negra

Harry Potter - J. K. Rowling
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A bússola negra
Summary
Fugindo de um casamento arranjado, o príncipe James acreditava que poderia levar uma vida no mar com o pirata Sirius, o qual foi o seu melhor amigo durante os tempos escolares. Todavia, seu ingresso ao navio ocorreu com o pé errado e, numa cela, ele vai descobrir que nem só de rum, mulheres e diversão se faz a vida marítima.[Marotos em um universo alternativo]James x SeverusWolfstar
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Ancorando à fumaça

Após uma noite abafada, o dia claro não veio.

Escutando os piratas contarem aventuras durante o café da manhã, James entendia os olhos preocupados de Remus: O navio ia mal, navegando por pura sorte. Talvez, por isto, o capitão permanecia trancado na cabine, entre desculpas e sorrisos forçados. E, apesar dos apesares, os outros membros buscavam animar o recém-chegado narrando alegria, sucesso, bonitas mulheres e fartura.

Fazendo um novo brinde, o príncipe recordava as palavras de Sirius: Verbalizar o fracasso é aceitá-lo. E, por via das dúvidas, a embarcação continuava a navegar. Eles tinham um objetivo e, embora trancafiado e distante, certamente, o herdeiro tinha um grande plano.

Especialmente, em alto mar. A qualquer momento, as águas mudariam e uma maré de fortuna iria atingi-los.

Bastava aguardar, manter a esperança e...

Notando o sinal para o escravo retirar os utensílios, James se adiantou num salto. Pegando uma das travessas, recolhia os copos, argumentando ser uma tradição familiar.

Tomando outro gole da bebida, Remus piscou intrigado.

“Fazia quanto tempo que não visitava o castelo Potter? ”.

A falação prosseguia, não tão animada quanto antes. Inclusive, trocava-se farpas entre feitos e exageros.

As paredes marrons daquela cozinha pareciam inchadas, inclusive, possuíam o cheiro de madeira úmida. A mesa cortando o cômodo, para 20 pessoas, hoje, só restavam 08. E muitas caixas esvaziadas rolavam conforme as ondas batiam. Apesar da bebida está boa, a comida era grudenta e fria. E, o cozinheiro mexendo o grande caldeirão de barro, parecia desmotivado ao tentar fazer milagre com a escassa alimentação.

Durante a manhã, enquanto o Peter dormia, Severus servia ao navio. Na maior parte, realizando as atividades indesejadas pelos demais, outras vezes, somente como um serviçal aguardando as ordens do inexistente rei. E, reparando-o a expressão fúnebre próxima à porta, o príncipe se questionava se o rosto inchado e olhos vermelhos seriam consequências de uma péssima noite de sono pensando na fuga deles.

Até porque, sorrindo discretamente, ele também não conseguia dormir.

Quanto tempo faltaria até que eles ancorassem no maldito porto?

Recolhendo quase todos os utensílios na tampa, numa improvisada bandeja, o rapaz seguia conversando entre comentários surpresos e admirados. Ao rodopiar, terminou por tropeçar num barril, encontrando o chão junto ao tilintar do alumínio.

O barco irrompia em altas gargalhadas.

Severus deu um passo afrente. Detendo o impulso, o cenho franzido evidenciava a preocupação. Num intervalo de dois dias, James já havia derrubado caixas, copos, empurrado um baú de feijão escadaria abaixo e quase, QUASE, sido arremessado pelos ventos ao alto mar. Ainda assim...

Fechando o punho, o escravo retornava ao lugar.

Só deveria agir quando solicitado.

Aquele já não era o prisioneiro sob seus cuidados, e...

Reparando-o levantar junto aos risos, ele nem se desculpava, recolhia os utensílios e prosseguia o serviço.

De esguelha, o recém-chegado percebia o quanto aqueles inquietos olhos o acompanhava. Dissimuladamente, ele fazia perguntas, e outro marujo respondia. Quando tentava se aproximar, sob a desculpa de um pedido de ajuda, alguma pessoa se adiantava e Severus desaparecia semelhante à fumaça de cachimbo.

Droga!

Embora não fizesse dois dias, James tinha saudades das conversas, da atenção, dos tímidos sorrisos... Dos jantares, onde o pior dos alimentos ganhava um adocicado sabor. Ele tinha saudades de Severus e apostava que a recíproca era verdadeira, pois, ajustando as velas, podia notar os olhos distantes lhe acompanhando enquanto enrolava na limpeza das janelas empoeiradas.

E sim.

Sem orgulho algum, Severus o observava.

Conforme o novato se equilibrava nas frouxas cordas, o melancólico garoto rezava por calmos ventos. Aquela tripulação não resgatava marujos arremessados ao Oceano. Por mais tentador que fosse realizar o desejo egoísta de torná-lo comida de peixe, o desconhecido não merecia tal destino. Caso ocorresse, James não poderia seguir encantando o mundo com aquela inata vitalidade que, agora, roubava-lhe a atenção, preenchendo o seu coração, e, às vezes, bem poucas vezes, até o fazia sorrir. Por isto, fechando os olhos para se concentrar, rogava pelo término daquele serviço em segurança. Especialmente, pois, desde que se notara observado, o infeliz caminhava pelas finas madeiras, tropeçando, cambaleando, ameaçando cair.

- Você viu aquele grande pássaro?

Prendendo a respiração pelo susto, Severus derrubou o pano ao levar a mão ao coração.

INFERNO!

O QUE AQUELE MALDITO PRETENDIA?

COMO DIABOS... Reparando o horizonte vazio e o infeliz ao seu lado, como ele conseguia ser tão rápido? No minuto passado, ele estava alto como o próprio sol e... Rangendo os dentes para se recompor, respondia sem graça:

- Desculpa, não.

- Eu posso lhe mostrar grandes pássaros. – Estreitando os olhos, insinuava suspeito. – Grandes como castelos. Grandes como dragões.

- James...

- Ora, Severus. – Indignando-se, James interpunha mimado. - Não tem ninguém aqui.

- Não importa.

- Pra mim, importa. Estou respeitando esta condição idiota, pois sei o que escravos podem sofrer quando desobedecem. – Animado, segredava. – Contudo, já tenho tudo planejado para quando este navio ancorar. Vamos recomeçar...

- Você não desiste?

- Por que eu deveria? Seus olhos me ancoram na motivação. – Divagando, - Parece surreal, mas você é o porto que busquei por toda a vida.

- Suponho não ser seguro o bastante para ser comparado a um porto.

- E quem precisa de segurança quando pode estar com você?

Piscando calmo, o menor riu num suspiro anasalado.

Estranhamente, para o príncipe, ele parecia mais cansado, abatido, desconsolado. Seria a luz do dia ou, realmente, alguma desprezível pessoa teria a insanidade em maltratá-lo? Aproveitando para chegar mais perto e domando a imensa vontade de abraçá-lo, James lhe segurou ambas as mãos.

E estas estavam frias.

Ásperas.

Hesitantes.

No entanto, por mais que a saliva lhe travasse a garganta por conta daquele turbilhão de desconhecidas e confusas sensações, Severus não retrocedeu. Até porque, ele sentia falta daquele calor. Daquele carinho. De James. Assim, fitando o castanho por trás daqueles óculos, corou violentamente quando este veio em sua direção, depositando-lhe um breve beijou próximo ao arroxeado na testa.

- Ajuda a curar mais rápido. – James adiantava prevendo os protestos, os quais não vieram. Inclusive, baixando o rosto, o garoto até lhe apertava as mãos mais forte, como se eles pudessem permanecer juntos para sempre.

Unidos.

Parceiros de crime.

Extremamente feliz, o príncipe sentia cada partícula do corpo esquentar como se vários vulcões entrassem em erupção e a própria terra fosse reduzida as larvas. Sorrindo bobo, arriscava casual:

– Ainda dói? Posso dar outro se você quiser.

- Você está quente... – Apertando-as um pouco mais, o encabulado rapaz observava. - Suas mãos... - Sem coragem para fitar a cara cínica e sorridente, prosseguia com os olhos para o enlace de ambas, - Tem certeza que está bem?

- Quando estou com você, sempre estou ótimo.

- Não parece uma temperatura normal?

- Talvez, seja seu efeito sobre mim. – Trazendo a direita até os próprios lábios, James deferia um casto beijo contra o dorso daquela mão. Fitando-o terno, a acalorada voz prosseguia um pouco mais confiante. – Nestes casos, eu acredito que, assim como fiz, só posso ser curado com um beijo. – Reduzindo a distância, propunha. - O seu beijo, Severus.

“Pelos céus...” Severus clamava.

E, num único momento, todo o sangue do corpo se concentrava unicamente na cabeça, deixando até a ponta do nariz vermelho, o que James julgava ser muito fofo.

Aguardando a resposta, o príncipe queria tanto aqueles olhos fixos em si. O que precisava praquele garoto o transformá-lo em seu mundo? Fosse água, luz, morte ou diversão, o ex-marujo estava determinado a fazer o possível para realizar os mais egoístas dos desejos.

Ainda assim, permanecendo cabisbaixo, o olhar não veio. Severus não tinha nenhuma coragem para fitar o maldito a sua frente. Bastava o som daquela voz. O hálito quente. Se fechasse os olhos, seria seduzido praquela armadilha, a qual poderia lhe custar a vida e, por ele, seria um bom preço.

Se bem que, ele não poderia oferecer algo que não detinha.

Pertencia a Peter, cujo o propósito...

Precisava retornar ao serviço.

Precisava...

Logo, o homem sonhador descobriria que aquela âncora só era arremessada à desilusão, ao vazio.

Ao fim.

Empurrando-o de leve num silencioso pedido de distância, o jovem fugia em passos cambaleantes.

Mal chegou ao corredor, as pernas fraquejaram.

Utilizando a parede como apoio para as costas, Severus escorregou até o chão.

Levando as mãos para ocultar o envergonhado rosto, travava uma terrível discussão consigo.

Por que continuava pensando no infeliz?

Aflito por um marujo abusado e... Ridículo?

Por que, o corpo se arrepiava ao recordar a insuportável voz?

Por que queria acreditar em suas promessas?

Ele não era alguém digno de confiança pra ser comparado a droga de uma âncora.

Por que eles o destino feito aquela brincadeira de mal gosto ao cruzar distintos caminhos?

E, o principal, por que ele parecia esquentar conforme falava consigo?

Por que...

- Severus... – Abaixando a altura da criatura extremamente avermelhada, Remus questionava. – Você está bem?

- Acho que sim. Quer dizer, - Tentando engolir os insuportáveis sentimentos e levantar, mentia. – Eu meio que fiquei um pouco tonto com o balançar do navio.

- Depois de todo este tempo? – O loiro brincou, mas o riso não veio.

- Sim.

- Ora, então quer ajuda?

- Não, senhor Lupin. Obrigado.

Estreitando os olhos, o pirata não acreditava nas palavras vazias. Podia notar como o escravo tremia assustado. No entanto, tinha ciência que aquela boca era túmulo. Nada sobre sua família, amigos, ou até sobre si. O pouco descoberto do passado ou presente, sempre foi através de terceiros.

Por conta disto, o culpado por aquele comportamento deveria está por ali.

E ele iria descobrir.

Sorrindo doce, arriscava alguma intimidade:

- Remus, por favor. Já conversamos sobre isto e...

- Com licença. – Despedindo-se rapidamente, Severus irrompia semelhante a escura fumaça pelos corredores.

Observando se distanciar, Remus estava determinado a investigar.

Até porque, considerando os últimos acontecimentos daquele lugar, seria suspeito afirmar que onde há fumaça, haveria fogo?

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