A bússola negra

Harry Potter - J. K. Rowling
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A bússola negra
Summary
Fugindo de um casamento arranjado, o príncipe James acreditava que poderia levar uma vida no mar com o pirata Sirius, o qual foi o seu melhor amigo durante os tempos escolares. Todavia, seu ingresso ao navio ocorreu com o pé errado e, numa cela, ele vai descobrir que nem só de rum, mulheres e diversão se faz a vida marítima.[Marotos em um universo alternativo]James x SeverusWolfstar
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Ondas trêmulas em dúvidas

Os quentes raios de sol acariciavam o pálido rosto desprovido de expressão. Piscando incomodado, Severus demorou alguns segundos para reconhecer onde estava.

Os baús empilhados.

A desgastada escada de madeira faltando alguns degraus e os gelados ferros os quais, alinhados perfeitamente, marcava-lhe as costas semelhante a fiel companheira lhe enlaçando o punho e... Virando-se por um impasse, o coração apertou ao notar a cela vazia.

Contudo, o que esperava? Antes de escolher a garrafa na noite anterior, ele já tinha ciência sobre o veredito.

Ainda assim...

“Tão cedo.”. Lamentava.

Flexionando os joelhos para abraçá-los, por que estava tão...

Desapontado, talvez?

Ele não conseguia traduzir em palavras, pois aquela agonizante sensação lhe tomando a garganta, até então, não lhe era conhecida. De certa forma, aquelas palavras repletas por determinação pareciam transformar o enigmático prisioneiro em algo forte e invencível. Rindo consigo, pra falar a verdade, se James lhe estendesse a mão num convite para pular de um precipício balbuciando algo sobre voar, sem dúvidas, Severus acreditaria.

Como acreditou que eles pudessem escapar daquele navio...

Como, durante tantas manhãs, acreditou ser convidado pra jantar num mundo só deles.

Suspirando...

A vitalidade naqueles olhos, a faceira boca cheia de argumentos e provocações. Embora novamente sozinho, o homem de negros cabelos recordava das inoportunas brincadeiras, desmioladas promessas e aquela consideração... Naqueles últimos dias, a recordação tão pisoteada sobre ser uma pessoa livre... Será que se aquele miserável não houvesse o trocado por um par de moedas e algumas garrafas pela metade, ele seria convidado para jantares? Talvez, pudesse ser um artesão? Ou músico? Ele gostava de alquimia, bibliotecas e mistérios. Certamente, ele não arriscaria invadir um navio pirata como...

Pegando um dos cacos de vidro, não é como se ele esperasse que James fosse arriscar a vida por um simplório escravo. Quando Pandora abriu a urna, a esperança permaneceu trancada, afinal, não era como se as pessoas pudessem fugir das travessuras ocasionadas pelos outros males.

A vida era medo, dor...

E, aqueles poucos dias, onde eles puderam trocar ofensas, presentes, carinhos...

Onde a costumeira escuridão lhe afogando, reduzia-se a um sono tranquilo.

Um sono onde ele poderia sonhar. Acreditar numa chance de...

Não!

Não...

Enquanto mais insistisse naquela tola recordação, o peito iria apertar e, Peter não podia desconfiar acerca da existência de uma outra maneira para atormentá-lo. Como também, o infeliz prisioneiro não merecia ser condenado ao sofrimento somente por um capricho depois de lhe ter cruzado o caminho.

Assim, preparando-se para levantar...

A poeira ao chão não tinha qualquer sinal de lama.

Intrigado, depois da tempestade passada e a quantidade de terra naquele chão...

Soava surreal que os marujos houvessem vindo sem sapatos.

Peraí, por que eles não gritaram quando o encontraram em frente a cela do prisioneiro?

Depois das refeições, ele não poderia permanecer ali.

Vivendo nas sombras, ele nunca era bem-vindo sobre nenhum assunto daquela embarcação.

Aliás, ele não deveria existir...

Existir?

O modo como o homem aguentou tantos dias naquela cela comendo migalhas... Quão louca uma pessoa estaria pra invadir um navio pirata? Sem armas? Sem plano? O modo como James o escutava com tanta atenção...

Olhando para trás, será que o desespero lhe induziu a criar um confidente imaginário? Alguém de coração nobre, apesar das origens humildes? Um viajante cuja liberdade lhe usurparam? Um homem que o tratava como um igual, assim como...

Não...

Engasgando-se com a recordação, Severus suspirou fundo numa tentativa de engolir a angústia.

Insistente, ela permaneceu ali.

E, pra falar a verdade, até o castanho em ambos os olhos se assemelhavam.

O costumeiro sorriso.

Refletindo, este era diferente.

James parecia não conhecer a palavra fuga ou hesitação. Ao contrário de... Fechando os olhos, o rapaz ainda conseguia escutá-lo gritar naquela noite chuvosa, pedindo que parasse e... Limpando a única lágrima com o dorso da mão, desta vez, James não poderia ser real.

Até porque, caso fosse...

Respirando aliviado ao confirmar a teoria, o navio permanecia planando em alto-mar.

Então, até a própria mente o considerava uma piada? Recolhendo verduras para preparar a refeição, por mais doloroso, havia sido bom o sufrágio compartilhado. E, possivelmente, três dias ou três meses, não seria o bastante para esquecer James. Assim como, tantos anos ainda não puderam apagar o sereno rosto de...

- Quando terminar, limpe as armas. – Um alto homem ordenava, sem adentrar na cozinha. – O navio vai desembarcar ao fim desta tarde para se desfazer do lixo. – Ele quase saia, quando retornou pra acrescentar. – Quem sabe não será o seu dia de sorte e daquele “seu senhor esnobe”.

Meneando a cabeça, Severus concordou.

Pela janela, notava o agitar das velas, conduzidas para algum lugar. Cabisbaixo, enquanto seguia preparando a matinal refeição, torcia para que aquele poderoso vento também lhe perpassasse as memórias, apagando aquelas recordações irreais. Inclusive, ele poderia levar as reais e, quem sabe até, aquela merda de vida.

Separando alguns grãos sobre o madeira úmida, não.

Há muito tempo, esta última já tinha sido arrancada. O que ele aguentava naquela embarcação já não se enquadrava na definição de “vida”. Severus só acordava, tropeçava e... Voltando a cortar a batata, por mais dolorida que lhe fosse a sina, assim como existiam folhas guardando em si importantes histórias, grandes livros; haviam os cadernos, maltratados, rabiscados por rascunhos e rabiscos.

Um dia, recordando as palavras do marujo, ele teria sorte em encontrar o lixo.

 

-----/

 

- Você poderia ter o matado! – Remus bronqueava em baixo tom. – Onde estava com a cabeça, Sirius?

- ELE INVADIU O MEU QUARTO. – Indignado, o capitão de negros cabelos cacheados, apontava o indicador pro próprio peito de camisa entreaberta. – Eu sou a vítima aqui.

- Ele estava preocupado com você.

- Às duas da manhã? – Caminhando até a janela, indicava o límpido céu sem pássaros ou nuvens. – Estamos em alto-mar, meu amor.

- Sirius! – Trocando o molhado pano na testa do desacordado, a censura continuava. – Cuidado com os apelidos. Não estamos juntos. – Percebendo o dramático homem se preparar pra protestar. – Você sabe que não podemos.

- Como assim? – Franzindo o cenho, jogava-se numa cadeira, vencido. Desaprovando totalmente aquela decisão, prosseguia bastante insatisfeito. - Caralho, é o James!

- Mesmo assim.

- Oh! Estamos em alto-mar, Senhor Remus chato Lupin.

Apertando os olhos, o desacordado rapaz levava a mão até a testa. Murmurando conforme o cuidado cessou, demorou alguns segundos para se acostumar a claridade invadindo aquele quarto cujo vermelho e dourado se mesclava em exagero. Arrastando o corpo pela maciez do estofado, uma rara peça vitoriana, o sorriso lhe reivindicava o rosto quando notou os dois amigos.

Mas...

A lembrança do arroxeado sobre o olho do garoto lhe induzia a tentar levantar.

Ele precisava libertar Severus antes que eles chegassem ao porto.

Afinal, por que Sirius havia o atingido? Será que, agora, ele era um vilão como nas histórias contadas sobre sanguinários piratas? Receoso em denunciar o pobre infeliz, que diabos acontecia naquela porcaria de embarcação?

- Muito bem. – Cruzando os dedos, Sirius interpunha o silêncio. Sem rodeio, questionava – O que faz aqui?

- Bem-vindo de volta, James. – Forçando o riso, Remus corrigia com censura. - Desculpa por ter lhe atingido. De qualquer forma, eu estava com saudades. Você está bem, amigo?

- Mas eu não estava com saudades.

- SIRIUS!

- Se eu tivesse com saudades, teria ido até o reino do fogo. – Pontuando sistematicamente, o capitão alterava a voz, levemente estressado. - Talvez, até fosse uma boa ideia já que, tecnicamente, toda esta dro...

- Desculpa. – Percebendo a educada discussão tomar proporção, James interrompia. – Eu queria fazer uma surpresa para o Sirius. Por isto, entrei no navio discretamente, mas fui capturado e aprisionado por alguns dias.

- Pera, – Inicialmente desacreditado, logo o capitão gargalhava ao confirmar. - Você tentou invadir meu navio? - Divertindo-se, aquela seria uma história que contaria aos netos dos dois. – O que passou pela sua cabeça? – Percebendo o idiota dar de ombros, relaxava arrependido. – Ok. Desculpa pela “recepção”, Prongs. As coisas estão dando tão errado que eu só estou...

- Você quer tomar um banho, James? – Outra vez, Remus cortava clamando por educação. Ajudando o convidado a levantar, prosseguia por um calmo riso. - Comer algo? Não sei... Ajuda com alguma coisa?

Observando-o por um instante, embora houvesse mais cicatrizes no bronzeado rosto, o velho amigo de cabelos bagunçados como as palhas de milho permanecia com aqueles olhos calmos, esverdeados como a água do mar. Convidativos, profundos e... Traiçoeiros?

Sem graça, James baixou o rosto.

Aquelas pessoas cresceram consigo.

Eles compartilhavam histórias, amores, conquistas e desilusões.

No entanto, naquela cabine, eles pareciam nebulosos demais para arriscar qualquer assunto. Especialmente, sobre Severus...

O Sirius que ele conhecia, sempre tão revolucionário, jamais colocaria algemas em nenhum punho somente para servi-lo. Ele sempre... Piscando para o amigo ao recordar os olhos escuros e, agora, tão semelhante, aquele homem sempre havia rejeitado a nobreza por acreditar não merecer privilégios e impor castigos somente pelo simples fato de carregar aquele sobrenome.

Aliás, não um “fato”. Pertencer aquela linhagem era um insuportável fardo.

Os Blacks...

James pouco tinha os visitado, todavia, acreditava que no lugar do amigo iria desprezar toda a raça humana. Ainda assim, por mais que o deserdado homem tivesse os seus momentos repletos por sarcasmos e amargura. Pelo menos, até alguns anos no passado, ele tinha um bom coração e, ainda quando chorava, contava piadas para os demais sorrir.

Possivelmente, se fosse condenado a guilhotina, como plebeus comentavam entre esquinas que acontecia em países próximos, ele faria algum comentário sobre nunca ter tido cabeça para nenhuma preocupação idiota naquela vida e, por isto, não lhe surpreendia com o destino.

Todavia, Severus...

Ele não nasceu na casa Black.

E, por mais que os seus toques fossem contidos e o receio habitasse no escuro olhar, por que um nobre estaria escravizado?

NÃO. FAZIA. NENHUM. SENTIDO.

Pensando bem, revisitando os importantes nomes das grandes famílias, ele recordaria se houvesse encontrado aquele fugitivo esquilo por algum jantar. Até porque não existiam muitas escolas, festas...

Sim.

Eles já teriam se encontrado. Ou James seria obrigado a decorar o sobrenome daquela linhagem para alguma fútil negociação. Atingido novamente sobre o quanto a menção daquele trissílabo primeiro nome era privado, quase sussurrado...

E não...

Então...

Umedecendo os lábios, o recém-acordado colocava:

- Não quero incomodar.

Sirius mordeu os lábios, controlando a vontade de perguntar se era ironia. Batendo o indicador no braço da poltrona, desde quando James conhecia as reticências? Erguendo a sobrancelha, não negava o quanto estava interessado pela verdadeira motivação para o amigo ter chegado até ali. Invadido o navio e permanecer aprisionado? POR DIAS? Ele queria muito saber qual a espécie de álcool vinha impulsionando todo aquele fogo no pequeno herdeiro dos dragões?

Por isto, fazendo um gesto para o amante, solicitava:

- Moony, verifique se ainda temos frutas no estoque enquanto nosso querido convidado toma um bom banho.

- O Remus? – Percebendo a deixa, James adiantava. – Por que não pede pra um dos seus escravos?

- Escravos? – Devolvendo a questão, o capitão ficava mais desconfiado. – Por que eu teria escravos, Prongs?

- Para servi-lo?

- Acho que bati na sua cabeça um pouco forte demais. - Levantando-se, despedia-se através de uma elegante referência. – Enfim, estou indo preparar uma refeição digna da realeza para que possamos conversar. Por isto, esteja apresentável.

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