A bússola negra

Harry Potter - J. K. Rowling
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A bússola negra
Summary
Fugindo de um casamento arranjado, o príncipe James acreditava que poderia levar uma vida no mar com o pirata Sirius, o qual foi o seu melhor amigo durante os tempos escolares. Todavia, seu ingresso ao navio ocorreu com o pé errado e, numa cela, ele vai descobrir que nem só de rum, mulheres e diversão se faz a vida marítima.[Marotos em um universo alternativo]James x SeverusWolfstar
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Escuridão sem estrelas

Batalhando contra a refrescante preguiça lhe seduzindo a adormecer, James permanecia com as costas contra os ferros, apreciando aqueles cinco dedos enlaçados aos seus.

As unhas igualmente sujas.

As peles ásperas pelo mal tratos da salina.

Se existissem bruxas naquele mundo, elas poderiam condená-los a permanecer assim...

Juntos.

Unidos.

E, conforme as nuvens dissipavam, o céu revelava tímidas estrelas decorando o negro véu por um rápido intervalo. Semelhante ao cessar da chuva, logo aquela noite também esvaneceria. E, ao contrário do ponteiro do relógio, ela já não tornaria a repetir o conhecido caminho.

Apertando os dedos entre os seus, James sabia que se não agisse, o próximo amanhecer sepultaria a sua proximidade com Severus. Isto porque, caso permanecesse calado quando o barco ancorasse, ele poderia ser comercializado como um mero artefato.

Contudo, se reconhecido pelo amigo...

Por que o adormecido rapaz tinha aversão aos nobres? Quer dizer, qualquer camponês sonhava em ganhar uma coroa ou ter a mínima atenção da realeza. Quanto mais, se lhe fosse proposto nunca mais trabalhar e ter todos os desejos, egoisticamente, atendidos.

Todos os presentes e mimos, eternamente, aos seus pés.

Então, por que Severus os desprezava?

Embora não entendesse a razão, James não podia deixar que a desculpa arranjada e pouco explorada, fosse, simplesmente, reduzida a uma mentira.

De certo modo, ele vendia coisas.

Vendia proteção aos plebeus do reinado em troca de impostos.

Em guerras, assumia a frente do exército, por muito já ter vendido coragem, afastado o medo de vilarejos.

Até mesmo agora, ousando tocar a negritude daquele cabelo sem estrelas, ele se empenhava, tentando vender sonhos, em troca daquela misteriosa, rabugenta, sublimemente antiga e tão necessária companhia.

Por que Severus?

Por que...

Decorando o contorno daquela relaxada mandíbula, e pensar que alguns trocados poderiam fazer aquele homem ser...

NÃO!

Afastando aquele pensamento, ele não poderia se referir aquele garoto como uma mercadoria. Estava evidente como aquela condição o causava sofrimento, sem contar que a ideia de escravidão era desumana.

Como Sirius...?

Pondo-se de pé, não deixaria que o Sol lhe roubasse a vida. Contudo, agora, além do cadeado, o portão estava travado pelo corpo do garoto.

Caminhando de um lado ao outro, James refletia numa forma para fugir dali.

Reparando as nuvens em silêncio, utilizar um pouco do seu poder para aquecer Severus não havia despertado a atenção de nenhum dragão. Logo, ele poderia utilizar o fogo com moderação?

Se tivesse testado mais cedo...

De qualquer forma, caso apreendido, pelo menos, teria tempo para esmurrar a cara do amigo até que este voltasse a ter um pingo de sanidade e assinasse um documento garantindo a liberdade daquele jovem. Aliás, de todos os supostos escravos que Sirius mantivesse no navio, nem que, para isto, James se comprometesse a pagar um salário para cada marujo que desejasse permanecer naquela vida.

Vida...?

Escassa comida.

Sujeira.

Calor...

Pelo pouco que conhecia, aquilo não podia receber a nomenclatura de “vida”.

Ainda assim, será que Severus teria o desejo de permanecer pelos mares? O orgulhoso homem não aceitaria ajuda vinda de... Suspirando com pesar, poderia até perder aqueles olhos sérios e sem esperanças se estes...

“FODA-SE! ”.

Dando de ombros, ele não era um príncipe conhecido por “pensar” muito.

Assim, analisando as barras todas em verticais, fazia uma rápida medição sobre quantas seriam necessárias tirar para que conseguisse passar o corpo, pelo menos, de lado.

Permitindo que a mão ficasse em brasa, segurava o ferro até conseguir descolá-lo. Retirando em silêncio para não perturbar o algoz sonhador, ele partia para o segundo. E, conseguindo passar, esgueirava-se para fora da cela.

Refletindo, seriam melhor realocá-los para não levantar suspeita?

Certamente.

Assim, soldando-os de qualquer maneira, apressava-se.

Finalmente, liberdade.

O vento lhe bagunçando os cabelos.

Aproveitando o navio deserto, como tinha saudade de preencher o pulmão com o puro ar. O céu parecia ainda mais bonito sem ta enclausurado na irritante janela mal cortada. Fechando os olhos, o barulho advindo das ondas do mar, igualmente livres, não soava irritante como quando batia na madeira do porão.

De certo modo, por mais que passasse a maior parte do tempo reclamando e jamais admitisse perante os outros membros da realeza, não negava o quanto era bom usar aqueles privilégios concedidos pela ofuscante origem advinda da chamas e do ouro.

Agora, sem capangas ou surpresas, não demorou até que o jovem principe atingisse o objetivo inicial desde a fuga do castelo.

E, esgueirando pela penumbra, caminhava até a cama.

“Oh, Sirius. ”. Por um minuto, James sorriu do quanto o intenso homem parecia indefeso ali adormecido.

Tocando-lhe de leve o ombro, o dorminhoco nem se mexeu.

A pouca luz oriunda da lua, não o permitia contemplar além dos fortes braços abraçados a uma grossa coberta e o rosto imerso em outras duas junto ao travesseiro.

Agachando-se com cuidado para não assustá-lo, James pedia:

- Você tem que libertá-lo. – Nenhuma resposta, tornando-se um pouco mais insistente. – Por favor!

Demorando para reconhecer o contorno daquele rosto ao lado da cama, o homem somente puxou o travesseiro sobre a cabeça, desistindo daquele sonho.

Indignado, James puxou os lençóis:

- Você não percebe como está fazendo mal?

- Você é a voz da minha consciência? – O dorminhoco devolvia, sem humor. – Nós dois sabemos que não depende de mim.

- Não crie desculpas.

- Não é... – Levantando um pouco o rosto, o calafrio perante os olhos grandes daquela figura suja e assombrosa. Pulando da cama na direção oposta, o rapaz puxava os lençóis buscando cobrir o peito nu.

Tropeçando nas próprias pernas, tateava o chão em busca de alguma arma, mas o medo não o permitia parar de tremer.

QUE INFERNO!

Como poderia está sendo castigado por algo que nem dependia da sua vontade?

Reparando os cabelos curtos e assanhados, James também levantou. Demorando uns minutos para reconhecer, questionava incerto:

- REMUS?

- Eu estou... – Encontrando o candelabro apagado na superfície do criado mudo, ameaçava. – Armado. – Apontando para o invasor, buscava manter a voz firme. - Não ouse se aproximar.

- Você está usando o nome do Sirius para conduzir o navio?

- Isto não é... – Erguendo a sobrancelha, - Por que isto importaria pra você?

- Isto significa que o meu melhor amigo está... – O silêncio. Baixando o rosto, a tristeza lhe apontava a garganta enquanto James rememorava os momentos felizes.

Quem havia sido o patife?

Como aquela tragédia poderia ter acontecido?

Meneando a cabeça em negativo, não poderia, simplesmente, aceitar aquele pesadelo. Sem conseguir concluir o raciocínio, James não conseguia controlar aquela dor o tomando por pensar que o melhor amigo estava:

- Morto? - A voz findava em si.

Um momento.

Mediante a assombração parecer chorar, Remus baixou a arma, pedindo calma.

Buscando um lenço no criado mudo, as trêmulas mãos acendiam uma das velas do candelabro. Tentando se aproximar, aqueles olhos faiscando na escuridão...

Perplexo, indagava:

- James?

- Eu juro que...

- James, é você mesmo?

- Quem mais seria?

- Você não deveria esta, tipo, no seu reino? – Reparando as roupas rasgadas, feridas infeccionadas e cabelos como se muito não visse a luz do dia. – Por que você...?

- Não importa... – Ajustando a postura, decidido. – Acho que o destino me trouxe até aqui para que eu possa te ajudar na vingança contra o patife que matou o meu melhor amigo.

- Sirius não morreu, idiota.

- Então, ele foi sequestrado?

- Não.

- Então, por que você está no quarto do... – James não conseguiu terminar, pois teve a cabeça acertada por algo muito duro e metálico.

Bastante tonto, atrás de Remus existia um espelho, sendo possível espiar a silhueta de um homem segurando o cabo de uma panela.

Aqueles nebulosos olhos assassinos...

Seria mesmo o famoso capitão Si...?

Antes que o pensamento pudesse findar, o mundo do príncipe escureceu como a noite sem estrelas.

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