Enquanto Eu Não Me Esqueço

Harry Potter - J. K. Rowling
F/M
G
Enquanto Eu Não Me Esqueço
Summary
Duas mulheres dão á luz a bebes do mesmo pai, dezesseis anos mais tarde, os filhos são obrigados a viver sob o mesmo teto onde descobrem que não é só o sangue que os une
Note
Relação incestuosa entre dois meios irmãos
All Chapters Forward

Capítulo 4

Beatrice descobriu muito cedo que nada naquela casa era bom. Logo pela manhã, quando acordou com um som alto na porta da frente, teve o braço arranhado pelo gatinho que também se assustou e ainda examinava os arranhões quando Eileen colocou o balde na sua frente.
Ela não se importava em limpar, na verdade, um dos poucos prazeres que Maria não abria mão era se sentar com a filha em uma casa limpa e cheirosa, Beatrice aprendeu com ela. O problema, era que cada canto na casa estava sujo, parecia que Eileen varria só o meio da sala e deixava poeira acumulando nos cantos.
- Precisa ir a venda, as cebolas acabaram.
- Está falando comigo? – perguntou surpresa, ainda com a vassoura na mão.
- Claro que estou falando com você. Tobias vai chegar logo para almoçar, anda, vá buscar as cebolas.
Eileen não estava sendo totalmente odiosa quanto no dia anterior, ela balançou o saquinho de moedas e Beatrice pegou no ar, vestiu os sapatos na porta e correu para o lado de fora, ela não sabia nem o que era uma venda, mas imaginou que seria o que a mãe chamava de quitanda, também não sabia para que lado ficava então seguiu o rio abaixo, esquecendo que teria que subir pouco depois, sob o sol quente.
Foi quando eu a conheci. Pisando com cuidado na grama, segurando o pequeno saco de moedas com muita força para não derrubar, ela se aproximou, um sorriso perfeito de capa de revista, não era de mim que ela se aproximava, mas da sombra da única árvore grande daquele pedaço do rio, onde por coincidência eu estava.
- Oi.
Acenei com a cabeça.
- Hoje está mesmo quente.
- Está.
- Você mora por aqui?
- Do outro lado do rio – apontei para a ponte de madeira antes de voltar a cruzar os braços.
- Parece mais bonito daquele lado.
- É sim.
O sorriso dela foi sumindo, pouco a pouco, eu queria observá-la com atenção e tentei disfarçar, mas ela notou mesmo assim, me defendi antes que se tornasse constrangedor.
- Acho que te conheço de algum lugar. Estuda na escola Sunset?
- Não, acabei de me mudar.
- Você me lembra alguém.
- Pela sua atitude deve ser alguém que não você não gosta.
Isso me tirou um sorriso, discreto e leve, que me desarmou totalmente.
- Sou Beatrice Giordano. Ou só Bea.
- Petúnia e por favor, não me chame de Pet.
- Justo. Que tal Peta?
- Acho que posso aceitar isso. Você mora aqui?
- Na zona industrial. Eu morava com a minha mãe antes – seu sorriso murchou instantaneamente dando lugar a uma áurea triste – ela falaceu. Dois dias atrás.
- Sinto muito, de verdade.
- Já estávamos esperando.
Seguiu um silêncio profundo e incomodo entre nós duas, ela parecia muito mais tranquila que eu, olhando o curso do rio que seguia imutável.
- Está esperando alguém? – sua pergunta veio repentina.
- Não, só aproveitando o último dia de paz antes da minha irmã chegar do internato. Você tem irmãos?
- Não. Bem, agora eu tenho, mas não sei como ele é.
- Continue assim.
Ela riu junto comigo.
Percebi minha mãe esticando o pescoço pela estrada, tentando ver onde eu estava.
- Acho que preciso ir agora.
- Tudo bem, eu tenho que comprar cebolas.
- A venda é ali – apontei para a ruazinha mais a frente.
- Obrigada.
Dei alguns passos em direção a ponte e acenei olhando para trás mais uma vez.
- Vamos nos encontrar aqui mais vezes – ela gritou – não conheço ninguém, seria bom ter uma amiga.
- Tá bem, amanhã de manhã. Ás dez – enquanto me afastava a minha voz ficava mais alta.
- Tchau, Peta.
- Tchau, Bea.
Quase tropecei na ponta, nós rimos e eu corri.
Bea voltou para casa a tempo de Eileen preparar o almoço e logo foi ordenado que ela voltasse a limpeza da sala, havia tantos livros e revistas para tirar pó que levaria a tarde inteira.
A porta abriu pouco depois, Eileen correu para ajudar Tobias a andar até a mesa, trançando as pernas, o cheiro de bebida barata impregnou a casa.
- Continue o que está fazendo, você come depois.
- Cadê a porra da minha comida – Tobias bravejou, seus punhos acertando a mesa com força.
- Aqui está seu prato.
Beatrice continuou a tarefa, com os ouvidos atentos. Tobias comeu rápido, arrotou alto e arrastou a cadeira criando um som terrível que machucou os ouvidos e os dentes de Bea, ela ficou quieta e concentrada, não conhecia o rosto dele, mas evitou olhar.
Tobias se sentou em uma poltrona na sala, Eileen correu para tirar os sapatos dele e ligar o rádio na estação de esportes.
Bea se manteve muda, ouviu os saltos baixos de Eileen se afastarem de volta a cozinha.
Eu me lembro do que Bea vestia naquele dia, tamancos com sola de madeira que levantavam mais seu quadril, coberto até o meio das coxas pela saia jeans de botões e uma ciganinha azul clara de mangas curtas, estava perfeita como estava, infelizmente não para o pai.
Ele se levantou, quase caindo sobre a mesa de centro, Bea ignorou, colocou o livro de volta e tirou outro. Tobias chegou perto e sem aviso, segurou a saia dela e a subiu até o limite entre a coxa e a curva. Bea paralisou.
- Se vai atrapalhar meu descanso pelo menos me dê algo para ver.
Bea não ousou respirar quando ele a soltou, ficou ali parada e quieta, assustada, poucos minutos depois um ronco alto a fez estremecer, levou o livro ainda sujo de volta ao lugar.

- Achou que eu fosse o pior que podia te acontecer nessa casa? – Eileen segurou o jeans grosso de Bea e o colocou no lugar com cuidado – sinto muito.
Apesar de seu tom duro, Eileen parecia sincera, a garota se virou para ela e balbuciou um “obrigada”.
- Meu filho vem para casa hoje, sei que não será fácil, ele está mais velho, mais forte, temo que entre em conflito com Tobias.
- Eu entendo – Beatrice ainda tentava processar o que lhe aconteceu, os olhos se enchendo de lágrimas.
- Não piore as coisas.
- Não sei como eu faria isso.
- Você é a irmã que ele nunca teve, se achar que você está sofrendo vai tentar te proteger.
- Devo esconder o que estou sentindo.
- Só não o deixe te ver chorando, eu nunca deixo.
Bea pensou sobre as mãos de Tobias em seu quadril, sua tentativa de ver partes dela que nunca mostrou a ninguém, pensou em sua mãe e na falta que ela causava.
Não sabia como engoliria o chora. Mesmo sabendo que encontraria apenas uma sombra vazia, ela quis correr para o último lugar onde se sentiu bem, a nossa árvore, seus olhos marejados e nariz vermelho a faziam parecer frágil como porcelana.
Então Bea fez a única coisa que não podia, a única coisa que Eileen pediu para não fazer.
Ao tentar fugir, ela abriu a porta. Do outro lado, Severo chegava em casa, com seu malão sendo arrastado á exaustão, vermelho e com fios de cabelo colando na testa suada, ele olhou para Bea sobre os degraus da entrada e ela estava chorando.

Forward
Sign in to leave a review.