Magic Heart

Marvel Cinematic Universe Agatha All Along (TV) Black Widow (Movie 2021) WandaVision (TV) Black Widow (Marvel Comics)
F/F
G
Magic Heart
Summary
O amor pode ser uma bênção ou uma maldição.Por gerações, as mulheres da família Harkness carregaram o peso de uma magia antiga e uma sina cruel: toda bruxa da família está fadada a perder quem mais ama. Ligadas por um destino inevitável, Wanda e Agatha nunca puderam fugir da herança de sua linhagem - mas agora, juntas, elas precisam enfrentar algo muito pior.Quando um ritual dá errado, uma entidade sombria retorna para reivindicar sua vingança, trazendo consigo segredos enterrados e verdades que foram mantidas escondidas por tempo demais. Presa entre o passado e o presente, Wanda se vê diante de uma escolha impossível: aceitar o legado que corre em suas veias e abraçar seu verdadeiro poder, ou assistir enquanto tudo o que ama é consumido pela escuridão.Entre feitiços perigosos, laços familiares inquebráveis e um romance que desafia o tempo, essa história é sobre bruxas que amam, lutam e escrevem seu próprio destino, mas a magia sempre cobra seu preço. E o coração de uma feiticeira nunca pertence apenas a ela.Wandanat (wantasha) e Agathario FanfictionAll Rights Reserved
Note
Essa é minha primeira fanfiction tendo natasha e wanda como casal principal, espero que gostem.Sinto muito, mas sou brasileira e não estou afim de traduzir isso para o inglês, então terão que utilizar o tradutor do google.Tenham uma boa leitura e até mais!
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Ligações de Sangue

Translator

 

 

 

 

 

O silêncio na Casa das Bruxas era quase palpável. Três semanas haviam se passado desde a partida abrupta de Agatha e Nico. Três semanas em que Wanda sentiu como se tivesse perdido sua irmã pela segunda vez. A breve reconexão na estufa, aquele momento de vulnerabilidade compartilhada, tornava a nova separação ainda mais dolorosa.

— Ela vai voltar — afirmou Tommy durante o café da manhã, enquanto mastigava distraidamente uma torrada. — A tia Agatha. Ela não iria embora sem se despedir de verdade.

Wanda sorriu para o filho, admirando sua convicção inabalável. Tinha pouca idade e já demonstrava uma compreensão tão aguda do mundo ao seu redor.

— Talvez ela tenha tido seus motivos — respondeu, tentando acreditar em suas próprias palavras.

— Foi aquela moça estranha — comentou Billy, seus olhos verdes intensos fixos na mãe. — Ela tem algo ruim dentro dela. Escuro. Eu senti.

Um calafrio percorreu a espinha de Wanda. Billy sempre teve uma sensibilidade especial, uma capacidade de perceber o que os outros não conseguiam. Morgana chamava isso de "o olho interior", a habilidade de enxergar além do véu que separava o mundano do místico.

— Nico é... complicada — interveio Morgana, colocando mais chá em sua xícara. — Há uma turbulência em sua aura que não é natural. Uma dissonância.

— Vocês acham que a tia Agatha está em perigo? — perguntou Tommy, parando de mastigar, sua habitual energia inquieta momentaneamente contida pela preocupação.

Wanda trocou um olhar com a avó, hesitando. Como explicar aos filhos seus temores sem assustá-los desnecessariamente?

— Sua tia sabe se cuidar — respondeu finalmente. — Sempre soube.

A manhã transcorreu como qualquer outra desde a partida de Agatha. Os gêmeos foram para a escola, Morgana foi ao mercado da cidade buscar ingredientes para suas poções, e Wanda se retirou para a biblioteca, continuando sua pesquisa interminável sobre a maldição familiar. Lilia havia partido dois dias após Agatha, murmurando algo sobre "conexões" que precisava verificar, deixando para trás apenas a promessa de retornar com informações úteis.

Foi pouco depois do meio-dia, quando a casa estava silenciosa e o sol de outono projetava padrões dourados através das cortinas de renda, que o telefone tocou. Um som estridente que pareceu ecoar pelos corredores vazios da mansão como um presságio.

Wanda atendeu distraidamente, esperando ser algum dos clientes de Morgana em busca de uma poção para dores nas juntas ou insônia.

— Residência Harkness.

Silêncio do outro lado. Então, um sussurro tão baixo que Wanda teve que pressionar o aparelho contra o ouvido.

Wandy...

A voz era apenas uma sombra do que deveria ser, uma versão quebrada e rouca do apelido que apenas uma pessoa no mundo usava. Wanda sentiu o sangue gelar em suas veias.

— Agatha? Agatha é você? O que houve? Onde você está? Irmã?

Mais silêncio, intercalado por uma respiração irregular, dolorosa.

Preciso... de você... 342 Blackwood Avenue Ravencroft.

Um barulho brusco interrompeu a ligação, como se o telefone tivesse caído das mãos de Agatha. Wanda chamou pelo nome da irmã repetidamente, mas a linha havia sido cortada.

Ravencroft. Uma cidade industrial cerca de duas horas ao norte de Ravenwood. Um lugar conhecido por suas fábricas abandonadas e altos índices de criminalidade. O que Agatha estaria fazendo lá?

Wanda não perdeu tempo com conjecturas. Escreveu um bilhete rápido para Morgana, apanhou sua bolsa contendo alguns ingredientes básicos para proteção e cura, e dirigiu-se à garagem onde o antigo carro de Victor ainda permanecia, intocado desde o acidente.

Por um momento, hesitou com a mão na maçaneta da porta. Não dirigia desde a morte do marido, as memórias ainda são dolorosas demais. Mas Agatha precisava dela. Respirando fundo, entrou no veículo e girou a chave, tentando ignorar o perfume de Victor que ainda persistia no interior, como um fantasma que se recusava a partir.

A estrada para Ravencroft serpenteava através de florestas densas que começavam a exibir os primeiros sinais do outono — folhas douradas e vermelhas misturando-se ao verde persistente dos pinheiros. Em outras circunstâncias, Wanda teria apreciado a beleza da paisagem. Hoje, porém, cada curva parecia interminável, cada semáforo uma tortura.

Blackwood Avenue revelou-se uma rua estreita nos limites de Ravencroft, onde prédios de tijolos abandonados alternavam-se com pequenos comércios de fachadas desbotadas. O número 342 pertencia a um edifício de três andares, sua fachada manchada pela fuligem da antiga fábrica ao lado. As janelas do segundo andar estavam cobertas por cortinas escuras, contrastando com as demais, que exibiam persianas baratas ou jornais pregados no lugar de cortinas.

O hall de entrada cheirava a mofo e desinfetante barato. Não havia interfone ou porteiro, apenas uma escada estreita com degraus gastos pelo tempo. Wanda subiu cautelosamente, seus sentidos mágicos em alerta. Havia algo no ar, uma energia residual que fazia o cabelo de sua nuca se arrepiar, vestígios inequívocos de magia praticada recentemente. Magia obscura.

No segundo andar, parou diante de uma porta com o número 2C pintado em bronze desbotado. Antes que pudesse bater, a porta se abriu alguns centímetros, revelando parte do rosto de Agatha. Um olho azul-escuro, cercado por uma contusão roxa que se espalhava pela têmpora.

— Você veio — sussurrou Agatha, seu tom uma mistura de alívio e medo. — Entre. Rápido.

O interior do apartamento contrastava drasticamente com sua aparência externa. Embora pequeno, estava impecavelmente organizado e decorado com objetos que Wanda reconheceu como artefatos mágicos valiosos, um espelho ornamentado com símbolos antigos, cristais dispostos em padrões específicos nas prateleiras, livros encadernados em couro com títulos em línguas que poucos mortais compreenderiam, mas o que captou sua atenção imediatamente foi Agatha.

Sua irmã estava quase irreconhecível. O rosto, normalmente altivo e cheio de vida, exibia não apenas a contusão visível na porta, mas várias outras marcas, um corte no lábio inferior, uma queimadura estranha que se estendia pelo pescoço, desaparecendo sob a gola alta de seu suéter preto. Seus movimentos eram rígidos, cautelosos, como se cada passo causasse dor.

— Pelo amor de Hécate, Agatha, o que aconteceu com você? — Wanda se aproximou, mãos já brilhando com energia vermelha pronta para curar. — Foi Nico? Ela fez isso?

Agatha recuou ligeiramente, um reflexo que partiu o coração de Wanda. Sua irmã nunca havia temido seu toque antes.

— Não aqui — murmurou, olhando nervosamente para as janelas cobertas. — No banheiro. As paredes têm proteção extra.

O banheiro era minúsculo, mas ali, com a porta trancada e um feitiço de silêncio rapidamente murmurado por Agatha, ela finalmente pareceu relaxar um pouco.

— Você não deveria ter vindo — disse, mesmo que seus olhos transmitissem o oposto. — É perigoso.

— Eu sou sua irmã — respondeu Wanda simplesmente, como se isso explicasse tudo. E explicava. — E  você me ligou, deixe-me ver seus ferimentos.

Relutantemente, Agatha removeu o suéter, revelando o verdadeiro horror oculto sob o tecido. Seu torso estava coberto por marcas que Wanda reconheceu imediatamente como resultantes de magia negra. Queimaduras em padrões específicos, símbolos entalhados na pele como se por uma faca invisível, e o mais perturbador — uma marca negra que pulsava sobre seu coração, como uma teia de aranha feita de veias escurecidas.

— Nico — confirmou Agatha, vendo a compreensão nos olhos de Wanda. — Ela não é quem eu pensava e acreditava ser.

Enquanto aplicava unguentos de cura e entoava encantamentos para neutralizar os efeitos da magia negra, Wanda escutou a história completa. Como Nico havia aparecido em sua vida há dois anos, apresentando-se como uma jovem bruxa em busca de orientação. Como gradualmente ganhou sua confiança, oferecendo conhecimentos raros de magia oriental que fascinaram Agatha. Como, lentamente, a relação evoluiu para algo mais íntimo, mais intenso — e mais perigoso.

— Eu não percebi o quão obsessiva ela estava se tornando — explicou Agatha, estremecendo quando Wanda tocou um símbolo particularmente doloroso próximo ao seu ombro. — No início, achei que fosse apenas paixão, devoção. Ela jurava que ninguém nunca me amaria como ela, que ninguém me entenderia como ela. E eu... eu acreditei. Depois de Hella passei muito tempo sozinha e conforme o tempo com Nico passava eu percebia que ela não era afetada pela maldição.

— Porque você não a ama — Decretou Wanda, recebendo um aceno de Agatha.

Os olhos de Agatha, normalmente tão seguros e confiantes, agora evitavam os de Wanda, como se envergonhados.

— Quando conheci sua família, os meninos, quando vi como vocês viviam, como você havia reconstruído sua vida apesar da perda e da maldição — Agatha faz uma pausa como se buscasse por palavras — Comecei a questionar minhas escolhas. Comecei a sentir falta do que tínhamos, Wanda. Nossa conexão. Nossa família.

— E Nico percebeu — concluiu Wanda, compreendendo finalmente. — Ela viu que você estava considerando voltar.

Agatha assentiu lentamente.

— Ela ficou furiosa. Disse que eu pertencia a ela agora, que tínhamos um vínculo que transcendia sangue ou família. — Sua voz falhou. — Foi quando descobri que ela vinha misturando seu sangue à minha comida por meses, criando um vínculo mágico sem meu conhecimento. Um vínculo que ela poderia usar para me controlar, para me causar dor se eu tentasse partir.

Wanda sentiu uma onda de náusea e raiva. Vínculos de sangue forçados eram uma das práticas mais abomináveis na tradição mágica, uma violação da autonomia que a maioria dos praticantes considerava imperdoável.

— Como você conseguiu fugir?

Um sorriso fraco apareceu nos lábios machucados de Agatha.

— Eu ainda sou uma Harkness, não sou? — Ela ergueu levemente o queixo, um vislumbre da antiga Agatha aparecendo brevemente. — Esperei até que ela saísse para buscar ingredientes para o próximo ritual que planejava. Consegui quebrar temporariamente o vínculo usando um contra-encantamento antigo que aprendi com a vovó. Dura apenas algumas horas, mas foi o suficiente para fugir e vir pra cá, é um lugar que tinha com Hella. Usei o que me restava de energia para protegê-lo, mas sei que ela está me rastreando. É apenas questão de tempo.

— Então vamos embora agora mesmo — decidiu Wanda, terminando o último encantamento de cura. As feridas visíveis haviam melhorado consideravelmente, mas a marca sobre o coração de Agatha permanecia, talvez um pouco menos intensa, porém ainda ali. — Voltamos pra casa. Juntas, com Morgana e Lilia, podemos quebrar esse vínculo permanentemente.

Agatha parecia querer protestar, mas a exaustão em seu rosto era evidente. Finalmente, assentiu.

— Precisamos ser rápidas. E cuidadosas.

Não demoraram mais que dez minutos para reunir os pertences essenciais de Agatha — principalmente grimórios e artefatos que não poderiam cair nas mãos de Nico. Wanda notou como a irmã se movia com eficiência apesar da dor, como seus olhos constantemente verificavam as janelas e a porta, como sobressaltava-se ao menor ruído. O que Nico havia feito com sua irmã confiante e destemida ia muito além das feridas físicas.

Estavam prestes a sair quando sentiram. Uma mudança na pressão do ar, um formigamento na base da espinha que todas as bruxas reconheciam instintivamente. Magia aproximando-se. Magia poderosa.

— Ela nos encontrou — sussurrou Agatha, seu rosto empalidecendo ainda mais. — Rápido, pelos fundos.

O prédio possuía uma escada de incêndio enferrujada que descia em zigue-zague pela parte traseira. Wanda desceu primeiro, ajudando Agatha cujos movimentos ainda eram limitados pelos ferimentos. Estavam quase chegando ao beco quando a ouviram.

— Saindo sem se despedir, querida?

Nico estava parada na entrada do beco, bloqueando sua única rota de fuga. Vestia um traje inteiramente negro que parecia absorver a luz ao seu redor. Em sua mão direita, segurava um pequeno bastão que Wanda reconheceu imediatamente como o Cajado de Um, um artefato místico lendário que supostamente canalizava a energia das dimensões sombrias.

— Afaste-se, Nico — advertiu Wanda, posicionando-se instintivamente entre a jovem bruxa e sua irmã. — Seja lá qual for o vínculo que você criou, nós podemos quebrá-lo. Deixe a Agatha em paz.

Um sorriso lento e cruel espalhou-se pelo rosto de Nico.

— Wanda Harkness. A irmãzinha querida. — Sua voz era melodiosa, quase hipnótica. — Você realmente não entende, não é? Agatha nunca foi sua. Ela sempre foi destinada a mim. Nossos caminhos foram entrelaçados pelo destino muito antes de você nascer.

— Ela está delirando — murmurou Agatha, sua mão agarrando o braço de Wanda. — O poder do Cajado está consumindo-a. Precisamos...

— Silêncio! — A voz de Nico explodiu como um trovão, o Cajado em sua mão emitindo um pulso de energia negra que fez Agatha dobrar-se de dor, a marca em seu peito pulsando visivelmente mesmo através de sua roupa. — Você não tem permissão para falar, amada. Não até aprendermos algumas lições sobre lealdade.

Wanda sentiu a raiva crescer dentro de si, aquela mesma fúria incandescente que experimentara após a morte de Victor. Sua visão tingiu-se de vermelho, energia escarlate crepitando em seus dedos.

— Você não vai tocá-la novamente — declarou, sua voz calma, mas carregada de uma ameaça implícita.

Nico riu, um som que não continha qualquer humor real.

— Ou o quê? Vai me lançar algumas centelhas vermelhas? — Ela deu um passo à frente, girando o Cajado casualmente entre os dedos. — Você pode ter nascido de uma linhagem antiga, Wanda, mas eu mergulhei em abismos que você sequer pode imaginar. Provei da escuridão que existe entre as realidades. O que você tem a oferecer contra isso?

A resposta de Wanda foi imediata e instintiva. Um jato de energia escarlate disparou de suas mãos, visando não Nico diretamente, mas o Cajado. Se pudesse separá-la de sua fonte de poder...

Nico reagiu com uma velocidade sobrenatural, desviando-se do ataque e contra-atacando com uma rajada de sombras que pareciam ter substância própria, tentáculos de escuridão que se estendiam em direção às irmãs Harkness.

O beco transformou-se em um campo de batalha mágico. Wanda, canalizando sua energia para proteger Agatha e a si mesma, criava escudos escarlates que as sombras de Nico tentavam penetrar. Agatha, apesar de enfraquecida, contribuía com precisos contra-encantamentos que momentaneamente desfaziam as construções mais complexas de Nico.

— Vocês não podem me derrotar — gritou Nico, seu corpo agora levitando alguns centímetros acima do chão, o Cajado emitindo pulsos cada vez mais intensos de energia sombria. — Eu sou a herdeira legítima dos Minoru. O sangue de feiticeiros dimensionais corre em minhas veias!

— E o sangue das Harkness corre nas nossas — respondeu Wanda, seus olhos encontrando os de Agatha. Um entendimento silencioso passou entre elas, aquela conexão que sempre tiveram desde crianças.

No segundo seguinte, ambas atacaram simultaneamente — Wanda com um poderoso jato de energia caótica, Agatha com um encantamento antigo que temporariamente neutralizava artefatos místicos. A combinação pegou Nico desprevenida. A energia escarlate de Wanda atingiu-a diretamente no peito, enquanto o encantamento de Agatha fez o Cajado falhar por um instante crucial.

O impacto foi catastrófico. O Cajado, desestabilizado pelo encantamento, mas ainda carregado de energia sombria, explodiu em uma implosão de escuridão que momentaneamente engoliu Nico. Quando a escuridão se dissipou, ela jazia imóvel no chão do beco, o Cajado partido ao seu lado, uma expressão de surpresa congelada em seu rosto pálido.

Wanda correu até ela, ajoelhando-se para verificar pulso e respiração. Nada.

— Ela está...? — A voz de Agatha tremeu ligeiramente.

Wanda assentiu, incapaz de formular as palavras. Haviam matado alguém. Não intencionalmente, não por maldade, mas o fato permanecia — uma vida havia sido tirada por suas mãos e se alguém descobrisse isso poderia gerar problemas irreparáveis.

O silêncio que se seguiu foi pesado, denso com implicações não ditas. Finalmente, Agatha falou, sua voz mais firme, mais parecida com a Agatha que Wanda conhecera.

— Wanda.

— Nós a matamos. — Wanda corta, sua fala é nervosa enquanto tira os fios ruivos do rosto.

— Deveríamos ir até a polícia — a irmã mais velha diz, seu tom cheio de dúvidas — Foi um acidente, acho que não teríamos problemas, foi legítima defesa — Agatha tentou justificar.

— Nós a matamos, a matamos com magia, como explicamos isso? — Wanda atira, pensamentos sobre seus filhos e o que aconteceria com eles passando por sua mente a deixando inquieta.

— Existe um jeito. — Agatha se ajoelhou ao lado de Wanda, seus olhos fixos no corpo de Nico. — Um ritual de ressurreição. Eu aprendi com ela, ironicamente. Os Minoru têm conhecimentos sobre a fronteira entre vida e morte que não existem nos grimórios ocidentais.

— Ressurreição? — Wanda sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Tal magia era perigosa, imprevisível, frequentemente com um preço terrível a ser pago. — Agatha, você sabe os riscos.

— Sei que não podemos deixá-la assim! — A voz de Agatha elevou-se ligeiramente, seus olhos implorando compreensão. — Independente do que ela fez, não tínhamos o direito de tirar sua vida. Temos que consertar isso, Wanda. E eu sei que você está preocupada com os meninos, não quero que nada afete você e eles. Podemos fazer isso e apagar a memória dela, nós sabemos que você pode fazer isso com a mente das pessoas.

A determinação no olhar de Agatha era inconfundível. E, no fundo, Wanda sabia que ela estava certa. A ideia de carregar outra morte em sua consciência era insuportável e a de perder seus filhos por ir presa a fazia sentir doente.

— O que precisamos? — perguntou finalmente.

O ritual exigia uma combinação específica de elementos: sangue das executoras para estabelecer uma conexão, ervas raras que Agatha felizmente possuía em seu apartamento, cristais para canalizar energia e, o mais importante, algo branco para desenhar em seu peito, finalmente chegando na recitação precisa de um encantamento em uma língua antiga que Agatha dominava apenas parcialmente.

Transportaram o corpo para o apartamento, colocando-o no centro de um círculo ritual traçado apressadamente no piso da sala. As cortinas foram fechadas, velas negras posicionadas em pontos específicos, e os cristais arranjados em um padrão que, segundo Agatha, simbolizava a passagem entre os reinos.

Wanda reproduziu com um pouco de sangue de pombo o desenho de uma estrela invertida no vale entre os seios de Nico.

— Precisamos nos cortar simultaneamente — instruiu Agatha, entregando a Wanda uma pequena adaga ritual com inscrições estranhas em sua lâmina. — O sangue deve cair sobre o coração dela exatamente quando eu terminar o encantamento. Entendeu?

Wanda assentiu, observando enquanto a irmã começava a recitar palavras em uma língua que soava como nada que já tivesse ouvido antes — sílabas que pareciam dobrar-se sobre si mesmas, vogais que ressoavam em frequências que faziam seus dentes doerem.

À medida que o encantamento progredia, o ar no apartamento tornou-se pesado, como se estivesse saturado com alguma substância invisível. Os cristais começaram a emitir um brilho pálido, e as sombras projetadas pelas velas pareciam mover-se de forma independente da luz. Com um olhar de Agatha, Wanda utilizou o giz feito com cinzas de ossos e traçou por cima do sangue da pomba a forma da estrela no peito de Nico.

Finalmente, com um gesto de Agatha, ambas cortaram as palmas de suas mãos, permitindo que o sangue gotejasse sobre o peito imóvel de Nico. No instante em que o líquido vermelho tocou o corpo e foi absorvido pelo branco, uma onda de energia escura emanou do círculo, apagando todas as velas e lançando as irmãs contra a parede mais próxima.

Por alguns segundos, a escuridão foi completa. Então, lentamente, uma luz começou a se formar no centro do círculo — não o brilho esperado de vida retornando, mas um fulgor sinistro, esverdeado, que emanava do corpo de Nico.

Seus olhos se abriram, mas não eram mais os olhos escuros que conheciam. Eram orbes completamente negros, sem íris ou pupila, como buracos vazios para um abismo sem fim.

— Vocês me trouxeram de volta — disse uma voz que era e não era a de Nico, cada palavra reverberando como se múltiplas vozes falassem em uníssono. — Que... gentil.

Ela se levantou em um movimento fluido demais para ser natural, como se fosse uma marionete manipulada por cordas invisíveis. Seu olhar — aquele olhar vazio, abissal — fixou-se em Agatha.

— Minha amada. — Um sorriso torto formou-se em seu rosto. — Agora podemos ficar juntas para sempre. Na vida... ou na morte.

Num movimento rápido demais para ser detido, Nico lançou-se sobre Agatha, mãos estendidas como garras em direção ao seu rosto. Wanda reagiu instintivamente, sua magia escarlate explodindo de suas mãos com uma intensidade alimentada pelo puro terror.

A energia atingiu Nico diretamente, lançando-a para longe de Agatha. Mas em vez de causar dano físico, a magia de Wanda pareceu interagir com o que quer que tivesse retornado no corpo de Nico. Uma reação ocorreu — luz escarlate misturando-se ao fulgor esverdeado, criando um redemoinho de energia que consumiu o corpo de Nico por dentro. Suas veias brilharam sob a pele como circuitos sobreccarregados, seus olhos negros expelindo feixes de luz esverdeada e carmesim.

Com um grito inumano que pareceu conter tanto raiva quanto surpresa, o corpo de Nico colapsou sobre si mesmo, a energia mágica implodindo e deixando para trás apenas uma forma humana comum, novamente sem vida.

O silêncio que se seguiu foi absoluto, quebrado apenas pela respiração ofegante das irmãs.

— O que... o que aconteceu? — perguntou Wanda finalmente, sua voz pouco mais que um sussurro.

Agatha se aproximou cautelosamente do corpo, seus movimentos lentos, calculados. Ajoelhou-se e examinou o rosto agora sereno de Nico, passando os dedos trêmulos sobre suas pálpebras fechadas.

— O ritual — disse finalmente, sua voz embargada. — Não trouxe Nico de volta. Trouxe... algo mais. Algo que estava esperando por uma porta.

— Uma entidade? — Wanda se aproximou, ainda sentindo os resíduos da energia estranha que havia presenciado.

— Ou um aspecto dela que já estava lá, esperando para ser liberado. — Agatha levantou-se, seu rosto endurecido por uma resolução sombria. — Não podemos tentar novamente, Wanda. Seja o que for, está melhor onde está agora.

O dia já começava a se transformar em crepúsculo quando finalmente terminaram. Em um acordo silencioso elas envolveram o corpo de Nico em lençóis brancos, realizaram um breve ritual de passagem — não de ressurreição desta vez, mas de respeito pelos mortos e proteção para os vivos — e transportaram-na para o carro de Wanda, escondida sob cobertores no banco traseiro.

A viagem de volta para Ravenwood foi silenciosa, cada irmã perdida em seus próprios pensamentos, o peso do que haviam feito e do que haviam testemunhado pairando entre elas como uma presença física.

Chegaram à Casa das Bruxas tarde da noite. Morgana esperava por elas na varanda, como se tivesse intuído seu retorno. Seu olhar percorreu o rosto abatido das netas e o volume suspeito que carregavam, mas não fez perguntas — não ainda.

— Precisamos enterrá-la — disse Agatha simplesmente, quando estavam seguras no interior da mansão. — Sob o salgueiro, no canto norte do jardim. É o lugar mais protegido magicamente.

— E mais distante da casa — acrescentou Wanda, pensando nos gêmeos que dormiam pacificamente, inconscientes dos eventos da noite.

 — Sabemos que não é o ideal, mas assim ninguém encontrará o corpo. — Acrescentou Agatha sabendo que isso amoleceria sua avó. — Não quero prejudicar vocês.

 

Morgana assentiu, seu rosto antigo revelando nada além de compreensão e aceitação. Tinha vivido o suficiente para saber que algumas perguntas são melhores quando não feitas imediatamente.

Sob o pálido luar de outono, as três gerações de mulheres Harkness cavaram uma sepultura profunda nas raízes retorcidas do antigo salgueiro. Não usaram magia para esta tarefa — algumas coisas exigem o esforço físico, o suor e a dor como forma de penitência, de reconhecimento pelo peso do ato.

Quando o corpo de Nico finalmente repousou na terra, Morgana conduziu um ritual simples mas potente — palavras murmuradas em uma língua ancestral, ervas específicas espalhadas sobre o corpo, um círculo de proteção traçado com sal e prata.

— Para que sua alma encontre paz — disse ela, fechando o ritual. — E para que permaneça onde deve estar.

Nos dias que se seguiram, a vida na mansão tentou retornar a uma aparência de normalidade. Agatha se instalou novamente em seu antigo quarto, a marca negra em seu peito gradualmente desaparecendo conforme os vínculos de sangue se dissolviam com a morte de quem os criara. Os gêmeos, encantados com o retorno permanente da tia, não questionaram sua aparência abatida ou as olheiras profundas sob seus olhos. Para eles, era apenas um novo começo, a família novamente completa.

Mas à noite, quando a mansão silenciava e apenas o vento sussurrava entre as árvores do jardim, as irmãs Harkness se encontravam na biblioteca, portas trancadas e protegidas por encantamentos de privacidade.

— As flores ao redor do salgueiro estão morrendo — comentou Wanda numa dessas noites, cerca de uma semana após o enterro. — E os pássaros não pousam mais nos galhos.

Agatha ergueu os olhos do grimório antigo que consultava, seu olhar encontrando o da irmã.

— Notei que a temperatura ao redor da árvore está mais baixa, mesmo nos dias ensolarados. — Ela hesitou, como se pesasse o significado de suas próximas palavras. — Você acha que...?

— Que algo está errado? — completou Wanda. — Sim. Sinto isso toda vez que passo perto daquela parte do jardim. Uma presença. Uma... dissonância.

Ambas sabiam o que isso significava, embora nenhuma quisesse pronunciar as palavras em voz alta. O espírito de Nico, ou o que quer que houvesse habitado seu corpo naqueles breves momentos após o ritual, não havia partido completamente. Algo permanecia, preso entre os mundos, ancorado pelo sangue e pela magia ao local de seu segundo descanso.

— Precisamos fortalecer os encantamentos de contenção — decidiu Agatha, virando páginas do grimório com renovada urgência. — Se há um resíduo espiritual, precisamos garantir que permaneça confinado àquela área.

Wanda concordou silenciosamente, mas uma inquietação persistia em seu âmago. Encantamentos e barreiras mágicas eram soluções temporárias para um problema potencialmente permanente. Quanto tempo conseguiriam manter contido o que quer que estivesse se manifestando? E o que aconteceria se falhassem?

A resposta para a última pergunta começou a se revelar na manhã seguinte. Wanda acordou com o som de Tommy gritando no jardim. Correu até a janela a tempo de ver o filho parado à beira do pequeno lago ornamental, apontando freneticamente para a água.

— Estão todos mortos! — exclamou ele quando Wanda chegou ao seu lado, ainda em seu robe. — Todos os peixes! Olha, mãe!

De fato, dezenas de peixes estavam mortos, boiando esturricados, sangue fluía manchando a água e o cheiro pútrido começava a subir.

— Ontem à noite flores negras abriram próximas ao salgueiro — Billy diz, os olhos fixos na árvore que balançava suavemente com o vento — E tinha uma mulher lá, uma mulher má.

— Filho, você tem certeza disso? — Wanda pergunta se abaixando para que seus olhos ficassem à altura da criança.

— Sim, mamãe. Eram três da manhã quando aconteceu e eu a vi, juro que não estou mentindo — o menininho promete.

— Eu sei meu amor, a mamãe só quer ter certeza. Vamos entrar e tomar café da manhã, vou limpar essa bagunça com a tia Agatha depois — Wanda diz sorrindo e iniciando uma nova conversa com os filhos na intenção de distraí-los do que estava acontecendo.

Ela e Agatha precisavam urgentemente acabar com isso antes que algo realmente sério acontecesse.

 

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