
Varinha Glaciar
No dia em que Draconis Lucifae Black-Prince festejou o seu décimo primeiro aniversário foi um importante marco para todos os habitantes de Prince Manor, pois foi também o dia em que o membro mais jovem da família recebeu a sua polémica carta de Hogwarts.
Este feito criou uma evidente divisão entre as matriarcas. Lucrecia desejava que Draco apresentasse a sua candidatura a um Colégio Universitário, visto que o nível académico do albino ultrapassava por muito o dos estudantes de Hogwarts, mas Walburga argumentava que como proprietário de cinquenta por cento do castelo, Draco tinha todo o direito de frequentar aquela escola, se assim o desejasse. Para não falar do facto de que todos os membros da Casa Black haviam estudado em Hogwarts. Perdida a disputa, Lucrecia procurou o apoio de Severus e conseguiu convencê-lo de que não era seguro, nem inteligente da sua parte, enviar o Pequeno Dragão diretamente para o centro do radar de Albus Dumbledore.
Severus Snape concluiu que se não queriam deixar Draco sozinho, só lhes restava que o Mestre de Poções aceitasse o cargo no Corpo Docente que o velho lhe tentava impingir há séculos. Com isto pensavam que tinham o tema coberto, mas Walburga sendo desconfiada e astuta, como boa Black que se preze, exigiu que encontrassem um modo que permitisse que ela também pudesse permanecer no castelo durante o período escolar.
O pior veio quando Lucrecia "acidentalmente" deslizou uma "gotinha" de Verisaterum no chá de uma desavisada Walburga, para descobrir a verdadeira razão por detrás daquele súbito interesse da sua querida amiga em mudar-se para a Escola de Magia.
“Walburga, querida, como correu a tua reunião em Gringotts?” perguntou Lady Prince com o seu melhor tom de fingido desinteresse, erguendo a chávena e dando um leve gole do seu delicioso chá verde.
“Aquele Lucius meteu na cabeça que quer conhecer o Draco,” respondeu a mulher, antes de se aperceber que abrira a boca.
“O quê?” exclamou a morena de olhos negros completamente exaltada, quase pulando da poltrona onde se encontrava comodamente sentada, vertendo assim o chá sobre as pernas, secando-as com um lenço, que um elfo lhe estendera quase no ato.
“Lucrecia, acaso tiveste o atrevimento de me dopar com Soro da Verdade!?” afirmou mais do que perguntou a Matriarca Black.
“Bom, querida, em minha defesa, ultimamente tens estado muito misteriosa e de repente decidiste que te querias mudar para o castelo, quando antes foste a primeira em apoiar a ida de Draco para aquela estúpida escola sem classe.” Pousou a chávena na mesinha localizada à sua direita. “Era de se esperar que a curiosidade me batesse à porta, não é mesmo?” perguntou com falsa inocência, pestanejando timidamente, como fizera em diversas ocasiões passadas para obter o que desejava das outras pessoas, fossem elas homens ou mulheres.
“Como esperavas que reagisse, quando recebi uma carta do Head Goblin a comunicar-me que Lucius Malfoy havia ido vê-lo e que o assunto em questão estava relacionado com Draco? Quando finalmente consegui consertar uma reunião, descobri que não só foi a Gringotts exigir um teste de paternidade como nem sequer sabe o nome do próprio filho biológico.”
“E a que se deve o súbito interesse do Lord Malfoy?” interrogou Lucrecia com inusitada curiosidade.
“Segundo os exames médicos que o advogado dele apresentou para criar um caso judicial…”
“Espera aí? Caso judicial?” exclamou Lady Prince atropeladamente, interrompendo as palavras de Walburga.
“Sim, caso judicial. Lucius pretende conseguir a custódia legal do nosso bebé, mas não te preocupes…” disse ao ver a amiga abrir a boca para interrompê-la com uma possível contemplação de preocupação, “... os goblins asseguraram-me que os papéis de Draco estão todos em dia e conforme a lei. Lucius não tem ponta por onde pegar.”
A mulher assentiu de acordo e perguntou de que constavam os documentos que o advogado de Lucius tinha apresentado.
“Pelo que me foi possível compreender, Lucius tem tentado desesperadamente ter um filho que pudesse herdar a sua fortuna e título, mas independentemente de quantas amantes tomou nenhuma foi capaz de engravidar. Preocupado com a possibilidade de ser estéril, acudiu a St. Mungus e terminou por ser diagnosticado como portador de uma velha maldição familiar que permite procriar apenas um filho por geração. Tendo em conta que é perfeitamente saudável e foi completamente fiel a Narcisa até ao nascimento de Draco, Lucius concluiu que a criança que ele havia pensado ser um bastardo tinha obrigatoriamente de ser seu filho legítimo.”
“Essa maldição… Draco herdou-a?” perguntou Lucrecia com um tom de voz que evidenciava um ligeiro temor, não querendo que o seu bebé fosse impossibilitado de ter uma família grande, se assim o desejasse.
“O Head Goblin assegurou-me que se houvesse algum feitiço ou maldição sobre Draco, que este teria sido diagnosticado quando o oficializamos como nosso sucessor.”
“Já estou mais descansada. Agora algumas boas notícias. O Head Goblin tinha dito que Draco poderia obter os seus familiares a partir dos dez anos desde que estivéssemos de acordo. Pensei sobre o assunto e sei que provavelmente concordarás comigo de que ficaríamos muito mais aliviadas se Draco tivesse os familiares elementais junto a ele quando se mudasse para o castelo. Então, qual é a tua opinião? Deveríamos tomar as providências para realizar o ritual?” questionou animadamente, recebendo um assentimento de conformidade.
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Draco lia atentamente as páginas de um velho livro de capa desgastada, com padrões de flocos de neve, que havia retirado de uma das suas Câmaras Invernais. Neste estava descrito o processo de criação para varinhas personalizadas com afinidade ao seu elemento.
Entusiasmado, tomou algumas notas e plasmou-as num pergaminho que enviou quase de imediato à sua ex-instrutora Emma Vanity, juntamente com uma missiva onde requisitava a sua cooperação para poder confeccionar a sua própria varinha mágica. Não é necessário dizer que esta respondeu em questão de minutos a comunicar que iria o mais rapidamente possível.
Emma tinha estado a cargo de instruir o jovem mago nas Artes da Magia Esquecida. Nesse ano que estivera a ensinar a cadeira, os dois tinham criado um laço mais forte do que haviam feito no total dos restantes cinco anos. E Draco realmente gostava dela, sem saberem bem como, descobriram que tinham diversos interesses em comum. O albino só não entendia porque a mulher parecia ficar tão pouco à vontade quando o seu papá Severus estava presente. Era como ver um gato a fugir do seu sempre aterrorizante banho ou um pássaro em fuga após escapar da sua temível gaiola.
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Quando Draco soubera que as suas avós, finalmente, iriam deixá-lo realizar o ritual onde adquiriria os seus familiares, Emma disse-lhe, que segundo o que constava naquele velho volume literário, poderiam utilizar componentes dos seus familiares elementais para fortalecer a varinha e enfeitiçá-la de tal forma que ninguém, para além dele, pudesse utilizá-la sem a sua prévia permissão.
Maravilhado com essa oportunidade, o menino de olhos prateados com ligeiros reflexos azulados optou por esperar pacientemente pelo ritual e fabricar a sua varinha após a obtenção dos seus familiares. Por tal razão, a família encontrava-se atualmente na Câmara Ritualística de Gringotts, onde o Head Goblin presidiria em breve à Cerimónia de Convocação.
No centro da câmara havia um altar circular dividido em cinco partes iguais. Em cada uma delas estava uma vela de diferentes cores que correspondiam a um elemento. Uma vela vermelha para representar o Fogo, uma azul para representar a Água, uma verde para representar a Terra, uma branca para representar o Ar e por último uma vela violeta para representar a Alma. Cada um destes elementos visavam nutrir a união do jovem invocador com a Mãe Natureza e principalmente com o seu próprio núcleo mágico.
No centro do altar, foi colocada uma taça, claramente datada da época medieval, esculpida em prata coberta por gravuras de runas célticas, que rodeavam delicadamente a imagem de uma lua crescente feita puramente de ouro. Esta peça representava a parte fundamental do laço sanguíneo que se criaria entre o mago e os guardiões mágicos selecionados pela natureza, permitindo que estes se conectassem em mente e alma.
Severus, como tutor legal de Draco, teria de realizar o ritual ao ser este menor de idade, pelo que, seguindo as instruções do goblin, pegou numa adaga de prata belamente decorada com pedras preciosas e runas célticas, que completavam a sentença cravada cuidadosamente na taça e fez um fino corte na palma da mão do menino vertendo o seu sangue no interior da taça.
O Mestre de Poções rodeou o altar e deslizou a adaga sobre os pavios das velas, que se iam acendendo uma a uma ao fazerem contacto com o sangue que pingava morosamente pela borda da afiada lâmina. Quando todas as velas brilharam forte e conjuntamente, Severus pousou a adaga sobre a taça e retirou-se para dar passo ao goblin que invocou a, já conhecida, pluma de fénix dourada e mergulhou-a no sangue que repousava no interior da taça e passou-a a Draco para que assinasse o Contrato de Alma, que este lhe cedeu prontamente.
Após validar a assinatura, o goblin enrolou o pergaminho e mergulhou-o na taça, evaporando juntamente com o restante conteúdo e dando lugar a um claro nevoeiro. Do nevoeiro, surgiram duas silhuetas que pareceram ganhar vida, pairando sobre toda a câmara até desaparecerem por detrás de uma parede totalmente sólida.
O goblin chamou a atenção de Draco e indicou-lhe que deveria abrir o portal que habitava naquela parede com o seu sangue. Ainda a gotejar sangue fresco devido ao corte ritualístico prévio, o albino pousou a mão na parede, que de seguida brilhou fortemente, deixando ver uma paisagem nevada. Draco avançou até que os adultos o perderam de vista.
Draco viu duas criaturas irem ao seu encontro. Uma ave, branca como a neve, tomou descanso no seu ombro direito e um pequeno felino de pelagem cinza quase branca esfregou-se carinhosamente contra a sua perna esquerda. Draco sorriu com alegria e regressou à câmara, onde a sua família o aguardava, ansiosa para conhecer os novos membros do seu Clã.
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Emma observava extasiada a interação entre o seu ex-aprendiz com os seus familiares elementais, uma coruja de neve e uma cria de lince do ártico. Sem dúvida alguma, eram exemplares fantásticos das suas respetivas espécies.
“Bom, agora que já tens os teus familiares podemos começar a fabricar a tua varinha.” O albino assentiu e afastou-se dos seus mimados familiares elementais. “Vejamos, já decidiste quais são os materiais que queres para a tua varinha?” perguntou curiosa a mulher.
“Madeira nobre de cerejeira e para o núcleo uma pluma de fénix da neve,” disse tranquilamente, sendo rodeado por uma aura pensativa e intelectual. “Gostaria de colocar uma das garras de Shaula e de Pólux… não sei… plumas é muito óbvio,” disse Draco sentindo-se hesitante.
“As garras do lince são uma boa ideia. Shaula é uma fêmea?” O menino assentiu com um gracioso movimento de cabeça. “As fêmeas das espécies felinas são conhecidas por serem ferozes e protetoras, pelo que as suas garras irão reforçar a força dos teus feitiços de defesa,” exclamou após reler algumas páginas do livro. “A pluma da fénix da neve vai estabilizar o teu controle sobre os feitiços elementais, partindo do princípio que uses a varinha para esses feitiços, claro. Pólux é macho ou fêmea?”
“Macho, não acho que nenhuma fêmea me permitiria dar-lhe um nome tão másculo.” Sorriu traquinamente.
“Então, não queres utilizar as plumas e assumo que tampouco as garras.” O menor assentiu de acordo com as observações da ex-Sytherin. “Hmm… O que pensas de utilizar o sangue da coruja? É um ser com uma visão noturna extremamente aguçada e se tenho bem entendido, essa é uma das muitas características que residem no sangue de Pólux.”
“Por mim tudo bem. Só não estou a ver como é que vais conseguir o sangue do meu rebelde Pólux. Acredita, é mais provável que acabes sem dedos do que com uma amostra de sangue deste pestinha! Oh! E é melhor protegeres os olhos…” exclamou entre gargalhadas, acariciando a cabeça do seu familiar.
“Eu?” perguntou Emma com um brilho de pânico nos seus belos olhos azuis. “Essa coisa tem garras afiadas e um bico igualmente afiado. Não, muito obrigada! Gosto dos meus olhos onde estão e da minha pele imaculada. Nem falar do meu cabelo arranjado.”
“Não te tomava por narcisista, Vanity!” disse o Mestre de Poções, encostando-se na soleira da porta, divertindo-se ao ver o pulo que a sua ex-companheira de escola dera.
“Snape,” murmurou coibida.
“Se eu não soubesse mais da vida…” disse Draco, exalando maturidade por cada poro. “Iria jurar que a Emma está apaixonada por ti, papi,” concluiu o menino de olhos prateados, cortando a distância entre eles e abraçando Severus carinhosamente. “Acaso vais dar-me enfim uma mami, papá?” perguntou fazendo olhinhos de cachorrinho abandonado sob a chuva torrencial, enquanto o moreno tossia ao engasgar-se com a saliva e a mulher tentava pensar numa fuga estratégica que desse pouco nas vistas.
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Após três dias de intenso e árduo trabalho (mas de muita diversão para Draco), Severus e Emma terminaram o núcleo da futura varinha do mais jovem mago da casa (os muggles provavelmente prefeririam utilizar o termo palácio, a julgar pelo tamanho e aura de nobreza que a estrutura possuía).
O núcleo da varinha de Draco resultara ser uma coisinha mínima, que mal dava para ver, mas que resplandecia grandiosamente com cada toque do albino, mantendo-se com um eterno brilho inerte perante a falta da presença do pequeno.
“Com isto está comprovada a eficácia do núcleo,” constatou Severus. “Estou finalmente livre para poder regressar às minhas negociações com o velho Dumbledore? Ou ainda vais sair com uma nova desculpa para me atirar em cima de Miss Vanity?” murmurou ao ouvido de Draco para que a dita cuja não alcançasse a escutar as suas palavras.
“Ora, papá, só estou a tentar ajudar-te!” Fez carinha de inocência. “A propósito, a avó Ally disse que aprova a Emma como tua pretendente.” Correu para longe da massa de fúria massiva que era Severus Snape nesse preciso momento.
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A família Black-Prince preparava-se diligentemente para partir rumo a Diagon Alley, a fim de poder comprar os materiais escolares do Pequeno Dragão, quando este entrou a correr ao mesmo tempo que puxava Emma pela mão.
“A Emma vem connosco!” exclamou o menor feliz da vida com o seu novo plano para “atirar o seu pai em cima de Vanity” como acusara o maior anteriormente.
“Assim que era verdade,” murmurou Lucrecia na direção de Walburga . “E tem a tua aprovação?”
“É uma sangue-puro de boa família e o Draco gosta dela. Ainda quando seja um par de anos mais velha que Severus, tenho a certeza que será uma boa mãe. Além de que o Draco está a crescer e logo já não quererá ser o nosso bebé, pelo que outro netito seria sempre bem vindo. E tenho a certeza que o nosso menino não se importaria de ser um bom irmão mais velho.”
Alheios aos devaneios das matriarcas, os restantes membros da excursão a Diagon Alley prepararam-se para sair.
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Em Gringotts era possível testemunhar, uma vez mais, a silhueta de um sério e furioso Lucius Malfoy, que exigia sem êxito algum que o Head Goblin realizasse um Exame de Linhagem Sanguínea para comprovar se o filho adotivo de Severus Snape, era biologicamente um Malfoy. Tal como deveria ter feito no instante em que o fedelho nascera e assim ter-se-ia poupado todos aqueles problemas idiotas.
Cansado das demandas de Lord Malfoy e das suas ameaças de enterrá-lo em processos e demandas jurídicas, mostrou-lhe o Certificado de Linhagem Mágica de Draco, onde constava legalmente como filho de Severus Snape e neto de Lucrecia Prince e Walburga Black, pelo que não havia nada que ele nem ninguém pudesse fazer para anular o documento, pois tudo era legal e não havia brecha por onde se esgueirar para conseguir estabelecer contacto com o membro mais jovem da família Black-Prince.