Burns Like the Cold

Harry Potter - J. K. Rowling
M/M
G
Burns Like the Cold
Summary
A luz da lua que inundava a Torre de Astronomia fazia o cabelo de Malfoy parecer como se usasse uma auréola. Seu rosto, fino e pontudo, encarava o horizonte de uma forma distante e vazia e a brisa fria fazia suas bochechas corarem em um tom de vermelho que lembrava Harry de que ele não era um fantasma.Harry juntou suas mãos, seus dedos enlaçando uns nos outros se batiam de forma ansiosa e suas palmas suavam e formigavam com o efeito da Felix Felicis passando.De repente ele sentiu uma pontada, uma ideia, e antes que seu cérebro pudesse questionar se aquilo era de fato prudente, sua boca já havia formulado as palavras.— Faremos Votos então.E Malfoy olhou pra ele como se fosse louco.
Note
eu postei essa fic primeiro em inglês porque não pretendia postar em português, já que não tem tantos brasileiros nessa plataforma. Bem, isso era o que eu pensava kkkkkkksobre a fic: ela se passa no sexto livro, mas dessa vez talvez Draco mude seus planos e só direi isso >:)quero dizer também que não concordo nem um pouco com o que a transfóbica Rowling fala, por mim ela poderia apodrecer e morrer de uma vez. Dito isto, aproveitem a fic :)
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Harry

O Beco Diagonal já não era mais o mesmo.

Na verdade, nada parecia mais o mesmo.

Nem Hogwarts tinha mais a mesma magia de antes e agora, no trem de volta, Harry pode perceber isto.

A conversa mais cedo com Hermione e Ron sobre Malfoy ainda tinha um gosto amargo em seu paladar, permeando em sua mente como algo incansável; incessante.

Ele se inclinou para o corredor do vagão, olhando para trás para observar Malfoy. O loiro estava com um dos braços apoiando o queixo enquanto via Pansy e Blaise conversarem avidamente. Em dado momento Malfoy se direcionou para a janela, não parecia mais dar atenção ao que Parkinson falava tão animadamente e agora apenas contemplava a paisagem que era deixada para trás rapidamente.

Harry pôs uma das mãos no casaco, o pó que havia comprado nos gêmeos Weasley ainda estava lá. Ele o segurou forte e, se voltando para Malfoy novamente, seus ossos congelaram por um breve instante.

Malfoy o olhava por cima de seu ombro, em seguida se voltando para a janela mais uma vez.

— Harry?

— Preciso de um ar. — Se levantou, sem dar tempo de questionamento por parte de seus amigos.

Ele desviou de diversos alunos, garantindo que sua capa da invisibilidade estivesse consigo. Mantinha os olhos fixados no vagão de Malfoy, o Pó de Escuridão Instantânea que havia comprado na loja dos gêmeos Weasley, apertado com força em sua mão direita, se remexia quase vivo e transbordara um pouco por seus dedos. Mais adiante, atrapalhando a passagem, se encontravam Ginny e Dean rindo de algo que Luna falava animada e Harry tentou não se sentir culpado ao perceber que teria de arremessa-lo daquele ponto em diante.

De repente, todos os vagões daquele ponto escureceram, vozes confusas eram ouvidas por todos os lados e Harry se pôs debaixo de sua capa, passando esguio por todos até estar ao lado do assento de Malfoy.

Tão rápido quanto escureceu, logo o pó se dissipou no ar, dando o ar das graças da visão novamente. Malfoy se alarmou, levantando a cabeça e olhando para os lados.

— O que...? Blaise?

— Deve ter sido só os alunos do primeiro ano. — Assegurou Pansy, voltando a falar sobre qualquer futilidade que estivesse antes.

Malfoy se afundou novamente em seu assento, voltando os olhos para a janela, agora com uma cara não muito contente. Ele olhou um tanto suspeito para o corredor e Harry pode jurar que ele havia olhado diretamente para ele, o que fez seu sangue gelar por um segundo.

Ele tratou de se acomodar no maleiro, o mais confortavelmente que conseguiu e já pretendia seguir toda a viagem espremido entre diversas bagagens. Confirmando que ninguém o notaria, ele tentou se inclinar um pouco para ouvir melhor o que Malfoy diria, mas para o seu infortúnio, ele empurrara uma das maletas que cairiam estrondosamente no chão se ele fosse um segundo mais devagar em segurá-las. As colocou de volta em seu lugar e seguiu com todas as preces para que ninguém o tivesse notado ali.

E ninguém realmente viu. Isso era uma certeza. Claro, não contando com afiados olhos cinzas azulados que Harry certamente não notara que encaravam aquele pequeno canto do maleiro com seriedade.

— ... Então, o que acha Draco? — Perguntou Parkinson, olhando debochada para o amigo.

— O quê? — O loiro se virou para os dois à sua frente, sua expressão se tornando de tédio mais uma vez.

— Arg! Você realmente não ouviu nada do que eu falei?

Ele deu de ombros, observando a paisagem através da janela.

— O que há com você, hein? Está assim o ano todo. Não ouve, não fala. Sempre preso nessa linda cabeça loira. — Ela o deu um peteleco na testa, fazendo o loiro fechar a expressão enquanto esfregava o local brevemente agredido.

Harry revirou os olhos por baixo do manto, querendo vomitar só de vê-los conversar ali.

— Não sei do que você está falando, Pansy. — Se voltou para a janela.

— Eu te escrevi o verão todo! E Blaise também! E você mal respondeu uma única carta. — Ela se virou para o amigo do seu lado que também deu de ombros.

— Não foram tantas vezes, mas você realmente anda meio estranho, Draco, isso é inegável. — Disse, olhando interrogativo para o loiro.

Malfoy suspirou.

— Digamos que vocês não vão mais me ver aqui no verão que vem.

Os dois se entre olharam, parecendo mais confusos do que antes, mas desistindo de continuarem interrogando Malfoy. Aquilo certamente não levaria a nada.

A viagem que se seguiu ali foi deveras desconfortável para Harry. Hora ou outra, ele se remexia entre os solavancos do trem, tentando achar uma posição mais confortável e sempre tomando cuidado para não derrubar as malas restantes em cima dos colegas.

Depois de certo tempo, Harry deixou de realmente prestar atenção ao que o trio falava. Na grande maioria das vezes ele se deparava, na verdade, com as fofocas mais quentes da escola do que realmente informações que pudessem comprovar sua teoria. Talvez Zabini e Parkinson não tivessem envolvimento com os Comensais da Morte, pensou, mas certamente deveriam saber uma coisa ou outra sobre Malfoy que o ajudaria. Afinal, eles eram seus melhores amigos, não é?

Pelo menos pareciam ser.

Malfoy também não falava muito, Harry notara. Ou pelo menos ele havia deixado de falar. Durante a viagem ele raramente se envolvia no assunto abordado, normalmente por Pansy, e mais ouvia seus amigos falarem do que realmente opinava, ou pelo menos fingia que ouvia. Na maior parte do tempo ele ficava, como Parkinson havia dito, preso em seus próprios pensamentos. Fosse olhando a paisagem, ou fazendo pequenas estrelinhas flutuantes sobre a mesa que giravam no eixo da ponta de sua varinha à medida que ele a mexia levemente.

Em dado momento, Malfoy ficou sozinho em sua mesa.

Parkinson havia saído para conversar sobre o que quer que fosse com outras das garotas da Sonserina, enquanto Blaise sumira em meio aos vagões em seus próprios objetivos e, quando se viu brevemente livre de seus amigos, Malfoy sacou um livro de uma bolsa ao seu lado e começou a lê-lo com afinco.

Harry até tentou se esticar mais para olhar o conteúdo do livro, mas sem sucesso; estava longe demais. Então, ele tentou olhar para a capa que Malfoy cobria com uma das mãos, da qual segurava o livro, e percebeu o que pareciam estrelas em um céu noturno.

Sem muito mais o que fazer, Harry se manteve ali, observando atentamente ao que Malfoy lia com aptidão.

Uma coisa muito recorrente, ele pôde observar, era que Malfoy tinha muitas manias enquanto lia.

Sua perna balançava ansiosa em determinado momento, mas parava assim que ele colocava uma das mechas loiras atrás da orelha para não atrapalhar sua visão. Ele também mordia as unhas, não as roía ou quebrava, nunca, mas sempre as levava entre os dentes em algum momento. Se esticava muito também, sempre mudando para uma posição que julgasse mais confortável que a anterior e repetia esse ciclo inconscientemente.

Então ele fechou o livro, o marcando com um marcador de texto vermelho e o guardou. Respirou fundo, pendendo a cabeça para trás, deixando com que seu pescoço se acomodasse na quina do assento e fechou os olhos.

Harry observou aquilo com certa curiosidade. Com toda a certeza do mundo ele pagaria muito caro para saber o que estava passando na cabeça de Malfoy naquele momento. Talvez falar a língua das cobras não fosse o suficiente para aquela em específico.

A viagem se encerrou nisto. Em algum momento, que Harry com certeza não se lembrara qual, Parkinson e Zabini haviam voltado para seus lugares originais e mantido uma breve conversa da qual não pode absorver muita coisa.

Já havia escurecido, ele percebeu, e o trem estava parando. Ele pode ouvir, dentre as muitas vividas vozes de todas as diferentes idades, Hermione e Ron perguntando sobre seu paradeiro, a qual nenhuma das respostas foi satisfatória aparentemente.

Os muitos alunos agora haviam descido, deixando o trem com um aspecto um tanto sombrio.

— Vamos. — A voz de Zabini pôde ser ouvida ao que ele se levantara para deixar o vagão junto a Parkinson.

— Vão na frente, eu vou depois. — Malfoy disse, certa rispidez pode ser notada em sua voz.

Os dois não questionaram, apenas seguiram para os seus devidos destinos e deixaram Malfoy ali “sozinho”.

Malfoy se levantou, fechando a porta do vagão atrás dele e todas as cortinas que pode com um chacoalhar de varinha.

— Sua mãe nunca ensinou que bisbilhotar é feio, Potter? — Ele se virou, apontando a varinha para o maleiro onde Harry se encontrava — Petrifi...

— Expelliarmus! — Harry brandou, rapidamente se retirando debaixo de sua capa e pulando do maleiro para ficar em pé no vagão. A varinha de Malfoy voou para entre os assentos da sua esquerda e Harry manteve sua varinha apontada na direção de Malfoy. — Não ouse falar dela, ela não é um verme como você e seu pai. — Sibilou, cuspindo as palavras para o loiro da forma mais nociva que conseguiu.

Os olhos de Malfoy brilhavam, ele percebeu, brilhavam de raiva e ódio junto de sua expressão, que não podia deixar de transparecer outra coisa. E Harry gostou, ah como ele adorou ver Malfoy daquele jeito tão sensível e completamente indefeso.

Malfoy mostrou os dentes, quase como um cão avisando para não se aproximar, e Harry sorriu de canto, debochando de sua raiva.

— AAAAHH!! — Brandou o loiro, avançando até Harry apenas com as mãos, o derrubando ao chão com toda força que pôde.

Harry não conseguiu reagir a tempo antes que Malfoy o derrubasse, o que fez o loiro ficar por cima dele e não restou muito a Harry a não ser desviar de um soco que iria lhe ser depositado.

Ele tentou apontar sua varinha em direção a Malfoy, que rapidamente empurrou sua mão de volta para o chão, fazendo um flash acinzentado atingir as paredes do vagão e suas janelas brilharam brevemente.

Ele colocou força sobre o pulso de Harry, que não teve outra escolha a não ser soltar sua própria varinha. Harry olhou com ódio para Malfoy e cerrou o punho, depositando um soco ao lado direito do rosto de Malfoy, que pendeu para o lado e Harry se aproveitou disso para dessa vez ficar por cima.

Não foi um soco muito forte, ele lamentou, seu punho esquerdo não tinha força o suficiente para de fato machucar Malfoy, mas foi o suficiente para desconcertá-lo por um segundo. Pressionou os braços de Malfoy contra o piso de carpete carmesim do trem e olhou diretamente para ele, que tentava se desvencilhar de Harry o quanto podia, os olhos azuis acinzentados brilhando em pura raiva.

— Não se preocupe com o seu papai, Malfoy, você já vai fazer companhia para ele! — cuspiu, vendo Malfoy parar por um segundo de se remexer para olhá-lo diretamente, a sua respiração se tornando cada vez mais irregular.

Harry olhou para sua varinha, estava só um pouco acima da cabeça de Malfoy. Ele largou os seus pulsos e avançou em direção a ela, caindo ao lado do corpo de Malfoy que rapidamente tratou de se jogar sobre Harry novamente, avançando para as suas mãos para tomar a varinha mais uma vez.

Harry mirou, ou pelo menos tentou mirar para Malfoy, que tirou a ponta da varinha de seu raio de acerto e mais um flash de luz apareceu, dessa vez em direção ao teto do vagão.

Malfoy investiu um soco contra o quadril de Harry, que gemeu de dor, enrijecendo os músculos do seu abdômen. Harry cerrou os dentes, tentando afastar o loiro com as pernas enquanto Malfoy tentava alcançar sua varinha.

— Você vai pagar por isso, Potter! Por sua causa, meu pai está na cadeia!

— Onde é o lugar dele! — Gritou, raiva fazendo seu sangue ferver em suas veias.

Por um segundo Malfoy parou e olhou para Harry, as íris azuladas encontrando o verde por detrás das lentes, e ele pode jurar que havia visto lágrimas se acumularem no canto dos olhos de Malfoy.

— Seu filho de uma puta! — Brandou, antes de acertar mais um soco, dessa vez no rosto de Harry.

Harry aproveitou e o empurrou para o lado com uma das mãos, que estava agora livre, e tomou novamente um dos braços de Malfoy se preparando para outro soco, dessa vez com a mão direita bem no outro lado do rosto do loiro.

Malfoy gemeu de dor, seu rosto empurrado à força para o lado se abriu em um pequeno corte em sua maçã do rosto e sangue escorreu por entre seus dentes.

Ele cuspiu e o vermelho de seu sangue se misturou com o do carpete abaixo deles, mechas loiras bagunçadas caindo sobre sua testa à medida que ele limpava os lábios com as costas da mão.

Malfoy avançou, se jogando sobre Harry, que por si só rastejou para trás, buscando se afastar do mais alto, a varinha alcançando sua palma. Assim que sentiu a familiaridade do toque, ele a enlaçou com a mão, rapidamente mirando-a para Malfoy, que parou no meio do caminho para tentar alcançar Harry.

Eles param, respirações irregulares preenchiam o espaço entre os dois, junto a olhares cheios de ódio, afiados para capturar um único movimento pretensioso. Harry apertou mais a varinha na mão e afundou a carranca para Malfoy, que se afastou aos poucos com as mãos lentamente se levantando de cada lado da cabeça.

Os dois se levantaram devagar, sem nunca cortar o contato visual, saliva se acumulando no interior da boca de Harry, fazendo-o engolir em seco.

Malfoy brevemente olhou para entre as poltronas do assento ao lado, tentando localizar sua própria varinha.

— Nem tente. — Avisou Harry, observando cada pequeno movimento que o loiro fazia como se lesse um livro.

Malfoy abaixou as mãos, colocando-as de volta ao lado do corpo, e Harry avançou com a varinha como se fosse lançar um feitiço, mas recuou antes que pensasse em um.

 — O que vai fazer? Me matar? — Malfoy disse de repente, fazendo Harry se voltar para ele novamente, olhos azuis nebulosos o olhavam em desafio.

— Eu poderia. — Harry disse, praguejando mentalmente sua voz por soar tão cheia de incerteza.

— Vá em frente, então. — Malfoy incentivou, erguendo o queixo em sua postura esnobe de sempre — Sabemos que você quer.

Harry cerrou o cenho novamente, mas dessa vez não olhou para Malfoy e sim para a ponta de sua varinha, duvida inundando a sua mente. Ele se voltou novamente para Malfoy, mas seus olhos não eram mais tão certos ao olhar para o loiro.

Ele perguntou para si mesmo o que deveria fazer, o que seria o certo a se fazer. Se Malfoy realmente fosse um deles, então...

A porta do vagão se abriu de supetão, fazendo Harry se virar de repente e revelando uma garota de longos cabelos loiros com um sorriso gentil desenhado nos lábios.

— Olá, Harry. Draco.

— Luna...? O que você...?

Um barulho rápido fez Harry se virar novamente. Malfoy havia recuperado sua varinha e a apontava diretamente para ele, seus olhos variando entre Harry e Luna.

Harry foi tomado pelo instinto de proteger e lançou seu braço livre para ficar em frente à Luna, que já estava com a varinha em mãos, mas parecia mais interessada no ambiente do vagão do que no que realmente acontecia ali. Ela então afastou os óculos que usava para cima da cabeça e sorriu docemente para ambos os garotos.

— Sabe, aqui está cheio de Zonzobúlos, principalmente na sua cabeça, Draco. — Declarou, retornando as lentes de volta ao rosto.

Ela andou até ele, passando pelo braço de Harry e parando a um metro em frente ao loiro, parecendo analisá-lo com seus óculos.

Malfoy, por outro lado, a olhou como se ela fosse um inseto asqueroso e deu um passo para trás, mudando novamente o olhar de Luna para Harry e finalmente abaixou sua varinha, puxando brevemente seu blazer e espanando a poeira que havia nele.

— Isso não acabou, Potter. — Disse ríspido, se voltando para Harry e rapidamente se deslocando para sair do vagão — Sai da frente, esquisita. — Sibilou para Luna, que saiu de seu caminho antes de ser empurrada.

Harry o observou sair do vagão ainda com a varinha em mãos, e só quando teve certeza de que a cabeça loira não iria voltar, ele a guardou, se voltando para Luna.

— Luna... eu...

— Sua cabeça também está cheia deles, Harry. — Declarou, tirando os óculos do rosto e os colocando em sua bolsa. Harry a olhou confuso — Zonzobúlos. Eles bagunçam os pensamentos, sabe?

Harry riu incrédulo, decidindo não tentar entender o que ela dizia.

— Obrigado, Luna. — Agradeceu sorrindo para a amiga, que retribuiu.

Os dois saíram do trem, que por pouco não levou Malfoy e Harry de volta a Londres, e seguiram pelo caminho até as carruagens que os levariam para Hogwarts. A floresta densa ao redor da estreita estrada de terra dava um ar tenso para toda a escuridão que os cercava, salva apenas por um fraco lampião pendurado ao lado do portão onde o professor Flitwick os esperava impaciente.

Ele pode ver que Malfoy estava mais adiante, parecendo discutir com Snape sobre alguma coisa.

— O que aconteceu com seu rosto? — perguntou Snape, soando como a rispidez rotineira que Harry estava mais do que acostumando — e cansado.

— Nada, já disse que estou bem. — Desconversou, saindo da mira da varinha de Severus.

— Este “nada” certamente fez um belo estrago. — Debochou, se virando para Harry que chegava a pouco e fazendo Malfoy revirar os olhos.

Harry fechou a mão em um punho, machucando sua palma com as unhas. Malfoy se virou para ele.

— Belo rosto, Potter. — Implicou o loiro, seguindo a passos duros junto a Snape, que esvoaçava sua capa ao se virar.

Ele estreitou os olhos, desfazendo o punho, tentando se acalmar.

Suspirou, se voltando para Luna, que ainda tinha um sorriso divertido nos lábios.

— Quer que eu conserte isso? — perguntou ainda mantendo uma expressão divertida e gentil no rosto. — Acho que você fica mais charmoso assim, mas posso dar um jeito se quiser.

— Você já lidou com muitos machucados?

— Ajudei Neville a curar um machucado em seu joelho uma vez, não deve ser tão diferente. — Assegurou, sacando a varinha e sorrindo para Harry.

Ele suspirou, acenando a cabeça para que ela fizesse o feitiço e seu rosto ardeu nos lugares onde estava machucado, aliviando o roxeado e fechando seus cortes.

Um segundo depois ele se recuperou, ainda com manchas secas de sangue na boca.

— Então, como estou?

— Excepcionalmente comum. — Ela disse e foi o suficiente para Harry.

Eles seguiram para Hogwarts em cima de uma carroça um tanto suja. A madeira, velha e parecendo quebradiça, não era um dos assentos mais confortáveis do mundo e Harry podia sentir seus glúteos ficarem mais dormente a cada pedra ultrapassada. Ele agradeceu, no entanto, que Luna não tivesse feito perguntas sobre ele e Malfoy durante a viagem ou o motivo de eles estarem bolando no chão como dois animais, apesar de, em todo o caso, ela parecia muito mais entretida com seus óculos estranhos do que com as aventuras de Harry.

Seu rosto ainda doía, mas o pedaço de pano que Luna o oferecera realmente ajudou a limpar algumas manchas, pelo menos as que não estavam por toda a sua blusa e moletom.

A viagem, contudo, nem de longe fora o mais difícil de aturar e sim a entrada em Hogwarts. Assim que se despediu da amiga, que seguiu para seus aposentos na Corvinal, notou que muitas pessoas o encaravam e cochichavam umas para as outras ao passo que caminhava ao objetivo de vestir seu uniforme. Nem Ron, nem Hermione estavam presentes na sala comunal, o que o fez sentir um grande alívio em não ter que explicar sobre o sangue e os machucados. Tratou de se vestir rapidamente, evitando o máximo que pode dos colegas e seguiu, ainda com o pano em mãos, para o salão principal.

Passou os olhos rapidamente sobre mesas do Salão, agora recheadas de alunos, a procura de Hermione e Ron.

Não foi difícil os encontrar, já que a cabeça ruiva de Ronald chamava bastante atenção enquanto ele avidamente quase comia com as mãos. Harry seguiu para sentar ao lado da morena, torcendo para que a enxurrada de perguntas que o atingiria não fosse tão drástica quanto ele imaginava.

— Seu amigo desapareceu e você está aí comendo como se nada tivesse acontecido! — Hermione esbravejava para o ruivo, o atacando com um livro de sua pilha.

— Ele não sumiu, está bem ali, sua maluca! — Ron se defendeu, limpando a boca com a costa das mãos e terminando de engolir seu pedaço de torta.

Hermione se virou para observar um Harry encolhido em seus próprios ombros caminhar apressado para o lugar vazio ao seu lado enquanto segurava um pequeno guardanapo pressionado sob o nariz.

— Aquilo é... sangue?

— Sempre é sangue. — Ron afirmou, se voltando mais uma vez para seu prato de comida.

Harry se sentou afobado no banco, tentando sorrir para os amigos e se arrependendo de imediato ao ver o rosto de Hermione se fechar cada vez mais.

— O que aconteceu com seu rosto?! — ela contestou, puxando o queixo de Harry para o lado para olhar melhor os machucados recém amadoramente curados por Luna. Ele logo se desvencilhou das mãos de Hermione, voltando a pressionar o pano para secar o restante de sangue em seu lábio.

— Agora não...

— O outro cara saiu morto, então? — Ginny o interrompeu, sorrindo brincalhona e Ron rui anasalado ao lado da irmã.

Hermione olhou para os dois, repreensiva.

— O quê?! — Ronald contrapôs e os olhos de Hermione diziam que ela estava pronta para matar alguém.

Harry abriu a boca, afim de intermediar a discussão, quando fora interrompido por longos cabelos brancos que se puseram perante a sala numa entrada extravagante.

A coruja de prata esculpida no palanque de Dumbledore se abriu como se estivesse acordando de um sono longo e profundo, suas asas se tornado afiadas e o peito imponente crescendo apenas para congelar na posição mais uma vez enquanto todos se viravam para olhar o diretor começar mais um de seus discursos para mais um ano letivo que se iniciava.

O silêncio que se apoderou de todo o Salão Principal era cheio de expectativa, todos ali param para dar ouvidos ao que Dumbledore iria dizer. Que, depois de tanta desgraça, todos pareciam ter a ânsia de ouvir um discurso positivo vindo da pessoa em quem mais confiavam em todo aquele lugar.

Após apresentar o novo professor de Poções, no entanto, o discurso do diretor não fora o mais positivo. Ele olhava para todos os alunos sentados no Salão Principal com um peso nas feições, como se alertasse a todos que “Os tempos sombrios se aproximavam, estejam preparados”. Tempos esses que Harry sabia muito bem quais seriam.

Seu discurso finalizou com um silêncio desconfortável seguido de lentas palmas.

— Pff, muito animador. — Ron ironizou enquanto batia palmas junto aos outros alunos.

Harry concordou mentalmente com o amigo, parando as palmas de repente por um súbito insisto de olhar para trás. Do outro lado do salão, na mesa da Sonserina e em meio a uma centena de alunos, Draco Malfoy apoiava a cabeça cansada com uma das mãos. Ele olhava diretamente para Harry, mantendo um contato visual direto que chegava a o dar uma sensação estranha de náusea.

Harry prendeu a respiração inconscientemente por um segundo e, antes que o próprio loiro interrompesse o contato visual, ele pode sentir algo revirar em sua barriga, como se todo o ácido nela estourasse e inundasse todo seu corpo.

Malfoy, por outro lado, se levantou com o olhar baixo, disse algo aos colegas e se dirigiu ao que Harry apostou ser seus aposentos na Sonserina.

Harry o seguiu com o olhar até a cabeça de fios loiros desaparecer pelas portas do Salão Principal. Não demorou muito para que o restante dos alunos terminasse suas refeições e seguissem o mesmo caminho.

Após diversas broncas de Hermione acompanhadas, divertidamente de perguntas sobre o quanto o rosto de Malfoy havia ficado machucado vindas de Ron, já confortavelmente jogado sobre o estofado do sofá da Sala Comunal da Grifinória em frente a lareira, Harry não conseguiu evitar pensar no que o loiro estaria fazendo naquele momento.

Ele olhou para a escada que levava até seu dormitório e pensou no pedaço de pergaminho mágico trancado em seu malão. Seria bem mais fácil saber o que Malfoy fazia na escuridão, longe dos olhares vigilantes dos professores e monitores com ele.

Uma coceira se instaurou na palma de sua mão, a urgência para comprovar que Malfoy era exatamente como seu pai, o dominando quase por inteiro e o tornando mais uma vez inquieto.

— É a sua vez, cara.

Ele foi trazido de volta por um Ron sentado à sua frente, no chão, mais próximo à lareira. À sua frente, sobre a mesa de centro, um tabuleiro de xadrez bruxo esperava seu comando.

Seus olhos passearam pelo cômodo, parando em Hermione, sentada em uma poltrona próxima a eles, afundada em mais um de seus livros.

Então suspirou, se ajeitando sobre o sofá.

***

 

Aqueles dois meses de aulas que haviam se passado definitivamente não haviam sido como Harry imaginava. Hermione mal parava para conversar com ele e Ron por estar muito apreensiva com os NIEMs. Mesmo que Ron insistisse que ainda levaria mais de um ano para que ela pudesse se preparar, a mesma ainda passava horas e horas na biblioteca incansavelmente adiantando todas as matérias possíveis.

Harry também se encontrava no meio de uma tarefa nada fácil e as visitas constantes ao escritório do diretor não o deixavam menos ansioso.

Seu foco, ele lembrara, era conseguir a confiança de Slughorn quanto antes e agora, com aquele livro velho e rabiscado na sala de aula de Poções, era isso que estava fazendo.

Sua poção havia ficado perfeita graças ao autor desconhecido e a Felix Felicis fazia um peso agradável no bolso interno de sua túnica, junto ao livro que constantemente carregava consigo.

Sair da sala de Slughorn sem nenhuma informação decente, no entanto, não manteve seu humor bom o suficiente para impedir que a frustração o dominasse quase por completo, a seleção para o novo goleiro da Grifinória se aproximando, não contribuindo para seu estado.

Agora ali, em sua cama, observando Malfoy pelo Mapa do Maroto, andar de um lado para o outro na entrada da Sala Precisa, um formigamento surgia sob seus pés e mãos.

— Você acha que eu deveria treinar mais? — A pergunta vinda de Ron o distraiu com uma sequência de piscadas atordoadas e ele se virou para o amigo na cama ao lado, um Lumos fraco formado em sua varinha tinha a atenção de seus olhos azuis.

— Perdão?

— Para o teste, cara. — Ron bufou, levantando-se em um empurro e sentou-se na beira da cama. — Acho que não tenho chance contra aquele idiota metido. — Ele suspirou, os ombros baixos enquanto girava a varinha entre as mãos, seu Lumos diminuindo.

Harry respirou fundo, levando o indicador e o polegar em pinça até a ponte do nariz para esfregar a região, seus óculos escorregando para a ponta do nariz. Ele se ajeitou na cama, sentando com as pernas cruzadas sobre os lençóis e fechou o mapa.

— Não pense assim, cara. — Estimulou Harry, lhe dando o seu melhor sorriso animador e se inclinando para colocar uma mão no ombro do ruivo. — Nosso time teria sorte de ter você, acredite.

Ron sorriu desanimado, olhando para o amigo como se procurasse por algum vestígio de mentira.

— Acha mesmo?

Harry assentiu, se voltando para seu espaço na cama novamente e reabriu o Mapa do Maroto.

— Você acha que Hermione vai estar lá?

Harry se virou para ele novamente, Ron agora se encontrava deitado olhando para o teto do dossel de sua cama, a varinha dançando preguiçosamente entre seus dedos.

— Claro que sim, cara. Ela não perderia por nada. — Garantiu Harry, se voltando ao mapa e vasculhando os corredores em busca de Malfoy. Não o ver em frente à Sala Precisa fez um choque gelado percorrer o seu corpo e de repente uma urgência surgiu.

— É, espero que sim... Ei, cara, para onde você vai? — Ele perguntou de repente, vendo Harry se levantar em um pulo e se erguendo sobre os cotovelos para observar o amigo se dirigir para o seu malão.

— Ahn... Eu... — Harry olhou para os lados como se procurasse pela resposta nas paredes do dormitório, a ansiedade o consumindo pelos minutos passando ao dar mais uma olhada no mapa em mãos. — Banheiro! Preciso ir ao banheiro! — Respondeu de repente, se apressando em fechar seu malão e seguir para a escadaria que levava à Sala Comunal.

— E você precisa da capa para isso?

Harry não respondeu, apenas fechou a porta do dormitório com um baque surdo e desceu as escadas de dois em dois degraus, equilibrando-se com uma das mãos que escorregava pela parede.

Ele entrou na sala comunal com cuidado, olhando para os lados e, após assegurar que não havia ninguém ali, saiu da torre em direção aos corredores.

A capa roçava em seus pés à medida que caminhava o mais silenciosamente possível pelos corredores de pedra, os olhos alternavam do caminho, iluminado fracamente pelo pequeno Lumos em sua varinha, para o mapa em sua mão.

Após se desviar de todos os nomes de monitores, professores e até mesmo aurores que estavam lá para reforçar a segurança da escola, ele parou. Um arco lapidado em pedra que entronava uma porta de um armário de vassouras o prendia o olhar. A entrada para a Sala Precisa.

Draco Malfoy, em teoria, estaria lá dentro, fazendo sabe-se lá Merlin o que.

Ele ficara ali, parado, observando cada detalhe na parede em sua frente, cada tijolo de pedra desgastado pelo tempo. Seu coração batia acelerado em seu peito, o que ele exatamente deveria fazer a seguir? Entrar e enfrentar Malfoy deveria, em suma, ser o pensamento mais lógico, ele sabia.

De repente, Harry se tornou inquieto, sua cabeça a mil tentando bolar um plano para conseguir pegar Malfoy no pulo, algo que o desse provas sólidas do que estava aprontando.

Ele se recostou em um dos pilares próximos, suspirando em puro cansaço; os óculos pendendo de seu rosto quando passou as mãos pelos olhos. Se aconchegando melhor sob a capa da invisibilidade, ele mirou a varinha para observar o mapa e seu coração pulou uma batida.

O nome de Malfoy seguia suas pegadas pelo outro lado do castelo, uma das muitas saídas da sala precisa. Harry se levantou em um pulo, seguindo o nome de Malfoy com o indicador; ele estava indo para a parte próxima dos dormitórios da Corvinal e Harry mal prendeu a respiração antes de já estar correndo e correndo pelos corredores do castelo.

Seus passos, apressados e ritmados, eram o único som ecoado por todo lugar, qualquer preocupação com o barulho esquecida em algum lugar de sua mente. Seus ouvidos, por outro lado, não conseguiam ouvir nada a não ser o som constante de seus próprios batimentos cardíacos, surdos e entupidos pela pulsação das suas veias. Harry não poderia esperar até que Malfoy fizesse algo com algum dos alunos, ele não deixaria.

Aos poucos, seus passos foram acalmando à medida que ele chegava próximo aos corredores que dariam até a Corvinal, o coração ainda mantendo o ritmo acelerado para garantir sangue em todo o corpo de Harry. Ele checou o mapa mais uma vez, passando por cada um dos nomes na torre, mas Malfoy não se encontrava em lugar algum.

Ele piscou. E mais uma vez. E outra. Seu sangue parecia ter congelado em seus pulsos e sido impedido de chegar até seu cérebro; ele se sentia tonto, provavelmente pela corrida repentina, e sua cabeça doía. Levou uma mão sobre sua cicatriz, massageando o local e seguiu a passos mais calmos.

Checando o Mapa do Maroto mais uma vez, ele notou o nome de Malfoy mais acima, em uma torre, mas não a qual Harry pensara ser.

Malfoy estava parado na torre de Astronomia perto da beirada do parapeito.

Harry franziu o cenho, duvidando de seus próprios olhos, mas seguiu até o local de qualquer forma.

Agora, mais calmo, chegando pela escada em espiral da torre, Harry pode notar o quão frio fazia naquela noite e como o verde do verão estava, aos poucos, sendo substituído pelo vermelho e dourado do outono. Muitas nuvens cobriam o céu noturno, mas a luz reluzente da lua ainda era fortemente visível dali.

Ele subiu a escada com cuidado redobrado, sua respiração se tornando mais densa a cada degrau; segundo o mapa, Malfoy estaria parado no topo.

Sussurrando um “Nox” para sua varinha, ele chegou no último degrau, sendo agraciado pela clara visão da lua. Uma auréola contornava sua circunferência como se ela tivesse anéis; as nuvens, já menos espeças, se abriam apenas em sua área, fazendo-a banhar tudo com sua luz cor de prata. Era lindo, e Harry se viu perdido naquela paisagem por certo momento.

Quando Malfoy se mexeu próximo ao parapeito, Harry piscou, se voltando para o loiro que examinava algo em suas mãos. Ele parecia mortalmente mais pálido à luz do luar e seus cabelos brilhavam brancos, refletindo prata e azul; a brisa fria se mostrando presente por erguer alguns de seus fios loiros.

Harry se ajeitou sob a capa, o coração disparando ao que ele cuidadosamente adentrava mais no cômodo. Seu mapa agora parecia mais pesado dentro do suéter e a varinha escorregava na palma da sua mão suada.

Ele desviou do grande telescópio no centro da sala, uma mão levemente alocada sobre o metal frio; observando dali, Harry agora podia ver mais claramente o que Malfoy segurava com cuidado. Era um colar, um com várias pedras em um tom de verde tão escuro que ele mal pode distinguir no véu noturno. Estava sobre um pano vermelho, do qual o loiro usava para manter sobre as mãos, como se não quisesse que o material encostasse na pele.

Mantendo o aperto da varinha mais firmemente na mão, Harry deu mais um passo.

Mas ele não foi muito longe.

Um ranger de tabua o fez congelar na posição. Xingando mentalmente, sua respiração se fez mais agitada e sob o verniz transparente da capa, ele viu Malfoy se virar assustado.

— Quem está aí?! — Inquiriu, num tom exigente, varinha apontando para todos os lados.

Quando não se teve resposta, Malfoy começou a vasculhar o cômodo com o olhar, procurando ativamente por qualquer intrusão ao seu particular.

Talvez, se ele se mantivesse imóvel, Malfoy poderia pensar que estava ouvindo coisas, ou que talvez fora o vento assobiando em seus ouvidos.

Aparentemente, Harry estava certo.

Ele passou mais alguns momentos olhando diretamente no ponto de entrada da torre, as sobrancelhas quase coladas e a respiração ociosa, se apressando em guardar o colar, dobrando-o sobre o tecido vermelho sangue e o diminuindo de tamanho para caber no bolso de sua calça. Então, se jogou pesadamente sobre a pequena elevação em frente ao parapeito da torre, um suspiro alto se fazendo presente e levou as mãos até o rosto, passando-as pela região.

Então Malfoy encarou o chão de madeira, varinha frouxamente apontada para a mesma direção. Ele a girava preguiçosamente, fazendo pequenas partículas cintilantes brotarem de sua ponta e se espalharem pelo ar, sumindo gradativamente.

Daquele ângulo, agora de frente, Harry notara como longas olheiras se faziam presentes sob os olhos de Malfoy; ele parecia cansado.

Harry nunca tinha visto Malfoy desse jeito, ombros para baixo, sentado numa posição que não era desumanamente ereta o tempo todo e os lábios tensionados sempre numa linha tão fina que Harry poderia dizer que ele não os tinha.

O aperto em sua varinha afrouxou inconscientemente e algo no estômago de Harry revirou, definitivamente aquela aparência não convergia com Draco Malfoy. Uma vontade avulsa de tocar o ombro de Malfoy morreu na mesma velocidade que surgiu, lembrar de como Ron pareceu desamparado o fez esquecer de quem estava na sua frente.

E ele não poderia esquecer quem Malfoy era. Não importava se estivesse debaixo de uma carranca triste.

Assim que Harry fez menção de se aproximar, um barulho de bater de asas o impediu.

Uma coruja, de penugem marrom escura e peito estufado, pousou sobre a grade do parapeito, piando para anunciar sua chegada. Malfoy logo teve sua atenção tomada pelo pequeno animal e se levantou em um pulo, seguindo em direção à coruja carrancuda com um novo afinco e certa preocupação no olhar.

A coruja tinha um pequeno pedaço de pergaminho amarrado em uma de suas pernas, que ela esticou a Malfoy assim que ele se aproximou o suficiente. Ele desdobrou a fita com cuidado, abrindo a carta e a lendo pelo o que pareceu ser superficialmente, mas seu olhar preocupado rapidamente se transformou em espanto e ele a dobrou novamente.

Uma das mãos finas foi rapidamente para seu cabelo, cravando os dedos pálidos nos fios loiros e bagunçando seu penteado. A sua outra mão, da qual a carta ainda se mantinha, estava tremula.

O silêncio inquietante que tomou o lugar deixou Harry com aquela coceira sob as palmas novamente, o que ele mais queria era arrancar aquela carta das mãos de Malfoy e azará-lo para Merlin sabe onde só para poder ler o conteúdo dela, mas novamente ele se manteve lá, olhos atentos observando a todos os movimentos de Malfoy; sua própria respiração e batimentos cardíacos eram a única coisa que inundavam os seus ouvidos, o deixando cada vez mais ansioso.

Tanto que o piar da coruja o assustou como o inferno.

Não só a ele, mas a Malfoy também, aparentemente. O loiro apontava sua varinha de modo abalado para a ave em questão, a respiração falha vindo em rajadas entrecortadas de seu peito; sua carta agora se encontrava amassada em seus dedos.

A coruja se assustou, piando mais uma vez e levantando as asas, se movendo aborrecida para o lado para se afastar de Malfoy.

— Devo ter enlouquecido de vez. — Declarou, tão baixo que Harry só pensou ter ouvido Malfoy falar. Ele se aproximou novamente da ave, agora ainda mais carrancuda, e ergueu a mão para acariciar sua cabeça, fazendo com que o animal, que parecia tão ameaçador, se desfizesse em seu carinho.

Os cantos dos lábios de Malfoy se encurvaram no que pareceu um sorriso fraco, mas tão rápido quanto ameaçou surgir em seu rosto ele sumiu ao que a coruja levantou voo novamente.

Malfoy ficara ali mais alguns instantes, banhado pela luz prata e azul enquanto encarava o horizonte com olhos que transpareciam cansaço, então se voltando mais uma vez para a carta em sua mão. Harry pensou em se aproximar, talvez para ver o que Malfoy encarava na carta, mas desistiu da ideia assim que o loiro se deslocou primeiro, dessa vez em direção à saída da torre.

Harry o viu partir pela escada sob seus pés e dessa vez foi ele quem se voltou para o horizonte noturno de Hogwarts. Ele saiu debaixo do manto, sentindo a brisa fria bater contra o seu rosto e lhe enviar calafrios por toda a espinha.

Então, se voltou para o Mapa do Maroto mais uma vez, seus olhos recaindo quase instantaneamente na Sala Comunal da Grifinória. Ron estava lá, sentado em frente à lareira.

Ele suspirou pesadamente, vestindo a capa mais uma vez e olhando de volta para a vista antes de sair da torre.

As nuvens haviam fechado a lua novamente.

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