O SEGREDO QUE SEI

Harry Potter - J. K. Rowling
M/M
G
O SEGREDO QUE SEI
Summary
Era sempre curioso pensar que eram a mesma pessoa, nem mesmo Severo achava que era.*Harry sabe que o Príncipe Mestiço é Snape, e se recusa a aceitar que o professor de poções seja tão ruim. Talvez Severo também não queira ser tão ruim. Não mais.*•Se passa no sexto-ano de Hogwarts.•Plágio é crime, respeite os autores.•Os personagem aqui não me pertencem, são de JK.

P.O.V'S HARRY POTTER:

Eu sei.

Todos pensam que não sei quem é ele, mas eu penso.

O Príncipe Mestiço, com aquele livro lotado de enigmas que ele acha que ninguém pode decifrar, com suas receitas brilhantes que ninguém jamais poderia criar.

Era tão confuso achar aquilo tão facinante. Era Snape, pelo amor de Merlin! O homem tem feito de sua vida um inferno a 6 anos. Era ridículo admirar o Príncipe e odiar Snape, tudo ao mesmo tempo. Eram a mesma maldita pessoa!

Mas nada me tirava da mente que o Príncipe Mestiço era absolutamente o oposto de Snape.

As vezes o professor Snape era tão cruel que parecia um personagem. As vezes ele era tão frio que parecia uma estátua. As vezes ele soava tão odioso, que se tornava difícil acreditar que nada de bom saia daquela fonte. Sirius mesmo disse que: "O mundo não se divide em pessoas boas e más". Então, todas as vezes que Snape passava por mim, algo tentava enxergar o lado possivelmente bom do homem, mas era tão difícil quando o homem parecia empanhado em suas provocações grosseiras e me fazia chegar ao limite da paciência.

—Sr. Potter, será que você se acha tão importante e inteligente para não prestar atenção nesta aula? – O mestre de poções provocou naquela manhã de quarta-feira. – Ou pensa que aquele seu grupo inútil de D.C.A.T, do ano passado, foi o suficiente para aprender tudo que precisava?

Era sempre isso. Aquele sorriso sarcástico, aquela postura superior, aquele veneno escorrendo nas palavras.

—Desculpe, senhor. Acabei me distraindo. – Respondi, tentando não deixar que ele levasse o melhor de mim.

—Não tolero distrações em minhas aulas, Potter. Se não consegue manter sua cabeça de vento no lugar, então saia dessa sala e não volte mais. Defesa Contra as Artes das Trevas, nível N.I.E.M.s, não é para qualquer idiota.

Ali ele conseguiu.

—Isso explica porque tem tão poucos Sonserinos nessa aula. – Respondo.

Dava pra ver a raiva por trás dos olhos absurdamente pretos de Snape. Se ele não fosse um idiota o tempo todo, eu poderia dizer que não parecia tão ruim.

—Detenção às 20:00, Potter! – Condenou.

—Mas essa é a hora do jantar! – Contesto.

Ele apoiou sua mãos na mesa onde eu estava, se inclinou para frente e puxou os lábios em desdém claro.

—Que pensasse nisso antes de ser tão arrogante.

Era oficial, não dava para entender como eram a mesma pessoa.

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Faltavam 5 minutos para às 20:00, e eu já estava na frente da porta da sala de Snape. Eu sabia que chegar atrasado não me faria bem algum.

Bati na porta e um tempo depois a voz grave do professor anunciou um 'Entre'.

Eu já havia cumprido tantas detenções com aquele homem que tudo aquilo, todo visual rústico da sala, já era totalmente conhecido. Ele estava lá, corrigindo trabalhos, não achando que era importante me dar a devida atenção.

—Já sabe o que fazer, Potter. Limpe os caldeirões em cima da bancada. – Mandou. – E sem magia alguma. Eu vou saber se você tentar.

—Sim senhor. – Comecei aquilo sem muitos protestos.

"Poderia ser pior. Ele podia ter mandado que eu limpasse e cortasse as lesmas gigantes." - Um arrepio na espinha surgiu só de lembrar.

Arregacei as mangas da camisa do uniforme e comecei o trabalho, tentando não pensar no conteúdo de textura duvidosa dentro do primeiro caldeirão.

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Já deveria ter passado pelo menos uma hora desde que comecei, e só havia terminado metade dos caldeirões. Minha testa pingava suor pelo esforço, e meu estômago roncava tanto que os elfos na cozinha deviam ser capazes de ouvir.

Snape não falou nada desde que cheguei, o que era estranho. Nenhum insulto? Nenhuma provocação? Sem xingamentos? A situações era, no mínimo, curiosa.

Em um certo momento, o mestre de poções se levantou, ainda sem falar nada. Eu não me atrevia a olhar diretamente, só via pela visão periférica. Ele parecia arrumar algo.

—Venha aqui, Potter. – Chamou, sem a aspereza habitual.

Me virei totalmente e me surpreendi com uma mesa montada para dois, lotada de comida.

—Jante e volte a limpar.

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P.O.V'S SEVERO SNAPE:

Era ridículo tentar reparar as coisas a essa altura do campeonato, mas não podem julgar um homem por tentar.

Eu sabia o que esse ano me reservava, e era mais ridículo ainda tentar passar uma boa imagem para o rapaz, sendo que logo ele me odiaria mais que nunca. Dumbledore estava certo. Eu havia me afeiçoado ao menino.

Já fazia tempo que eu não o associava ao pai, e o ódio começou a ser fingido, tentando não sair da persona que eu interpretava a tanto tempo. Mas só eu sabia que tudo que eu precisava, antes do inferno que se aproximava, era ser eu mesmo, sem todas as mascaras, ou pelo menos sem algumas delas.

A expressão de surpresa do rapaz me faria rir se eu ainda não estivesse tão preso dentro do personagem.

—Venha logo antes que eu mude de ideia, Potter. – Avisei.

Ele largou os utensílios de limpeza de forma rápida, limpando as mãos na calça social do uniforme.

—Não seja idiota, garoto. Vá lavar as mãos se não quiser morrer envenenado com as substâncias que estava limpando. A comida não vai fugir. – Não pude impedir a alfinetada, afinal isso realmente fazia parte da minha personalidade.

—Sim senhor. – Falou, quase que correndo para lavar as mãos na pia próxima à bancada.

Não me dei ao trabalho de esperar e me sentei, imaginando que ele não demoraria, e eu estava certo.

Rapidamente, Potter se sentou à minha frente, encarando a mesa. Pra quem agia tão apressado a um segundo atrás, agora ele parecia tímido em se servir.

—O que está esperando, Potter? Que eu sirva você e te alimente? – Brinquei.

O rapaz fechou a cara e me encarou.

Eu realmente me esquecia que para mim poderia ser brincadeira, mas aos ouvidos dele isso se tratava de zombaria.

—Apenas coma, garoto.

Tentei, com tudo em mim, ignorar Potter e começar a preparar meu próprio prato. O som dos talheres dele indicavam que ele fazia o mesmo, mas eu ainda sentia os olhos inquisidores dele em mim.

—Senhor...? – O garoto tentou.

Suspirei.

"Eu tento, mas esse rapaz é curioso demais para o próprio bem" – Penso

Levanto os olhos do meu prato e o encaro.

—Porque está sendo... legal agora? – Pergunta.

—Não estou sendo legal, Potter. Estamos apenas comendo, já que essa detenção não nos deixou jantar. – Digo.

—Outras vezes você não ligou pra isso. – Apontou.

Sempre tão teimoso.

—Você prefere que eu suma com essa mesa e o mande voltar a limpar os caldeirões de barriga vazia, Potter? – Pergunto, um pouco já sem paciência.

—Não, não é isso! – Se apressou em dizer. – É apenas estranho...

Decidi ficar calado, e isso pareceu dar o recado para ele ficar quieto também.

Comecei a comer, mesmo que não com muita vontade. Desde o plano de Dumbledore, insistindo em um homicídio voluntário, tudo parecia ter perdido o sabor, as coisas já não tinham graça. Um buraco constante na boca do estômago.

—Algo errado, professor? – A voz de Potter me tirou do transe.

Balancei a cabeça levemente, em negação.

—Foque no seu prato, Potter. Assim pode terminar seu trabalho e voltar para seus amiguinhos, em sua torre. – Aviso.

O garoto coçou o couro cabeludo, com uma expressão de desgosto, como se estivesse desconfortável.

—Realmente não é a primeira coisa que me vem... – Começou. – Ron e Hermione estão brigados, de novo, e é cansativo ficar nesse fogo cruzado.

Era uma surpresa notar que ele parecia estar desabafando algo.

—Não me leve a mal, eu os adoro, mas lidar com aqueles dois nesses momentos pode ser horrível. Agora é por causa de uma outra garota, e escutar essa chamando Ron de Own-own, também não tem sido fácil para o estômago... – O de olhos verdes pareceu notar o que estava falando e para quem estava falando. – Desculpe, eu deveria parar de falar.

E voltou a comer. Ele realmente parecia constrangido.

Suspirei e me recostei na cadeira, levemente desconfortável. Eu já havia desistido da comida. Era inútil tentar comer mais.

—Parece um problema totalmente normal para a idade de vocês. Agirem de forma hormonal não é uma surpresa. – Falo, sem o total desdém de sempre.

—Isso não significa que não seja irritante. – Potter sussurra, com olhos baixos, cutucando a comida com o garfo.

—E é com isso que lido todos os dias. – Bebo um pouco da água colocada na mesa. – E você pode reclamar sobre seus amigos, mas provavelmente vai passar por coisas bem parecidas logo. É inevitável. É o karma de todos os adolescentes.

—Eu não sou qualquer adolescente. – Se defende.

Não consigo evitar que meus olhos revirem.

—Claro, você é o menino-que-sobreviveu. – Declaro, com desprezo estampado num sorriso maldoso.

—Não é disso que estou falando! – Indgnado. – Você não consegue guardar o veneno por cinco minutos sequer?

Potter bufava, levemente corado de irritação. Era tão engraçado quanto fofo.

—Só quero dizer que, como 99% da minha vida, não acho que a adolescência vai ser algo normal. – Explicou. – Santo Merlin, que adolescente você conhece que é perseguido por um maníaco louco? Não duvido nada que Voldemort deve está planejando algo para tentar me matar no fim do ano letivo. Isso virou um evento decorrente.

A queimadura em meu braço esquerdo, quando o garoto falava o nome do Lorde das Trevas, não passou despercebido. Potter pareceu notar.

—O que houve? – Pareceu genuinamente preocupado.

—O nome dele causa dor em todos que levam a marca. – Expliquei, a contragosto.

Os brilhantes olhos verdes se arregalaram.

—Porque Dumbledore não avisou ninguém da Ordem sobre isso? – Questiona.

—Ele não parece se importar muito com esse pequeno detalhe. – Jogo. Um dia, ele teria que entender certas coisas de como uma guerra funciona. – E é diretor Dumbledore.

—Estranho do parte dele isso. – Potter conclui sozinho. – Porém, o que eu estava dizendo é, que é mais provável que eu tenha que tentar não morrer do que arrumar um romance para ser hormonal.

Vejo a lógica nisso.

—Sim, seria prudente seguir esse raciocínio. O que não faz muito jus, já que parece que você, Sr. Potter, tem uma falta de apego irracional às regras, quase se matando por si mesmo, sem a ajuda do Lorde dos Trevas.

—Não consigo evitar... – Tentou.

—Tente contatar um adulto responsável quando coisas estranhas aconteceram ao seu redor, menino. – Falo, impaciente, tentando fazer ele seguir a razão.

—Quem? Experiência própria, supostos adultos podem não ser muito confiáveis. – Zomba. – Quem eu chamaria? Quirrell tinha Vold... você-sabe-quem na cabeça. Lockhart era um inútil. Lupin, eu o adoro, mas sejamos sinceros, ele estava quase sempre indisposto, tentando se recuperar dos ciclos lunares anteriores. O falso Moody queria levar minha cabeça em uma bandeja de prata e Umbridge escreveria "Não devo contar mentiras" em todo meu corpo. – Ele estremeceu com o pensamento. – E nem cite Dumbledore, que estava sempre fora todas as vezes que o procurava.

Potter tinha alguma razão nisso. O negligenciaram bastante.

—Você poderia ter vindo até mim. – Tento.

O mais jovem bufou em diversão.

—Claro, ir na pessoa que mais me odeia depois de Malfoy. – Brincou. – Excelente ideia.

O nome de Draco embrulhou meu estômago por um segundo.

—Eu não o odeio, Potter. – Concluou, para minha própria surpresa, bebendo mais água.

O garoto parecia tão surpreso quanto.

—Isso é novidade. – Harry tentou brincar.

—Eu odiava terrivelmente seu pai. Durante suas aulas de Oclumência, você viu isso. – Acusei sem pudor. O episódio ainda não tinha me fugido. – Mas fui um amigo da sua mãe. Não posso negar que você tem algo dela também.

—Acho que esse é o problema. – Disse, soando cabisbaixo.

—Qual?

—Todo mundo acha que sou um apêndice, uma extensão, dos meus pais. Seja os olhos, o cabelo, o temperamento ou a personalidade. Nunca sou eu, só eu. – Parecia frustrado. – Minutos antes de morrer, Sirius me chamou de Tiago. Posso ter traços dele, mas não sou ele. Posso ter os olhos dela, mas não sou ela. É cansativo. Eu não sou Tiago, ou Lilian, ou o garoto que viveu. Eu sou Harry, só Harry.

Parecia estar tirando um peso dos ombros.

—Como quando Hagrid disse que você era um bruxo. – Falo, afirmando.

—Como sabe disso? – Ele parecia desconfiado.

—Eu te dei aulas de Oclumência. Conheço todas as suas memórias de traz pra frente, garoto. Não seja tolo. – Deixo claro.

—Não me chame assim. – Potter parecia ainda mais desconfortável.

—Como?

—Com essa expressão, "garoto". Me lembra como tio Valter me chama. Nunca é boa coisa. – Se mexeu na cadeira, impaciente. – E não sou mais uma criança pra ser chamado assim.

—Ah sim, você é muito adulto, Sr. Potter. – Zombei. – Você prova isso todas as vezes que acha que está brincando de pique-esconde, seguindo e tentando achar Malfoy em todo canto.

—Isso é outro assunto. – Tentou desviar e deixei passar dessa vez. – Mas eu não sou mais uma criança, principalmente pelo histórico de vida. Tente sobreviver e ter infância ao mesmo tempo e veja se consegue.

Eu sabia como era isso como nenhum outro.

Analisei Potter, concordando brevemente.
O rapaz ganhou altura no último ano, fora os músculos que a puberdade anterior e o quadribol proporcionaram. A barba, levemente por fazer, estava ali, junto com o maxilar mais marcado. Sim, ele havia se tornado um rapaz bonito, ganhando seus traços próprios e perdendo os dos pais.

Percebi por qual linha de raciocínio eu estava indo, tratando de parar o mais rápido possível. Aquilo jamais poderia passar pela minha cabeça, mesmo que todos os sentimentos estivessem confusos desde as aulas de Oclumência do ano anterior. Era possível que eu conhecesse Potter mais do que os próprios amigos por isso. Sentimentos assim tinham de ser evitados, principalmente com os acontecimentos que viriam.

—Professor? – Potter chamou de novo, só que dessa vez colocando sua mão na minha, para chamar minha atenção.

Recuei a mão levemente, me sentindo bem demais com a sensação para meu próprio conforto.

—Apenas me dispersei. Dizia algo? – Pergunto.

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Potter, aparentemente, já havia terminado seu trabalho. Ele parecia suado, desgrenhado e cansado. Era uma visão.

O rapaz se encontrava em frente minha mesa, soando quase tímido.

-Estou liberado, senhor? – Pergunta, olhando para os próprios pés, parecendo querer dizer algo mais.

—Sim, Sr. Potter. – O dispenso a contragosto.

Ele parece em uma luta interna, até que levanta a cabeça com um olhar determinado.

Ele anda a passos rápidos em minha direção, contornando a mesa. Em alguns segundo todo Potter está em mim, me abraçando ainda sentado. Ele tinha cheiro de suor e produtos de limpeza, mas o cheiro próprio dele ultrapassava isso, e parecia tão certo que não pude impedir de corresponder ao abraço, o trazendo para mim, quase fazendo com que ele se sentasse em minha perna. Suas mãos iam do meu cabelo até minhas costas, acariciando com não esperado carinho.

—Obrigado por me ouvir. Muito pouca gente fez isso de verdade. — O rapaz sussurrou no topo da minha cabeça.

Ele me soltou tão rápido quanto agarrou. Eu estava perplexo.

Quando já estava perto de porta, ele pareceu hesitar. Agarrou a maçaneta e pensou, virando-se por um breve momento, para que eu visse o estado rosado de seu rosto e algo implícito em seus olhos verdes.

—Até mais, Príncipe Mestico... – Me dando um sorriso brilhante e saindo.

O coração parecia que sairia pela minha boca, e fora da vista do mais novo, um sorriso sincero se formou no meu rosto.

—Até mais, Harry. – Sussurrei, pensando que talvez eu pudesse passar pelo inferno que seriam os próximos meses.