Ecos de Lembranças (Versão PT-BR)

Harry Potter - J. K. Rowling
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Ecos de Lembranças (Versão PT-BR)
Summary
Algo está errado. Draco Malfoy sente isso em cada passo que dá pelos corredores gelados da Mansão Malfoy. As sombras parecem mais longas, os sussurros mais próximos, e o peso de um segredo se arrasta pelos cômodos. As noites são inquietas, cheias de ecos que ele não consegue identificar, enquanto memórias nebulosas flutuam na beira de sua consciência.Há olhares que ele não entende, gestos não ditos e uma tensão silenciosa que ninguém ousa mencionar. Seus pais falam com ele como se estivessem sempre à beira de revelar algo terrível, mas recuam, como se o silêncio fosse a única coisa que os protege. Draco se pergunta se eles sabem o que está acontecendo com ele.E então, há Harry. Sempre ele, sempre presente nos momentos em que a realidade se distorce mais. Draco não sabe se é uma coincidência, uma provocação do destino, ou algo mais. O olhar de Potter atravessa suas defesas, o desafia, e ao mesmo tempo oferece um estranho consolo que Draco não consegue explicar. Há algo entre eles que nunca foi dito, mas que pulsa entre as sombras, algo que o puxa para mais perto, mesmo quando ele quer fugir. Talvez Harry veja o que ninguém mais vê. Ou talvez seja apenas mais uma peça do enigma que está se formando ao seu redor.
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Capítulo Dois

Draco se sentou no sofá em sua sala de descanso, colocando o livro no colo e abrindo no capítulo cinco que ele havia deixado marcado. Pegou a xícara de chá da mesa de centro à sua frente, tomou um gole e imediatamente franziu o cenho. O chá estava completamente frio. O elfo doméstico havia acabado de trazê-lo, como poderia estar assim? Ele bufou em irritação.

           — Aquele imbecil não consegue nem fazer um chá decente? — murmurou, quase chamando o elfo, mas algo o fez parar.

           Seus olhos percorreram o cômodo e pararam na janela, vendo o céu noturno lá fora.

            Céu noturno? 

            Deixou o livro de lado e se levantou, indo até a janela e a abrindo, olhando para fora. Estava completamente escuro. Como aquilo era possível? Ele havia acabado de se sentar para o chá da tarde, como poderia estar tão escuro? 

            Draco saiu da janela quando ouviu uma batida em sua porta. 

            — Entre. 

            Ele viu sua mãe abrindo a porta com cuidado e entrando.

            — Draco, querido? Você está bem, meu amor?

            — Sim, mãe, estou ótimo. Por quê?

            — Você não foi jantar e não veio à biblioteca. — ela disse gentilmente e com uma expressão estranha em seu rosto. Preocupação? Mas com o quê?

            Draco perdeu a hora do jantar? E por que ele iria à biblioteca?

            — Perdão, eu me distraí e perdi a hora. Biblioteca? — Draco perguntou com confusão. 

            A expressão de Narcisa vacilou por um momento antes de voltar ao seu disfarce. 

            — No almoço, você disse que iria para a biblioteca comigo e com seu pai para um pouco de xadrez à noite. — ela disse calmamente, sua voz parecendo vacilar por um momento.

            Draco franziu a testa. Ele não se lembra disso. Ele buscou em sua mente, mas não conseguia lembrar. Fazia algumas semanas que ele começou a ter esses lapsos de memória e essa falta de noção do tempo. Não era a primeira vez que ele perdia a hora do jantar, almoço ou chá da tarde por não perceber o tempo passando. Também não era a primeira vez que ele esquecia de algo que havia acontecido no mesmo dia.

            — Ah, sim. Perdão. Eu já estou indo. — ele disse sem jeito.

            Sua mãe sorriu gentilmente para ele, se aproximando e segurando seu rosto com uma das mãos e beijando sua testa com carinho antes de sair. 

            Draco ficou um tempo parado no lugar, olhando o relógio de pêndulo. Nove da noite. Ele podia jurar que eram quatro da tarde. Ele nem leu uma palavra sequer do próximo capítulo do livro. Anna Karênina. Um romance trouxa que Pansy havia lhe emprestado para ler durante as férias. Bom, ele deveria ter lido durante as férias. Mas, por algum motivo, ele não havia saído do quinto capítulo e amanhã ele já deveria voltar para Hogwarts.

            Draco piscou os olhos do livro para o relógio, vendo-o marcar nove e quarenta e cinco. 

            — De novo!? 

            Que merda estava acontecendo? Será que era hora de buscar um curandeiro? Ou era apenas estresse? Ter Voldemort em sua casa estava realmente estressando toda a sua família. Draco sentia-se mais vulnerável a cada dia. Draco detestava ficar perto do Senhor das Trevas. Ele começava a sentir um sentimento de completo terror e pânico cada vez que aquele homem estava no mesmo ambiente que ele. Ele sabia das histórias, da crueldade daquele homem, e sua aparência assustadora não ajudava em nada, mas Draco não imaginava que ele seria tão afetado a esse nível. 

            Saiu de seu quarto e foi para a biblioteca no andar debaixo. Ele se aproximou da porta entreaberta, deixando a luz fraca iluminar o corredor escuro. 

            — Ele está piorando, Lucius! — Draco ouviu a voz afilta de sua mãe. Parou atrás da porta, ficando quieto e escutando. — Esse não é um feitiço para ser usado tantas vezes na mesma pessoa!

            — Eu sei, Ciça! Mas é a última vez! Ele vai embora amanhã e eu vou dar um jeito de ele não voltar. Isso nunca mais vai acontecer e ele vai ser capaz de se curar desses lapsos. 

            — E se ele se lembrar? 

            — Não vai. Vai ficar tudo bem. Ele vai ficar bem.

            Draco franziu a testa, se perguntando de quem eles estavam falando. Seria ele? Não, impossível. Seus pais nunca usariam um feitiço nele se isso fosse o prejudicar. 

            Bateu na porta, abrindo ela lentamente e espiando para dentro. 

            — Draco, querido! — Narcisa forçou um sorriso, um olhar nervoso e preocupado. 

            Draco se sentou com seus pais por algum tempo, os três revezando no tabuleiro de xadrez para jogar com o ganhador da partida anterior. Quando já era por volta das onze, Draco começou a se sentir realmente cansado. Ele se levantou, pedindo licença aos pais.

            — Ah, não, meu amor! — o tom de sua mãe o assustou. — Só mais uma partida.

            — Eu adoraria, mãe, mas estou com bastante sono…

            — Por favor, querido. — sua mãe o interrompeu. — Só mais uma e eu deixo você ir. — ele pediu, aflição escapando em sua voz por um momento.

            Draco mordeu o lábio inferior.

            — Vamos, Draco, você conhece a sua mãe. — Lucius disse colocando uma mãe em seu ombro, sorrindo para ele. — Ela não vai desistir.

            Draco soltou um suspiro derrotado.

            — Tudo bem. Mais uma.

            Ele se sentou no sofá outra vez, sua mãe sorrindo de forma aliviada.





Draco ficou até de madrugada jogando com seus pais, até que ele adormeceu no sofá da biblioteca mesmo. Ele não conseguiu entender por que seus pais estavam tão empolgados em jogar xadrez naquela noite, eles nunca ficavam acordados até tão tarde como na noite anterior.

            Draco foi acordado por Narcisa para o café da manhã na manhã seguinte. Havia um cobertor o cobrindo e uma almofada em sua cabeça que ele tinha certeza que não estavam ali na noite anterior. Ao olhar para o outro sofá e para uma das poltronas, percebeu que seus pais também pareciam ter dormido ali, considerando as cobertas deixadas nos assentos.

            Mais tarde, todos foram para a estação 9 ¾ para que Draco pegasse o Expresso Hogwarts para seu quinto ano. Pansy deixou que ele ficasse com o livro por mais algum tempo, para que ele pudesse terminar de ler. A viagem pareceu levar menos tempo do que o normal, assim como a cerimônia para a seleção das casas, que parecia ter menos alunos do que de costume. 

            As duas primeiras semanas de aula foram conturbadas. Draco tentava se concentrar nas aulas, mas havia muitas vezes que ele piscava para seu caderno e, quando ele percebia, todos já estavam se levantando para a próxima aula e um de seus amigos tinha que chamá-lo, caso contrário, ele ficaria lá, sentado e olhando para o nada. Seus cadernos estavam praticamente vazios ainda por conta desses lapsos. Sem contar a lição de casa que ele simplesmente não conseguia lembrar, não importa o que ele fazia, e isso estava fazendo seu rendimento cair logo do começo do ano.

            Até em poções. Draco havia estragado todas as poções que fez até agora e quase explodido um caldeirão. Ele nunca havia feito algo do tipo em sua vida! Mas ele não conseguia se lembrar dos ingredientes que haviam sido colocados ou não. Ele tentou listar todos os ingredientes e passo a passo, marcando o que já havia sido feito, mas, aparentemente, em algum momento ele se esquecia de marcar o que já havia feito e estragava tudo.

            Depois de arruinar a terceira poção consecutiva, Snape parecia ter perdido a paciência.

            — Senhor Malfoy, peço que fique para trás por um momento. — Snape disse olhando diretamente em seus olhos.

            Draco permaneceu em sua mesa enquanto os outros saiam, lhe lançando olhares de diversão. Quando estavam sozinhos, Snape se aproximou, sua expressão impassível de sempre. 

            — Draco, tenho percebido e recebido reclamação de outros professores em relação a sua atenção. Posso perguntar o que está acontecendo? 

            Draco desviou o olhar de Severus por um momento.

            — Eu não sei. Tenho tido esses lapsos ultimamente. — ele admitiu. Snape levantou uma das sobrancelhas.

            — Esses… lapsos…? Você poderia ser mais claro, Draco? 

            — Eu não sei ao certo… O tempo passa de forma estranha. Quando percebo, já se passaram horas, mas, para mim, parece que não se passou nem um minuto. E… E eu não consigo me lembrar das coisas. Compromissos, deveres de casa, quais ingredientes eu coloquei no caldeirão… — Draco olhou por cima dos cílios para Severus. 

            Snape lhe escaneou de cima a baixo, o cenho franzido.

            — Isso é… recente?

            — Faz um tempo. Começou nas férias. 

            — Aconteceu algo? Algum ferimento? Alguém lançou um feitiço em você?

            Draco franziu o cenho por um momento, pensativo. Ele não consegue identificar quando isso começou exatamente.

            — Não… Não, eu acho que não. 

            — Você viu um curandeiro? — Draco negou com a cabeça. — Draco, seus pais sabem? 

            — Eu acho que eles podem suspeitar. Mas eu não falei nada para eles.

            — E por que não?

            — Não achei que fosse algo importante. E eu não queria preocupar a mamãe, você sabe como ela é.

            — Narcisa se preocupa com você justamente por esse tipo de coisa. Venha. Vamos a enfermaria. — Snape se dirigiu a porta.

            — Eu não acho que… — Draco começou a protestar, mas foi interrompido por um olhar severo de Snape, o que fez Draco mudar de ideia imediatamente. — Tudo bem. — Draco se levantou do banco, seguindo Snape até a enfermaria. 





— Professor Snape. Que bom que está aqui, eu preciso repor algumas poções.

            — Farei a poção que você quiser, Pomfrey, mas, por agora, necessito dos seus serviços.

            — Aconteceu alguma coisa?

            Snape saiu da frente da porta, revelando Draco atrás dele.

            — Senhor Malfoy. O que houve? — Pomfrey se levantou de sua mesa, dando a volta nela e se aproximando de Draco. 

            O loiro olhou para seu professor, recebendo um aceno de cabeça como incentivo. 

            — Uhm… Bem… — Draco mordeu o lábio inferior antes de começar a explicar toda a situação.

            Pomfrey ouviu atentamente, franzindo o cenho, pensativa.

            — Caso curioso, Senhor Malfoy. Venha, vamos dar uma olhada em você. 

            Draco foi guiado até uma cama. Ele colocou sua bolsa com os livros no chão e sentou na cama, com as costas apoiadas no travesseiro e as pernas esticadas. Snape permaneceu a uma certa distância da cama, acompanhando Draco, mas deixando que Pomfrey trabalhasse.

            A enfermeira passou sua varinha pelo corpo de Draco, recitando uma série de encantos. Após alguns encantos de diagnóstico, um pergaminho apareceu na mão de Pomfrey, listando quaisquer ferimentos ou anormalidades. A enfermeira franziu o cenho, voltando com sua varinha para a cabeça de Draco, lançando mais alguns feitiços de diagnóstico. Outro pergaminho surgiu em suas mãos.

            — Senhor Malfoy, você ou alguém fez o uso de encantos de esquecimento? — ela perguntou com um olhar afiado para Draco.

            Draco lhe olhou com confusão. Por que ele ou alguém lhe lançaria qualquer feitiço de esquecimento?

            — Não, senhora. Por quê? 

            A mulher não respondeu. Ela virou as costas e foi até o professor Snape, sussurrando algo para ele. Draco soltou um suspiro, jogando a cabeça para trás enquanto Snape e Pomfrey estavam em alguma discussão aos sussurros. Depois de alguns minutos, Snape deixou a enfermaria e Pomfrey voltou para ele.

            — Vá para seu quarto, deixe suas coisas lá e volte para a enfermaria, Senhor Malfoy. Irei preparar um leito.

            — Um leito?

            — Sim. Quero que você passe a noite aqui. Gostaria de mantê-lo em observação. 

            — Isso é mesmo necessário? Eu mal terminei as aulas do dia.

            — Sim, Senhor Malfoy! — a enfermeira disse firme. — Não se preocupe com as suas aulas, o Professor Snape informará aos outros professor. Agora vá! 

            Draco soltou um suspiro exasperado. Levantou-se, pegou sua bolsa e se dirigiu ao dormitório. O castelo estava vazio, com todos os alunos em suas aulas, e Draco caminhava distraído, olhando para o chão.

            Ele detestava passar a noite na enfermaria. E por que ele não podia ao menos terminar as aulas do dia? Ele já estava atrasado em comparação aos outros, faltando às aulas, aí sim que ele nunca iria conseguir acompanhar os demais. 

            Draco levantou os olhos, seus pés parando no meio do corredor de repente.

            Onde ele estava? 

            Ele não podia ter se perdido. Já conhecia Hogwarts bem o suficiente para que isso não acontecesse mais.

            Ele havia errado alguma curva? Draco virou as costas, voltando por onde ele veio, apenas para ver que ele havia parado em outro corredor que ele não sabia onde era. Olhou para as portas ao redor, abrindo uma e encontrando uma sala de aula sem uso. Ele definitivamente foi pelo caminho errado. Ele voltou outra vez. Caminhando por cinco minutos, ele parou e olhou em volta outra vez. Abriu outra porta, apenas para dar de cara com a mesma sala de antes.

            — Mas que merda! Eu estou andando em círculos!? — ele fechou a porta com força, voltando pelo corredor a passos pesados.

            Ele levou o triplo de tempo para chegar à sala comum da Sonserina. 

            — Eu estou enlouquecendo…? Que merda foi essa…? 

            Draco parecia andar em círculos. Ele seguia o caminho contrário apenas para voltar para o ponto de partida. Aquilo nunca havia acontecido com ele.

            Jogou a bolsa com livros na cama e tirou o roupão preto e a gravata, jogando ao lado da bolsa. Ele sabia que Pomfrey pediria para que ele colocasse aqueles pijamas desconfortáveis da enfermaria. Ele odiava aqueles pijamas.

            Ao menos, Draco não se perdeu na volta para a enfermaria, apesar de ter levado uma bronca da enfermeira por ter demorado tanto. Como ele imaginava, lhe foi pedido para que trocasse o uniforme pelo pijama que o esperava na cama. Contra sua vontade, ele se vestiu e sentou na cama, puxando a coberta sobre suas pernas, suspirando e olhando pela janela.

 

 

 

OUTRA(S) FIC(S):

O Fogo da Fênix - Harry Potter: https://archiveofourown.org/works/60382129

Ao Amanhecer - Avatar: https://archiveofourown.org/works/47670538

 

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Vejo vocês no próximo capítulo!

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