the collateral beauty | siriusly

Harry Potter - J. K. Rowling
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the collateral beauty | siriusly
Summary
"James estava morto, mas ela não estava. Era hora de despertar daquele coma".Após receber a notícia de que Sirius Black não era o fiel do segredo, portanto, não o delator do esconderijo onde ela e seu marido se mantiveram por quase um ano, Lily Potter tenta reunir forças dentro de si para superar o trauma da morte precoce de James, ser mãe do menino destinado a enfrentar Voldemort no futuro e consertar as coisas com Sirius, o melhor amigo de seu falecido marido. (NO CANON)
Note
Eu sempre gostei de cenários e casais improváveis. Eu só escrevo para me divertir... é tudo rs espero que você se divirta também!! Ah, importante destacar que esta história é mais aplicada ao cenário de angst, drama, luto, romance e pouquíssimo às desventuras de Harry no colégio. A história é Lily-centric com possíveis POVs do Sirius.
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maternidade

Sirius era inocente.

            Aos poucos a mulher balzaquiana digeria aquela informação com um gosto ruim na boca. As paredes da sala do diretor de Hogwarts pareciam se mover ao seu redor enquanto ela se recuperava da notícia que seu filho, seu único filho, quase tinha recebido o beijo de um dementador por engano e que o homem que por 12 anos ela acreditou ter traído sua família, era na verdade inocente.

— O senhor acredita neles? — Lily indagou. Esforçava-se para manter o rosto inexpressivo, mas sentia que ia vomitar.

            Um homem inocente tinha passado 12 anos em Azkaban. O melhor amigo de seu marido e o homem que ela tinha tão próximo de um irmão.

— Eu acredito. — Dumbledore respondeu com a voz firme. — O Sr. Weasley e a Srta. Granger confirmaram a mesma história que Harry. Embora, eu temo, que o Ministro ou tampouco a população vá acreditar na palavra de três crianças.

            Lily abriu a boca para protestar, mas Dumbledore ergueu uma mão em sinal de que ele ainda tinha a vez.

— Há mais de cinquenta vítimas e várias testemunhas contra Sirius. Eu mesmo testemunhei há anos atrás contra ele... você testemunhou, Lily.

— Eu não sabia que meu marido tinha trocado o fiel do segredo sem sequer me informar. — Lily disse com lágrimas nos olhos que não chegaram a escorrer. — Eu nunca... eu...

            Ela não podia mais segurar a dor. Suas mãos foram na direção do rosto e seus ombros tremeram enquanto ela caía num choro miserável.

            Sirius, ela pensou em lástima, oh Sirius.

— Eu sequer fui visitá-lo. — Lily dizia com a voz embargada.

— Ninguém esperava que você fosse, Lily. — Dumbledore a ofereceu um lenço. — Sirius não lhe culpa. Ele também não culpa Remus.

            Remus, ela pensou em seu amigo. Na noite anterior havia sido lua-cheia e algo em seu íntimo a dizia que não fora uma das boas.

— Como eu posso conviver com isso agora, Dumbledore? — Lily indagou, a ruguinha entre seus olhos se tornando evidente. — Um homem levou o beijo do dementador. Um homem inocente! Como eu posso olhar para meu filho agora?

            Fez-se silêncio pela primeira vez entre eles. Lily continuou contemplando o homem que um dia a ensinara, um dia a liderara e agora era uma coisa bastante próxima de uma figura paterna. A única de seu filho.

— Sirius não levou o beijo. — Dumbledore disse com um brilho diferente em seus olhos azuis. — Ele fugiu.

            Parte de Lily não estava tão surpresa que ele tivesse conseguido fugir de Hogwarts. Seu falecido marido e Sirius costumavam se embrenhar pelos corredores e todo terreno de Hogwarts embaixo de uma capa de invisibilidade. Na época, eles chegaram a produzir um mapa que falava as passagens secretas e dizia onde estava exatamente cada pessoa ou criatura do castelo.

            Se Sirius tinha conseguido fugir de Azkaban, então não havia um motivo para que não conseguisse escapar de Hogwarts.

— Harry ajudou-o. — contou o diretor, abrindo um leve sorriso. — Soa familiar?

            Inevitavelmente um sorriso também se abriu nos lábios de Lily. Parecia uma coisa que James teria feito – ajudar o melhor amigo a escapar de uma detenção ou coisa assim. Aquilo estranhamente a trazia um pouco de conforto, embora ela soubesse que mais tarde choraria de culpa e remorso.

            Por Circe. Ela precisava encontrar Sirius Black e pedi-lo desculpas pelo resto da vida, mas primeiro precisava achar Harry. Podia imaginar como seu filho estava confuso e assustado.

            Ela nunca chegou a contar que o motivo pelo pai estar morto era que havia sido apunhalado por um amigo. Não achava justo dar aquele peso a Harry quando era apenas uma criança e tudo que queria era protegê-lo.

— Onde ele está? —perguntou num sussurro.

— Na ala hospitalar. Creio que Madame Pomfrey já tenha a intenção de dá-lo alta.

            Lily acenou com a cabeça e se levantou. Ela ajustou a capa ao redor dos ombros, estava prestes a perguntar se Lupin estava na antiga sala de Defesa Contra as Artes das Trevas quando a porta da sala do diretor se abriu e por ela entrou um homem magro, com vestes remendadas e gastas, cabelos grisalhos e bolsas embaixo dos olhos.

            Ela ofegou quando viu um de seus melhores amigos de adolescência. Todos aqueles anos tentando entrar em contato, estabelecer um vínculo e incluí-lo na vida de Harry. Ainda que seu coração apertasse por todas as cartas sem resposta que tinha enviado para o lobisomem, Lily ainda estava feliz por vê-lo.

— Remus. — Lily cumprimentou-o.

            Por um momento era como se ele não acreditasse que realmente estivesse viva. Assim como a maldição da morte não matara seu filho, todos achavam bastante surpreendente que o Lorde das Trevas tivesse poupado a esposa sangue-ruim e matado seu marido rico de linhagem pura.

            Lily escutou sussurros odiosos nos primeiros anos, de como ela era secretamente uma serva de Você-Sabe-Quem e que havia se beneficiado da morte do marido herdando seus tesouros. Ela chorava todas as noites por quase um ano, mas hoje, uma mulher de 33 anos independente e com um filho para criar, Lily não tinha tempo para ficar preocupada com o que diziam dela.

            Harry era tudo que ela tinha. Ela vivia para ele.

— Lils. — o apelido de adolescência escapou dos lábios dele e a fez sorrir, mas rapidamente o lobisomem se consertou. — Quer dizer... Olá, Sra. Potter.

            Sentiu como se uma faca tivesse sido cravada em seu peito. Tamanha a frieza que aquelas palavras tinham.

            É claro. Ele realmente não acreditava nela quando o escreveu inúmeras vezes dizendo que nunca duvidou dele.

            Lily poderia ter duvidado de Sirius, poderia sim, e Merlin sabe que nos últimos anos ela rezou todas as noites o terço, como a avó tinha lhe ensinado, para se liberar de tamanho rancor que carregava dentro de si.

— Professor Lupin! — o diretor saudou-o. — A que devo a honra?

— Será que podemos conversar em algum momento, Albus? Eu venho quando não estiver ocupado. — Remus disse cheio de educação e polidez, exatamente como quando era menino.

            Lily sabia que o lobisomem precisava falar a sós com o professor, então rapidamente disse que já estava de saída e deixou os dois homens sozinhos. Desceu as escadas espirais da sala do diretor e caiu de frente para o buraco da gárgula enfeitiçada.

            Contemplou o corredor vazio e se lembrou com saudades de seus tempos em Hogwarts. As paredes de pedra, os quadros falantes, os fantasmas, as escadas que se moviam aleatoriamente.

            Tudo aquilo a dava o sentimento de pertencimento, enquanto há anos, desde que James se fora para ser mais preciso, Lily não sentia que pertencia mais a lugar algum.

— Lily. — ela escutou seu nome de novo.

            Virou-se exultante com a expectativa de que fosse Remus e que ele quisesse conversar com ela depois de tudo, mas se deparou com a figura sombria de Severus Snape.

            Ele não havia mudado tanto desde a adolescência. Sua altura ainda era mediana, seus cabelos ainda eram oleosos, seu nariz ainda era grande e seu semblante ainda não demonstrava nenhuma emoção.

— Severus. — disse em tom educado e acenando com a cabeça.

            Assim como tinha sido todas as outras vezes que Snape tentara uma reaproximação, ele não foi capaz de dizer mais que três palavras antes de Lily girar os calcanhares e partir. Naquele dia ela não tinha uma intenção diferente, especialmente quando Harry estava ali e poderia decidir procurar por ela.

— Eu tenho que ir ver meu filho, com licença. — o tom prático em sua voz sempre surpreendia Severus, ela se perguntava por que ele parecia sempre tão assustado mesmo depois de anos.

— Lily, escute...

            Ele sempre dizia aquilo. Sempre a dizia para escutar, entender, perdoar, mas nunca chegavam a ponto algum. A ruiva se perguntava como mesmo depois de tantos anos Snape ainda parecia tão persistente naquilo.

            Era desagradável. Constrangedor. Um tormento.

— Imagino que se você tenha mais alguma reclamação sobre meu filho. — seu tom era cortante e afiado. — Isso pode ficar para o semestre que vem, correto? As crianças vão tomar o expresso daqui a pouco...

            Como sempre que o nome de Harry estava entre eles, o olhar de Snape escurecia e seu rosto se tornava ainda mais inexpressivo. Vez ou outra ele dava um sorriso debochado ao falar sobre quão parecido seu filho era com o pai e Lily, num tom orgulhoso, respondia que ‘sim, Harry é muito parecido com James’.

— Eu só queria dizer que seu filho não precisa esperar que eu facilite as coisas para ele no ano que vem. — Snape falou amargamente. — Por culpa dele eu perdi a minha Ordem de Merlin.

            Lily enrijeceu o maxilar e engoliu em seco. Suas mãos se fecharam em punhos e ela digeriu as palavras do homem que um dia chamara de melhor amigo. Céus, como?

— Você é mesmo tão sujo? — sussurrou em indignação, dando passos curtos e calculados na direção do homem. — Regozijar-se pela desgraça de um homem inocente? Aceitaria aquela Ordem de Merlin mesmo depois do que Harry lhe contou?!

Eu não vi Pettigrew. — Severus rosnou com o semblante frio. — Até onde eu sei, não seria difícil para Potter e seus outros coleguinhas terem sido atingidos por um Confundus. Lupin esteve...

— Oh, por favor. É isso que está dizendo a si mesmo? — seu tom se tornou mais alto e ela olhou com horror para Snape. — É isso que pretendia falar a si mesmo todas as noites? “Eu mereço uma Ordem de Merlin às custas de um inocente, porque ele costumava ser um valentão e me oprimir durante a adolescência”.

            Foi a vez de Snape cair em profundo silêncio. Ele perfurou Lily com os olhos e o subconsciente da ruiva fez com que ela apertasse fortemente a varinha na mão.

            Arqueou as sobrancelhas bem desenhadas num desafio silencioso para que ele se atrevesse a dizer o que estava pensando. Ergueu barreiras altas ao redor da própria mente, desde nova sabia que Snape treinava exaustivamente para se tornar um legilimens e um oclumente.

            Para azar do homem, ela enquanto falhara como legilimens, havia se tornado uma oclumente razoável.

— Se é isso que diz, Sra. Potter, então presumo que seja a verdade. — Snape falou seco. — Tenha um bom dia.

            Ela não ficou para assistir a capa de Snape desaparecer no fim do corredor.

-x-

— Mãe!

            A recepção de seu filho foi uma mistura de alegria e surpresa. Ela sabia que Harry tinha ficado chateado por não terem passado o natal juntos, mas Lily estava tão neurótica com a notícia da fuga de Sirius e com tanto medo por Harry, que ela o pedira para ficar em Hogwarts, só para depois descobrir que o animago tinha conseguido entrar na escola.

            Agora, ela tinha que conviver com o pensamento que o rato traidor tinha vivido por dois anos letivos no mesmo quarto que seu filho. Pettigrew poderia ter matado Harry se quisesse! Por que, então, não o fizera?

— Oi, querido. — cumprimentou-o com um sorriso e depois se dirigiu aos melhores amigos de seu filho. — Alô Ron, ‘Mione.

— Olá, Sra. Potter. — eles disseram em conjunto.

            Olhou para a perna enfaixada de Ron e fez uma careta. Ela trabalhava no St. Mungus como medibruxa, embora soubesse que não era nada muito grave podia imaginar que o pobre rapazinho estava em dor.

— Você veio me buscar para ir para casa mais cedo? — Harry perguntou esperançosamente.

— Eu pego plantão daqui uma hora. — Lily disse com um sorriso triste e se sentando no pé da cama do filho. — Como vocês estão, crianças?

— Estamos bem. — Harry respondeu imediatamente pelos amigos. — Dumbledore te chamou para contar o que aconteceu?

— Sim. — Lily disse com um suspiro e olhou aturdida para Harry. — Mas eu espero mais detalhes do senhor...

            Harry se encolheu diante de seu olhar, provavelmente se lembrando muito bem das palavras dela quando voltara para casa no último verão.

            Com um dedo autoritário, os cabelos puxados num rabo e usando jaleco, a Sra. Potter o disse claramente que se ele continuasse a se meter em problemas em Hogwarts ela iria contratar tutores e ensiná-lo em casa.

— Você tem que me prometer que eu vou voltar no próximo ano letivo. — Harry disse com o semblante sério. — E que vai acreditar em mim, independente do que as pessoas digam.

            Ela sorriu e levou a mão de encontro a dele.

— Eu sempre vou acreditar em você.

            Bastante satisfeito com a resposta, o filho de James começou a contar a sua mãe tudo que havia acontecido no dia anterior. Lily se sentiu meio zonza com os fatos.

            Vira-tempo, mapa, hipogrifo, fugitivo, lobisomem, dementador.

            Godric, ela só podia esperar que o restante do verão fosse mais calmo.

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