
prólogo
— Ela não ama você.
O homem proferiu as palavras com tanta convicção que qualquer um que as ouvisse poderia acreditar que ele tinha razão. Os nós de seus dedos eram brancos tamanha era força que ele segurava o cabo da varinha e a apontava para o meio da testa da segunda pessoa naquele cômodo.
O outro homem.
Por um longo momento eles se contemplaram. Nenhum dos dois precisava ler a mente do outro para saber exatamente no que estavam pensando, ou melhor, em quem.
O homem com a varinha apontada no meio da testa fechou os olhos. Ele nunca pensou que iria morrer daquele jeito. Todas as vezes que tinha pensado na própria morte sempre havia conduzido sua imaginação a levá-lo a algum momento heroico.
Fazia parte dele pois era um grifinório. O homem que lhe apontava a varinha, entretanto, não era. Ele muito provavelmente riria se soubesse que tinha pensado nas formas que preferia morrer.
Contudo, há muito aprendera que a coragem não necessariamente significava a abstinência do medo, mas sim a conquista apesar do medo. Ele fechou os olhos para receber o que era seu fim certo. Não era a morte que temia, mas sim o último instante. Temia que a adrenalina em seu corpo não permitisse se lembrar do que era realmente importante na vida.
Mas como num sussurro de esperança, ele ouviu o som de sua risada prazerosa, o cheiro de jasmins, os cabelos acaju, o vestido com estampa de girassóis e o verde deslumbrante de seus olhos eram tão nítidos em sua mente que quis perguntar se aquele momento era mesmo real.
Era ela que importava. A única coisa que restara de bom em sua vida medíocre.
Ele sabia que não devia empurrar a própria sorte, mas então nunca foi uma pessoa que acreditou em sorte. Abriu os olhos e encarou o homem que lhe detestava.
— Talvez. — cedeu resignadamente. — Mas ela não te ama também.