Ecos de Lembranças (Versão PT-BR)

Harry Potter - J. K. Rowling
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Ecos de Lembranças (Versão PT-BR)
Summary
Algo está errado. Draco Malfoy sente isso em cada passo que dá pelos corredores gelados da Mansão Malfoy. As sombras parecem mais longas, os sussurros mais próximos, e o peso de um segredo se arrasta pelos cômodos. As noites são inquietas, cheias de ecos que ele não consegue identificar, enquanto memórias nebulosas flutuam na beira de sua consciência.Há olhares que ele não entende, gestos não ditos e uma tensão silenciosa que ninguém ousa mencionar. Seus pais falam com ele como se estivessem sempre à beira de revelar algo terrível, mas recuam, como se o silêncio fosse a única coisa que os protege. Draco se pergunta se eles sabem o que está acontecendo com ele.E então, há Harry. Sempre ele, sempre presente nos momentos em que a realidade se distorce mais. Draco não sabe se é uma coincidência, uma provocação do destino, ou algo mais. O olhar de Potter atravessa suas defesas, o desafia, e ao mesmo tempo oferece um estranho consolo que Draco não consegue explicar. Há algo entre eles que nunca foi dito, mas que pulsa entre as sombras, algo que o puxa para mais perto, mesmo quando ele quer fugir. Talvez Harry veja o que ninguém mais vê. Ou talvez seja apenas mais uma peça do enigma que está se formando ao seu redor.
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Capítulo Três

Snape saiu da lareira a passos largos, ficando de frente para Narcisa. A mulher o observou por cima da xícara de chá.

           — Narcisa — comprimentou com um leve aceno de cabeça.

           — Severus. — ela retribuiu, abaixando a xícara até o piris. — A que devo a honra? Você não costuma vir no meio da semana. 

           — De fato. Venho como professor. Gostaria de falar com você e com Lucius a respeito de Draco. 

           — Draco? O que ele fez? Nunca fomos chamados para falar sobre ele. — Narcisa deixou a xícara na mesa de centro e fechou o livro em seu colo.

           — É mais sobre o que aconteceu com ele do que o que ele fez. 

           — Draco está bem!? — Narcisa empalideceu.

           — É o que eu gostaria de saber. — Snape deu uma olhada ao redor da sala. — Lucius está? 

           — No escritório. 

           Snape saiu da sala de estar acompanhado de Narcisa, caminhando para o andar de cima em direção ao escritório. Snape bateu uma vez na porta, escutando Lucius mandando-o entrar. 

           — Severus. — Lucius se levantou, dando a volta na mesa. — O que faz aqui? 

           — Ele quer falar sobre Draco. — Narcisa disse de forma nervosa, ficando cada vez mais aflita sobre o filho.

           — Draco? O que aconteceu?

           — Bom, — Snape começou — eu e os outros professores notamos que o desempenho de Draco tem caído significativamente. 

           — Como? Estamos apenas na segunda semana de aula!— Lucius franziu o cenho.

           — É o que eu gostaria de saber. Ele falhou em todas as poções que fez até agora e quase explodiu o caldeirão na aula de hoje. 

           — Draco nunca errou uma poção! Nem quando criança! — Narcisa disse apressadamente.

           — Exatamente. Pedi para que Draco ficasse um pouco após o fim da aula e ele me informou que tem tido dificuldade para lembrar das coisas. Ele mal sequer consegue lembrar o que acabou de colocar no caldeirão. Draco também me disse que ele tem tido uma… percepção diferente em relação ao tempo. — Snape não perdeu o olhar breve e discreto que Lucius e Narcisa compartilharam. — Eu o levei para a enfermaria e Pomfrey detectou sequelas de feitiços de memória. — Lucius e Narcisa encararam Severus em silêncio. — Feitiços esses que foram usados repetidamente. — outra pausa, a tensão na sala chegando a ser palpável. — Draco me disse que esses “sintomas”, começaram durante as férias. — Snape ouviu Narcisa engasgar.

           — Eu disse que isso faria mal a ele! 

           — Ciça!

           — Isso nunca foi uma boa ideia! Eu sabia que, cedo ou tarde, isso o afetaria! — Narcisa disse de forma apressada, atropelando as palavras, sua voz cada vez mais descontrolada.

           — Narcisa! — Lucius tentou controlá-la.

           Narcisa soltou um soluço.

           Sem desviar o olhar de Lucius, Snape ficou em silêncio por algum tempo.

           — Lucius, eu conheço você desde Hogwarts e conheço Narcisa desde que vocês se conheceram. Vi Draco nascer e, mais do que isso, participei ativamente de sua criação. Vocês me deram a honra de ser padrinho dele. Sei como vocês são com ele, sei que vocês nunca, jamais , em toda a eternidade , machucariam ele. — os olhos de Lucius começaram a brilhar com lágrimas contidas. — Não de propósito. Vocês o amam e sempre fazem o que acham ser o melhor para ele. Então me diga, Lucius: o que aconteceu? O que de tão terrível aconteceu que o levou a apagar tantas vezes a mente de Draco, mesmo sabendo das consequências?





Lucius sentou-se na beira da cama do filho, o olhar perdido enquanto observava Draco, que dormia sob o efeito de um feitiço. As lágrimas nublavam sua visão, e ele fazia o possível para não deixar que elas caíssem. Era difícil acreditar que algo assim tivesse acontecido com seu garotinho. Ele e Narcisa haviam acreditado que, ao satisfazerem todas as vontades do Seu Senhor, Draco estaria seguro de todo o mal.

           Lucius nunca quis que seu filho se envolvesse nisso. Ele não deixou de concordar com as ideias de Voldemort, mas realmente havia se arrependido de tudo o que fez. Ele não queria mais expor sua família, e muito menos Draco, a tamanho perigo. Seu filho era apenas uma criança; não deveria viver sob o peso do medo e da apreensão. E agora, algo ainda pior havia acontecido. Lucius daria tudo para ser ele, e não Draco, a sofrer as consequências. Sem hesitar, ele trocaria de lugar com o filho, se isso significasse protegê-lo de toda essa miséria.

           Com um suspiro cansado, olhou para o garoto ao seu lado. Sua mão, com delicadeza, deslizou pelos cabelos loiros de Draco, em um carinho cheio de ternura. O garoto não se moveu, alheio ao mundo ao seu redor, mergulhado em um sono profundo e sem sonhos, ainda que estivesse na metade do dia. Lucius temia desfazer o feitiço. Na noite anterior, Draco estava em completa histeria; chorando, gritando, se debatendo, chutando o pai quando ele tentava se aproximar. Enfeitiça-lo para dormir havia sido a única maneira de acalmá-lo.

           Respirando fundo algumas vezes, Lucius acabou com o feitiço, encarando Draco sem piscar. O filho levou alguns minutos até acordar, os olhos ainda desfocados, sua mente voltando do feitiço aos poucos.Com um gesto cuidadoso, Lucius acariciou o ombro do filho. 

           Era o que temia. 

           Draco se encolheu imediatamente, afastando-se do toque, os olhos cinzentos arregalados de pavor ao encarar o pai.

           — Draco… — tentou se aproximar. O filho pulou da cama, recuando até a parede. Ele ficou de pé em um canto, tremendo, os ombros curvados em completa defensiva.

           Pai e filho se encararam por um momento até que as lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Draco outra vez. O mais novo se agachou, levando as mãos até os cabelos, os agarrando com força enquanto abaixava a cabeça e apoiava a testa nos joelhos. Draco puxava os cabelos com tanta força que seu couro cabeludo começou a doer. 

           — Filho! — Lucius foi até o menor, se ajoelhando ao seu lado e segurando seu ombro.

           — NÃO TOCA EM MIM! — Draco gritou, levantando a cabeça. Seus olhos estavam cheios de desespero, as lágrimas manchando seu rosto, e os cabelos desgrenhados lhe davam uma aparência quase maníaca.

           O grito do filho fez Lucius levantar e recuar rapidamente. Draco voltou a abaixar a cabeça, gritos angustiados ecoando pelo quarto misturados aos soluços incontroláveis.

           — Draco! Draco, pare com isso! — Lucius disparou para o filho outra vez quando ele começou a bater com os punhos na própria cabeça. Ele agarrou os pulsos do filho com firmeza. — Pare com isso, Draco, você vai se machucar! 

           — NÃO! ME SOLTA! EU NÃO QUERO! EU NÃO QUERO ISSO DE NOVO! ME SOLTA! — Draco virou o corpo para a parede, escondendo o rosto no canto e soluçando alto, tentando desesperadamente soltar os pulsos das mãos do pai. Quando conseguiu se libertar, envolveu os braços ao seu redor, se encolhendo o máximo possível e repetindo “eu não quero isso” em um sussurro desesperado, como um mantra. 

           Lucius sentiu seu peito apertar e seu estômago revirar. Tremendo, ele pegou a varinha e a apontou para o filho, os dedos vacilando enquanto sussurrava o feitiço debaixo da respiração trêmula. Em poucos segundos, os soluços de Draco cessaram, seu corpo parou de tremer, e ele se entregou novamente ao sono profundo e mágico. Lucius soltou o ar que nem havia percebido estar segurando.

           Seu corpo congelou enquanto ele olhava para o filho enfeitiçado. 

           Céus, o que ele iria fazer? O filho sequer suportava sua presença. 

           Com cuidado, pegou o garoto nos braços, deitando sua cabeça em seu ombro enquanto o colocava de volta na cama. Com toda a gentileza, cobriu-o e voltou a se sentar ao seu lado. Seus dedos, trêmulos, voltaram a acariciar os cabelos loiros de Draco.





As lágrimas escorriam pelo rosto de Lucius, assim como Narcisa. Ele já não se importava mais em esconder suas emoções. 

           Ele havia tentado acordar o filho mais duas vezes naquele dia, mas, em ambas, Draco voltara a ficar completamente fora de controle. Em um dos acessos de histeria, Draco se machucara gravemente, batendo contra a janela e quebrando o vidro, o que resultou em um corte profundo em seu braço, que sangrava descontroladamente.

           Snape matinha os olhos arregalados, seu corpo rígido e tenso. Ele sempre soubera da crueldade de Seu Senhor, mas mesmo assim, o choque o atingiu em cheio. Voldemort, além de ser um sádico implacável, era também um pedófilo e um estuprador. Talvez o espanto de Snape não estivesse no ato em si, mas no fato de que havia acontecido com Draco.

           — Eu implorei para que ele deixasse Draco em paz… Céus, Draco implorou para ser deixado em paz! — Lucius falou com a voz embargada. — Eu não conseguia acalmá-lo e tinha medo que ele tentasse alguma besteira, o melhor que eu poderia fazer era apagar sua memória!

           — Quantas vezes isso aconteceu? — Snape sabia que para ter um efeito como aquele o feitiço precisaria ser usado diversas vezes e em espaços de tempo curtos, indicando que isso não aconteceu nem uma, nem duas, nem três vezes, mas várias.

           Lucius vacilou, precisando de alguns segundos para encontrar sua voz novamente.

           — Todos os dias, desde o começo das férias.

           — Que merda! — Snape sussurrou, passando a mão pelo rosto. — São dois meses… 

           — Mas tem o que fazer, não é, Severus? — Narcisa se aproximou, o desespero evidente na sua voz e expressão. — Isso tem cura, certo? Draco vai ficar bem, não vai?

           Snape encontrou os olhos dela, mas sua voz hesitou.

           — O melhor que poderíamos era reverter o feitiço de esquecimento. Mas isso não mudaria muita coisa, além de devolver o trauma. Sua mente já está danificada demais para ser completamente curada.

           Narcisa desabou, enterrando o rosto nas mãos e chorando alto. Lucius a abraçou com força, tentando oferecer algum conforto, mas estava tão despedaçado quanto ela.

           — Por que isso está acontecendo com o nosso filho? Por que isso está acontecendo com o meu bebê? — ela chorava nos braços do marido.

           Snape respirou fundo, engolindo o nó que se formava em sua garganta.

           — Vamos manter os feitiços e tentar trabalhar com ele assim. Não vale a pena trazer isso de volta para sua mente. O trauma só vai piorar tudo.

           — Severus…, ele vai ficar bem? — Lucius perguntou.

           Snape olhou em seus olhos por longos segundos.

           — Tudo o que posso prometer é que farei tudo que estiver ao meu alcance.

 

 

 

OUTRA(S) FIC(S):

O Fogo da Fênix - Harry Potter: https://archiveofourown.org/works/60382129

Ao Amanhecer - Avatar: https://archiveofourown.org/works/47670538

 

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Vejo vocês no próximo capítulo!

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