
Capítulo 3
Longe dali, completamente alheio a qualquer coisa que acontecia na Rua da Fiação, Severo Snape se preparava para deixar Hogwarts rumo a sua última férias de verão. Em partes, grato por não ter mais que tirar chicletes mascado da calça de seu uniforme depois de passar perto de um maroto.
- Gelo ajuda.
Severo bateu com as duas mãos na pia, as deixando ali, agarradas na louça enquanto via sua figura no espelho.
- Estamos indo para o último ano, Mulciber. E não descobrimos um feitiço para tirar chicletes da calça.
- Você fala como se não pudesse criar. É o melhor em runas do nosso ano.
Snape sorriu, ele era o melhor em runas, poções, mutação, ou seja lá o que for o nome da matéria. Tão bom, que se recusa a fazer algo tão banal, ele sabia bem como fazer feitiços de combate, que cortam, machucam, matam.
Mulciber encostou na parede, jogando uma bolinha de papel para o ar e pegando, ele tinha ombros largos, assim como o queixo, olhos apertados, nariz reto, considerado o sonserino mais bonito que Hogwarts já teve. Severo não podia deixar de se comparar.
Snape tinha o cabelo da mãe, assim como a pele pálida e a cor dos olhos, mas o nariz anguloso era do pai, assim como o formato da boca não beijável. Se perguntava se era assim tão asqueroso, se seus braços finos não eram acolhedores ou sua voz harmoniosa.
Pode ser que algumas garotas o achassem atraente, sinceramente, não havia nada de errado com seus lábios e braços, ele só não reparava em ninguém mais para saber.
Talvez fosse o conjunto que fazia Lillian correr de suas tentativas, ainda que ela o mantivesse perto como um bom amigo, coisa que nunca entendi.
Claramente minha irmã não tinha mais interesse em Snape do que no chiclete mascado preso em sua calça, talvez até o chiclete fosse mais atraente para ela por conter saliva do garoto que ela costumava beijar escondido embaixo das arquibancadas.
Mas ela o mantinha sempre perto.
- Tudo por um rabo de saia – Mulciber resmungou.
- O que disse?
Severo apertou os punhos com força, as veias azuis saltadas no antebraço ainda liso.
- Sabe, ficar aguentando a provocação desse grupinho, tudo por causa da ruiva. Tem outras mulheres no mundo, Severo – a voz de Mulciber foi ficando mais animada e convidativa, ele segurou os ombros do amigo e o forçou para o espelho – você só tem que procurar nos lugares certos. Para onde vai nas férias?
- Para casa – Severo se desvencilhou, arrumou as mangas da camisa a fim de abotoá-las.
- Não mudou de ideia sobre Veneza?
- É meu último ano em casa, preciso ficar com a minha mãe.
- Pense nas italianas de mini saia aveludada – Mulciber fechou os olhos e sorriu saboreando sua imaginação.
- Essa moda já chegou no Reino Unido, para ver algumas pernas basta andar pelo Beco Diagonal
- Mas com pernas depiladas?
Os rapazes riram, garotos sempre foram tão idiotas.
A verdade é que Snape não tinha grana para férias em Veneza, não tinha grana para férias alguma.
Ele saiu do banheiro pouco depois disso, com a calça molhada e uma grande mancha branca na parte de trás da coxa, seus passos não o levaram muito longe.
- Parece que alguém andou se divertindo – a voz inconfundível de Sirius veio de trás.
- Acho que foi melhor para o outro – James riu – consegue se sentar, Ranhoso?
Snape apertou a varinha e tentou decidir qual azaração usar primeiro, ele queria uma bem dolorosa.
- Deixem ele em paz – Lilian se aproximou correndo e laçou seu braço no de Severo, a mão dele relaxou na varinha, ele não era uma vítima, mas se era assim que Lilly ficaria perto então aceitava.
- Eu estou bem, não tenho essa imaturidade.
Ele virou em um corredor ainda com o braço dado a ela, deixando os outros fazendo piadinhas sobre garotos levarem na bunda, mesmo que a mancha branca fosse na coxa, mesmo que soubessem que era um chiclete de menta mascado que James colocou na cadeira quando Snape se levantou para responder uma questão no quadro.
- Não acredito que tem andado com esses caras.
- Eles são do meu ano e da minha casa, não tenho muita escolha.
- Vai ficar na sua casa nas férias?
- Vou sim, meus pais acham que eu e a Petúnia precisamos passar mais tempo juntas, dizem que nos afastamos nos últimos anos.
- Vocês duas são quase de espécies diferentes, não há nada que sua irmã possa acrescentar.
- Família a gente não escolhe, Severo. Devia saber disso.
Lilian parou, encarando Severo com seriedade, ele sorriu, gostava de vê-la zangada, afastou uma mecha de cabelo ruivo a colocando atrás da orelha, apenas para ver o rosto dela por completo.
- Bem, se cansar da sua irmã, pode me encontrar no rio.
- Pensei em irmos para a casa do lago como no ano passado.
- Sabe que não podemos mais entrar lá, a não ser que queira invadir?
- É um problema para você, sonserino?
- Bem, é um problema para todos.
- Temos dezesseis, nunca mais vamos ter essa chance, temos o direito de ser inconsequentes.
- Se você me quer lá, então estarei.
Era como Lilian conseguia as coisas, com aquele sorriso e um desafio.
Se Snape tivesse dinheiro suficiente para Veneza e italianas com pernas depiladas sob minissaias de camurça, ainda teria preferido a casa do lago e aquele sorriso.
O que Severo não imaginava é que ele teria as duas coisas, se elas seriam boas já era pedir demais.