
Segredos em salinas
- Ainda não acredito que tentou invadir meu navio! – Outra vez, Sirius gargalhava. Certamente, o jovem capitão jamais esqueceria tal feito. Inclusive, no leito de morte, enquanto todos chorassem, ele faria questão de lembrar, divertindo-se como da primeira vez. – Realmente, admito que fiquei surpreendido com tal atitude.
Arrancando outra coxa de galinha, James dava de ombros. A fome não o permitia parar pra explicar. Nem sabia como aguardou tomar o banho primeiro. Talvez, pela agonia por conta do calor naquele clima tropical. Ou talvez, pela necessidade em afastar a sujeira acumulada depois de tantos dias trancafiado.
Utilizando roupas emprestadas, a lembrança acerca do machucado. Os dedos enlaçados aos seus, tremulando em receio. As informações tão vagas...
Merda!
Pensar nos maus tratos que Severus sofria naquele navio destituía o alimento de sabor. Mesmo assim, empurrando pra dentro, James insistia comendo.
Mastigando.
Mastigando.
Engolindo.
Depois do longo jejum forçado, o estômago rugia em desespero e qualquer coisa comestível seria bem-vinda.
Arremessando uma maça para o alto, Sirius deferia uma mordida. A pele branca possuía marcas de sol, o que ressaltava ainda mais os olhos nebulosos em perfeita harmonia aos bonitos cachos presos por uma fita vermelha, exceto um, rebelde e um pouco menor que os demais, o qual, frequentemente, escapava, caindo-lhe sobre o rosto.
Ao contrário das outras instalações, a espaçosa cabine tinha semelhanças ao quarto do maroto na casa Black, modificando pelo presente vermelho e detalhes em ouro. Prepotente, confiante e divertido, por mais que James houvesse argumentado que não o conhecia quando estava preso, agora, somente os dois ali, o amigo permanecia quase igual ao de suas recordações. Destemido e orgulhoso, Sirius havia narrado como brigou com os pais, fugiu de casa e ganhou um navio. Passando a língua para limpar os lábios, o garoto de óculos não escondia a surpresa. Assim, impressionado, continuava:
- Então, o senhor Malfoy te deu um navio só para desagradar ao seu pai.
- Gosto de pensar que ele sabia o quanto o meu negócio seria promissor. Por isto, está investindo em mim.
- Ele ainda fornece dinheiro?
- O necessário... – Repousando os cotovelos sobre a mesa, divagava. – O tesouro que consigo tem um valor peculiar. – Permitindo que o olhar pulasse da fruta pela metade para o amigo, observava sério. - Esta não é uma embarcação comum, James.
- Eu percebi. O capitão nem mesmo confere quem está em suas masmorras.
- Desculpa, mas você poderia ter me chamado.
- Eu queria saber o quanto eu conseguiria somente com o meu charme.
- E esqueceu de trazer o tal charme para o grande ato? – Sirius alfinetou e uma uva lhe atingiu o nariz.
Murmurando falsamente ofendido, levantava-se rindo, embriagados pelas lembranças compartilhadas.
Indo até o armário, retirou um minúsculo frasco (não mais que dois centímetros), colocando-o ao lado do prato do senhor faminto. Cessando a mastigação, o príncipe observou o objeto por alguns segundos.
Intrigado, o vapor enublando as paredes de vidro, transformava-se em fumaça, em cinzas. Num impulso, os grãos assumiam um azul radiante, concentrando-se em saltar, como se empurrasse a rosca... Pra sair?
Limpando as mãos engorduradas na calça, apesar do receio, James pegou o recipiente entre os dedos pincelares. Levantando acima do rosto para avaliar, uma implosão tremulou o objeto, sem quebrar. Aos poucos, o interior daquele pequeno frasco simulava um céu azul, arroxeando, tornando-se escuro como o universo contido nos olhos de Severus.
Percebendo a curiosidade na expressão alheia, Sirius retornava a antiga cadeira da elegante mesa de jantar/reunião. Prepotente, explicava orgulhoso pelas descobertas:
- As pessoas não querem ouro, dinheiro, tesouros. Elas querem júbilo. Sonhos que se tornam realidade. A eternidade. Alguns tolos, até amor. – Apontando para o objeto com o indicador, - E a substância contida aí, embora efêmera, pode lhe conceder isto. Viciando-os nesta boa sensação, mercado garantido.
Franzindo o cenho para processar aquela informação, James sempre soube que piratas roubavam, saqueavam cidades e espalhavam o caos. Todavia, escutando as motivações que movia aquele capitão...
Devolvendo o frasco à mesa, interpunha perplexo?
- Você está aproveitando o desespero da nossa civilização para criar um exército de viciados, Sirius?
- Devemos aproveitar as possibilidades, não?
- Isto é tão imoral.
- Oh, por favor, Prongs. E o que o traz aqui? – Voltando a levantar, vagamente preocupado, os olhos percorriam o céu azul sem nuvens. Por que teve que chover tanto na noite anterior? O tempo mudava conforme o balançar das ondas sempre lhe apagando as pegadas na areia onde ele desenhava os planos. Casualmente, alfinetava. – A fuga de um casamento?
James se calou.
Derrubando o garfo, até esquecia como mastigar, engolindo a comida com dificuldade. A tensão o congelava e, de maneira nenhuma, ele queria virar para encarar o juiz. Farejando a angústia, Sirius continuava:
- Seus pais me mandaram uma carta. Desesperados. – Voltando a caminhar em torno da mesa, inquieto, continuava. – Estamos adiando, mas não pode ser pra sempre. Coloque algum juízo na cabeça do seu amigo e outros blá blá blá. Enfim, você prefere ficar no próximo porto ou te levo pra casa?
- Sirius, o seu negócio é tão imoral que, eu aprovo. – Pondo-se de pé, o jovem fazia a conhecida continência utilizadas pelos guerreiros para demonstrar devoção. Levando a mão ao peito, jurava. – Por isto, estou aqui. Prometo viver esta aventura contigo, estando sempre ao seu lado. O seu mais fiel marujo.
- Um marujo? – Estreitando os olhos acinzentados em desconfiança, sério que o Príncipe James Potter rejeitava toda a nobreza para optar pela vida marítima quando nunca nem havia aprendido a nadar?* Sempre quando bebiam e terminavam em algum lago com pessoas bonitas, James permanecia sentado na borda, terminando as bebidas. Agora, estava ali, determinado a seguir pelo Oceano? Rindo minimamente interessado, aquela história começava a fazer sentido. Deste modo, interpôs. – Você invadiu o meu navio, pois estava interessado em um marujo?
- Bem... O amor veio depois. – James confessou. Notando os olhos revirar em descrença, corrigiu. – Não! Foi uma brincadeira. Claro que não, Sirius. Eu invadi seu navio, pois estava com saudades e, acompanhando a sua aventura, julguei que estava...
- Poupe-me, James.
- É sério!
- E qual foi a primeira embarcação da marinha que afundei?
- Por que você está afundando as embarcações da marinha?
- Poupe, James. – Cruzando os braços, na defensiva, encostava-se na mesa. “O amor veio depois”. Invadindo o quarto. Um pouco ríspido, o capitão explicava. – O Remus não é só um marujo. Por mais que você tenha se apaixonado por ele depois que saímos da escola, ele não está...
- Pera, pera, pera. – Desacreditado pelo rumo que a história tomava, o príncipe retificava. - Eu não gosto do Remus! - Percebendo as sobrancelhas se unir numa enigmática raiva. – Quer dizer, eu não gosto do Remus, desta maneira. Eu gosto dele como amigo. Ele é legal, especial. Mas, não romanticamente, sabe?
- Hum... – Conferindo as próprias unhas, acrescentava casualmente. – Você vai terminar deserdado como eu.
- Você parece feliz. Até mais corado.
- Sua família não é como a Black. – Pontuou pesaroso. Voltando a fitar o convidado de esguelha, não conseguia controlar a crescente curiosidade. A maioria dos marujos daquele navio estavam na meia-idade. Quem seria azarado o bastante para atrair aquela sufocante atenção? Qual infortunado percorrendo os corredores, havia ganhado o apreço de James. O arroxeado adquirido pelo líquido poderia ser uma dica, mas não existia pessoas roxas por ali. Relaxando, vencido, concordava. – Peter e Remus também estão comigo. Só faltava você para que a nossa equipe estivesse reunida novamente como nos velhos tempos.
- Então... – Indo até o amigo, tocava-lhe o ombro, conduzindo-os para a antessala onde deveria acontecer as negociações. - Por que não me apresenta pra sua tripulação? As dependências do navio... Onde este velho e pobre marujo irá dormir... – Levando a mão ao queixo, refletia. – O que levaria um homem a se tornar marujo?
- Fugir de um casamento real?
- Não. Algo nobre e emocionante. – Instigado, batia o polegar frente aos lábios, refletindo. - Tipo aquele sentimento... Acho que... Raiva? Algo que pensei quando Remus mencionou que você havia morrido.
- Vingança, não? Dívida? – Segurando o riso, sério que James Potter buscava motivação pra um trauma? Divertindo-se com a situação, instigava fervoroso. - Buscando sucesso depois que destruíram todos os seus bens e mataram a sua esposa grávida?
- Ela teria gêmeos. – Deferindo um leve soco contra a palma da própria mão, o olhar brilhava perante a trágica história quase surreal. – Sirius, se algum dia eu me tornar rei, você será meu primeiro ministro. Meu conselheiro. O padrinho dos meus filhos.
- Qualquer coisa, podemos matar os seus pais e te coroar rei. – Mediante o olhar assustado, justificava-se. - Você é, legitimamente, herdeiro.
- Eu me encontrei no mar, por isto não pretendo voltar mais praquele lugar com gente chata e dragões carentes. – Interpôs sonhador enquanto um satisfeito riso lhe tomava o rosto. Reparando as roupas luxuosas num espelho, sugeriu. – Não teria algo mais velho? Simples? Com aura de algum maltrapilho que vive das bênçãos do Oceano?
- Quem é, James?
- Ninguém. – Gritava, já revirando o guarda-roupa. Encontrando algumas peças esquecidas por estarem soterradas entre as demais, trocava-se. Finalizando apressado, retornava sem nenhuma culpa. – Eu juro pela minha... Dignidade?
- Você vai me contar, – Ameaçou Sirius, passando a mão pelo punho da espada presa a cintura. – Ou eu vou te matar.
- Você mataria o seu melhor amigo?
- Vamos descobrir?
- Vejo que estão se divertindo. – Remus comentava, adentrando o local com algumas garrafas de bebidas.
Repousando-as sobre a mesa, os olhos esverdeados torciam os lábios insatisfeitos para o capitão. Reconhecia a surrada camisa amarelada faltando alguns botões e a calça tão velha que o preto acinzentava. Meneando a cabeça em negativo, não conseguia acreditar que o mais alto havia cedido trapos para aquele a quem sempre intitulava como “o melhor amigo”, transformando-o numa espécie de vampiro das farroupilhas.
Piscando algumas vezes, intrigado, a preocupação sobrepunha o senso de moda. Afinal, por qual motivo o amigo não tinha acesso as próprias roupas? Apreensivo, segurava-lhe ambas as mãos, e, buscando transmitir um mínimo conforto, assegurava:
- Tudo vai ficar bem, James.
- Como assim?
- Você, aqui. O modo repentino como chegou sem nada. – Percorrendo o olhar entre os rapazes como se fosse óbvio, pontuava. - Eles atacaram o seu reino, certo?
Mordendo os lábios para segurar o sorriso, o capitão não conseguia se controlar sobre o quanto aquela situação soava engraçada. Pegando uma das garrafas e retirando a rolha, explicava com simplicidade:
- Atacaram o mundinho dele, Moony.- Percebendo a indagação no olhar do secreto amante, continuou. - James iria se casar e fugiu.
- Mas, por quê? Ela não era bonita?
- Ela era. – Empolgado, o príncipe descrevia a garota como uma divindade. - Incrível como a própria deusa Afrodite com os seus cabelos radiantes e olhos vivos. – Dirigindo-se até a janela, emoldurava o límpido céu como se pudesse contemplá-la mesmo estando tão distante. – Olhos tão vivos... vivos como dois sóis, em brasa. Mas... – Coçando a nuca, certa vergonha o atingia pelas atitudes tomadas.
Sem jeito, James só esperava que os amigos o entendessem.
Afinal, amigos serviam para estas coisas, não?
Percorrendo o olhar sobre o convés, rodopiava nos calcanhares, continuando com certa hesitação:
- Mas... Por mais que o sol ilumine todo o mundo com o seu calor, eu não posso contemplá-lo. É algo muito fora do meu alcance. Ela merece alguém melhor. E sabe, eu não sentia o meu coração maravilhado. Eu não ficava nervoso, sem palavras. Quando fomos apresentados, eu só sentir meus olhos queimar, buscando a... – Voltando a observar a parte descoberta do navio, a personificada escuridão não passava por ali.
- Por favor, pare. – Remus interrompia. – Uma princesa aceitar se casar com você depois do que aquela moça fez.
- Ela não foi culpada.
- A meretriz do circo não foi nada, Remus. – Sirius complementou, deferindo um leve tapa nas costas do sonhador. - Depois do padre que até teve que trocar de reino.
- Vocês não entendem. Ele sempre me escutava com tanta atenção...
- Durante a confissão. – Sirius complementava.
- E daí? Era o nosso momento.
- James. James. James. Todo mundo sabe que, - Modelando uma imaginária bola entre as mãos, o capitão caçoava. – Só serve para ser o magnífico e indescritível “sol” se for um amor impossível.
- E não sei se “amor” se encaixa nesta definição. Somente, - Remus escolhia a palavra, tentando não ser tão cruel. – Entusiasmo, talvez? Empolgação? – Percebendo o amigo cabisbaixo, aconselhava num extremo cuidado. – James... Estamos envelhecendo. Temos que assumir responsabilidades.
- Comandar um navio pirata?
- Eu posso te colocar pra andar na prancha, garoto. – Fazendo menção em desembainhar a espada, Sirius se divertia, sem perder a oportunidade. No entanto, a quem queria enganar? Desde a infância, papéis e tratados o deprimia. Simplesmente, parecia tão triste existir para dar continuidade ao legado de outra pessoa. Por isto, abrandando, defendia o fugitivo. – Mas, eu entendo que você não quer ser outro personagem na história cafona escrita por seus pais. Só que, o Remus tem razão. Eu tenho um irmão pra segurar a barra e ela é... Sei lá, é perfeita? Tem um reino primoroso. É educada, reservada...
- E louca o bastante para aceitar firmar este “casamento” com um príncipe como você. – Cruzando os braços, o loiro complementava. – Aposto que vocês vão se dar bem.
Empurrando as armações contra o osso do nariz, se James não conhecesse os amigos, suspeitaria que haviam sido pagos por sua mãe para convencê-lo a desistir.
Contudo, eles eram os seus amigos...
Aceitando os conselhos a contragosto, tinha certeza que estes só buscavam o guiar pelo melhor caminho.
O mais iluminado.
O mais extraordinário.
O loucamente aceitável e correto.
Ainda assim, os amigos não imaginavam o quanto o seu coração ansiava pela hesitante indiferença, o contido riso, cuja timidez lhe enrubescia as orelhas e ele fugia como um pequeno esquilo.
Certo, o incidente da igreja ganhou panos quentes, mas a engraçada bailarina... Durante três anos, o circo parou no vilarejo do reinado. Dentre os arremessos de objetos pontiagudos, alta música e animais ferozes em situações engraçadas, estava ela.
Tão leve quanto uma fada, saltitando a terra.
Empolgado por até as estrelas entrarem em silêncio para admirar a musa dançar, James lhe ofereceu frutas, perfumes, ouro. Não demorou até que uma das propriedades fosse vendida em doação ao circo.
Discutindo com os pais, o jovem príncipe não media esforços para fazer a amada feliz. Até aquele Carnaval, quando soldados inimigos invadiram o castelo, matando criados, saqueando e... Destrancando as portas para o caos entrar, estava ela.
Tomado pela fúria, James sacou a espada e o coração não permitiu agir. Percebendo o hesitar, a moça foi mais rápida:
- Mate-o.
Entristecido, ele só deixou a espada cair e... Umedecendo os lábios por lhe faltar palavras, desde criança, o rapazinho sonhava com um amor semelhante ao narrado pelos livros, comentados em roda de conversas, ou ainda, como aqueles recitados nas praças em forma de tragédia. Ele não tinha culpa de ter nascido no século da desilusão. Temendo a próxima paixão, os seus pais o condenaram a uma união arranjada e apressada argumentando “o bem do reinado”.
Nas festas populares, as quais ele participava clandestino, tudo parecia tão simples.
Sem títulos.
Sem acordos.
Sem dinheiro ou interesse em jogo.
Eram pessoas encontrando pessoas.
Pessoas segurando a mão de pessoas.
Prometendo permanecer ao lado em situações complicadas e engraçadas, no amor e na raiva. De certo modo, era mágico. E... Nestas horas, a imatura realeza resmungava insatisfeito com a gloriosa condição que o acompanhava desde o nascimento.
“Somente um escravo...”. Era do que Severus reclamava. A maioria das pessoas também estavam aprisionadas em papéis, controlados por horários, jantares desinteressantes. Seguindo no automático, sem o direito de decidir. Destituído da possibilidade de Sonhar.
Só que ele, James Poter, havia fugido daquilo.
Ele podia sonhar.
E alcançaria o sonho.
Não importava o que os amigos pensassem, ele estava livre. Já não pertencia a realeza, nem precisava de nada oferecido pelo reino do fogo. Talvez, uma pequena ajuda para escapar da cela e... Dando de ombros, ele viveria como um plebeu e nada mais importava. Aliás, o que importava não seria encontrado se ele permanecesse ali, escutando abobrinhas.
Determinado, nada o faria mudar de ideia.
Ele só tinha aquela única vida.
Qual o crime em desejar torná-la, minimamente, memorável?
Assentindo em positivo como quem jurasse refletir sobre os importantes conselhos, colocava as mãos no bolso. Apoiando o peso num dos calcanhares, solicitava casualmente:
- E qual a minha primeira tarefa, Capitão?
- Divirta-se comigo.
- Não, Sirius. Eu quero algo sério.
- E você acha que isto é fácil? Eu mesmo, nem me lembro qual foi a última vez que consegui me divertir.
- Bom saber. – Frisou Remus, fazendo um bico.
- Sim. – Devolvendo o desafio, um vago riso brincava nos travessos lábios. – O que pretende fazer a respeito?
- Não, gente! Por favor, eu quero algo sério. – Observando as altas madeiras afora da cabine, o céu alaranjava num bonito entardecer. Balançando a cabeça vagamente, James buscava focar. Ponderando sobre equipamentos marítimos, sugeria – Não sei... Tipo ajustar o remo, lavar os panos das velas, lustrar os canhões.
- James Potter, o que você sabe sobre lustrar algo? – Remus interpôs, curioso.
- Tem que deixar brilhando para ver o reflexo.
- E você pretende fazer isto com o ferro de um canhão?
- Este negócio de deixar brilhando não seria polir? – Sirius corrigiu, em dúvida.
- Oh, não! Dois mauricinhos em alto-mar.
- Não importa. Qual o meu serviço, capitão?
- Você quer “serviços” depois de tantos anos tendo alguém para lhe cortar maçãs? – Remus devolveu. Intrigado, indagava. - O que está escondendo?
- Eu sei que ele está escondendo algo, Moony.
- Seu novo alvo é uma sereia?
- Oh! – Sirius se impressionava. – Sereias podem ser roxas, né? Eu achava que seria um marujo, mas alto mar... – Coçando a pequena trancinha na ponta da barba, os olhos enublados deduziam. – Ela o visitou numa noite em que você estava muito bêbado e, agora, você quer reencontrá-la?
- Engraçadinhos! – Balançando-se nos calcanhares, o involuntário riso lhe tomando o rosto, não o permitia negar. Pegando um peso de papel, divagava. - Óbvio que estou apaixonado por um ouriço-do-mar.
- Inacreditavelmente, espinhos faz o seu perfil. – Pontuou Remus. – Talvez, ele possa limpar o convés. Um pano na madeira não vai destruí-la.
- Sempre o meu braço direito, meu am.. – Corrigindo apressado. - Meu amigo Moony.
Concordando, o garoto já dava alguns passos para trás. Embora não fizesse ideia sobre onde ficaria o convés, sabia que era algo de madeira e... Agora, tinha a desculpa perfeita para revirar toda aquela embarcação buscando o peculiar “convés”.
- James, não quer cumprimentar o Peter? – Sirius adiantava. - Conhecer o resto da tripulação?
- Depois. – Já dando adeus, descia as escadas apressado. - Agora devo focar no meu árduo trabalho.