Ecos de Lembranças (Versão PT-BR)

Harry Potter - J. K. Rowling
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Ecos de Lembranças (Versão PT-BR)
Summary
Algo está errado. Draco Malfoy sente isso em cada passo que dá pelos corredores gelados da Mansão Malfoy. As sombras parecem mais longas, os sussurros mais próximos, e o peso de um segredo se arrasta pelos cômodos. As noites são inquietas, cheias de ecos que ele não consegue identificar, enquanto memórias nebulosas flutuam na beira de sua consciência.Há olhares que ele não entende, gestos não ditos e uma tensão silenciosa que ninguém ousa mencionar. Seus pais falam com ele como se estivessem sempre à beira de revelar algo terrível, mas recuam, como se o silêncio fosse a única coisa que os protege. Draco se pergunta se eles sabem o que está acontecendo com ele.E então, há Harry. Sempre ele, sempre presente nos momentos em que a realidade se distorce mais. Draco não sabe se é uma coincidência, uma provocação do destino, ou algo mais. O olhar de Potter atravessa suas defesas, o desafia, e ao mesmo tempo oferece um estranho consolo que Draco não consegue explicar. Há algo entre eles que nunca foi dito, mas que pulsa entre as sombras, algo que o puxa para mais perto, mesmo quando ele quer fugir. Talvez Harry veja o que ninguém mais vê. Ou talvez seja apenas mais uma peça do enigma que está se formando ao seu redor.
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Capítulo Sete

Draco ficou de bom humor no dia seguinte e nos próximos dias. Harry continuava lhe visitando todas as noites, se sentando na poltrona ao lado de sua cama e conversando. Draco gostava da companhia de Harry. Ele fazia Draco rir e aqueles sentimentos de medo, tristeza, angústia e ansiedade praticamente desaparecerem. 

           Tio Sev o levou para passear pelos terrenos de Hogwarts naquela noite após o jantar, dizendo que seria bom para ele tomar um pouco de ar. Draco ficou feliz por sair daquele quarto, mesmo que por apenas um curto período de tempo. Eles caminharam pela borda da Floresta Proibida até o Lago Negro, que estava completamente congelado. 

           Draco perguntou se eles podiam patinar, mas tio Sev disse que o gelo estava fino demais pela temperatura ter subido um pouco na última semana, que talvez o gelo estivesse grosso o suficiente na semana que vem e que ele poderia patinar um pouco. 

           Draco encarou o gelo do lago. Ele se imaginava patinando naquele gelo fino, indo para o meio do lago, na parte mais fundo, e o gelo se rompendo e ele afundando na água congelante, sozinho, sem ninguém para lhe socorrer. A sensação da água gelada entrando pela sua boca e nariz, passando por sua garganta e enchendo seus pulmões, até que ele não tivesse mais forças para tentar nadar para cima e afundasse até o fundo do lago, seu corpo sem vida descansando lá até que alguém o encontrasse, ou para sempre.

           O pensamento da morte fez Draco sorrir. A morte parecia realmente agradável, até mesmo reconfortante. 

           Isso fez ele pensar se a janela de seu quarto abria. Seu quarto ficava no alto, aparentemente do último andar do castelo. Ele também poderia se jogar de lá, sentir o vento bater contra sua pele até que sentisse o impacto da neve gelada contra seu corpo e fazendo a escuridão lhe dominar. 

           Parecia agradável, também. 

           Tio Sev pegou sua mão, o guiando para dentro do castelo outra vez quando Draco não atendeu aos seus chamados.

           Eles voltaram para o quarto e Draco trocou a roupa para seu pijama outra vez, voltando a se sentar na cama, com as costas apoiadas no travesseiro contra a cabeceira da cama e a coberta em suas pernas. Tio Sev se sentou na poltrona ao lado, olhando para Draco enquanto ele olhava para a neve lá fora. 

           Ele não pode brincar na neve. Tudo o que eles fizeram foi andar por aí, mas Draco também gostou disso, de sair daquele quarto um pouco, ver algo de diferente que não fosse seu quarto ou a mesma parte da floresta. 

           — Eu quero que você experimente uma poção. — tio Sev disse com firmeza. — Ela é nova, mas pode resolver seu problema. 

           Draco lhe olhou nos olhos.

           — Essa poção vai fazer eu melhorar?

           — É possível.

           — Se eu melhorar, eu posso voltar para casa?

           Tio Sev permaneceu em silêncio por alguns segundos longos, encarando os olhos esperançosos de Draco. Ele respirou fundo.

           — Sim. Sim, você pode voltar para casa, Draco. 

           Draco lhe deu um sorriso tímido, assentindo com a cabeça. 

           Tio Sev lhe entregou um frasco com um líquido verde escuro viscoso. Draco enrugou o nariz antes de prender a respiração e tomar de uma só vez. Ele precisou de um tempo para empurrar a ânsia de vômito de volta para baixo antes de voltar a respirar.

           Tio Sev lhe instruiu a dormir, ele voltaria na hora do almoço do dia seguinte para um check up e ver os efeitos da poção.

           Draco deitou na cama, encarando a parede em meio à escuridão. Ele estava esperando até que Harry viesse lhe visitar, mas ele deve ter pegado no sono antes.

           A próxima vez que Draco abriu os olhos, ainda estava escuro. Draco deve ter pegado no sono sem querer, mas Harry deve ter chegado durante esse tempo. Sentia alguém em sua cama, em cima de seu corpo. Olhou para cima, encontrando olhos castanhos e um cabelo loiro. Era um garoto que aparentava ter entre 16 e 17 anos, ele sorria para Draco, seu corpo pairando sobre o dele. 

           — Eu senti sua falta, Malfoy. — o garoto estranho disse em um sussurro, sorrindo para ele. 

           O corpo de Draco congelou. Seus olhos arregalados encarando as íris castanhas do garoto desconhecido. O garoto puxou as cobertas para longe do corpo de Draco e puxou suas calças para baixo, beijando e chupando seu pescoço de uma forma dolorosa.

           O corpo de Draco não respondia ao seu cérebro. Seu cérebro lhe dizia para tirar aquele garoto de cima, pular da cama e sair correndo, mas seu corpo não obedecia. Seu cérebro lhe dizia para gritar, chamar ajuda, mas sua voz não saía.

           — Isso de novo não… — Draco pensava. — Isso de novo não… Não! Por favor, não! Pare! Eu não quero isso de novo! Eu não gosto disso! Eu não quero!”

           Ele via o Senhor das Trevas pairando sobre seu corpo, aquele sorriso medonho naquele rosto bizarramente pálido, luxúria em seu olhos e prazer em seu corpo por ver o medo e desespero de Draco, por vê-lo chorar. 

           — A raposa sempre vai atrás do coelhinho. — aquele homem assustador disse com um sorriso.

           — “Isso de novo não! Isso de novo não! Isso de novo não!” — ele repetia em seus pensamentos como um mantra, ainda incapaz de falar.

           Ele sentiu aquela dor agoniante outra vez, a sujeira voltando a dominar e manchar seu corpo permanentemente. Ele se sentia inpotente, indefeso, incapaz de lutar, de impedir que alguém fizesse algo assim com ele outra vez. 

           Draco tentou gritar outra vez, mas nada além de gemidos de dor saiam de sua garganta. 

           — Isso, geme pra mim… Céus, você continua tão apertado! — o garoto sussurrava com a voz rouca em seu ouvido. — Você gosta? Gosta quando eu te fodo assim? É?

           — “Não… Não, eu não gosto! Eu não gosto! Eu não quero isso! Isso de novo não!” 

           Draco sentia a bile tentando romper caminho por sua garganta. Ele achava que aquilo tinha acabado, que ninguém mais lhe machucaria. Por que isso estava acontecendo de novo? Ele estava tentando ser bom, de verdade! Ele não arrumou confusão com ninguém! Não insultou os outros! Ele estava se esforçando! Por que aquilo estava acontecendo!?

           O garoto foi arrancado de cima de Draco com força e jogado no chão. Draco se sentou na cama rapidamente, puxando a coberta para perto de seu corpo, tentando esconder não só sua nudez como a si mesmo. Esconder a si mesmo do mundo.

           A cabeça de Draco foi puxada para cima, fazendo seu olhar sair da coberta e ir para o rosto à sua frente. Potter segurava seu rosto entre as mãos, falando com ele e chamando seu primeiro nome. Os olhos de Draco alternavam entre os dois olhos verdes de Potter, sem realmente assimilar o que ele estava dizendo.

           Draco soltou seu rosto das mãos de Potter, puxando os joelhos até o peito e abaixando a cabeça até que sua testa tocasse seus joelhos e levou as mãos até os cabelos, os agarrando e puxando com força, soluçando alto.

           Um grito estridente de angústia rompeu sua garganta de repente. 

           Alguém precisava matá-lo.

           Alguém tinha que matar ele.

           Draco não aguentava mais, ele queria a morte, a paz e o sossego eterno na morte.

           Seus pulsos foram segurados com força, tentando afastar suas mãos de seus cabelos. 

           — Draco! Draco, pare com isso! Garoto, você vai se machucar!

           As mãos fizeram seus dedos abrirem de seus cabelos com esforço, puxando as mãos para longe de seu couro cabeludo dolorido e arrancando alguns fios nesse processo. 

           Seus pulsos foram segurados com força contra seu peito e braços longos envolveram seu corpo e suas costas foram pressionadas contra outro corpo. Draco se debateu, soltando um grito desesperado, tentando se soltar de qualquer maneira.

           — Draco, é o Severus! Se acalme, meu garoto! Está tudo bem, já acabou! 

           Draco só parou de se debater depois de cerca de cinco minutos de Severus lhe segurando e falando palavras calmantes. 

           — Está tudo bem, meu garoto. Já acabou, não vai mais acontecer. — Severus soltou os pulsos do afilhado lentamente, pronto para contê-lo outra vez caso necessário.

           O tronco de Draco pendia para frente, sendo sustentado pelos braços de Severus, enquanto tentava recuperar o fôlego e manter os olhos abertos. A descarga de adrenalina exigiu demais de seu corpo e agora ele estava exausto.

           Com esforço, ele levantou a cabeça o suficiente para ver que Connor não estava mais lá, nem Potter. A porta estava aberta e ele viu da cintura para baixo McGonagall, Dumbledore e Pomfrey. 

           Eles viram. 

           Eles o viram nesse estado. 

           Eles o viram chorar como uma criança.

           Seu coração começou a acelerar, bater com tanta força contra seu peito que chegava a ser fisicamente doloroso. 

           — Está tudo bem, Draco. Se acalme, está tudo bem agora.

           Severus continuou a lhe falar palavras calmantes e a lhe abraçar por trás. Sua consciência estava pendurada por um fio de energia que se rompeu em meio àquelas palavras de conforto, fazendo sua consciência desabar no limbo do sono.

 

 

 

 

Draco abriu os olhos lentamente, piscando algumas vezes até se acostumar com a luz do Sol que entrava pela sua janela. Soltando um suspiro cansado, ele virou as costas para a janela, abraçou o travesseiro e se aconchegou melhor nas cobertas, voltando a fechar os olhos e tentando voltar a dormir. Draco estava prestes a cair no sono outra vez quando o som da porta se abrindo lhe despertou mais uma vez. Voltando a abrir os olhos, ele viu Severus parado ao lado de sua cama, lhe olhando com cautela.

           — Está tudo bem, Draco? — Severus lhe perguntou com receio.

           Draco piscou algumas vezes, tentando adaptar seus olhos à claridade.

           — Sim, tio Sev, está tudo bem. Por quê?

           Severus olhou no fundo de seus olhos, caçando algo.

           — O que você fez ontem à noite?

           — Me deitei e dormi. — disse de forma óbvia.

           — E… não aconteceu mais nada?

           Draco olhou para ele de forma confusa.

           — Não, tio Sev. Aconteceu alguma coisa?

           Severus piscou o choque de sua expressão.

           — Não. Nada. Apenas… — ele limpou a garganta. — Como você está se sentindo?

           — Estranhamente cansado. E meu corpo doi. — Draco se sentou na cama, gemendo pela estranha dor nas suas costas.

           — A poção pode fazer isso. 

           — Quer dizer que ela está funcionando? — perguntou com esperança de finalmente estar melhorando e de poder ir para casa. 

           — Não necessariamente. — Severus pegou sua varinha do bolso, lançando alguns feitiços de diagnóstico. 

           Ele soltou um suspiro cansado quando terminou e olhou tristemente para Draco.

           — Sinto muito, garoto. Não parece ter havido qualquer mudança. 

           Draco abaixou a cabeça, seus olhos sendo tomados pelas lágrimas. 

           Ele só quer ir para sua casa. Ele não quer mais ficar naquele quarto gelado, sozinho, sem ninguém, sem poder sair. 

           Severus se sentou ao seu lado na cama, o puxando para um abraço. Eram tão raras as ocasiões em que seu padrinho abraçava a ele ao a qualquer um, que Draco ficou sem saber o que fazer por um momento, até que ele se aconchegou contra o corpo do padrinho, deixando que as lágrimas de tristeza e frustração derramasse de seus olhos. 

 

 

 

 

Draco passou o dia dormindo, sem vontade de encarar a realidade. Nem a neve que caía do lado de fora lhe animou. 

           A sensação de vazio no peito crescia a cada segundo, e Draco não sabia como afastar aquele sentimento que o sufocava. Ele estava exausto, emocionalmente drenado, sem forças para enfrentar as horas que se arrastavam. Era como se o frio do lado de fora tivesse se infiltrado dentro dele, congelando qualquer vontade de reagir. Até a ideia de se levantar da cama parecia impossível. Ele apenas queria esquecer de tudo, se esconder sob as cobertas e não lidar com o que quer que estivesse acontecendo ao seu redor.

           Uma mão passando pelos seus fios de cabelo de forma cuidadosa e carinhosa fez com que despertasse de seu sono aos poucos. Abriu os olhos lentamente, piscando o sono de seus olhos e olhando para cima, encontrando aqueles lindos olhos verdes, fazendo um sorriso aparecer em seu rosto.

           — Você voltou! — disse com alegria. 

           — É, eu voltei… — Harry disse com pesar. 

           Ele parecia tão triste, uma aura pesada ao seu redor. O sorriso de Draco desapareceu lentamente.

           — O que foi?

           Harry olhou no fundo de seus olhos.

           — Você está bem?

           Draco arqueou a sobrancelha. 

           — Estou. Por quê?

           — Como porquê? Pelo que aconteceu na madrugada passada! — Harry falava com raiva. Mas não com raiva de Draco, com raiva de alguém que Draco não sabia dizer quem era.

           Se sentou na cama, o cenho franzido em confusão. 

           — O que aconteceu? — Draco perguntou genuinamente confuso.

           Harry ficou em silêncio, lhe encarando nos olhos, atordoado pelo choque. Sua boca se abriu e fechou diversas vezes sem nunca emitir qualquer som. 

           — Você… Aquele cara… Ele… Você… Você não se lembra? — ele finalmente conseguiu dizer.

           — Me lembrar do que? Que cara? Só estava eu aqui.

           Harry voltou a lhe encarar.

           — Você… Nada… Nada, não foi nada, eu só… — Harry olhou para a parede, soltando um suspiro.

           Draco observou o moreno com atenção. Ele parecia tão desorientado, ao mesmo tempo assustado e entristecido. Draco não gostou de vê-lo assim. Timidamente, estendeu a mão e pegou a mão de Harry, a segurando com cuidado. O moreno chicoteou a cabeça na sua direção, os olhos bem abertos pela surpresa. Ele olhou para as duas mãos juntas, encarando-as em silêncio por alguns segundos antes de devolver o aperto. 

           Draco sorriu para Harry, seus olhos pálidos brilhando pela alegria. Harry devolveu o sorriso, apertando mais a mão do loiro. Aquilo afastou a angústia no peito de Draco, dando lugar a uma alegria genuína e intensa. 

           O momento de conexão silenciosa entre eles durou mais do que qualquer palavra poderia. Draco sentiu o calor da mão de Harry, tão real e presente, algo que o ancorava à realidade. O toque era reconfortante, quase como uma promessa de que ele não estava completamente sozinho. Harry parecia estar lutando contra algo dentro de si, mas, por ora, o simples fato de estarem juntos parecia ser suficiente.

           — Vai ficar tudo bem, Draco. — Harry finalmente disse, sua voz baixa e gentil. — Eu estou aqui com você, e eu vou te ajudar a passar por isso. Seja lá o que “isso” seja.

           Draco assentiu lentamente, seus olhos ainda fixos nos de Harry. 

 

 

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