Burns Like the Cold

Harry Potter - J. K. Rowling
M/M
G
Burns Like the Cold
Summary
A luz da lua que inundava a Torre de Astronomia fazia o cabelo de Malfoy parecer como se usasse uma auréola. Seu rosto, fino e pontudo, encarava o horizonte de uma forma distante e vazia e a brisa fria fazia suas bochechas corarem em um tom de vermelho que lembrava Harry de que ele não era um fantasma.Harry juntou suas mãos, seus dedos enlaçando uns nos outros se batiam de forma ansiosa e suas palmas suavam e formigavam com o efeito da Felix Felicis passando.De repente ele sentiu uma pontada, uma ideia, e antes que seu cérebro pudesse questionar se aquilo era de fato prudente, sua boca já havia formulado as palavras.— Faremos Votos então.E Malfoy olhou pra ele como se fosse louco.
Note
eu postei essa fic primeiro em inglês porque não pretendia postar em português, já que não tem tantos brasileiros nessa plataforma. Bem, isso era o que eu pensava kkkkkkksobre a fic: ela se passa no sexto livro, mas dessa vez talvez Draco mude seus planos e só direi isso >:)quero dizer também que não concordo nem um pouco com o que a transfóbica Rowling fala, por mim ela poderia apodrecer e morrer de uma vez. Dito isto, aproveitem a fic :)
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Draco

Draco não sabia exatamente o que e nem o porquê de estar fazendo o estava fazendo. Suas pernas pareciam andar no automático, o levando como uma bagagem pesada e sem muito propósito. Ele se sentia como uma casca vazia, sendo preenchido apenas pelos esforços de seu corpo em continuar vivo; existindo; presente.

Ele dobrou uma esquina dos corredores de pedra, a caixa de chocolates escorregando de seus dedos fazia um peso extra em que ele poderia focar sua mente. O corredor à frente finalizava com a sala que todos em Hogwarts conheciam muito bem, suas portas, altas e predominantes, davam acesso à ala da enfermaria.

Cabelos pretos de repente saíram de seu interior, fazendo Draco congelar no lugar e se virar para o batente de uma das grandes janelas ao lado, fingindo estar observando a paisagem a frente.

Uma garota, de longos cabelos escuros presos a um rabo de cavalo, e seu pequeno grupo de amigas saíram cochichando umas para as outras, faces preocupadas dominavam seus semblantes e quando passaram por Draco, ele pode notar que eram todas da Grifinória.

— Você acha que ela ficará bem? — uma das alunas perguntou para a de rabo de cavalo, olhando de soslaio de volta para a porta dupla da sala.

— Madame Pomfrey disse que ela acordará logo, então acho que sim. — Ela respondeu num tom que pareceu certo, mas Draco pode notar a pontada de medo em sua voz.

— Espero que encontrem logo quem a enfeitiçou. — disse a outra aluna, raiva estampada na forma que falava — Quem quer que seja, vou garantir que se sinta como ela se sentiu.

 Draco engoliu em seco e se voltou para os itens em suas mãos novamente. Ele tremia agora.

A Rabode cavalo suspirou, seus ombros caindo cansados — Vai... vai ficar tudo bem. — Ela disse e tentou sorrir para as outras duas.

Quando o grupo dobrou a esquina do corredor, Draco sentiu algo no seu peito se tornar mais leve e não notou que segurava a respiração até aquele momento. Ele se voltou para a entrada da enfermaria, caminhando agora com uma cautela descabida, e passou pelas portas como se estivesse interrompendo uma das reuniões de seu pai.

Ele agradeceu a Merlin que não havia ninguém lá, Pomfrey provavelmente estava dentro de sua sala de poções. Draco irrompeu pelo cômodo, passando por fileiras de camas vazias e suas divisórias, o ambiente, tão claro quando as altas janelas permitiam, tinham um ar fantasmagórico com suas cortinas finas esvoaçando ao que as janelas abertas deixavam a brisa entrar.

Ele passou os olhos de um lado para o outro, procurando pela Grifinória hospitalizada, até que, em uma das camas próxima ao fim da sala, ele a viu.

Katie Bell estava coberta com os lençóis brancos da cama, suas mãos, ainda um pouco pálidas, descansavam leves em cada lado de seu corpo. Seu peito subia e descia num ritmo ameno, absorta num sono profundo, mas calmo, e Draco pensou em como seria voltar a dormir assim, sem pesadelos que o atormentavam no que deveria ser seu descanso.

Ele se aproximou hesitante, olhando para a porta no fim do corredor em que Madame Pomfrey deveria estar reabastecendo seu estoque de poções e abaixou a pequena caixinha de chocolates na mesinha de cabeceira ao lado da cama junto a outros presentes que a garota havia recebido. Ele passou os dedos sobre a caixinha, ajeitando o laço vermelho que segurava um pedaço de pergaminho que dizia apenas “Fique bem” numa letra cursiva elegante e puxada.

Draco olhou para ela mais uma vez e sentiu sua mão sobre a caixa voltar a tremer, seu peito se apertando num nó que quase doía, então ele se afastou, desviando o olhar da sua face tão brutalmente serena e gentil.

Seus olhos então recaíram sobre um vaso de flores na cabeceira da cama do qual ele não havia reparado, suas flores curvadas murchas pela falta de cuidado. Ele sacou a varinha, chacoalhando-a no ar num rodopio simples e o vaso se encheu de água novamente. As margaridas se levantaram como se despertassem de um sono revigorante.

Margaridas, Draco pensou, tão impróprias para aquela época do ano, e mesmo assim pareciam perfeitas para a pouca neve restante que derretia lá fora, como se, ao despertar, Bell fosse trazer a primavera e com ela um novo raio de esperança recaísse sobre eles.

Sentindo seus olhos arderem nos cantos, Draco decidiu não se prolongar mais no pensamento e, evitando o rosto de Katie Bell, finalmente se afastou, saindo detrás das cortinas que separavam a garota do resto das macas.

Ele olhou para os lados novamente, confirmando que ninguém o veria ali, quase como se estivesse em mais um de suas passeatas noturnas para a Sala das Coisas Ocultas, e se direcionou pelo corredor até a porta, mas foi parado por um ranger atrás dele.

— Senhor Malfoy? O que faz aqui? — A voz inconfundível de Madame Pomfrey o congelou no lugar e Draco praguejou mentalmente todos os xingamentos que conhecia.

Ele se virou para ela, vestida em seu costumeiro traje de enfermaria, e ajeitou a postura, tentando vasculhar a sua mente por qualquer desculpa que o fizesse estar ali no meio do dia.

Pomfrey se aproximou, erguendo uma sobrancelha para ele e Draco não conseguiu fazer muito além de engolir em seco, pedindo a Merlin para que ela não relacionasse sua visita a uma Katie Bell em coma.

— Fui dispensado da aula de Transfiguração. — Mentiu, levantando o peito para transparecer confiança. Ele não ia às aulas de Minerva a mais tempo do que seria decente admitir e o pensamento lhe doeu um pouco. — Disse à Professora McGonagall que estava com muita dor de cabeça e ela me mandou vir até a senhora.

Ela estreitou os olhos para ele, analisando-o dos pés à cabeça como se Draco fosse um de seus ingredientes potencialmente estragados.

Talvez ele fosse.

— Pois muito bem, então, sente-se. — Ela o orientou a uma maca mais próxima e puxou a varinha do avental, checando sua bandeja de poções — Como se sente? — Perguntou, levantando a varinha até o rosto de Draco, que se inclinou um pouco, distanciando-se da mira dela.

— Com dor de cabeça. — Ele respondeu simples, olhando para ela como se já não fosse obvio, e os cílios de Madame Pomfrey caíram sobre seus olhos em uma expressão entediada.

Ela suspirou, se voltando para a bandeja novamente e Draco podia jurar que ela havia revirado os olhos por detrás da cabeça. O pensamento fez um ligeiro sorriso brincalhão surgir em seu rosto, era como se ele tivesse onze anos novamente.

O sorriso se desfez com a lembrança.

— Desde...?

— Hoje de manhã, assim que acordei.

Não era exatamente uma mentira; ele havia tendo diversas enxaquecas durante todo o período letivo e as garrafas de poção calmante espalhadas pela mesa de cabeceira ao lado da cama de seu dormitório expunham isso de uma forma que ele não se orgulhava.

Pomfrey virou-se, cerrando o cenho para ele numa careta que dizia que o que Draco dissera não o cabia bem.

— E só veio até mim agora?

— Achei que passaria. — Ele deu de ombros, desviando o olhar para a janela ao lado da cama. Havia muitos primários aproveitando seu tempo livre no pátio abaixo dele e Draco quis sorrir.

Um longo momento de silêncio se passou então, um que Draco não se deu conta de que estavam imersos até que finalmente Pomfrey o rompeu.

— Tem tido problemas para dormir, Senhor Malfoy?

Draco se virou para ela, seu rosto agora se formando em uma carranca que estava pronta para dar a ela uma reposta curta e nada amigável, quando Pomfrey o cortou antes mesmo de começar.

— O senhor não parece ter tido noites tão tranquilas, tendo em vista seu estado. — Ela segurava dois frascos de uma poção clara e brilhosa que se remexia em pequenos redemoinhos. — Se for por conta dos testes que estão se aproximando, garanto que ainda haverá bastante tempo para você se preparar, senhor Malfoy.

A carranca de Draco suavizou ao que a enfermeira estendeu os dois frascos até suas mãos o alcançarem e os enlaçarem com longos dedos finos.

— Obrigado. — Ele murmurou, encarando a poção em seu colo que cintilava num branco quase hipnotizante.

Pomfrey levantou as sobrancelhas para ele, mas as abaixou antes que deixasse sua surpresa óbvia demais e algo se revirou no estômago de Draco.

— Muito bem, o senhor pode ir. — Ela se voltou a bandeja ao que Draco havia se levantado — Duas doses deve ser o suficiente para regular seu sono novamente, mas se precisar de mais pode vir até mim.

Draco assentiu para ela, que chacoalhava sua varinha no ar com a graça de uma bailarina, fazendo uma limpeza rápida em sua mesinha e bandeja.

Ele girou sobre os calcanhares, se redirecionando até a saída até que Pomfrey o impediu mais uma vez.

— E lembre-se, Draco, — Ele virou o rosto para ela — sempre que quiser fazer uma visita a um paciente, não precisa se esgueirar pela minha enfermaria. Apenas fale comigo antes. — E um sorriso doce se formou em seus lábios enquanto ela finalizava sua organização.

Draco sentiu suas pernas vacilarem por um instante, um arrepio passando pela sua espinha e chegando até sua cabeça, ao que Pomfrey se afastava em direção a seus aposentos novamente; olhos arregalados e estáticos, recapitulando o que a enfermeira dissera.

Ele piscou algumas vezes quando Madame Pomfrey fechou a porta de sua sala e andou rápido até a saída com pernas bambas e um tanto atordoado. Como ela sabia? Draco não tinha ideia. Era certo que Katie Bell recebera diversas visitas, principalmente dos grifinórios, mas todos naquele lugar sabiam que ela e Draco definitivamente não eram próximos; eles nunca nem haviam se falado até...

Até o Três Vassouras.

Draco balançou a cabeça quase frenético, tentando afastar os pensamentos o quanto podia, ao que suas pernas mais uma vez o levavam no automático até as masmorras. Os corredores de Hogwarts, vazios pelo horário de aulas, ecoavam seus passos apressados e ele se forçou a focar no ritmo que seus sapatos faziam na pedra dos corredores. Sua respiração hiperventilada mal acompanhava sua velocidade, mas ele só parou quando chegou à sala comunal, o tórax doendo ao que o ar não lhe supria. Ele disparou até os dormitórios, a vontade súbita de se isolar de tudo urgindo de seu corpo e fazendo suas mãos voltarem a tremer. Assim que avistou sua cama, ele desmoronou sobre ela, seus pés de repente o faziam se sentir extremamente sufocado e ele chutou os sapatos para qualquer direção no quarto, jogando os frascos de poção do sono na mesinha de cabeceira, que balançou um pouco com o impacto.

Ele deitou de barriga para cima, desabotoando os primeiros botões da camisa com o desespero que seu peito pedia, e então desabou as mãos, uma sobre seu peito e outra ao lado do corpo. Seus pulmões gritavam por uma longa inalação de ar e ele tentou se acalmar, a franja loira grudando na testa.

Quando raios ele começou a suar?

Ele precisava se acalmar, precisava de algum jeito de sessar a sua cabeça a mil. Ele levantou ambas as mãos até o olhar, suas veias saltando em aparência vidente ao que ele havia ficado mais pálido, a visão o lembrava de um fantasma e elas ainda tremiam instáveis. Draco engoliu em seco, abaixando-as e se voltando para o dossel de sua cama.

O padrão desenhado no teto de repente o irritava.

Sua visão, então, recaiu sobre a mesinha de cabeceira, onde brilhavam num branco cintilante os dois frascos de poção. Ele enlaçou um sem pensar duas vezes, segurando com as duas mãos para que não corresse o risco de escorregar sob a sua palma suada.

Ele o abriu com dificuldade pela tremedeira e logo direcionou o conteúdo até a boca, o virando de ponta cabeça e tomando tudo de uma só vez.

Sua garganta protestou em ardência e ele derramou um pouco sobre os lençóis, mas não importava —não agora.

Jogando o frasco vazio em qualquer direção, ele se jogou contra o colchão mais uma vez, fechando os olhos e torcendo para que o efeito da poção logo o levasse até uma terra sem sonhos.

Sua respiração se acalmou eventualmente, assim como a força que ele mantinha sobre as pálpebras nos olhos, e então apenas o silêncio percorreu a sua mente, e não havia sobrado nada além da escuridão.

 

***

 

Quando a primavera que se aproximava fazia os flocos de neve se extinguirem quase completamente sobre a grama, manifestando o verde renovado, Draco não poderia se sentir pior.

Todos estavam em um clima que variava de excitação pela nova estação se aproximando e cansaço e desespero pelas provas que viam junto do final do ano letivo, mas nenhum dos sentimentos acalentavam Draco de nenhuma forma.

Mas claro que o faria com seus amigos.

Fugir das perguntas incessantes de Pansy, no entanto, havia se tornado mais fácil. Ela o havia deixado em paz depois de um tempo após os acontecimentos do trem com Potter e isso tirou um peso irritante do peito de Draco, mas colocando um no lugar que ele insistia em ignorar que existia, uma coceira irritante de que talvez a afastar tivesse sido um erro.

Já Blaise era outra história.

Ele mal tentava passar tempo com Draco fora da sala de aula — isso quando se encontravam em uma. Tudo o que Zabini fazia era o observar. O peso irritante de seu olhar esquentava a orelha de Draco. Tinha o jeito de alguém que tinha algo a dizer, mas, sempre que Draco ia o contestar por isso, o outro sonserino dava de ombros, se virava e ia embora, fazendo a frustração do loiro subir mais de um modo que ele nem imaginava que conseguiria.

Mas, de qualquer forma, Blaise nunca lhe dissera nada, nunca o acusara ou o irritava com perguntas inconvenientes. Suas observações também haviam se tornado cada vez menos frequentes e o mesmo peso que recaia sobre ele quando pensava em Pansy retornava quando ele via Blaise na sala comunal ou em seu dormitório.

Como sempre, era melhor empurrar o pensamento tão para o fundo de sua mente até que fosse difícil pensar naquilo de novo.

Isso até ele ver que todos haviam ido para Hogsmade sem ele.

Não que a vila o interessasse mais tanto, é claro, mas convites sempre chegavam aos seus ouvidos, normalmente por Crabble e Goyle.

A dupla também havia se afastado de Draco, não que ele se importasse tanto; nos últimos meses os dois haviam mais o atrapalhado do que qualquer outra coisa, principalmente quando ele tinha que entrar em mais um de seus turnos na Sala Precisa para consertar o maldito armário que o assombrava todos os dias.

O progresso de seu concerto estava, lentamente, quase pronto e Draco usava este pensamento para acalmar suas noites. Quase toda sua missão estava feita.

Apenas quase.

Havia uma parte de sua mente, uma que ele constantemente tinha que manter pequena e baixa, que sussurrava em seus ouvidos sempre que a oportunidade lhe era presente. Ela lhe dizia, com uma voz que frustrantemente lhe lembrava a de seu pai, que ele estava enrolando; que não conseguiria finalizar aquilo realmente; que ele não passava de um covarde, uma criança brincando de adulto.

Mesmo que lhe custasse admitir, aos poucos ela ficava mais e mais alta e a cada dia ele acreditava mais em suas palavras. Afinal, ele não havia sido um covarde a vida toda?

Mas ele precisava fazer isto; ele tinha que fazer, senão...

— Está chorando de novo, pobrezinho?

Draco se virou abruptamente, espantado. Murta Que Geme o olhava com grandes olhos transparentes por detrás de suas lentes redondas, juntando as mãos atrás de seu corpo fantasmagórico enquanto se inclinava no ar até Draco.

Suas mãos automaticamente foram para seu próprio rosto úmido por lagrimas, ele não notara que estava chorando sentado ali, ao batente da janela, enquanto observava os colegas irem para Hogsmade alegremente; a cabeça escura e raspada de Blaise pode ser vista quando ele se voltou para a janela novamente, ele estava abraçado a uma garota enquanto conversava com Theodore Nott, ambos seguindo alegres e sem preocupações até a pequena vila bruxa.

— Por que não foi a Hogsmade com seus amigos, Draco? — A voz melosa de Murta se fez presente mais uma vez, e ela flutuou para o batente da janela, se sentando junto a Draco — Sou tão mais importante assim?

Draco fixou os olhos nela sem mover a cabeça, seus olhos grandes piscando para ele em falsa timidez.

— Estou apenas cansado. — Ele disse em um suspiro, se voltando para a janela, e Murta se ergueu no ar novamente.

— Cansado e solitário, você quer dizer! — Ela riu e o barulho ecoou por todo o ladrilho do banheiro, irritando os ouvidos de Draco. — Ninguém preferiria passar tempo num banheiro molhado com um fantasma, a não ser que não tenha absolutamente nada melhor para fazer.

— Talvez eu prefira. — A carranca de Draco se afundava agora, olhando para a janela com uma irritação incomoda de quem gostaria de azar Murta dali. Se pelo menos ela não fosse um fantasma...

— Oh, mas você tem muito a fazer, Draco, muito mesmo. — Ela voltou a se aproximar dele novamente, seu tom agudo e anasalado preenchendo toda a sala enquanto ela juntava as sobrancelhas numa expressão chorosa e exagerada — Sei que está tentando matar o Professor Dumbledore.

Draco congelou no lugar, sua visão levantando do pátio quase vazio para seu próprio reflexo na janela. Murta refletia quase invisível atrás dele, olhando para ele também pelo reflexo no mosaico ornamentado.

Draco só sentiu que estava apertando seu antebraço quando os botões do pulso de sua camisa ameaçaram cortar sua pele; ele se virou para ela de uma vez, o rosto transparecendo o medo que seu coração pulsava naquele momento, e abriu a boca a fim de ter algo a dizer, mas a tremedeira em seu queixo o calou.

Não havia como esconder nada de fantasmas, afinal, não era?

— E-eu... — ele vacilou, sendo tudo que pode dizer ao se levantar; as mãos pálidas quase como a da garota morta em sua frente.

Murta se aproximou, dessa vez mais de modo mais gentil, sua expressão banhada em pena fez uma raiva pular do peito de Draco e ele desviou o olhar, inconscientemente voltando sua mão direita para o pulso esquerdo num aperto afobado.

O rosto de Murta então se encheu de compreensão.

— Então você realmente a recebeu, não foi? — Ela chegou mais perto, uma mão transparente azulada se estendendo como se quisesse o tocar.

Draco não conseguia olhar para ela.

— Não é como se eu tivesse muita escolha. — Ele murmurou, deixando escapar um suspiro pesado, encarando o pulso sobre sua palma e acariciando a boca da camisa social tão bem abotoada que o incomodava; se tivesse olhos bem perspicazes, eles poderiam ver o desenho de uma cobra se formando sob o tecido.

— Eu sei. — Murta disse simples e ele fixou finalmente os olhos nela. — Você não é como ele.

Draco a olhou com olhos trêmulos, analisando cada parte de sua face translucida que se transfigurava em um sorriso triste tentando o consolar e sentiu seus olhos arderem com lagrimas acumuladas.

Tudo o que ele queria era que acabasse.

— Ele disse... disse que me mataria e a meus pais se eu... se eu... — Draco engoliu em seco, não conseguindo finalizar sua frase, mas Murta parecia que o entendia completamente. Tudo o que ele conseguiu foi sussurrar: — Eu não sei o que fazer... A bebida não deu certo, claro que não daria com ele... E o colar, aquele maldito colar... Katie Bell pode nunca mais acordar.

Ele recaiu sobre o batente da janela novamente, batendo as costas no arco em pedra que cercava a vidraça e levou os joelhos até o rosto, deixando os ombros caírem para os lados e abraçou as pernas, ouvindo seus próprios soluços inundarem o ambiente.

Ele sentiu a presença de Murta próxima dele, e como ela pudesse o abraçar, ele se deixou esvaziar no toque frio dela.

Eles passaram um tempo ali, mas Draco não sabia o quanto, ele só sabia que o fim da tarde se aproximava ao horizonte quando os raios de sol laranja tocaram seu rosto pela janela. Murta Que Geme não estava mais ali e o banheiro parecia ainda mais sombrio assim.

Draco se levantou dolorido pelo tempo na posição e se direcionou a um dos espelhos, apoiando as mãos na pia a frente. Ele parecia horrível, grandes bolsas roxas cobriam seu rosto abaixo dos olhos; olhos esses irritadiços e vermelhos. Seu cabelo se encontrava uma bagunça loira, os fios bagunçados o faziam lembrar dos cabelos de Potter vagamente.

Ele afastou o pensamento sacudindo a cabeça para os lados e sacou sua varinha de dentro do bolso, mirando-a em sua direção, e lançou o feitiço ao fechar os olhos.

Assim que os abriu novamente, as bolsas abaixo de suas olheiras haviam diminuído consideravelmente, juntamente com o vermelho de seus olhos e os fios frisados abaixados. Sua pele, entretanto, ainda se encontrava assustadoramente pálida. Ele suspirou, não era nenhuma poção embelezadora, mas quebraria um galho para evitar olhares.

Então ele encarou a varinha ainda em mãos, seus dedos a girando na palma com o toque tão familiar. Ele podia sentir a magia fluindo pelo seu corpo e se concentrando nos dedos onde a segurava, uma sensação estranha de um formigamento reconfortante que o acompanhava desde a primeira que ele e seu pai a haviam comprado no Olivaras.

Madeira de Espinheiro, núcleo de crina de unicórnio. — O senhor Olivaras havia dito com um sorriso gentil — É uma ótima varinha, vamos, experimente-a. — E o pequeno Draco de onze anos havia levitado todas as garrafas mensageiras do velho, sorrindo brilhante para seu pai que o recebia com uma expressão orgulhosa.

Daquele dia em diante ele costumava se sentir invencível quando a tinha em mãos. O poder fluindo por ele quando a segurava.

Ele gostaria de voltar a se sentir assim.

...Há boatos que os núcleos de varinha vindo de unicórnios é capaz de quebrar se lançar a maldição da morte... — Ele ouvira em seu terceiro ano de alguns alunos da Corvinal sentados próximos a ele, que cochichavam nas aulas de Trato das Criaturas Mágicas, fazendo-o encarar sua própria varinha em mãos; exatamente como agora.

E até hoje ele se perguntava se aquilo seria verdade.

Seus olhos de voltaram para o espelho mais uma vez, encarando seu próprio reflexo cansado.

Sempre tão cansado...

Ele rapidamente saiu da frente da pia com um empurro e seguiu para a saída, garantindo que sua varinha ficaria segura dentro de sua túnica escolar.

Pelos corredores, o time de Quadribol da Grifinória pode ser notado ao longe, vindo aos montes. Todos pareciam alegres e comemorativos, erguendo suas vassouras e equipamentos. Draco não lembrava de ter tido algum jogo naquele dia. Ele olhou curioso para os jogadores, parando as mãos sobre o parapeito do segundo andar, onde todos subiam as escadas triunfantes. Logo atrás, ainda passando pela grande porta do castelo, vinham os jogadores da Corvinal, parecendo um tanto cabisbaixos e consolando uns aos outros com tapinhas nas costas. Haviam perdido, é claro.

Os cabelos de fogo de Weasley logo tomaram sua visão, seus companheiros de time o ergueram por cima dos ombros e o ruivo sorriu radiante, parecendo mais vermelho ainda — se é que era possível.

Mais atrás, um pouco afastado da multidão cantarolante, mas ainda assim sorridente, se encontravam os cabelos pretos e incorrigivelmente bagunçados de Potter. Logo uma certa raiva se apossou do peito de Draco e, como se sentisse, Potter virou o rosto para ele quase instintivamente. O sorriso do garoto morreu quase de imediato assim que seus olhos pousaram em Draco, transformando seu rosto numa carranca profunda e nada amigável, e então a raiva antes aflorada no peito de Draco logo se transformou em uma ansiedade inexplicável. Era como se Potter pudesse ler seus pensamentos, o encarando. Mesmo de tão longe, pudesse ver claramente como Draco se sentia; como uma presa desesperada para fugir de um predador.

Mas, mesmo assim, Draco não cortou o contato visual, assim como Potter, nem mesmo após ter sido deixado para trás pelos companheiros.

Só quando Weasley, já abaixado ao chão novamente, o cutucou, que Potter seguiu junto a ele com um sorriso já não tão alegre, ignorando Draco como se ele fosse um ponto; um fantasma; algo que só Potter podia ver, mas que não gostava nadinha. O coração de Draco pulou uma batida, a ansiedade e o medo o tomando quase por completo, fazendo a Marca Negra em seu braço coçar como um lembrete incomodo.

Ele sabia que Potter, de alguma forma, estava xeretando em seus negócios, mas o que mais o incomodava não era o grande nariz que Potter metia em qualquer lugar, e sim o quanto ele já sabia. O Armário Sumidouro talvez? Se sim, ele já havia dito a Dumbledore tudo que havia descoberto? Talvez não, pois Draco ainda continuava vivo e sem algemas ao redor do pulso, com uma passagem só de ida para Azkaban.

Ele continuou olhando para onde Potter havia seguido junto a Weasley, como se se assegurasse de que o garoto não iria voltar para lá e matá-lo de uma vez, e só quando Blaise passou por ele e o chamou que ele se atentou que ainda estava parado.

— Você não vem? — O mais alto perguntou, e Draco piscou algumas vezes, esforçando-se para assimilar a pergunta.

Assim que abriu a boca para responder, uma garota sonserina de cabelos castanhos e pequenas sardas espalhadas pelo rosto os interrompeu, parando na frente de Blaise e lhe desferindo um tapa estalado em uma das bochechas, fazendo Zabini empurrar o rosto para o lado.

— E nunca mais olhe para mim! — Ela disse, e saiu marchando chorosa para o ombro de uma das amigas mais à frente, que olhavam feio para os dois — a não ser por uma lufana que piscou para Blaise e lhe ofereceu um sorriso sugestivo.

Ele sorriu para ela de volta, com uma das mãos ainda descansando na bochecha brevemente agredida e ela se virou para as amigas novamente.

As sobrancelhas de Draco se juntaram quase em uma só, olhando confuso para toda a situação, mas ainda assim seguindo Blaise quando o mesmo começou a andar.

— Garotas... — Ele disse, olhando risonho para Draco — Confundi seu nome com o de outra menina da Sonserina quando estávamos no Três Vassouras. Ela se levantou e jogou cerveja amanteigada no meu uniforme. — Ele fez uma careta, como se a lembrança o doesse — Pansy e Theo não paravam de rir quando ela saiu.

Um breve riso baforado escapou por entre os lábios de Draco ao imaginar toda a cena, e Blaise o olhou por trás dos cílios.

Por um momento, ao entrar no Salão Principal e sentar-se à mesa da Sonserina, Draco se sentiu só mais um aluno normal. Por esse instante, ele se sentiu como Theo e Blaise, apenas mais um aluno tentando concluir seus estudos, passando pela adolescência e se tornando um bruxo de verdade.

Por um momento, ele esqueceu que em sua casa, ameaçando aos seus pais, estava um bruxo genocida que o fazia tremer só de olhá-lo. Por um momento, ele esqueceu de sua missão, dada por este mesmo genocida e, por esse pequeno momento, ele não sentiu o peso da Marca Negra em seu pulso.

Mas, assim como tudo no mundo, esse pequeno momento morreu ao que Draco encontrou olhos esmeralda do outro lado do salão. Olhos esses que o olhavam em determinação e ódio, então a manga do pulso de Draco se apertou ainda mais e ele de repente queria correr, correr e se esconder.

 

***

 

Draco não havia conseguido dormir por quase toda noite e seus olhos fundos e semblante cansado diziam isso para todos sem que ele precisasse falar nada.

Não tanto para a sua surpresa, ninguém havia o incomodado; nem mesmo Theo, com seu jeito sempre muito “discreto” de começar conversas.

Agora ali, na aula de Poções, ele lutava para não deixar seu sono transparecer tanto quanto o sentia. A janela ao lado de sua mesa mostrava uma Hogwarts quase toda afundada no verde da primavera e o Salgueiro lutador podia ser visto com suas folhas renovadas dali.

— Draco! — Theo gritou ao seu lado, atraindo sua visão para um caldeirão borbulhante, transbordando um conteúdo gosmento que Draco mexia de modo lento e desleixado.

— Cuidado aí, Nott. — Slughorn de repente estava próximo à mesa dos dois, sorrindo divertido para a bagunça espalhada pelo chão e tábuas de corte. — Mexa sempre no sentido anti-horário, senhor Malfoy, a não ser que queira inundar toda a sala. — Ele deu um tapa nas costas de Draco que o fez se inclinar para frente com o impacto.

— Sim, Professor. — Ele respondeu de modo entediado, chacoalhando a varinha para tirar o conteúdo da poção de cima do livro de Theo, que o encarava com uma cara enjoada.

Um suspiro escapou por seus lábios, vendo que a poção se encontrava no pior estado possível.

Ele costumava ser bom nisso.

— Muito bem, turma, estão todos dispensados. Lembrem-se de que o resumo sobre as propriedades do veneno de cobra é até sexta! — Slughorn anunciou, fazendo com que a sala se preenchesse com o som de bolsas se abrindo e livros fechando, todos começando rapidamente a se mover em direção à saída.

— Como você conseguiu fazer isto? — Theo lhe perguntara enquanto organizava seus matérias, a boca ainda tensionada em um dos cantos enquanto olhava para seu livro, como se a poção gosmenta ainda estivesse por todas as suas folhas.

A expressão de Draco de repente se tornou irritadiça.

— Não sei, Theo. Talvez se você não fosse tão imprestável nessa matéria, poderia ter salvo a droga da poção. — Ele respondeu amargo, enfiando os livros da bolsa agora de modo irritado.

Theo abriu a boca como se estivesse prestes a iniciar uma discussão, quando Blaise falou na sua frente.

— Aí, podemos ir? — ele perguntou impaciente, se aproximando da mesa dos dois com Pansy a reboque, lançando a Theodore um olhar inciso e o fazendo revirar os olhos.

— Vamos. — Theo respondeu desanimado, saindo e sendo acompanhado por Pansy logo atrás, que deu um olhar vagamente preocupado a Draco antes de seguir o outro garoto.

Draco encarou o caldeirão gosmento, vendo pela sua visão periférica que Blaise continuava ali.

— Não precisa me esperar. — Draco disse direto, ainda organizando seu material dentro da bolsa, agora mais calmo.

— Não quero ter que lidar com você e Theo se azarando lá fora assim que eu desviar o olhar. — Ele comentou, ajeitando a alça de sua bolsa sobre o ombro e colocando as mãos dentro dos bolsos da calça.

Draco quis rir com a declaração.

Ao fechar sua bolsa, ele notou que Slughorn se aproximava mais uma vez. A sala estava vazia agora, sem contar, é claro, pelo Trio de Ouro da Grifinória cochichando de modo que fez o canto da boca de Draco se torcer.

 — Senhor Malfoy, uma palavrinha? — ele disse, se virando para Blaise com um sorriso de quem gentilmente o convidava a se retirar.

Blaise virou para Draco, que lhe deu um aceno de cabeça em direção à porta e assim o mais alto seguiu revirando os olhos.

— Professor. — Draco cumprimentou, abaixando seus pertences à mesa novamente — Como posso ajudar?

— Oh, bem, tomei a liberdade de pegar um dos frascos de Poção Calmante de Madame Pomfrey e... bem, refiná-la. — Confessou, olhando para os lados como se desse a Draco algo proibido e ele estendeu um frasco de poção branca e levemente cintilante.

Draco o pegou hesitante, parecendo confuso ao olhar de volta para o professor.

— Desculpe, senhor, mas para que eu iria querer isto?

— Oh, bem... — Slughorn riu desconfortável, alisando as roupas sobre a barriga rechonchuda sem jeito — Venho percebendo que você, senhor Malfoy, tem tido alguns problemas para acompanhar o período letivo, — Ele limpou a garganta, voltando a sorrir para Draco — e não gostaria que um dos meus potencialmente melhores alunos fosse arruinado por uma semana de provas cansativas. — Ele deu uma piscadela em direção a Draco, que fechou a expressão pela intromissão.

— Eu agradeço muito, Professor, mas já lhe disse que não tenho interesse em entrar para seu... clube. — Draco concluiu, olhando para Potter de soslaio, que agora se encontrava sozinho do outro lado da sala como se esperasse por alguém. Ele se voltou para Slughorn — E tenho certeza de que não preciso disto. — Ele levantou a poção para o velho novamente, que a negou com as duas mãos em um sinal de pare.

— Oh, não, não, Draco, fique com isso; todos precisamos em algum momento. — O velho parecia ter um semblante preocupado e lhe ofereceu um sorriso que quase parecia de pana. Draco crispou os lábios, afundado ainda mais a carranca com o uso de seu primeiro nome — E quanto ao meu encontro de estudantes, eu garanto que seu amigo, senhor Zabini, adoraria ter você lá.

Draco colocou o frasco dentro da bolsa, pondo sua alça sobre o ombro e se aprontando para dar um fim naquela conversa.

— Novamente agradeço, mas não.

Um pigarro subitamente se fez presente e os dois se viraram em sua direção, onde se mostrava um Potter parecendo impaciente. Merlin, Draco só queria sair dali.

— Oh, sim, Harry! Quase me esqueci de você. Bem, conversamos depois, sim, senhor Malfoy?

E Draco sorriu forçado para o professor, se apressando em sair da sala de aula que de repente se tornava pequena demais.

Ele andou pelos corredores, indo, lentamente, em direção ao Salão Principal, olhando para os lados, no que ele insistia dizer que não era em busca de Blaise. Muitos alunos se encontravam espalhados pelo castelo, alguns no pátio com seus mais diversos grupos de amigos, sentados nas muretas em arcos das pilastras do primeiro andar,  pela grama compartilhando o dever de casa ou resumos atrasados. A tarde estava próxima de acabar, sendo por volta de quatro da tarde e fazendo o céu ser tomado por uma coloração amarelada. A luz projetada pelos espaçamentos das muretas das pilastras em arco batia diretamente no chão dos corredores do castelo, dando um ar surpreendentemente calmo a Draco, fazendo os raios de sol baterem em seu perfil esporadicamente.

Então, ele fechou os olhos por um momento, deixando o ar calmo do fim do horário permear por seus pulmões e chegar até sua cabeça para o deixar mais tranquilo, gravando o sentimento em sua memória.

— Ela acordou! — Uma garota passou bruscamente por ele, empurrando seu ombro quando correu em direção a outra garota, de modo animado. — Katie! Ela finalmente acordou!

E como se ele tivesse sido atordoado por ela ao invés de apenas brevemente empurrado, Draco se manteve estático; de repente, o sangue lhe faltava nas mãos. Sua respiração aos poucos se tornou ansiosa e ele se viu na urgência de sair dali; a visão turva ao que virou uma esquina de volta ao Salão Principal.

Ele desabotoou os dois primeiros botões de sua camisa, afrouxando a gravata verde e prata no pescoço, e passou a mão pelos cabelos, sua testa voltando a suar mais uma vez. O que Bell diria a todos  assim que  acordasse? Era a pergunta que o assolava todos os dias desde que a garota foi hospitalizada em um coma magicamente induzido. Ele não sabia o que era pior, se acordasse ou não, ele não sabia dizer.

Ele passou pelas portas do salão ainda se sentindo desorientado e encontrar o lugar infestado por estudantes não contribuiu para o estado de suas pernas bambas. Ele passeou os olhos pelo lugar, piscando no processo, a procura de algo que ele não sabia bem o queera.

Seus olhos então pousaram em uma garota de olhos fundos e bochechas magras.

Katie Bell estava bem e de pé, e o alívio misturado com medo afogou o peito de Draco. Sua respiração estava agora totalmente ofegante e desesperada, a boca aberta convergindo com a velocidade que seu peito subia e descia. Bell conversava com alguém, algum garoto com o que deveriam ser óculos e tudo que Draco viu foram borrões verdes antes de já estar correndo em direção ao único lugar onde teria certeza de não haver ninguém.

Se você não contar fantasmas como alguém, é claro.

Ele só parou de correr quando chegou ao banheiro dos monitores no segundo andar, tirando completamente sua túnica escolar e gravata, jogando sobre sua bolsa no chão úmido. Ele abriu a torneira da pia de modo perturbado, suas mãos tremendo quase não o permitindo concluir a ação, e apanhou um pouco da água com as palmas em formato de concha, jogando o líquido sobre o rosto pálido.

Ele tentou ignorar seu reflexo no espelho encardido e então desabou sobre os próprios calcanhares, arrastando-se para a parede ao lado da pia e juntado as pernas ao corpo, abraçando-as.

Ele, então, se desmontou em lágrimas, chorando incontrolavelmente; seus soluços interrompendo sua respiração ociosa em espasmos irregulares. Cada vez que seus ombros tremiam, ele jurava que iria quebrar. Jurava que, de alguma forma, se chorasse o suficiente, aquela dor ia se esvair de seu corpo e o levar junto, escorregando dali para fora da casca cansada que se autointitulava como “Eu”.

Como se uma luz acendesse em sua cabeça, em um surto desesperado para que a tempestade que se encontrava dentro de seu peito finalmente cessasse, ele deslizou uma das mãos tremulas para o bolso da calça, ainda com soluços escapando por entre seus lábios e fazendo-o sentir o gosto salgado das próprias lagrimas que caiam sem parar.

Ele olhou para a varinha em sua mão pálida, dedos a pressionando até suas unhas ficarem brancas. Então, levou a ponta até a lateral da própria cabeça, afundando o local com mais força do que o necessário e seus lábios se separaram para dizer o feitiço.

Mas nada veio, a boca aberta, com seu queixo tremulo pronto para escorregar as palavras que engasgaram e morreram em sua garganta. Ele não conseguia.

Sua mão despencou para o chão ao seu lado e mais uma onda de lágrimas inundou seu rosto, o fazendo tremer com a cabeça entre as pernas enquanto a abraçava.

Depois de tudo, ele ainda não passava de um...

Covarde!

A voz sibilante de tia Bellatrix se fez presente em sua mente, e seus soluços se tornaram mais e mais altos.

Isso até ele ouvir um barulho de passos sobre poças de água, levantando sua cabeça abruptamente para encontrar olhos verdes brilhantes que o lembravam da grama verde da primavera lá fora.

O azul nebuloso se misturando com o verde-esmeralda fazendo sua cabeça doer e girar.

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