Prólogo
PRÓLOGO
Aos onze anos, Emily descobriu que era uma bruxa.
Um tipo diferente daquele retratado nos desenhos e descrito nas histórias infantis.
O mundo como conhecia transformou-se completamente. Como uma mera garotinha poderia ter poderes, se seus pais eram pessoas completamente comuns?
E como se a notícia sobre suas habilidades mágicas já não fosse chocante o suficiente, aquela estranha senhora na sala de estar agora comunicava à seus pais mais um detalhe. Aparentemente, os três ali discutiam acerca da importância de frequentar uma escola específica para “bruxos e bruxas como ela”.
Apesar de nunca ter estado tão longe de casa, ambos finalmente pareciam concordar plenamente com a ideia de permitir que ela fosse levada para algum lugar distante. Tudo isso graças ao discurso de uma desconhecida carismática disposta a convencê-los.
E lá estava, de cara emburrada para aqueles que insistiam que correr contra uma parede sólida era algo perfeitamente seguro. Ainda que tenha presenciando coisas demais nos últimos dias (varinhas mágicas, vassouras voadoras, caldeirões de ouro maciço e até mesmo criaturas incomuns), se jogar contra tijolos na esperança de encontrar uma plataforma invisível era pedir demais.
— Vamos querida, você a ouviu. Basta atravessar. — disse a mãe, uma mulher jovem e alta de cabelos castanhos, com uma voz suave a fim de tentar tranquilizá-la.
— Não precisa ter medo. Não deve doer. — o homem de óculos quadrados ao seu lado disse com entusiasmo, recebendo um olhar de reprovação da esposa ao mencionar a última parte. — Quero dizer... Vai ser divertido! Só precisa ter um pouquinho mais de coragem.
Emily cruzou os braços enfurecida. Então quer dizer que seu pai, aparentemente desprovido do bom senso que uma situação como aquela exigia, achava que seu comportamento era o de alguém com medo?
Pois ela não poderia discordar mais!
Antes que pudesse respondê-lo, um pequeno grupo de pessoas passou rapidamente por eles. Todos tinham cabelos ruivos, vestes peculiares e carregavam malas grandes como a dela, agindo como quem tenta não levantar suspeitas. Um a um, iam de encontro à parede, desaparecendo logo em seguida.
"Para onde essas pessoas estão indo?" Foi o que ela pensou.
A garota trocou um olhar complacente com os pais e encarou os tijolos. Não conseguia acreditar que realmente estavam certos. Nada antes lhe pareceu tão real até estar ali, vendo aquelas pessoas sumirem bem diante de seus olhos. Nem mesmo quando visitou aquelas lojas cheias do que pareciam ser truques de mágica bem elaborados, ou quando, por pura curiosidade, folheou os livros e achou engraçado como eram criativos ao inventar nomes de feitiços e ingredientes para poções.
Nada havia lhe convencido... Até então.
Emily reposicionou o carrinho com todos os seus pertences, fechou os olhos e correu com os dedos cruzados sobre o apoio de ferro, torcendo para que o impacto no concreto não fosse tão chocante quanto parecia. Talvez pudesse aguentar um ou dois ossos quebrados, desde que não fosse muito doloroso (ela não conhecia a sensação, nunca tinha quebrado ossos antes).
Quando abriu os olhos, não estava na plataforma. Na verdade, havia despertado com o familiar barulho do trem apitando, parando em seu destino. Estava novamente na cabine com os amigos que, por sua vez, dividiam as figurinhas de bruxos famosos jogadas nos assentos vazios.
Não importa quanto tempo tenha se passado, sempre se lembraria da sensação de estar a caminho de Hogwarts pela primeira vez.