
Capítulo Quatro
— Muitos da Sonserina gostam dela. Mas, sinceramente, eu acho aquela mulher uma vaca. E a sala dela dá dor nos olhos. — Pansy reclamava da nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas.
— Sim, Pansy, você reclamou disso o dia todo. — Blaise disse suspirando enquanto se debruçava sobre o encosto da cadeira em que Pansy havia se sentado.
— Mas eu ainda não reclamei com o Draco. Ele concordaria comigo todas as vezes que eu dissesse isso. Certo, Draco?
— Pansy, eu não estou com humor para isso. — Draco massageou uma das têmporas.
Ele realmente não queria falar com ninguém. Draco estava de mal humor por ter que ficar preso na ala hospitalar por sabe-se lá quanto tempo. Mal havia se passado o segundo dia e Draco já não aguentava mais ficar sentado naquela cama.
— Vocês dois são uns chatos mal-humorados. É isso o que eu ganho por não me relacionar com as meninas da Sonserina. Nós gostamos de falar mal dos outros.
— Então Draco deve ser uma menina. — Blaise provocou.
Draco mostrou o dedo do meio para Zabini, arrancando um sorriso do outro.
— Seu namorado tem perguntado por você. — Pansy disse com um sorriso malicioso.
— Quem? — Draco nem se deu ao trabalho de olhar para ela, mantendo os olhos fechados e uma mão pressionada na testa, enquanto sentia a dor de cabeça se intensificar.
— Windsor.
Eliot Windsor era um garoto da Corvinal um ano acima que gostava de ser fodido por Draco. E Draco gostava de foder Windsor. Ele é um garoto bonito, alto, de pele bronzeada e cabelos castanhos, com olhos cor de mel e um físico bem trabalhado pelos anos como artilheiro da equipe de Quadribol da Corvinal. Em outras palavras, um garoto padrão, desejado por todas as garotas. Windsor era de fato um mulherengo, inclusive um grande babaca, mas as meninas continuavam caindo aos seus pés, mesmo as tratando mal. Ele namorava várias garotas ao mesmo tempo, mas nunca fodeu ninguém, era tudo para manter as aparências e não desconfiarem que ele, na verdade, é gay.
Draco o achava repugnante e um ser inferior por essas atitudes, mas ele ainda gostava de foder Windsor. Havia algo satisfatório em ver aquele "garotão" gemer e implorar como uma puta por mais de seu pau. Era uma dinâmica que dava a Draco uma sensação de superioridade.
— Ele não é meu namorado. — disse sem paciência.
Céus, aquele garoto era grudento.
— Uhm, e você falou isso para ele?
— Cada vez que eu fodo ele.
— Não pareceu que adiantou muita coisa. — Blaise riu. — Ele não para de perguntar por você.
— Já? — Draco revirou os olhos.
— Ele deve sentir falta do seu pau. Afinal, ele ficou o verão inteiro sem. — Pansy riu.
Draco gemeu de frustração.
— Garoto desesperado.
— Considerando o que falam de você, até eu sentiria falta do seu pau. — Blaise sorriu divertido para Draco.
Draco ficou vermelho. Era verdade que, no último ano, ele havia ganhado uma certa fama, e não apenas por ser o Príncipe da Sonserina. A curiosidade sobre sua sexualidade o levara a experimentar. Ele já havia beijado uma menina no terceiro ano, mas nunca havia tentado nada com nenhum menino. Bom, pode-se dizer que Draco entrou de cabeça nisso. Depois de beijar um garoto pela primeira vez, ele foi além e acabou perdendo a virgindade na mesma noite. E Draco gostou. Desde então, descobrira que, embora gostasse de meninas, sua preferência claramente se inclinava para meninos.
Ele gostava da sensação macia e dos corpos curvilíneos das meninas, mas achava os corpos retos e duros dos meninos mais atraentes.
No entanto, algo estava errado. Desde as férias, Draco não sentia mais o mesmo tesão. Quando pensava em relações sexuais, em vez da habitual excitação, uma sensação de incômodo e ansiedade tomava conta dele.
— Tá legal, chega de falar do pau do Draco. — Pansy pegou sua bolsa do chão, retirando uma pilha de pergaminhos. — Trouxe sua tarefa de casa.
— O que? — Draco pegou a pilha de pergaminhos. — Tem tarefa de casa por uma semana aqui.
— Talvez seja porque você está há uma semana aqui?
Draco olhou para Pansy com os olhos arregalados.
— Uma semana? — ele perguntou incrédulo.
Impossível. Draco havia ido a ala hospitalar na manhã do dia anterior, não tinha como ter se passado uma semana, ele teria percebido, mesmo com os lapsos de memória.
Certo?
— Sim, Draco. — Pansy o olhou com uma mistura de confusão e preocupação. — Já é sexta-feira, você veio para cá na segunda.
Draco piscou algumas vezes, passando a mão pelo rosto.
— Acho que isso explica porquê você está aqui até agora. Tá mal ao ponto de não saber que dia é. — Blaise disse vendo a expressão confusa do amigo.
Draco encarou a coberta, passando a mão pelos cabelos e notando que estavam sujos e desarrumados, confirmando que, de fato, havia se passado mais tempo do que ele percebera.
— Draco, você está bem? O que você tem? — Pansy perguntou com preocupação.
— Estou bem, Pansy, não é nada. — ele disse com um suspiro.
Pansy e Blaise trocaram olhares preocupados.
Pansy suspirou.
— Bom, eu pedi para o Blaise pegar o meu livro de volta. — Pansy disse, retirando o livro da bolsa. — Eu vi que você não terminou de ler.
— Uhm, sim. Eu… Eu acabei me ocupando durante as férias.
— Tudo bem. — ela sorriu gentilmente e entregou o livro. — Pode ficar por mais um tempo. Ao menos você vai ter alguma coisa para fazer enquanto não sai daqui.
Draco pegou o livro.
— Tem certeza?
— Tenho. — ela sorriu pra ele. — Pode ficar o tempo que você precisar.
Draco não conseguia respirar, seu rosto pressionado com força contra o travesseiro. A sensação de sufocamento fazia seu coração bater ainda mais rápido e com mais força, aumentando sua necessidade desesperada de ar.
De repente, seus cabelos foram puxados com violência, permitindo que ele tomasse uma longa e profunda lufada de oxigênio. Seu corpo foi virado bruscamente, como um boneco de pano, e suas costas bateram contra o colchão. Draco piscou algumas vezes, desorientado. Ele olhou para o rosto de Voldemort, o homem com seu rosto a centímetros de distância do seu, um sorriso malicioso em seus lábios finos e pálidos.
— Eu adoro quando você se debate assim. Adoro quando tenta se esconder e fugir de mim, como um coelhinho assustado. — Voldemort sussurrou. — Você, um coelhinho, e eu, a raposa. — Draco sentiu algo pressionar contra a sua entrada.
Seu coração disparou em pânico, e seus olhos se arregalaram ao olhar para baixo, percebendo que estava completamente nu. Voldemort, por sua vez, já tinha o pênis exposto, prestes a invadi-lo. Draco tentou afastá-lo, mas teve os pulsos rapidamente presos acima de sua cabeça. Ele começou a se debater ainda mais freneticamente, seu estômago se revirando enquanto seu corpo era inundado por um terror paralisante.
— E a raposa sempre vai atrás do coelhinho. — Voldemort riu com diversão ao ver o pavor e desespero no rosto de Draco.
— Me solta… Por favor, me solta. — Draco implorou, as lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Isso, implore para mim! Eu adoro quando você me implora. Você não sabe o quão excitante isso é. — Voldemort passou a linguá pelo maxilar de Draco, saboreando o sabor de sua pele e do sal das lágrimas que escorriam até o travesseiro.
Voldemort se direcionou para os lábios de Draco, os selando.
— Não importa onde você se esconda, coelhinho, eu sempre vou te achar.
Draco se sentou na cama, os olhos arregalados olhando ao redor do leito. Seu estômago estava se revirando, e o ar parecia se recusar a entrar em seus pulmões, enquanto seu coração disparava cada vez mais rápido.
Apoiando-se nos cotovelos, Draco inclinou a cabeça para fora da cama e vomitou. Ele tossiu violentamente, tentando respirar, mas o sufocamento persistia. Seu corpo tremia incontrolavelmente, o medo causado por um sonho do qual ele não se lembrava apertando seu peito com força.
— Malfoy? Você está bem? — Draco olhou para o lado, vendo Potter parado na beira do leito, também usando o pijama da enfermaria.
Antes que ele pudesse mandar Potter para a casa do caralho, o enjoo o dominou novamente, e ele vomitou outra vez. Engasgava-se, incapaz de respirar, por mais que tentasse. A sensação de asfixia parecia se intensificar, consumindo-o.
Sentiu um puxão em seu ombro, forçando-o a se deitar novamente. Um frasco com uma poção de cor azul-clara foi levado aos seus lábios, e Draco bebeu a contragosto, mesmo engasgado. Tossiu quando o líquido desceu por sua garganta, mas, aos poucos, sentiu seu coração desacelerar, e sua respiração se normalizar. O pânico se dissipou gradualmente, sendo substituído por uma calmaria estranhamente induzida.
— Está tudo bem, Draco. Foi só uma poção calmante. — Draco ouviu a voz de Snape enquanto seus olhos permaneciam desfocados no teto da enfermaria. — Foi apenas um pesadelo. Você já irá voltar a dormir.
Draco realmente começou a sentir suas pálpebras pesadas, o medo, pânico e ansiedade deixando seu peito por completo, fazendo a sensação de sufocamento passar. Agora que sua mente estava mais clara, ele podia perceber o quão oprimido havia se sentido. A ansiedade e a angústia, que sempre estiveram ali, todo o dia, finalmente o soltaram, como se ele estivesse, pela primeira vez, livre desse fardo.
Quando esses sentimentos começaram? Como ele não havia percebido antes? E por que, de repente, estava tão angustiado?
Com os olhos já fechados, Draco sentiu as perguntas se afastarem de sua mente enquanto ele adormecia, seu corpo leve, como se estivesse boiando em água.
Draco encarava o número cinco em algarismos romanos no topo da página. Ele nunca havia passado do capítulo cinco. Pelo menos, ele não se lembrava de ter passado do capítulo cinco. Ele tem uma vaga sensação que não era a primeira vez que ficava encarando aquele número.
O sentimento de ansiedade e angústia voltou assim que ele acordou. A diferença é que agora ele estava ciente desses sentimentos, juntamente a um estranho desânimo. Sua percepção de tempo também havia piorado. Ele já não sabia mais há quanto tempo estava ali, ou o que tinha feito nas últimas horas. Acordava, tomava café e, quando olhava para a janela outra vez, o sol já havia se posto. Isso nos dias que ele se lembrava de olhar para a janela. Severus havia lhe dado um calendário, para que ele pudesse marcar os dias e não se sentisse tão angustiado, mas Draco tinha certeza que ele também se esquecia de marcar os dias, já que o calendário marcava 3 de setembro, mas as árvores do lado de fora da enfermaria já haviam perdido todas as suas folhas, dando a entender que já era por volta da metade de agosto.
Reclamando sobre não perceber as horas do dia, e sentir-se aflito por ter perdido o dia todo, ficando, muitas vezes, dias sem sequer tomar um banho, Severus também lhe deu um relógio de bolso com um sistema de alarmes personalizado, tocando um toque diferente para cada item que Draco deveria fazer durante o dia. Mas não funcionou. Draco não conseguia se lembrar o que cada toque queria dizer e, nas poucas vezes que conseguia se lembrar, sua noção de tempo se distorcia outra vez e em um piscar de olhos já haviam se passado horas e ele só percebia por conta do próximo alarme.
Os professores desistiram de mandar suas tarefas de casa, ou Severus havia lhes pedido que parassem. Não importava. De um jeito ou de outro, ele não se lembraria de fazer. E se lembrasse, Draco tentou de tudo para lembrar as informações dos textos para fazer as atividades. Grifar, escrever notas, fazer resumos, mas nada adiantava. Antes mesmo que conseguisse terminar de ler, ele se esqueceria.
Draco soltou um suspiro, esfregando o rosto com as duas mãos quando o relógio tocou. Olhando para o relógio, viu os ponteiros marcarem quatro da tarde. Draco forçou sua mente ao máximo para lembrar o que aquele horário significava, mas tudo o que conseguiu foi uma dor de cabeça.
Levantou o olhar ao perceber uma sombra parada ao pé de seu leito. Snape o observava, uma expressão de preocupação brilhando em seus olhos. Com calma, colocou algumas das roupas de Draco sobre a cama.
— Vista-se. É bom tomar um pouco de ar de vez em quando. — ele fechou as cortinas do leito.
Com um suspiro, Draco se levantou lentamente da cama, se esticando. Seus ossos estalaram, fazendo com que ele se perguntasse há quanto tempo ele não se levantava na cama. Sentia seu corpo cansado de tanto ficar parado.
Colocou suas roupas, sentindo-se aliviado por finalmente tirar aquele pijama desconfortável da enfermaria. Saiu de seu leito e seguiu Severus. Ambos ficaram em silêncio por muito tempo, até irem para o lado de fora do castelo. Draco sentiu o vento frio do outono bater em seu rosto. Puxou mais o cachecol, sentindo seu corpo tremer por completo.
— Draco, eu não tenho boas notícias. — Snape começou enquanto ficava ao seu lado e caminhava lentamente pela grama. — Eu e Madame Pomfrey estamos fazendo o possível, mas...
Draco olhou para o castelo enquanto andava, ignorando o leve burburinho ao fundo. Ele adorava o outono. Melhor que o outono, só o inverno. Ele gostava da neve, de brincar nela e de caminhar pelos terrenos da escola cobertos por ela. Achava que o castelo ficava lindo nessa época do ano. Gostava dos dias de nevasca, de se sentar na frente da lareira com uma xícara de chá ou chocolate quente, biscoitos ao lado, uma manta aquecendo suas pernas, e um bom livro nas mãos.
Ele observou a Floresta Proibida ao lado deles. Ele gostava de caminhar pelo extenso bosque que havia nos fundos de sua casa. Gostava das criaturas que encontrava pelo caminho, e se lembrava de gostar de caçar os insetos quando era criança. Seu pai detestava quando ele voltava com as roupas sujas e potes de vidro com furos nas tampas com insetos em seu interior. Draco sempre libertava os insetos depois de algum tempo observando-os.
A Floresta parece um bom lugar para caçar insetos. O castelo também. As rachaduras entre as pedras pareciam esconderijos perfeitos para aranhas.
— Eu sinto muito, Draco…
Eles pararam na entrada da Floresta Proibida. Draco olhou ao seu redor antes de encarar Severus de forma confusa.
— Tio Sev, onde nós estamos?
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