
Capítulo V
Tantas fotos llenando los marcos
Mi propio museo
No hay muchos trofeos
Con ustedes, tengo
Despertei de um sono leve com o aroma tentador do café da manhã que preenchia o ar. Pisquei algumas vezes, enquanto meus olhos se ajustavam à luz da manhã que penetrava pelas janelas.
Ao me levantar senti dores no corpo causadas pelo sofá desconfortável, mas independentemente do lamento prestes a ecoar pelos meus lábios cessou no instante em que notei a visão surpreendente de Narcisa na cozinha, movendo-se habilmente entre os utensílios e preparando a refeição matinal de maneira trouxa.
Uma onda de choque e incredulidade me invadiu ao perceber que era a primeira vez que a via assumir tal tarefa. De fato, minha Narcisa mudou bastante ao longo de todos esses anos que estivemos separados.
Ainda surpreso, aproximou-me cautelosamente, observando-a em silêncio por um momento. Pois tão visão, embora incomum, não deixava de ser cativante e isso me fez questionar o que a levou a realizar uma atividade que, até onde sei, não era digno de uma filha da mais nobre e antiga casa dos Black.
_Narcisa, o que está acontecendo? –Perguntei sem conseguir me conter –Você está... cozinhando?
Instantaneamente ela ergueu seus olhos azuis para encontrar os meus, um sorriso gentil curvando seus lábios rosados.
_Bom dia, Lucius. –Cumprimentou ela, sua voz suave e serena –Sim, estou apenas preparando o café da manhã. Espero que não se importe.
Diante de sua resposta tão despreocupada, simplesmente balancei a cabeça, ainda incapaz de acreditar no que via.
_Não, claro que não. –Lembrei de respondê-la rapidamente, porém minha mente ainda gira com uma mistura de confusão e surpresa, o que me faz acrescentar -É apenas... inesperado.
O fantasma de um sorriso surgiu em seus lábios, mas sua atenção já não estava em mim e sim em sua tarefa, por isso continuei a observá-la em silêncio, movendo-se graciosamente pela cozinha, me vi cativado pela visão dela realizando uma tarefa tão simples, mas tão significativa.
_Por favor, sente-se. –Ela disse, indicando uma das cadeiras em volta da mesa e eu só posso imaginar o quão idiota eu deveria estar em pé no meio da cozinha como um poste –Vou preparar um pouco de café para nós.
O tal café tem um aroma peculiar e não pude deixar de observá-la atentamente só para ter certeza que ela não me envenenaria. Afinal, Narcisa ainda era uma sonserina e eu não tenho sido um marido exemplar há anos.
Quando ela finalmente colocou a xícara com o líquido escuro em minha frente, fitei o conteúdo hesitante, ponderando se era seguro experimentar tal bebida até então desconhecida e a possibilidade de experimentar me deixa um tanto desconfortável.
_Narcisa, eu não tenho certeza se isso é uma boa ideia. –Murmurei, olhando para ela desconfortavelmente.
Por sua vez, ela sorriu gentilmente e então se aproximou e colocou sua própria xícara diante de mim, o aroma rico do café envolvendo-os.
_Não se preocupe, Lucius. Não envenenei você –Ela disse me lançando um olhar provocativo –Se você não gostar, tudo bem. Mas eu pensei que poderíamos experimentar juntos.
Ela pegou a própria xícara e deu um pequeno gole, sob meu olhar atento e logo sorriu me encorajando e eu não tive alterativas a não ser seguir seu exemplo.
Com cuidado, levei a xícara aos lábios e tomei um pequeno gole. Imediatamente meu rosto se contorceu ligeiramente com o sabor forte, mas me esforcei para não demonstrar desagrado.
Contudo, notei Narcisa segurar um riso enquanto me observava.
_E então, o que acha? –Ela indagou não escondendo sua animação.
Hesitei por um momento, antes de finalmente admitir:
_É... diferente. Não tenho certeza se é exatamente do meu agrado...
Ela assentiu e então notei seu olhar recair sobre mim um tanto quanto incerto e eu a conheço bem o suficiente para saber que ela está ponderando bastante sobre o que dirá em breve.
_Você sabe... –Ela começou suavemente –Draco costumava adorar café. Hermione o introduziu ao café quando eles estavam juntos, e ele acabou desenvolvendo um gosto por isso.
_É mesmo? –Me vi questionando na menção de meu filho –Eu não sabia disso.
_Eventualmente os dois também me induziram a experimentar e nunca mais parei. –Ela disse sorrindo melancolicamente.
Após tomar mais um gole da bebida até então desconhecida, me vejo dizendo:
_Posso entender porque Draco gostava tanto.
Narcisa sorriu, satisfeita com minha resposta, e me surpreendeu ao colocar a mão sobre a minha, ao mesmo tempo, em que diz:
_Tudo o que peço é que tente entendê-lo, ao menos agora.
Diante de sua atitude, eu a olho surpreso e rapidamente ela retira a mão e pega novamente sua xícara de café e assim bebemos em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos.
Ainda estava imerso em pensamentos, quando Narcisa chamou minha atenção, ao questionar educadamente:
_Lucius, você poderia acordar as crianças, por favor?
Ergui os olhos para encontrá-la, surpreso com o pedido repentino. No entanto, me vê assentindo, mesmo que me sentisse um tanto quanto um intruso invadindo seus novos domínios.
_Claro, Narcisa. –Lembrei de respondê-la, ao mesmo tempo, em que coloco a xícara de café de lado e levantando-se da mesa –Eu farei isso agora mesmo.
Narcisa sorriu em gratidão, seu coração se aquecendo com a disposição de Lucius em ajudar. Enquanto ele saía da cozinha em direção aos quartos das crianças, ela sentiu um leve suspiro de alívio, sabendo que estavam começando a encontrar um equilíbrio entre eles, uma nova dinâmica familiar que os unia de uma maneira que ela nunca teria imaginado possível.
Assim, não demorou para que eu pudesse adentrar no quarto de minha neta e observá-la dormir por alguns segundos antes que eu a acordasse.
Com cuidado para não a assustar, ao me aproximar da cama em que a garotinha de cabelos castanhos rebeldes dormia pacificamente, estendi a mão e toquei suavemente o ombro dela, chamando-a gentilmente:
_Rose, querida, está na hora de acordar.
Ela murmurou algo ininteligível, mas não se mexeu. Sorri, achando adorável como ela se aconchegava ainda mais sob as cobertas, ao mesmo tempo, em que me perguntava se Draco já havia feito isso no passado.
_Rose, querida, é hora de levantar. Insisti, desta vez balançando levemente o ombro dela.
Finalmente, os olhos cinzentos de Rose se abriram lentamente, piscando para se ajustar à luz. Ela não tardou em me fitar com uma expressão sonolenta, mas logo seu rosto se iluminou com um sorriso ao me reconhecer e eu me vi sorrindo em resposta.
_Bom dia, vovô Lucius. –Ela murmurou, bocejando.
_Bom dia, minha querida Rose. -Respondi, acariciando suavemente seu cabelo –Como dormiu?
Rose espreguiçou-se, esticando os braços acima da cabeça.
_Muito bem, obrigada. E o senhor? –Respondeu ela cada vez menos sonolenta.
Sorri enquanto lhe respondia:
_Também dormi bem, obrigado por perguntar. Mas agora é hora de começar o dia. Você está pronta para se levantar e enfrentar o café da manhã?
Instantaneamente a vejo assentir com entusiasmo, empurrando as cobertas para o lado e sentando-se na cama, ao mesmo tempo, em que declara:
_Estou faminta!
Uma risada me escapou, algo que nunca havia acontecido antes, enquanto admirava a energia contagiante dela.
_Então, vamos lá. O café da manhã espera por nós e ainda temos que acordar Scorpius.
Imediatamente ela pulou da cama com a mesma energia que mostrara momentos antes e segurando a minha mão, me puxou suavemente em direção à porta do quarto.
_Vamos acordar o Scorpius, vovô Lucius. –Ela disse animadamente, seus olhos brilhando com determinação.
Sorri, ao mesmo tempo, em que percebo que é tão fácil sorrir na presença dela quanto de Narcisa, e assim deixei-me levar pela energia contagiante de Rose, enquanto declarava:
_Claro, minha querida. Vamos lá.
Juntos, saímos do quarto dela e seguimos pelo corredor em direção ao quarto de Scorpius. Rose abriu a porta com cuidado e entrou, eu a segui de perto durante todo o percurso.
Por sua vez, Scorpius estava deitado na cama, ainda profundamente adormecido. Ele parecia tão sereno, com os cachos loiros espalhados pelo travesseiro e uma expressão tranquila no rosto.
_Scorp, está na hora de acordar. –Disse Rose, indo até o lado da cama do irmão e sacudindo-o gentilmente pelos ombros.
Scorpius murmurou algo indistinto, mas não se mexeu. Rose então me fitou um pouco preocupada.
_Ele é difícil de acordar de manhã. –Explicou ela, com uma expressão de determinação no rosto e então insistiu em balançar o ombro do irmão -Scorpie, a casa está pegando fogo.
Definitivamente sutileza não é com ela, mas surtiu efeito, pois logo Scorpius mexeu-se um pouco sob o travesseiro, e então seus olhos se abriram lentamente. Ele olhou para cima, confuso por um momento, antes de dividir sua atenção entre mim e Rose.
_Bom dia, Scorpius. –Disse Rose, com um sorriso brilhante –Hora de levantar e enfrentar o dia!
Scorpius esfregou os olhos idênticos aos de Rose e eu sonolentos e sorriu, parecendo um pouco surpreso ao me ver aqui.
_Bom dia, Rose. Bom dia, vovô Lucius. –Cumprimentou ele sonolento.
_Bom dia, Scorpius. –Respondi retribuindo o sorriso do neto –Vamos lá, sua avó nos aguarda.
Assim, não demorou para que eu e as crianças nos juntássemos a Narcisa na mesa, desfrutando de um tranquilo café da manhã juntos e pela primeira vez em muito tempo, ouso dizer até anos, senti uma sensação de paz e harmonia me envolver.
O aroma do café recém-passado misturava-se com o calor do sol que se filtrava pelas janelas, criando uma atmosfera acolhedora e reconfortante.
De repente, Rose ergueu os olhos de seu prato com uma expressão séria em seu rosto, uma versão infantil de Narcisa. Seus olhos cinzentos encontraram os meus em uma mistura de inocência e esperança.
_Vovô Lucius. –Começou ela, sua voz suave ecoando na sala –Você poderia ficar para sempre?
Narcisa engasgou audivelmente e me fitou assim que se recompôs. Ao mesmo tempo, eu fiquei momentaneamente sem palavras, surpreso com a simplicidade e a sinceridade da pergunta de Rose. Levou alguns segundos para eu retribuir o olhar de Narcisa, pois minha mente estava girando com uma série de pensamentos e emoções conflitantes.
A resposta que eu queria lhe dar, seria certamente de seu agrado, entretanto, é complexa e cheia de ramificações. Por isso eu dei uma última olhada para Narcisa, antes de voltar minha atenção à nossa neta.
_Rose, querida... –Chamei sua atenção e então percebi o quanto minha voz estava suavizada pela emoção –Eu adoraria ficar com vocês o máximo de tempo possível. Mas às vezes as coisas não são tão simples como gostaríamos que fossem.
Rose assentiu com compreensão, embora um brilho de decepção pudesse ser visto em seus olhos. Ela voltou sua atenção para o café da manhã, parecendo aceitar minha resposta com resignação infantil.
Isso foi o bastante para que durante o resto do café da manhã eu ponderasse sobre uma ideia que começava a se formar em minha mente. Inevitavelmente, voltei minha atenção para Narcisa e as crianças com carinho, sentindo mais em casa do que jamais sentir em muito tempo e isso me fez perceber que os quero em minha vida.
Então me vem a epifania, preciso estar cada vez mais conectado a eles e desejo encontrar uma maneira de fortalecer minha ligação com as crianças, bem como restaurar meu relacionamento com Narcisa.
De repente, uma ideia surgiu em minha mente, uma sugestão que talvez pudesse trazer um pouco de estabilidade e conforto para todos.
_Narcisa, Rose, Scorpius. –Comecei fazendo o possível para que minha voz soasse calma e ponderada –Eu sei que as coisas têm sido difíceis para todos nós ultimamente, e eu gostaria de oferecer uma solução.
Narcisa me fitou instantaneamente, seu olhar mostrando curiosidade misturada com cautela. As crianças também olharam para mim, porém suas expressões mostram interesse genuíno em minhas palavras.
_Por que não vêm morar comigo na mansão Malfoy? –Sugeri –Há espaço suficiente para todos nós lá, e eu adoraria ter vocês por perto.
Por um momento, houve silêncio na sala, enquanto Narcisa e as crianças processavam a sugestão de Lucius e então percebo que talvez eu tenha cometido um equívoco.
Antes que alguém pudesse responder, Narcisa interveio rapidamente, com sua voz tranquila, porém firme:
_Lucius, eu aprecio muito a sua oferta. Mas nós já temos nossa própria vida aqui, e não acho que seja apropriado mudarmos para a mansão.
Assenti um tanto decepcionado, porém, percebi que a conversa não havia acabado, quando ela propôs:
_Podemos conversar?
Conhecendo-a tão bem, quanto conheço, notei pelo seu olhar que era urgente e por isso concordei:
_Claro, Narcisa.
Dito isso, ela se levantou e deixei que liderasse o caminho, porém enquanto a seguia senti uma sensação de antecipação e nervosismo tomar conta de mim, algo que não era comum para mim desde os dias em que hospedei o lorde das trevas em minha casa.
Logo adentramos em uma sala adjacente para terem um momento de privacidade, pela decoração acredito ter sido o escritório de Draco. O ar estava carregado de tensão e expectativa.
Observei Narcisa com atenção, esperando por suas palavras com uma mistura de ansiedade e apreensão.
Por sua vez, ela respirou fundo, o que só me fez preparar para o que seguiria, pois a última vez que ela agiu assim acabamos nos separando por mais de uma década.
_Lucius... –Começou ela, sua voz firme, mas cheia de emoção contida –Você não pode simplesmente aparecer depois de tanto tempo e esperar que tudo volte ao que era antes. Você nos afastou de sua vida, nos mandou embora, e agora... agora você quer que voltemos como se nada tivesse acontecido.
Envergonhado, pois sabia muito bem que ela se referia a sua própria situação, abaixei o olhar, sentindo o peso das palavras dela em seu coração.
Sei que ela está certa, que minhas ações passadas haviam causado dor e sofrimento para ela, Draco e todos eles, razão pela qual sei que não será fácil reparar os danos que causei.
_Narcisa, eu sei que cometi erros. –Admiti, minha soando cada vez mais carregada de arrependimento –Eu me arrependo profundamente do que aconteceu no passado, e eu entendo se você não conseguir me perdoar. Mas eu quero fazer as coisas direito desta vez. Eu quero estar presente na vida de vocês, ser um avô para Rose e Scorpius, bem como ser o que você precisar que eu seja para você.
Narcisa me fitou intensamente e eu vi em sua expressão que ela travava sua própria batalha interna e não a culpo. Afinal, as feridas do passado provavelmente continuam frescas em sua mente e só então percebo que demandará tempo e esforço para curá-las.
_Lucius. –Começou ela, sua voz firme e determinada –Eu quero acreditar que você está genuinamente comprometido em fazer parte da vida de Rose e Scorpius. Mas eu preciso ser clara: eu só vou te dar uma chance.
Assenti veemente, ciente que não poderia dar nada como garantido, que tinha que ganhar a confiança e o respeito dela de volta, passo a passo. Pois ela não teve problemas para me deixar uma vez e tampouco teria para me deixar novamente.
_Narcisa, eu entendo. –Afirmei com a voz calma e resoluta –Eu não vou desperdiçar essa oportunidade. Eu farei o que for preciso para me redimir e provar que posso ser um avô digno para Rose e Scorpius.
Então seus penetrantes olhos azuis me fitaram por um momento, quase como se estivesse vendo minha alma e não duvido disso.
_Está bem. –Disse ela finalmente, sua voz suavizando-se um pouco –Eu vou te dar essa chance. Mas saiba disso, Lucius. Se você fizer algo para machucá-los, se você repetir os erros do passado como fez com Draco, eu mesma o expulsarei da França. Não hesitarei em proteger meus netos a qualquer custo.
Engoli em seco, sentindo o peso das palavras de Narcisa sobre meus ombros. Agora perfeitamente ciente que não posso me dar ao luxo de cometer nenhum erro, que cada passo que desse teria que ser cuidadosamente considerado e ponderado.
_Eu prometo, Narcisa. –Afirmei entoando toda a minha gratidão em cada palavra, pois a conhecendo como conheço eu não esperaria menos dela –Não vou te decepcionar. Eu farei tudo em meu poder para merecer sua confiança e seu perdão.
_Veremos. –Ela disse ainda me fitando com certa desconfiança e então simplesmente me deu as costas e saiu me deixando processar no que eu havia acabado de me meter.
Talvez haja esperança, afinal.