Ecos de Lembranças (Versão PT-BR)

Harry Potter - J. K. Rowling
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Ecos de Lembranças (Versão PT-BR)
Summary
Algo está errado. Draco Malfoy sente isso em cada passo que dá pelos corredores gelados da Mansão Malfoy. As sombras parecem mais longas, os sussurros mais próximos, e o peso de um segredo se arrasta pelos cômodos. As noites são inquietas, cheias de ecos que ele não consegue identificar, enquanto memórias nebulosas flutuam na beira de sua consciência.Há olhares que ele não entende, gestos não ditos e uma tensão silenciosa que ninguém ousa mencionar. Seus pais falam com ele como se estivessem sempre à beira de revelar algo terrível, mas recuam, como se o silêncio fosse a única coisa que os protege. Draco se pergunta se eles sabem o que está acontecendo com ele.E então, há Harry. Sempre ele, sempre presente nos momentos em que a realidade se distorce mais. Draco não sabe se é uma coincidência, uma provocação do destino, ou algo mais. O olhar de Potter atravessa suas defesas, o desafia, e ao mesmo tempo oferece um estranho consolo que Draco não consegue explicar. Há algo entre eles que nunca foi dito, mas que pulsa entre as sombras, algo que o puxa para mais perto, mesmo quando ele quer fugir. Talvez Harry veja o que ninguém mais vê. Ou talvez seja apenas mais uma peça do enigma que está se formando ao seu redor.
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Capítulo Seis

Ele permanecia sentado na cama, sem sono, o jantar gelado e intocado na bandeja em cima da mesa de cabeceira à sua esquerda. Aquele livro grosso e pesado permanecia aberto em seu colo, no capítulo cinco que estava marcado com uma fita de cetim. Apesar do livro, Draco continuava olhando para a janela, de forma desanimada, a virada da estação de outono para o inverno. 

           Hogwarts ficava no extremo norte do Reino Unido, certo? Um lugar remoto e frio. Mas Draco não se importava com isso, ele gostava da neve, de poder brincar na neve. Ele desejava não estar preso nesse quarto. Desejava poder brincar naquela neve branca que cobria a grama do lado de fora.

           — Bom, então aqui é seu novo quarto? — Draco virou a cabeça da janela.

           Ele viu aquele garoto de cabelos pretos outra vez. Ele usava um pijama com listras azuis e brancas que aparentava ser realmente desconfortável. O garoto tinha seus cabelos mais bagunçados do que da última vez que o viu. Ele encarava Draco há alguns passos de distância da cama. Quando ele havia entrado?

           — Você continua sem aparecer nas aulas. — o garoto lhe examinou por completo com aqueles lindos olhos verdes. Tão vivos e brilhantes. — Algumas pessoas estão dizendo que você tem algum tipo de doença altamente contagiosa e por isso foi mandado para isolamento. Mas também dizem ter visto você vagando pelo castelo no meio da noite como se fosse um zumbi, então algumas pessoas estão dizendo que você foi mordido.

           Draco permaneceu em silêncio, encarando o garoto bonito e atraente. Ele não se lembrava daquele garoto, não sabia como aquele garoto sabia sobre ele. E que enfermaria? Draco nunca esteve na enfermaria de Hogwarts, ele esteve nesse quarto desde que chegou em Hogwarts há… Quando ele chegou em Hogwarts? Ele não consegue se lembrar. Parecia que fazia muito tempo, mas também parecia que aquele era seu primeiro dia lá. 

           — O que você tem, Malfoy? Você foi para a aula por só duas semanas e esteve até poucos dias atrás na enfermaria. E agora está aqui.

           Draco levantou os olhos da coberta e encarou aquele verde intenso. Aquele garoto. Sua mente girava em torno daquele garoto tão familiar, mas tão estranho ao mesmo tempo. Draco tinha a sensação que conhecia ele, mas não conseguia se lembrar quando, onde e nem como o conheceu.

           Harry.

           Seu nome é Harry, ele conseguiu se lembrar.

           Harry o que? 

           Draco só conseguia se lembrar do primeiro nome, a névoa do sobrenome rondando em sua mente, mas Draco gostava de ter os olhos do garoto em si, de ter sua atenção.

           — Eu não sei. — Draco respondeu com a voz baixa.

           — Você não sabe? Como não sabe? 

           Draco deu de ombros, desviando o olhar para a coberta, brincando com uma das pontas. 

           — Eles não me falam. 

           — E você não tem capacidade de dizer sozinho o que há de errado?

           — Não… Eu não sinto nada. Não me sinto doente. Eles apenas dizem que estou doente demais para ficar em casa, que aqui é melhor para eu me recuperar.

           Harry franziu o cenho, parecendo confuso e um tanto preocupado.

           — Então eles te colocaram aqui sem te dizer exatamente o que você tem? — Harry perguntou, agora se aproximando mais da cama.

           Draco balançou a cabeça afirmativamente, ainda evitando os olhos de Harry.

           — Eu também não entendo. — Draco murmurou, sua voz baixa quase inaudível. — Eu sinto que algo está errado, mas não consigo explicar o que é. É como se... 

           Draco não continuou.

           Harry estreitou os olhos, sentindo que havia algo muito mais profundo ali. Ele se sentou na beira da cama. 

           — Como se… — encorajou.

           Draco finalmente ergueu o olhar e encarou Harry. Seus olhos cinzas pareciam opacos, como se algo importante estivesse sendo esquecido, perdido nas sombras de sua própria mente.

           — Eu não sei... Minhas memórias, minhas emoções... Às vezes, eu sinto que estou vivendo em um sonho.

           Harry permaneceu em silêncio, deixando que Draco continuasse.

           — Eu não sei quem está certo ou errado. Quem é meu amigo, quem é meu inimigo... até você. — Draco olhou diretamente nos olhos de Harry. — Eu não sei por que, mas sinto que já te conheci antes. Como se você fosse uma parte significante da minha vida, de alguma forma.

           Harry respirou fundo, sentindo o peso das palavras de Draco, a confusão e a dor que ele estava carregando.

           — Draco, eu... — começou Harry, mas parou no meio, pensando. — Esquece. 





Aquele garoto continuava vindo lhe visitar todas as noites. Ele fazia perguntas que Draco não sabia responder, narrava situações que Draco não se recordava e falava de coisas que Draco não entendia. Ao menos, ele tinha alguma companhia e não precisava focar tanto naquela solidão e desânimo. 

           Quando ele começou a se sentir tão triste e sozinho?

           Tio Sev continuava lhe visitando pelo menos uma vez ao dia para ver como ele estava. Draco sempre expressava sua infelicidade e vontade de ir para casa, de ver seus pais, e o tio Sev continuava a lhe dizer que Draco não poderia sair, que ele não estava bem para isso. 

           Draco tentou convencer a lhe deixar sair daquele quarto por um tempo, alegando estar cansado de ficar sozinho e não fazer nada o dia todo. Ao menos, ele achava não fazer nada o dia todo. As coisas estavam cada vez mais confusas, suas ações cada vez mais desconexas, como se faltasse uma parte da linearidade das suas atitudes. 

           — Você tem andado tão educado ultimamente. Das primeiras vezes você me expulsou do quarto a gritos e livradas, gritando e amaldiçoando. E agora você mal me insulta. O que aconteceu? Virou alguém decente? — o garoto lhe perguntava, sentado em uma poltrona ao lado de sua cama que o tio Sev havia colocado recentemente.

           Draco continuou em silêncio, olhando a neve cair do lado de fora. Ele amava a neve. Amava brincar nela, fazer bonecos de neve. Ele queria brincar na neve.

           — Você parece chateado. — o garoto disse tomando um gole do seu chocolate quente.

           — Não gosto daqui. — Draco respondeu ainda sem tirar os olhos da janela.

           — Por que? As coisas aqui não são boas o suficiente para você, majestade? 

           — Eu quero ver meus pais. 

           O garoto ficou em silêncio. Draco sentia aqueles olhos verdes lhe perfurando, mas ele continuava sem olhar.

           Ele queria voltar para casa, para seus pais. Ele queria brincar na neve. Ele amava a neve, amava brincar na neve. Sua mãe também adorava a neve, ela sempre brincava com ele nos extensos jardins da casa, fazendo anjos de neve, fazendo bonecos de neve, fortes de neve, guerra de bolas de neve, e no final do dia eles tomaria um banho quente, se sentariam na frente da lareira enrolados em cobertores e tomariam chá com biscoitos com gotas de chocolate. 

           Draco soltou um suspiro, desviando o olhar da janela. Um vulto em sua visão periférica chamou sua atenção para a poltrona ao lado da sua cama. Draco viu, sentado lá, com os pés em cima da poltrona e uma caneca em mãos, um garoto bonito, de olhos verdes vividos como uma floresta na primavera e cabelos bagunçados e negros como as penas de um corvo, lhe olhando com uma expressão de surpresa. 

           Draco pendeu a cabeça para o lado, estudando o menino com curiosidade.

           — Olá. — ele disse — Quem é você? — Draco perguntou com curiosidade de saber quem era aquele garoto atraente ao lado da sua cama.

           O garoto franziu o cenho, sua expressão antes confusa e inofensiva passou para uma de raiva. Raiva e confusão.

           — Como quem sou eu? 

           — Eu não te conheço.

           — Pare com essa merda, Malfoy! — o garoto disse entre os dentes. 

           Draco vacilou, olhando cautelosamente para o garoto bonito.

           — Peço perdão, eu realmente não te conheço.

           O garoto ficou em silêncio, a raiva deixando sua face lentamente enquanto ele percebia que Draco estava falando a verdade. Sem falar nada, o garoto se levantou, deixando a caneca na mesa de cabeceira e indo em direção à estante de livros vazia, a puxando, revelando uma passagem secreta, e saindo sem dizer nada.

           Draco continuou encarando a estante por um tempo, um sentimento de tristeza e decepção aumentando em seu peito pelo garoto bonito ter ido embora.





Draco encarava o capítulo cinco do livro em seu colo. Ele estava cansado de ficar sozinho, a solidão fazia aquela tristeza e angústia estranhas piorarem. Ele sentia sua respiração dificultada por uma ansiedade sem motivos, fazendo com que ficasse inquieto na cama. Ele estava assim desde que foi deixado sozinho algumas horas atrás.

           Desviou o olhar do livro quando ouviu o som da estante sendo arrastada. Lá estava aquele garoto bonito outra vez, lhe olhando de forma tímida e relutante.

           — Você voltou. — Draco tentou conter o seu sorriso por ter sua companhia outra vez.

           — Sim… — o garoto disse de forma hesitante, mudando seu peso de um pé para o outro. 

           — Qual o seu nome? — Draco perguntou para quebrar aquele silêncio constrangedor que já havia começado a se instalar entre eles.

           — Você realmente não se lembra?

           — Perdão, eu nunca te vi antes.

           O garoto assentiu com a cabeça, olhando para o chão por um momento.

           — É Harry. — ele respondeu olhando em seus olhos.

           — Harry. — Draco falou para si mesmo, experimentando como o nome soava. 

           Ele achou que aquele nome combinava com o garoto. Um nome bonito para um garoto bonito.

           Draco mordeu o lábio para conter um sorriso por esse pensamento.

           — O meu é Draco. Draco Malfoy.

           — Eu sei.

           — Você sabe? Como? — Draco inclinou um pouco o cabeça para o lado, curioso.

           — Sei quem você é. De vista. 

           Harry parecia nervoso, como se algo o incomodasse. Ele se aproximou em passos lentos, se sentando na poltrona ao seu lado, lhe observando com cuidado. Draco desviou o olhar para a cama, se sentindo desconfortável com aquele silêncio. Ele voltou a olhar para a neve do lado de fora, tentando se distrair e não pensar na sensação dos olhos do garoto em si.

           — O que você gosta de fazer no seu tempo livre? — Harry perguntou.

           Draco olhou para ele outra vez, encarando aqueles olhos verdes vividos novamente.

           — Gosto de ler, de caçar insetos, de voar e jogar Quadribol, também gosto de tocar piano. — Draco respondeu depois de alguns segundos pensando.

           — Você toca piano?

           — Sim. Mamãe me ensinou. Ah, eu também gosto de estudar poções. 

           — Eu sei que você gosta de poções, só não entendo como isso é possível.

           — É divertido. Eu gosto de categorizar e organizar as coisas e eu consigo fazer isso com poções. Posso categorizar os ingredientes, as poções, até mesmo os recipientes. Você não gosta de poções?

           Harry enrugou o nariz, fazendo uma careta de desgosto.

           — Detesto poções.

           — Por quê?

           — Nunca consigo fazer nada direito. Sempre faço alguma coisa de errado e acabo estragando a poção. E acho que meu professor não ajudou muito nisso, ele me irrita.

           — Ele não é um bom professor?

           — Péssimo! — Harry disse com raiva. — Ele sempre tenta humilhar um de seus alunos na frente de todo o resto da turma! E ele não larga do meu pé!

           — Não acho que expor os outros alunos é atitude de um professor. Isso não está certo. — Draco viu um relance de surpresa no olhar de Harry. — Por que ele não te deixa em paz?

           — Ele acha que eu sou o meu pai, por ser muito parecido com ele. Ele diz que eu sou arrogante como meu pai.

           — E você é?

           Harry soltou uma risada, olhando para o chão.

           — Um pouco. Mas não como ele. Meu professor é com certeza a pessoa mais arrogante que eu já conheci. Até mais do que… — Harry se cortou.

           Draco olhou em seus olhos.

           — Quem? — perguntou com curiosidade.

           — Não, ninguém. — Harry balançou a cabeça, olhando para o chão por um momento antes de retornar o olhar para os olhos de Draco. — Não importa, é passado já.

           — Tudo bem. — eles entraram em um silêncio estranho outra vez. — E você? O que você gosta de fazer? — Draco tentou quebrar o gelo.

           — Gosto de voar, principalmente. E… Bem, eu não tenho muitos hobbies. Voar é o que eu faço melhor. Voar e Defesa Contra as Artes das Trevas. 

           — Você gosta de Quadribol?

           — Tá de brincadeira? Eu amo Quadribol? Como alguém pode não gostar de Quadribol? — Harry dizia com um sorriso em seu rosto.

           Draco achou aquele sorriso lindo. Seus olhos brilhando de alegria, felicidade genuína em sua expressão. Um sorriso tão bonito quanto todo o resto, fazendo Draco sorrir também.

           — Você joga?

           — Sou apanhador. 

           — Eu queria ser apanhador. Quero poder fazer parte da equipe da Sonserina quando estudar em Hogwarts. 

           O sorriso de Harry vacilou por um momento, engolindo em seco. 

           — Você acha que vai fazer parte da Sonserina? 

           Draco deu de ombros, olhando para a janela.

           — Toda a minha família é da Sonserina. É meio que um legado. Papai ficaria bravo se eu fosse classificado para outra casa.

           — Mas e você? — Draco olhou para Harry outra vez. — O que você acha?

           Draco pensou em silêncio por um tempo.

           — Eu acho que sim. Sei o que quero, não desisto até conseguir e sou leal a aqueles que são meus amigos, sei me sobressair mesmo em situações desvantajosas e… Talvez eu seja um pouco orgulhoso. — Draco sorriu com diversão com a última parte, fazendo Harry rir.

           — Tenho certeza que você vai conseguir fazer parte da equipe. 

           — Como você tem tanta certeza?

           Harry deu de ombros.

           — Eu apenas sei.

           Draco assentiu com a cabeça.

           — Mas e você? É de que casa? 

           — Grifinória, assim como toda a minha família. Mas eu quase fui classificado para Sonserina.

           — Quase?

           — Eu implorei ao chapéu seletor para que não me colocasse na Sonserina.

           — Porquê seus pais também ficariam bravos por você não estar na mesma casa que a sua família? 

           — Não… Eu só era um idiota na época. Caí na conversa de que todo Sonserino é mal. — Harry olhou no fundo dos olhos cinzas de Draco. — Mas eu estava errado. 

 

 

 

 

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