Magic Heart

Marvel Cinematic Universe Agatha All Along (TV) Black Widow (Movie 2021) WandaVision (TV) Black Widow (Marvel Comics)
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Magic Heart
Summary
O amor pode ser uma bênção ou uma maldição.Por gerações, as mulheres da família Harkness carregaram o peso de uma magia antiga e uma sina cruel: toda bruxa da família está fadada a perder quem mais ama. Ligadas por um destino inevitável, Wanda e Agatha nunca puderam fugir da herança de sua linhagem - mas agora, juntas, elas precisam enfrentar algo muito pior.Quando um ritual dá errado, uma entidade sombria retorna para reivindicar sua vingança, trazendo consigo segredos enterrados e verdades que foram mantidas escondidas por tempo demais. Presa entre o passado e o presente, Wanda se vê diante de uma escolha impossível: aceitar o legado que corre em suas veias e abraçar seu verdadeiro poder, ou assistir enquanto tudo o que ama é consumido pela escuridão.Entre feitiços perigosos, laços familiares inquebráveis e um romance que desafia o tempo, essa história é sobre bruxas que amam, lutam e escrevem seu próprio destino, mas a magia sempre cobra seu preço. E o coração de uma feiticeira nunca pertence apenas a ela.Wandanat (wantasha) e Agathario FanfictionAll Rights Reserved
Note
Essa é minha primeira fanfiction tendo natasha e wanda como casal principal, espero que gostem.Sinto muito, mas sou brasileira e não estou afim de traduzir isso para o inglês, então terão que utilizar o tradutor do google.Tenham uma boa leitura e até mais!
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A Tragédia de Wanda

Translator

 

 

 

 

 

O tempo, esse rio implacável que segue seu curso indiferente às nossas vontades, trouxe consigo mudanças que Wanda jamais imaginou possíveis. Dez anos haviam se passado desde a morte de Hella e a partida de Agatha. Dez anos em que Wanda tentou esquecer a maldição, tentou acreditar que poderia ter uma vida normal, longe da magia que corria em suas veias.

A Casa das Bruxas continuava lá, imponente no topo da colina que dominava Ravenwood, mas Wanda escolheu um caminho diferente. Mudara-se para o centro da cidade, para uma casa de tijolos vermelhos com janelas amplas que permitiam a entrada do sol, tão diferente das sombras perpétuas que habitavam os corredores da mansão de sua família. E não estava sozinha.

Victor Shade entrou em sua vida como uma brisa inesperada em um dia de verão. Alto, com cabelos castanhos que adquiriram tons dourados sob o sol e olhos de um azul claro, ele apareceu em Ravenwood para lecionar física na universidade local. Wanda o conheceu na pequena livraria da cidade, quando ambos alcançaram o mesmo livro ao mesmo tempo – um antigo tratado sobre a natureza da luz e das sombras.

— Perdão — disse ele, com um sorriso que iluminou seu rosto de uma forma que fez o coração de Wanda saltar. — Você estava primeiro.

Havia algo nele, uma calma, uma serenidade que parecia abrandar as tempestades que sempre assolaram a mente de Wanda. Victor era metódico, racional, um homem de ciência que acreditava que todo fenômeno possuía uma explicação lógica. Ainda assim, havia uma abertura em sua visão de mundo, uma disposição para considerar possibilidades além do que seus instrumentos de medição podiam captar.

Na primeira vez que Victor a convidou para jantar, Wanda quase recusou. A sombra da maldição pairava sobre ela como um corvo vigilante, lembrando-a do destino cruel que aguardava qualquer homem que ousasse amá-la.

— Não estou pedindo sua mão em casamento, Wanda — disse ele, rindo diante de sua hesitação. — É apenas um jantar. Uma troca de ideias entre mentes curiosas.

E assim começou. Uma conversa que se estendeu por horas, noites que se transformaram em semanas, em meses. Victor a fascinava com suas teorias sobre a natureza da realidade, a complexidade do universo, e a possibilidade de dimensões além da nossa percepção.

— As leis da física sugerem que o que chamamos de realidade é apenas uma fração do que existe — explicou ele certa noite, enquanto caminhavam sob um céu estrelado. — Há muito mais no universo do que podemos ver ou tocar.

— Isso soa quase como... magia — respondeu Wanda, testando os limites, observando sua reação.

Victor sorriu, aquele sorriso que parecia guardar segredos próprios.

— Talvez a magia seja apenas ciência que ainda não compreendemos totalmente.

Foi nesse momento que Wanda soube que estava perdida. Que, maldição ou não, seu coração havia escolhido, e ela não tinha forças para lutar contra esse sentimento.

A avó Morgana, é claro, tentou alertá-la.

— Você conhece nossa história, menina — disse ela, quando Wanda anunciou seu noivado, seis meses após conhecer Victor. — Conhece o preço que pagamos pelo amor.

— Talvez a maldição não seja mais forte que o amor, vovó — respondeu Wanda, com a convicção de quem acredita que sua história pode ser diferente. — Talvez seja essa a chave para quebrá-la: não fugir, mas enfrentar.

A cerimônia foi simples, realizada no jardim da Casa das Bruxas, sob o mesmo carvalho antigo que testemunhara tantas histórias de sua família. As rosas negras floresceram fora de estação, um sinal que Morgana interpretou com apreensão, mas que Wanda preferiu ver como uma benção.

Victor não se intimidou com o legado das Harkness. Aceitou a estranheza da mansão, os espelhos que às vezes refletiam mais do que deveriam, os livros que pareciam mudar de lugar durante a noite. Aceitou mesmo quando, em um momento de vulnerabilidade, Wanda revelou a verdade sobre sua família, sobre a magia que corria em suas veias.

— Você não acha que sou... estranha? — perguntou ela, após demonstrar como podia mover objetos com a mente, como podia sentir as emoções alheias quando tocava em certas pedras.

Victor pegou suas mãos entre as dele, seus olhos serenos e firmes.

— Acho que você é extraordinária, Wanda. E que existe muito no universo que ainda não compreendemos. Sua... habilidade é apenas parte do que você é. E eu amo cada parte.

Os primeiros anos de casamento foram de uma felicidade quase surreal. Wanda, que sempre vivera sob a sombra do medo, descobriu a liberdade de ser aceita por quem realmente era. Decidiu diminuir o uso de magia, não por medo, mas por escolha – queria experimentar a vida como Victor a via, através das lentes da ciência e da razão.

Quando descobriu a primeira gravidez, o medo voltou a assombrá-la. E se a maldição se estendesse a seus filhos? E se sua felicidade fosse apenas uma ilusão temporária, um intervalo cruel antes da tragédia inevitável?

— O que semeamos com medo, colhemos com dor — disse Morgana, quando Wanda compartilhou suas preocupações. — Mas o que plantamos com amor, mesmo em terra amaldiçoada, pode florescer de maneiras inesperadas.

Thomas chegou em uma noite de tempestade na virada das estações, como se o próprio céu celebrasse sua chegada com trovões e relâmpagos. Um menino saudável, de olhos verdes como os da mãe e uma energia que parecia vibrar ao seu redor. Desde o início, demonstrou uma afinidade com o movimento, uma inquietação que sugeria que, como Wanda, possuía uma conexão especial com o mundo.

Doze horas depois, William nasceu em uma manhã de primavera, sob um céu tão claro e azul que parecia uma bênção. Quieto onde Thomas era agitado, contemplativo onde o irmão era impulsivo, Billy mostrou desde cedo uma sensibilidade aguçada para o mundo ao seu redor, como se pudesse ver além do véu da realidade comum.

A vida seguia seu curso, aparentemente imune à maldição que Wanda temia. Victor continuava seu trabalho na universidade, cada vez mais respeitado por suas teorias inovadoras. Wanda dividiu seu tempo entre criar os filhos e ajudar Morgana com ervas medicinais que forneciam para os moradores da cidade. Os anos de distância haviam suavizado a reputação das Harkness em Ravenwood; agora eram vistas como excêntricas, porém úteis.

Mas o tempo, esse rio implacável, continua seu curso, indiferente às nossas vontades.

O dia começou como qualquer outro. Victor saiu cedo para uma conferência importante em uma universidade vizinha. Os gêmeos, agora com seis anos, brincavam no jardim enquanto Wanda preparava conservas de frutas para o inverno que se aproximava.

Foi apenas ao meio-dia que ela sentiu. Uma dor aguda no peito, como se algo dentro dela se quebrasse. A cigarra que cantava o dia todo em sua janela caiu em um silêncio mortal. A jarra de vidro que segurava estilhaçou-se no chão, mas ela mal notou. Seus joelhos cederam e ela caiu, engasgada com um grito que não conseguia expressar.

Victor. O nome surgiu em sua mente com uma clareza terrível. Não, por favor, não.

O telefone tocou minutos depois. Um acidente na estrada. Uma ponte que desabou sobre o rio exatamente quando Victor passava por ela. Nenhum sobrevivente.

As palavras do oficial de polícia soavam distantes, como se viessem de outro mundo, um mundo onde a maldição era apenas uma história, não uma realidade cruel que acabara de arrancar seu coração.

Os dias que se seguiram foram um borrão de dor e incredulidade. Wanda movia-se como uma sonâmbula, realizando os rituais necessários – identificar o corpo, organizar o funeral, consolar os filhos que não compreendiam por que o pai não voltaria – mas sem realmente estar presente. Era como se uma parte dela tivesse partido com Victor, deixando apenas um invólucro vazio que se movia por hábito.

— Não foi sua culpa — disse Morgana, segurando sua mão no cemitério, enquanto observavam o caixão ser baixado à terra. — A maldição...

— A maldição é minha culpa — interrompeu Wanda, sua voz áspera de tanto chorar. — Eu sabia. Sabia desde o início, e ainda assim permiti... permiti que ele me amasse. Permiti que eu o amasse. Permiti que ele entrasse em minha vida e que esse faz de conta acontecesse. Eu sabia, aquela maldita cigarra cantou o dia todo. — Wanda proferiu as palavras chorosas, o tom entre raiva e desolamento, sua tia Lilia que viera para o enterro apenas a abraçou de lado, deixando as lágrimas de sua sobrinha querida encharcar o tecido grosso de sua blusa.

À noite, quando os gêmeos finalmente adormeceram, exaustos pelo peso do luto que ainda não compreendiam totalmente, Wanda encontrou-se no jardim, sob o mesmo céu estrelado onde Victor uma vez falou sobre as infinitas possibilidades do universo. A raiva substituiu momentaneamente a dor, uma fúria incandescente contra o destino, contra a maldição, contra si mesma.

Com um grito que veio das profundezas de sua alma, ela libertou sua magia como nunca havia feito antes. O solo tremeu, árvores se curvaram como se atingidas por um vento impossível, e cada objeto de vidro na casa estilhaçou-se simultaneamente. Por um momento, a escuridão da noite pareceu se intensificar, como se o próprio universo respondesse à sua dor.

Quando a tempestade de sua magia finalmente diminuiu, Wanda caiu de joelhos, exausta e vazia.

— Mamãe?

A voz pequena a fez se virar. Billy estava parado à porta da casa, seus olhos grandes e assustados fixos nela. Por um terrível instante, Wanda viu medo no olhar do filho – medo dela, do que ela era capaz.

— Está tudo bem, querido — mentiu, abrindo os braços para ele.

Billy hesitou por um momento, mas então correu para ela, enterrando o rosto em seu pescoço.

— Você estava brilhando, mamãe — murmurou ele. — Vermelha como fogo.

Aquela noite marcou o fim da ilusão de normalidade. A magia que Wanda tentará suprimir por anos agora exigia seu espaço, alimentada pela dor e pela raiva. Objetos se moviam por vontade própria quando ela estava distraída. As plantas do jardim cresciam em padrões impossíveis, respondendo às suas emoções caóticas. E os sonhos... os sonhos eram o pior. Neles, Victor ainda estava vivo, ainda sorria com aqueles olhos que pareciam ver através de sua alma, mas sempre terminavam com água, com escuridão, com um grito silencioso que a despertava banhada em suor.

Três meses após o funeral, Wanda tomou uma decisão. Vendeu a casa de tijolos vermelhos – agora um mausoléu de memórias que a sufocavam – e retornou com os filhos para a Casa das Bruxas. Era hora de aceitar quem era, o que era, e o legado que carregava.

A mansão os recebeu como se tivessem partido apenas por um dia, não por anos. O quarto que sempre fora de Wanda estava preparado, as mesmas cortinas de veludo vermelho emoldurando as janelas altas, a mesma colcha bordada com símbolos arcanos cobrindo a cama antiga. Para os gêmeos, quartos adjacentes foram preparados, espaços que pareciam ter aguardado sua chegada por décadas.

— Não é como nossa casa — comentou Thomas na primeira noite, olhando desconfiado para as sombras que dançavam nas paredes iluminadas pela luz das velas acesas pelo cômodo, ajudando a iluminar o ambiente com as lâmpadas amarelas que brilhavam no teto.

— É nossa casa agora — respondeu Wanda, passando os dedos pelos cabelos do filho. — E tem muita... história.

Billy, por outro lado, pareceu se adaptar instantaneamente, como se a casa o reconhecesse, o acolhesse de uma forma que a residência anterior nunca fizera.

— Gosto daqui — declarou ele, observando fascinado como a luz criava padrões complexos no teto do quarto. — Parece... mágico.

A palavra fez Wanda hesitar. Havia prometido a si mesma contar aos filhos sobre seu legado, mas não tão cedo, não enquanto ainda processavam a perda do pai. Mas a mansão tinha outros planos.

Na primeira semana, Billy encontrou um grimório antigo escondido atrás de um painel solto em seu quarto. O livro, escrito em uma linguagem que nenhuma criança de sua idade deveria compreender, parecia "falar" com ele, como disse ao mostrar entusiasmado as ilustrações para a mãe.

— Consigo entender, mamãe! — exclamou, apontando para símbolos complexos que mesmo Wanda, com anos de estudo, ainda achava desafiadores. — Diz que a magia vem do coração, não das palavras.

No mês seguinte, durante uma tempestade particularmente forte, Thomas desapareceu por dez minutos aterrorizantes. Quando finalmente o encontraram, estava no telhado da mansão, sorrindo como se tivesse descoberto o maior dos segredos.

— Eu só pensei em estar lá em cima, e então... estava! — explicou, sem parecer perceber o pânico que causara. — Foi como... correr muito, muito rápido, mas sem realmente correr.

Foi então que Wanda compreendeu que seus filhos não eram apenas portadores do legado Harkness; eles eram manifestações vivas dele, cada um à sua maneira. E não poderia mais adiar a verdade.

Com a ajuda de Morgana e sua tia Lilia – uma irmã mais nova de sua mãe que raramente visitava a mansão, preferindo viajar pelo mundo em busca de conhecimentos arcanos – Wanda começou a educar os gêmeos sobre sua herança. Não apenas sobre a magia, as poções e os encantamentos, mas também sobre a responsabilidade que acompanhava tal poder.

— A magia não é um brinquedo — explicou Morgana aos meninos, enquanto mostrava como preparar uma simples poção para curar resfriados. — É uma extensão de quem vocês são, uma ferramenta, como a mente ou o coração.

— Ou como o martelo do papai — acrescentou Thomas, lembrando-se das vezes em que Victor consertava coisas pela casa.

— Exatamente — concordou Wanda, engolindo o nó na garganta que ainda se formava quando os filhos mencionavam o pai. — E como todo instrumento, pode construir ou destruir. A escolha é sempre sua.

Com o passar dos meses, um novo ritmo se estabeleceu. De manhã, os gêmeos frequentavam a escola local – Wanda insistiu que tivessem uma educação "normal" além das lições mágicas. À tarde, aprendiam com Morgana, Lilia e a própria Wanda os segredos da magia elemental, poções, história das bruxas e como controlar seus dons únicos.

Billy mostrava uma afinidade natural para encantamentos verbais e manipulação de realidade – conseguia criar pequenas ilusões que se tornavam mais complexas a cada tentativa. Thomas, por outro lado, dominava rapidamente a manipulação da energia cinética, movendo-se com velocidade sobrenatural e transferindo essa energia para objetos.

À noite, quando os garotos dormiam, Wanda se dedicava a seu próprio estudo: a busca por uma forma de quebrar a maldição. Não por ela – já havia perdido demais – mas pelos filhos. Temia que, como ela, eles eventualmente encontrassem o amor, apenas para vê-lo ser arrancado de suas vidas.

— Alguns fardos são passados de mãe para filho — comentou Lilia certa noite, encontrando Wanda na biblioteca, cercada por tomos antigos sobre maldições ancestrais. — Mas nem todos os caminhos estão predeterminados.

Lilia era diferente das outras Harkness. Onde Morgana era tradicional e solene, Lilia era irreverente e pragmática. Seus cabelos grisalhos eram mantidos em um corte curto e moderno, e preferia jeans e camisetas a vestidos longos. Viajara pelo mundo estudando diferentes tradições mágicas, e seu conhecimento se estendia muito além dos grimórios familiares.

— Fala por experiência? — perguntou Wanda, erguendo os olhos do livro que examinava.

Lilia sorriu, um sorriso enigmático que lembrava vagamente o de Agatha.

— Digamos que nem todas as mulheres Harkness seguiram o mesmo caminho. Algumas encontraram alternativas.

Antes que Wanda pudesse questionar mais, um estrondo na porta principal da mansão interrompeu a conversa. Não era uma batida comum – era como se alguém tivesse jogado algo pesado contra a madeira centenária.

Lilia e Wanda trocaram olhares tensos antes de se dirigirem ao hall de entrada. Morgana já estava lá, uma expressão de surpresa raramente vista em seu rosto enrugado.

— Abram essa maldita porta antes que eu a derreta! — gritou uma voz familiar do outro lado.

Agatha.

Morgana moveu a mão em um gesto fluido, e as pesadas trancas da porta se desfizeram por vontade própria. A porta se abriu para revelar uma figura que Wanda não via há quase uma década, mas que reconheceria em qualquer lugar.

Agatha parecia ao mesmo tempo igual e completamente diferente. Os mesmos cabelos negros, agora com uma mecha prateada que não estava lá antes. Os mesmos olhos penetrantes, mas agora com uma dureza, uma frieza que era nova. Vestia-se completamente de preto, um estilo que lembrava vagamente o gótico, mas mais sofisticado, mais adulto.

— Você está atrasada para o funeral — disse Wanda, as palavras saindo mais amargas do que pretendia.

Agatha entrou, ignorando o comentário, seus olhos percorrendo o hall como se procurasse por armadilhas.

— Soube do que aconteceu com seu marido — disse finalmente, seu tom neutro, quase desinteressado. — A maldição não faz exceções, como avisei.

Wanda sentiu o sangue ferver, a dor ainda fresca sendo cutucada sem cerimônia.

— Você nem conheceu o Victor.

— Não precisava. Conheci a maldição. Conheço nossa história. — Agatha finalmente olhou diretamente para Wanda, e algo em seus olhos suavizou por um instante. — Lamento sua perda, irmã. De verdade.

Antes que Wanda pudesse responder, uma segunda figura entrou pela porta. Uma jovem mulher asiática, talvez alguns anos mais nova que Agatha, com cabelos negros cortados assimetricamente e olhos delineados em preto intenso. Havia algo inquietante em seu olhar, uma intensidade que parecia avaliar e julgar simultaneamente.

— Você deve ser a famosa Wanda — disse a desconhecida, sua voz melodiosa contrastando com sua aparência afiada. — Agatha fala tanto de você.

— Nico, não agora — cortou Agatha, em um tom que surpreendeu Wanda por sua aspereza.

Nico sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos.

— Apenas sendo educada, querida. — Ela se virou para Morgana e Lilia. — E vocês devem ser a avó e a tia. Encantada.

Houve algo na maneira como ela pronunciou "encantada" que fez um arrepio percorrer a espinha de Wanda. Não era apenas uma formalidade; havia poder por trás daquela palavra, como se ela estivesse tentando literalmente encantar a quem ouvia.

— O que faz aqui, Agatha? — perguntou Morgana, seu tom deixando claro que a pergunta se estendia também à acompanhante indesejada.

— Notícias viajam rápido nos círculos certos — respondeu Agatha, deixando cair uma mala pesada no chão com um baque surdo. — Soube que minha irmã perdeu o marido para a maldição familiar e voltou para a casa ancestral. Pensei que talvez ela pudesse usar algum... apoio.

A palavra "apoio" saiu estranha dos lábios de Agatha, como se fosse um conceito com o qual não estivesse mais familiarizada.

— Ou talvez você precise de um lugar para se esconder — comentou Lilia, seus olhos astutos avaliando tanto Agatha quanto Nico. — Problemas te seguindo novamente, sobrinha?

Um músculo se contraiu no rosto de Agatha, e Nico deu um passo à frente, como um predador pronto para atacar.

— Cuidado com o que insinua, velha — sibilou Nico. — Agatha não se esconde de nada nem ninguém.

— Nico — a voz de Agatha era baixa, mas carregada de autoridade. — Eu disse não agora.

O clima na sala era tenso, carregado de palavras não ditas e suspeitas não expressas. Wanda olhou de sua irmã para a estranha que a acompanhava, sentindo que havia muito mais acontecendo do que aparentava.

— Mamãe?

A voz sonolenta de Billy quebrou a tensão. Ele estava no topo da escada, esfregando os olhos, seu pijama azul grande demais para seu corpo pequeno.

— Quem são elas? — perguntou, olhando curiosamente para as recém-chegadas.

Wanda foi rapidamente até ele, colocando-se instintivamente entre o filho e as visitantes.

— Esta é sua tia Agatha, querido. Minha irmã. E esta é... — ela hesitou, olhando para a jovem de aparência inquietante.

— Nico Minoru — completou a própria, com um sorriso que parecia sincero pela primeira vez desde que chegara. — Prazer em conhecê-lo, pequeno.

Algo na maneira como Nico olhou para Billy – com uma curiosidade quase científica – fez Wanda apertar o ombro do filho de maneira protetora.

— Você tem magia — disse Billy subitamente, surpreendendo a todos. — Diferente da nossa. Mais... escura.

Nico riu, um som melodioso que ecoou nas paredes antigas como uma promessa perigosa.

— Esperto, o menino — comentou, seus olhos nunca deixando o rosto de Billy. — Vamos nos dar muito bem, tenho certeza.

— Hora de dormir, Billy — disse Wanda firmemente, guiando-o de volta ao corredor. — Você pode conhecer melhor sua tia amanhã.

Quando retornou ao hall, Morgana já havia conduzido as visitantes para a sala de estar, onde um fogo baixo crepitava na lareira. Lilia estava encostada no batente da porta, observando a cena com olhos vigilantes.

— Então, você tem filhos — comentou Agatha, aceitando a taça de vinho que Morgana lhe ofereceu. — Gêmeos, pelo que soube.

— Thomas e William — confirmou Wanda, sentando-se em uma poltrona afastada, preferindo manter distância. — Seis anos.

— E eles têm o dom — não era uma pergunta.

Wanda assentiu lentamente.

— Billy tem afinidade com a realidade e energia mística. Tommy com energia cinética. Estão aprendendo a controlar.

Agatha tomou um longo gole do vinho, seus olhos nunca deixando o rosto da irmã.

— Então você contou a eles. Sobre o que somos.

— Não tive escolha — respondeu Wanda. — Os poderes começaram a se manifestar espontaneamente após... após Victor.

Nico, que estava examinando os artefatos expostos nas prateleiras da sala, virou-se com interesse renovado.

— Trauma como gatilho — comentou, como se analisasse um espécime intrigante. — Clássico, mas eficiente. A dor libera bloqueios que a mente consciente impõe.

— Falando por experiência? — perguntou Lilia, seu tom casual, mas seus olhos afiados.

Algo sombrio passou pelo rosto de Nico, tão rápido que Wanda quase não captou.

— Todos temos nossas histórias, não é? — respondeu ela, pegando um pequeno objeto da prateleira – um amuleto antigo que pertenceu à bisavó delas. — Fascinante, como vocês Harkness preservam sua história. Minha família prefere enterrar a nossa.

— Nico vem de uma linhagem antiga — explicou Agatha, percebendo a confusão no rosto de Wanda. — Os Minoru são uma das famílias fundadoras do que se tornou o Coven Oeste na Costa do Pacífico.

— Ex-fundadora — corrigiu Nico com amargura. — Fomos... afastados há duas gerações. Política mágica. Sabe como é.

Havia algo na maneira como ela disse isso que sugeria uma história muito mais complexa e provavelmente violenta do que suas palavras indicavam.

— O que realmente as traz aqui? — perguntou Morgana, indo direto ao ponto. — Você não visita há quase dez anos, Agatha. Por que agora?

Agatha e Nico trocaram um olhar rápido, uma comunicação silenciosa que não passou despercebida por ninguém na sala.

— Como disse, soube da perda de Wanda — respondeu Agatha finalmente. — E achei que talvez fosse hora de reconectar com minhas raízes.

— E o fato de que vocês parecem estar fugindo de algo não tem nada a ver com isso? — insistiu Lilia.

Nico se moveu com uma velocidade surpreendente, repentinamente a centímetros do rosto de Lilia, seus olhos brilhando com uma luz sobrenatural.

— Sugiro que cuide de seus próprios assuntos, bruxa — sibilou, sua voz carregada com uma energia que fez as luzes da sala vacilarem.

— Nico, basta! — a voz de Agatha cortou o ar como um chicote.

Por um momento, pareceu que Nico não obedeceria. Havia uma tensão em seus ombros, uma rigidez que sugeria que estava pronta para atacar. Então, lentamente, ela recuou, mas seus olhos permaneceram fixos em Lilia, desafiadores e ameaçadores.

— Peço desculpas pelo comportamento de minha... companheira — disse Agatha, seu tom formal, controlado. — Tivemos uma viagem longa e estressante.

— Tenho certeza que sim — respondeu Morgana, sua voz calma, mas seus olhos alertas. — Mostraremos seus quartos. Vocês devem descansar.

Enquanto Morgana conduzia Agatha e Nico para o andar superior, Wanda permaneceu na sala com Lilia, ambas em silêncio até que os passos desapareceram no corredor. Fazia anos que Wanda não via a irmã e ela sentia falta dessa conexão, mas Agatha pelo visto havia se tornado outra pessoa.

— Há algo errado com essa garota — comentou Lilia finalmente. — Uma energia perturbada. Desequilibrada.

Wanda assentiu lentamente.

— E Agatha parece... diferente. Mais dura. Mais fria.

— A dor faz isso com as pessoas — respondeu Lilia, seus olhos fixos nas chamas da lareira. — Transforma amor em amargura, esperança em cinismo. A questão é: que tipo de dor transformou sua irmã? E por que essa garota Minoru a segue como uma sombra?

As respostas começaram a se revelar nos dias seguintes. Agatha se instalou na mansão como se nunca tivesse partido, retomando seus estudos na biblioteca, praticando rituais no jardim, ocasionalmente ajudando Morgana com poções mais complexas. Para os gêmeos, mostrou-se uma professora surpreendentemente paciente, ensinando técnicas avançadas de controle mágico que Wanda ainda não dominava completamente era atenciosa e cuidava dos meninos como seu, ela os amava imensamente assim como sua irmã, essa que por sua vez parecia não conseguir se conectar mais como antes..

Nico, por outro lado, era uma presença inquietante. Raramente ficava sozinha com qualquer membro da família, sempre próxima de Agatha, como se temesse perdê-la de vista. Havia uma possessividade em seu comportamento que ia além da devoção – era uma obsessão que se manifestava em pequenos gestos: olhares afiados quando alguém ocupava demais a atenção de Agatha, comentários cortantes disfarçados de brincadeiras, toques que pareciam marcar território mais do que expressar afeto.

Uma tarde, Wanda encontrou Agatha sozinha na estufa, catalogando ervas raras que Morgana cultivava para rituais específicos.

— Onde está sua sombra? — perguntou, referindo-se a Nico.

Agatha sorriu levemente, o primeiro sorriso genuíno que Wanda vira desde sua chegada.

— Consegui convencê-la a ir à cidade buscar alguns suprimentos. Precisava de alguns momentos... sem supervisão.

Wanda sentou-se no banco de pedra ao lado da irmã, observando como seus dedos trabalhavam com a mesma precisão meticulosa.

— Ela parece gostar bastante de você — Wanda comenta cutucando a grama com a ponta dos dedos dos pés, Agatha solta um bufo em meio a uma risada carregada de ironia.

— Uhum, mas ela é boa, eu prometo — a Harkness mais velha ergue a cabeça, olhos azuis escuros se encontrando com os verdes de Wanda que analisa o rosto da irmã, pensando se deixaria ou não esse assunto passar e acaba dando de ombros, estavam começando a se conectar novamente e não queria estragar esse momento.

— Se você diz — Wanda se abaixa ao lado de Agatha a ajudando, silêncio recai sobre elas por alguns momentos até que Agatha o corte novamente.

— Eu senti sua falta — comentou erguendo um punhado de alfazema examinando-os — Sinto muito por não ter chegado a tempo do funeral, e por não estar aqui pra você quando mais precisou.

Wanda ficou em silêncio, as poucas palavras de sua irmã mais velha batendo em seus ouvidos, não queria negar, tão pouco admitir que o afastamento e frieza de Agatha tornaram tudo mais difícil para ela. A Harkness mais nova sentia tanta falta de sua irmã que chegava a lhe causar dor física, mas não sabia qual seria a reação dessa nova mulher diante dela, então apenas aceitou as palavras com um aceno de cabeça.

— Por favor, não seja assim…

— Assim como, Agatha?

— Não se feche para mim, Wandy.

— Você sumiu por anos, me abandonou como se eu fosse nada com um corte na mão jurando que estávamos conectadas, mas todas as vezes em que eu tentei chegar até você tudo o que recebi do outro lado foi nada — Wanda parou puxando uma respiração afiada olhos verdes cobertos por lágrimas não derramadas, os deixando vítreos — e quando retorna é uma estranha, uma mulher a qual não reconheço. Tudo o que eu queria era minha irmã carinhosa que cuidava de mim, mas recebi o total oposto, existe um muro entre nós Agatha, não é justo você me cobrar algo que você mesma impôs em nosso relacionamento.

— Wanda — Agatha chama deixando as plantas de lado, se virando de frente para a irmã, mãos buscando pelas pálidas de Wanda, olhos azuis buscando os verdes — Por favor, sestra — a morena implora olhos grudados em Wanda esperando por uma conexão, essa que acontece segundo depois quando a ruiva a encara.

Palavras não são necessárias enquanto as irmãs se olham, pensamentos desconexos e palavras confusas sendo compartilhadas em suas mentes.

— Você é minha irmã, nunca mais faça isso — Wanda acusa, mas cede.

— Eu prometo — Agatha diz abraçando a mais nova, o cheiro de plantas medicinais e baunilha, característico de Wanda, enchendo seus pulmões.

Naquele mesmo dia, Nico insistiu que elas deveriam ir em busca de algo que não conseguira encontrar na pequena ilha, seus olhos escuros e palavras incisivas não dando margem para uma recusa. Horas mais tarde, no calar da noite Agatha entrava com uma mala de mão no carro escuro sem olhar para trás, uma pequena lágrima escorrendo em sua bochecha, mas ela não poderia e nem mesmo queria colocar em risco sua família. 

 

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