Magic Heart

Marvel Cinematic Universe Agatha All Along (TV) Black Widow (Movie 2021) WandaVision (TV) Black Widow (Marvel Comics)
F/F
G
Magic Heart
Summary
O amor pode ser uma bênção ou uma maldição.Por gerações, as mulheres da família Harkness carregaram o peso de uma magia antiga e uma sina cruel: toda bruxa da família está fadada a perder quem mais ama. Ligadas por um destino inevitável, Wanda e Agatha nunca puderam fugir da herança de sua linhagem - mas agora, juntas, elas precisam enfrentar algo muito pior.Quando um ritual dá errado, uma entidade sombria retorna para reivindicar sua vingança, trazendo consigo segredos enterrados e verdades que foram mantidas escondidas por tempo demais. Presa entre o passado e o presente, Wanda se vê diante de uma escolha impossível: aceitar o legado que corre em suas veias e abraçar seu verdadeiro poder, ou assistir enquanto tudo o que ama é consumido pela escuridão.Entre feitiços perigosos, laços familiares inquebráveis e um romance que desafia o tempo, essa história é sobre bruxas que amam, lutam e escrevem seu próprio destino, mas a magia sempre cobra seu preço. E o coração de uma feiticeira nunca pertence apenas a ela.Wandanat (wantasha) e Agathario FanfictionAll Rights Reserved
Note
Essa é minha primeira fanfiction tendo natasha e wanda como casal principal, espero que gostem.Sinto muito, mas sou brasileira e não estou afim de traduzir isso para o inglês, então terão que utilizar o tradutor do google.Tenham uma boa leitura e até mais!
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A Maldição das Irmãs

Wanda sempre soube que a magia corria em suas veias, um legado profundo e imortal, mas o que realmente a marcava não era o poder, nem as poções secretas que ela aprendia a preparar com sua avó. O que mais a consumia era a história da maldição que assombrava sua linhagem — uma maldição cruel e insidiosa, que dizia que nenhuma mulher de sua família poderia encontrar o amor verdadeiro sem pagar um preço amargo. E, desde muito jovem, Wanda temia que esse preço fosse mais alto do que ela poderia suportar.
A Casa das Bruxas, como os moradores da pequena cidade de Ravenwood chamavam a mansão de sua família, parecia respirar a maldição por cada fresta de suas paredes antigas. Os corredores eram decorados com retratos de mulheres de olhares intensos e sorrisos contidos, todas marcadas pelo mesmo destino: encontrar o amor apenas para perdê-lo tragicamente. Wanda costumava passar horas olhando para esses retratos, procurando em seus rostos algum sinal de que haviam conseguido ser felizes, mesmo que brevemente.
— Não adianta ficar olhando para elas como se fossem te dar alguma resposta — a voz de Agatha sempre a tirava desses momentos contemplativos. — Elas estão mortas, Wanda. E seus amores também.
— Isso não significa que devemos esquecer suas histórias — respondeu Wanda, enquanto seus dedos traçavam delicadamente a moldura dourada do retrato de sua bisavó, Serafina, cujo marido havia desaparecido misteriosamente durante uma tempestade. — Talvez possamos aprender algo com elas.
Agatha revirou os olhos, ajustando as luvas de couro preto que sempre usava, como uma barreira entre ela e o mundo.
— O que há para aprender? Que o amor mata? Isso eu já sei sem precisar ficar contemplando fotos antigas.
A maldição, como contavam os diários escondidos no sótão da mansão, teve início há sete gerações, quando Elisabeta, a primeira bruxa da linhagem a se estabelecer em Ravenwood, apaixonou-se por um caçador de bruxas. Cega pelo amor, ela revelou os segredos de seu círculo, resultando na morte de doze bruxas inocentes. Antes de ser condenada à fogueira, a mais velha das bruxas sobreviventes lançou a maldição: "Que o amor que traiu nosso sangue jamais encontre paz. Que cada mulher de sua linhagem que amar verdadeiramente veja seu amor transformado em cinzas. Somente quando o amor for mais forte que o medo, quando o sacrifício não for por desespero, mas por escolha consciente, o feitiço será quebrado."
Wanda encontrou esse relato quando tinha apenas nove anos, escondido em um livro encadernado em veludo vermelho. Daquela noite em diante, seus sonhos foram povoados por imagens de fogueiras e mãos suplicantes, e a palavra "sacrifício" parecia ecoar em sua mente nos momentos mais inesperados.
Ainda criança, quando as dúvidas começaram a se formar em seu peito, Wanda estava em um canto escondido do jardim, sentada sobre uma manta de veludo, pés descalços enterrados no orvalho da grama fresca, as mãos suando enquanto a brisa leve brincava com seus cabelos. O local cercado por flores, essas que Wanda usaria em seu encantamento. Ela tinha uma pequena pedra de ágata de fogo, um presente da mãe, entre os dedos. Os olhos, tão cheios de insegurança, procuraram as estrelas, e ela, com um suspiro carregado de desejo, sussurrou palavras de um feitiço que não entendia totalmente, mas que sabia, de algum modo, que tinha o poder de transformar sua vida.
— Venha até mim, o amor perfeito, aquele que nunca me abandonará — sua voz era apenas um murmúrio, misturando-se com o canto dos grilos e o sussurro das folhas.
As palavras ecoaram no silêncio da noite. A ágata brilhou em suas mãos, um fulgor vermelho que iluminou seu rosto por um instante fugaz. Não houve trovões, nem ventanias, nem sinais grandiosos. Apenas aquela luz suave e, no céu, uma estrela cadente que cortou a escuridão como uma lágrima de prata. Esticando o braço, a menina pegou uma cambuca de conchas, moldada por anos nas profundezas de uma caverna e começou a enchê-la com pétalas de flores.
Wanda deixou as pétalas caírem suavemente na cambuca, uma a uma, sentindo o cheiro doce das flores preencher o ar ao seu redor. Cada pétala parecia carregar com ela uma promessa, uma parte do desejo mais profundo da criança que estava ali, no jardim, tentando chamar algo que ela mal compreendia, mas que sentia com cada batimento do coração. As flores estavam ao seu redor, vibrando com a energia do momento, como se soubessem que algo estava prestes a acontecer.
Ela fechou os olhos, deixando a brisa acariciar seu rosto, e pensou no que desejava. O feitiço que pronunciava não era apenas uma invocação, era uma tentativa de evitar a dor, o sofrimento do amor que ela temia. Wanda sabia que o amor poderia ser cruel, que o amor verdadeiro trazia consigo a dor e o sacrifício. E, como sempre, ela estava determinada a proteger-se disso, a se blindar contra qualquer tipo de apego que a fizesse sofrer.
— Venha até mim, o amor perfeito... — sua voz foi um sussurro quase tímido, mas carregado de uma dor sutil, como se ela estivesse pedindo por algo que, no fundo, já temia. Aquele que nunca me abandonará, que será como o fogo, quente e seguro, que me acolherá quando o mundo parecer vazio...
Ela imaginava essa pessoa, um ser que não poderia a machucar, alguém que fosse tudo o que ela quisesse, mas sem a intensidade destrutiva do amor real. Seus pensamentos viajavam enquanto ela falava, criando a figura que desejava criar, alguém sem falhas, sem problemas, sem medos. Não seria real, não poderia ser, mas ela ainda precisava acreditar que podia controlar isso.
Controlar seus sentimentos.
— Que sua pele seja pálida como a neve, fria e suave ao toque, mas que seu coração seja quente como o sol que nasce no horizonte. — As palavras saíam mais firmes, a necessidade de criar uma figura que fosse perfeita para ela, sem sombras de dor ou de despedidas. — Que seus cabelos sejam vermelhos, como o fogo que dança nas chamas, brilhando à luz da lua e do amanhecer.
A cambucá estava agora cheia de pétalas, e Wanda sentiu o vento acariciar sua pele, uma sensação de magia crescente, mas ela não queria se deixar enganar. Não queria cair na armadilha que o amor trazia. Ela estava apenas brincando. Isso não era real. Era só um feitiço, um feitiço infantil, sem poder.
— E que seus olhos sejam como a floresta... verdes e profundos, cheios de mistérios, mas claros o suficiente para me entender, para me ver. Que, quando eu olhar para eles, eu saiba que encontrei a minha casa, o meu lar.
Era uma imagem perfeita. Perfeita porque era impossível. Impossível, como ela mesma sabia que seria. A pessoa que ela estava criando não existiria, nunca existiria. Esse era o ponto. Ela não queria alguém real, não queria se apaixonar e sofrer como as mulheres de sua linhagem. Queria algo seguro, algo que não a deixasse vulnerável.
— Eu te chamo, e que você venha até mim! — As palavras foram ditas com mais força, mais decidida agora, mas Wanda sentia uma leve tristeza em seu coração. Que você se materialize, que sua forma tome conta do mundo, e que me ame como eu te amarei, para sempre, sem fim...
As pétalas começaram a flutuar ao seu redor, dançando no ar, como se obedecessem ao seu chamado. A cambucá estava vazia agora, e Wanda sentiu o vento mais forte, como se ele estivesse carregando as pétalas para longe. A maioria delas se desprendeu da cambuca e foi levada pelo vento, subindo, girando no ar antes de seguir seu caminho, sendo arrastadas para o mar distante, como se seguissem uma força além de seu controle. Apenas algumas poucas pétalas restaram, caindo suavemente aos pés de Wanda, como pequenos fragmentos de um sonho que estava se desfazendo.
Ela esperou, seu coração acelerado, mas o silêncio se arrastou por um momento que parecia interminável. Nada mais aconteceu. Não houve trovões, não houve uma presença sobrenatural. Apenas o som suave da noite preenchendo o vazio.
Ela olhou para as pétalas caídas aos seus pés, uma pequena porção delas, como um lembrete de que nada havia realmente acontecido. As outras haviam sido levadas para longe, para o mar, onde desapareceriam, como a ilusão de um amor perfeito, inatingível e impossível. Wanda não pôde evitar uma risada suave que escapou de seus lábios.
— Isso é tão bobo, ela pensou, balançando a cabeça. Quem é que acredita em uma coisa dessas? A pessoa perfeita...
Ela olhou para o mar à distância, onde as pétalas se perdiam no horizonte, e um sorriso sarcástico curvou seus lábios. Não haveria alguém assim, tão perfeito, tão sem falhas. Isso nunca aconteceria. Ela nunca se apaixonaria, nunca deixaria alguém se aproximar o suficiente para causar a dor que ela temia. E o feitiço... o feitiço era apenas uma fantasia. Uma tentativa ingênua de evitar o inevitável.
A risada de Wanda ecoou no jardim, misturando-se com os sons da noite. Ela se levantou, pisando nas poucas pétalas que ainda estavam aos seus pés, e saiu dali com um suspiro profundo. O feitiço não havia funcionado. Não havia nenhuma pessoa perfeita esperando por ela. Ela nunca se apaixonaria. Isso era só um jogo infantil, pensou com uma sensação amarga na garganta, o coração pesado com a ideia de que o amor nunca seria para ela.
O que ela não percebeu foi o modo como a terra sob seus pés tremeu levemente, como se algo profundo tivesse sido despertado, ou a forma como as pétalas nunca afundaram nas águas calmas do mar que ladeava o penhasco abaixo de sua casa, mas sim, continuou correndo, voando levadas pelo vento.
Na mansão dos Maximoff, a magia não era apenas um dom ou uma habilidade; era uma linguagem, um sistema complexo que se manifestava de maneiras distintas em cada membro da família. A avó Morgana era mestra em poções e encantamentos antigos, capazes de curar doenças que médicos consideravam terminais ou invocar tempestades em dias de seca extrema. Sua mãe, antes de desaparecer em uma viagem à Romênia quando as meninas eram pequenas, dominava a arte da clarividência – seus sonhos previam acontecimentos com precisão assustadora, e suas leituras de cartas eram procuradas por pessoas de todas as partes do país.
As irmãs, entretanto, desenvolveram talentos distintos. Wanda descobriu seu dom para a magia elemental e telecinese ainda jovem, quando, durante uma crise de raiva, fez todos os objetos de vidro de seu quarto explodirem simultaneamente. Desde então, aprendera a canalizar essa energia, moldando-a através de cristais e pedras preciosas que funcionavam como amplificadores. A ágata que carregava naquela noite no jardim não era apenas um presente; era um canalizador especialmente sintonizado com suas emoções mais profundas, o que a ajudava a não entrar na mente das pessoas sem permissão.
Agatha, por outro lado, tinha afinidade com as sombras. Sua magia era sutil, trabalhando nos recantos escuros da mente e da matéria. Podia ver através de disfarces, detectar mentiras com um simples olhar, e, quando realmente se concentrava, podia fazer com que as sombras ganhassem forma e substância, criando ilusões tão perfeitas que enganavam até os olhos mais treinados.
— A magia não é boa nem má — costumava dizer a avó Morgana. — É como a água: pode matar de sede ou afogar, dependendo de como a utilizamos. O verdadeiro poder está na intenção, na consciência por trás do gesto.
Na manhã seguinte ao feitiço de Wanda, a avó Morgana olhou para ela de um jeito diferente durante o café da manhã, seus olhos astutos como os de um corvo avaliando algo interessante.
— Você esteve brincando com magia ontem à noite, menina? — perguntou a anciã, enquanto mexia uma xícara de chá de ervas com uma colher de prata.
Wanda engoliu em seco, sentindo o rosto esquentar.
— Eu só... eu queria...
— Entendo — interrompeu a avó, com um suspiro pesado que parecia carregar o peso de muitos anos. — Saiba que os desejos do coração são os mais perigosos, Wanda. O universo sempre ouve, mesmo quando pensamos que nossas palavras se perdem no vento.
A avó olhou pela janela da cozinha, observando como os raios de sol matinais faziam o orvalho brilhar nas pétalas das rosas negras que cultivava no jardim – flores raras que, segundo a tradição familiar, só floresciam quando grandes mudanças estavam prestes a ocorrer.
— Há três tipos de magia que exigem cuidado extremo — continuou Morgana, voltando a encarar a neta. — A magia de sangue, que cobra seu preço em dor; a magia de tempo, que distorce o que foi e o que será; e a magia do coração, que interfere no livre-arbítrio. O que você fez ontem à noite, minha querida, foi uma combinação perigosa da primeira e da terceira.
Wanda arregalou os olhos, sentindo o estômago afundar.
— Eu não usei sangue, vovó. Juro.
Morgana sorriu, um sorriso triste e conhecedor.
— Há sangue e sangue, Wanda. O sangue que corre em suas veias é o mesmo que carrega nossa história, nossa maldição. Quando você invocou o amor, usando a ágata que pertenceu à sua mãe, você conectou seu desejo à linhagem inteira. As consequências disso... — ela fez uma pausa, como se buscasse as palavras certas — podem não ser imediatas, mas serão inevitáveis.
Agatha, sua irmã mais velha, sempre foi diferente. Rebelde e indiferente, ela preferia o mistério da magia que não envolvia sentimentos ou corações partidos. Sentada do outro lado da mesa, cortava uma maçã com uma faca afiada, dividindo-a em pedaços perfeitos e simétricos.
— Deixe-a, vovó. Todo mundo tem o direito de cometer seus próprios erros — disse Agatha, levando um pedaço da fruta aos lábios. — Além disso, a maldição é apenas uma história para assustar crianças.
Morgana lançou um olhar severo para a neta mais velha.
— Você, mais do que qualquer outra, deveria saber que não existe "apenas" quando se trata das histórias da nossa família, Agatha. Cada palavra é uma semente, cada gesto uma promessa. E as promessas feitas ao destino sempre são cobradas.
As irmãs não poderiam ser mais diferentes, não apenas em personalidade, mas também em aparência. Wanda herdara os cabelos ruivos vibrantes da mãe, olhos verdes como esmeraldas e uma pele clara que corava facilmente. Era aberta, emotiva, seus sentimentos tão visíveis quanto as constelações em uma noite sem nuvens. Acreditava no bem inerente das pessoas e guardava no peito a esperança de que, de alguma forma, sua história seria diferente das mulheres que a precederam.
Agatha, três anos mais velha, possuía cabelos negros como a meia-noite e olhos verdes tão escuros que, sob certa luz, pareciam inteiramente pretos. Seu rosto anguloso raramente revelava o que se passava em sua mente, e ela cultivava essa aura de mistério como quem cultiva uma planta rara. Desde a infância, assumiu uma postura de guardiã em relação à irmã mais nova, embora demonstrasse esse cuidado através de provocações constantes e observações mordazes.
— Você é ingênua demais para o seu próprio bem — dizia frequentemente para Wanda. — O mundo não é um lugar gentil, especialmente para pessoas como nós.
Havia um episódio da infância que ilustrava perfeitamente a dinâmica entre elas. Quando Wanda tinha sete anos e Agatha dez, um grupo de meninos da cidade começou a perseguir Wanda na volta da escola, chamando-a de "bruxa" e "aberração". A menina chegou em casa aos prantos, recusando-se a sair novamente. No dia seguinte, Agatha voltou da escola com os nós dos dedos feridos e um sorriso satisfeito. Os meninos nunca mais importunaram Wanda, embora circulassem rumores sobre pesadelos terríveis que os faziam acordar gritando no meio da noite.
— Você fez algo com eles? — perguntou Wanda, curiosa e um pouco assustada.
Agatha apenas deu de ombros, abrindo um livro de feitiços avançados.
— Digamos apenas que eles aprenderam que algumas bruxas merecem respeito.
Esse evento cimentou um padrão que se repetiria pela vida: Agatha protegia Wanda, mesmo quando negava fazê-lo; Wanda admirava e temia a irmã em igual medida.
Agatha ria disso, achando que o amor era uma fraqueza, uma distração desnecessária em um mundo cheio de feitiçarias e intrigas. Ela jamais se importou com o que a maldição significava. Para ela, amar era um conceito fraco, desnecessário. Preferia dedicar seu tempo a explorar os limites da magia, a desvendar segredos ancestrais, a buscar poder em manuscritos antigos e rituais esquecidos.
Os anos passaram e sua obsessão com o conhecimento proibido a levou a locais perigosos, tanto física quanto metaforicamente. Aos dezesseis anos, desapareceu por três dias inteiros, retornando com um símbolo estranho tatuado no pulso e recusando-se a explicar onde estivera. Aos dezoito, passou meses trocando correspondências com um ocultista de reputação duvidosa em Nova Orleans, cartas que queimou sistematicamente assim que foram respondidas. Aos vinte, começou a conduzir experimentos no porão da mansão, experimentos que às vezes faziam a casa inteira tremer e enchiam os cômodos com aromas inexplicáveis de enxofre, mel e cinzas.
Mas isso mudou quando conheceu Hella.
Foi em uma noite de tempestade, quando uma forasteira bateu à porta da Casa das Bruxas, pedindo abrigo. Hella tinha cabelos como chamas escuras e olhos que pareciam conter universos inteiros. Agatha, que normalmente dispensaria qualquer estranho com palavras afiadas, ficou sem fala diante daquela presença magnética.
— É apenas por uma noite — havia dito Hella, água escorrendo por seu rosto como lágrimas. — Prometo não incomodar.
Hella não era apenas bonita; havia algo nela que parecia responder à magia do próprio lugar. As velas se inclinavam em sua direção quando ela passava, como flores buscando o sol. Os espelhos embaçaram levemente quando refletiam sua imagem. E, o mais intrigante, o gato preto de Morgana, um animal notoriamente arredio que tolerava apenas a presença da dona, seguia Hella pelos corredores como um guardião silencioso.
— Há algo nela que não é... comum — comentou Wanda em voz baixa, observando como Hella examinava os livros na biblioteca com familiaridade desconcertante.
— Há algo em todos nós que não é comum — respondeu Agatha, com um tom defensivo que surpreendeu a irmã. — Isso a torna interessante, não suspeita.
Mas uma noite se transformou em duas, depois em uma semana, e logo Hella estava envolvida na rotina da casa como se sempre tivesse pertencido ali. Era habilidosa com ervas, conhecia rituais que nem mesmo a avó Morgana dominava, e parecia entender o coração de Agatha melhor do que ela mesma.
A transformação em Agatha foi sutil no início. Um sorriso que durava alguns segundos a mais. Um cuidado incomum com a aparência antes do café da manhã. Livros que permaneciam fechados enquanto ela ouvia, fascinada, as histórias que Hella contava sobre terras distantes e magias esquecidas. Mas, com o passar das semanas, a mudança se tornou inegável.
Wanda observava, fascinada, como sua irmã mudava na presença de Hella. O sorriso de Agatha, antes tão raro, agora aparecia com frequência. Suas mãos, sempre ocupadas com livros de feitiços ou instrumentos mágicos, agora buscavam tocar Hella a cada oportunidade — um toque no ombro, dedos que se entrelaçavam discretamente sob a mesa durante as refeições, uma mecha de cabelo ajeitada com cuidado.
Uma tarde, Wanda encontrou as duas no jardim de inverno, sentadas tão próximas que seus ombros se tocavam, folheando um grimório antigo. A expressão no rosto de Agatha era algo que Wanda jamais vira: uma vulnerabilidade quase dolorosa, como se algo dentro dela tivesse sido desenterrado depois de anos de esquecimento.
— Você realmente acredita que é possível? — perguntava Agatha, apontando para um diagrama complexo na página amarelada.
— Acredito que com a companhia certa, tudo é possível — respondeu Hella, sua voz melodiosa carregando um tom que fez Wanda corar e recuar, sentindo-se uma intrusa em um momento íntimo.
Agatha não costumava falar de Hella com Wanda, mas esta sabia que havia algo naquelas palavras não ditas, algo em seus olhos quando o nome era mencionado. Hella era complicada, uma presença que Agatha nunca soubera como lidar.
— Ela me perguntou sobre a maldição hoje — disse Agatha certa noite, entrando no quarto de Wanda sem bater. Seu rosto estava pálido, os lábios apertados em uma linha fina.
Wanda, que estava trançando o cabelo na frente do espelho, parou o movimento de suas mãos.
— E o que você disse?
— A verdade. Que é bobagem, superstição antiga. — Agatha sentou-se na cama de Wanda, retorcendo um anel de prata em seu dedo. — Mas ela olhou para mim como se soubesse algo que eu não sei.
Agatha levantou-se abruptamente, caminhando até a janela. Lá fora, a lua crescente lançava uma luz prateada sobre o jardim, transformando as rosas negras em silhuetas misteriosas.
— Ela me perguntou sobre todas elas — continuou, apontando para a parede onde vários retratos das antepassadas estavam pendurados. — Queria saber como morreram seus amores. Se havia um padrão, uma... assinatura na maldição.
Wanda sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— E há?
Agatha virou-se, seus olhos brilhando estranhamente na penumbra do quarto.
— É isso que me assusta, Wanda. Eu nunca tinha pensado nisso antes, mas... — ela hesitou, como se as palavras fossem difíceis de formular. — Cada morte foi diferente: afogamento, fogo, doença, acidente. Mas todas ocorreram quando a mulher em questão estava prestes a tomar uma decisão importante sobre o relacionamento. Casamento, filhos, ou...
— Ou o quê? — insistiu Wanda, sentindo o coração acelerar.
— Ou quando estava prestes a revelar algum segredo significativo — completou Agatha, sua voz quase um sussurro. — Como se a maldição não permitisse que o amor se aprofundasse além de certo ponto. Como se houvesse um limite para quanto de nós mesmas podemos compartilhar antes que o preço seja cobrado.
Wanda sentiu que sua irmã estava dividida, amando e desprezando ao mesmo tempo, perdida entre o desejo e o medo. O orgulho de Agatha sempre a impedia de admitir seus sentimentos, mas Wanda via como seu olhar seguia Hella, como sua respiração mudava quando a outra entrava em um cômodo.
— Talvez você devesse perguntar a ela o que sabe — sugeriu Wanda, sentando-se ao lado da irmã. — Talvez...
— Talvez o quê? — cortou Agatha, seu tom afiado como uma lâmina. — Talvez ela saiba como quebrar a maldição? Talvez exista um final feliz para nós? — Ela riu, um som amargo e quebrado. — Não seja ingênua, Wanda. Algumas coisas são como são.
Naquela noite, enquanto a casa dormia, Wanda observou pela janela de seu quarto como Agatha e Hella se encontravam no jardim, sob o carvalho antigo que, segundo a tradição, havia sido plantado pela própria Elisabeta. As duas conversavam intensamente, os gestos de Agatha revelando uma agitação incomum. Em determinado momento, Hella segurou o rosto de Agatha entre as mãos e a beijou, um beijo que pareceu acalmar a tempestade visível no corpo da irmã.
Wanda afastou-se da janela, sentindo-se simultaneamente esperançosa e apreensiva. Se Agatha havia encontrado amor, talvez a maldição pudesse ser quebrada afinal. Ou talvez, como todas as histórias que precederam esta, o destino estivesse apenas preparando o palco para outra tragédia.
As semanas seguintes trouxeram uma paz aparente à Casa das Bruxas. Agatha e Hella passavam horas juntas na biblioteca, decifrando textos antigos e discutindo teorias mágicas avançadas. Hella ensinou a Agatha técnicas de magia elementar que complementavam sua afinidade com as sombras, criando um equilíbrio que tornava seus feitiços mais poderosos e precisos. Em troca, Agatha compartilhou segredos familiares que jamais revelara a ninguém, nem mesmo à avó.
Mas, como todas as histórias de sua família, o fim de Hella seria marcado por tragédia, e Wanda teve de assistir, impotente, enquanto o amor e a magia, mais uma vez, se tornavam forças devastadoras. Foi durante o solstício de verão, quando a barreira entre os mundos estava mais fina. Hella havia convencido Agatha a realizar um ritual antigo, algo para fortalecer seus poderes.
— É um ritual de união — explicou Hella a Wanda e Morgana, enquanto desenhava símbolos complexos no chão da clareira na floresta atrás da mansão. — Nossas magias se complementam perfeitamente. Juntas, poderemos fazer coisas que individualmente seriam impossíveis.
— Inclui a quebra da maldição? — perguntou Wanda, não conseguindo conter a esperança em sua voz.
Hella sorriu, um sorriso enigmático que não alcançou seus olhos.
— Toda maldição tem seu ponto fraco, Wanda. E toda regra tem suas exceções.
Morgana observava em silêncio, seus olhos astutos avaliando cada movimento de Hella com desconfiança velada. Mais tarde, quando estavam sozinhas na cozinha, preparando as ervas que seriam usadas no ritual, ela falou.
— Há algo nela que não compreendo totalmente. Uma energia antiga... familiar, mas distorcida.
— Acha que devemos impedir o ritual? — perguntou Wanda, preocupada.
A avó suspirou, parecendo subitamente muito mais velha do que seus setenta anos.
— O coração de Agatha está envolvido agora. Impedí-la apenas a afastaria de nós. No entanto — ela pegou um pequeno frasco de cristal azul de uma prateleira alta — tome isto. Se as coisas saírem do controle, quebre-o dentro do círculo. Não resolverá tudo, mas dará tempo para que vocês escapem.
O ritual começou ao pôr do sol. Agatha e Hella, vestidas com túnicas brancas, posicionaram-se no centro do círculo desenhado com cinzas de madeira de carvalho e sal lunar. As velas dispostas nos pontos cardeais ardiam com chamas de cores diferentes: azul ao norte, vermelha ao sul, verde a leste e violeta a oeste.
Wanda e Morgana observavam de fora, prontas para intervir se necessário, mas respeitando o espaço sagrado que as praticantes haviam criado. O cântico começou baixo, uma melodia antiga em uma língua que Wanda não reconhecia, mas que fazia seu sangue pulsar como se respondesse a um chamado primordial.
À medida que o ritual avançava, a energia no círculo crescia, manifestando-se como filamentos luminosos que conectavam Agatha e Hella. Suas vozes se elevaram, tornando-se mais urgentes, mais intensas. O vento aumentou, fazendo as árvores ao redor gemerem e as velas oscilarem perigosamente.
Foi quando Hella alterou o cântico, introduzindo palavras que não estavam no texto que haviam estudado. Agatha hesitou por um momento, mas logo retomou, confiando na parceira. Os filamentos de luz mudaram de cor, de um dourado suave para um vermelho sangue pulsante. O ar dentro do círculo pareceu se condensar, formando uma névoa espessa que obscurece parcialmente as silhuetas das duas mulheres.
— Algo está errado — murmurou Morgana, dando um passo à frente.
Nesse instante, Hella ergueu as mãos acima da cabeça e gritou uma palavra de poder tão antiga que fez a terra tremer. Um clarão ofuscante preencheu o círculo, seguido por um estrondo ensurdecedor. Quando a luz diminuiu, onde antes havia duas figuras, agora só restava uma de pé.
Hella jazia no chão, seus olhos outrora tão vivos agora vazios, e Agatha, pela primeira vez desde que Wanda podia se lembrar, chorava abertamente, seu corpo sacudido por soluços que pareciam arrancar pedaços de sua alma.
— O que aconteceu? — perguntou Wanda, correndo para o círculo quebrado, ignorando os avisos de Morgana sobre energias residuais perigosas.
Agatha levantou o olhar, seus olhos não mais completamente humanos. Veias negras marcavam seu rosto, como linhas de tinta se espalhando sob a pele.
— A maldição — murmurou Agatha, entre lágrimas. — Ela é real. Sempre foi real.
E então, com um grito que parecia conter toda a dor de sete gerações de mulheres condenadas, Agatha se lançou sobre o corpo de Hella, abraçando-o com força, como se pudesse transferir sua própria vida para a amada.
— Ela queria quebrar a maldição — explicou mais tarde, quando já haviam enterrado Hella sob o carvalho antigo, em uma cerimônia simples marcada pelo silêncio pesado e pela chuva que caía sem parar, como se o próprio céu chorasse a perda. — Acreditava que, se reuníssemos nossas magias em um vínculo permanente, criaríamos algo mais forte que a maldição. Mas no momento crucial, quando nossas energias se fundiram... foi como se algo interviesse. Uma força antiga, implacável.
Wanda apertou a mão da irmã, sentindo como estavam frias, quase como se parte de Agatha tivesse partido junto com Hella.
— Vamos encontrar uma maneira, Aggie. Vamos quebrar essa maldição.
Agatha sorriu, um sorriso vazio que não alcançava seus olhos.
— Não existe maneira, Wanda. A maldição é mais antiga e mais poderosa do que qualquer magia que possamos conjurar. Tudo o que podemos fazer é... evitar o amor. É a única forma de sobreviver.
O que Wanda não sabia, naquele momento, era que seu desejo, sua súplica ingênua pela presença do amor, estava prestes a se concretizar de uma forma que ela jamais poderia prever. O amor perfeito que ela chamara ainda criança estava a caminho, mas como todas as magias feitas às pressas e sem compreensão completa, traria consigo consequências inesperadas.
Nas semanas que se seguiram à morte de Hella, a Casa das Bruxas pareceu se retrair sobre si mesma. As flores no jardim murcharam, apesar dos cuidados de Morgana. Espelhos racharam sem motivo aparente. O mel nos potes da despensa cristalizou-se em formas estranhas, semelhantes a lágrimas. E Agatha... Agatha mudou. Sua magia, antes controlada e precisa, tornou-se volátil, imprevisível. Suas pesquisas, antes metódicas, assumiram um caráter obsessivo, focadas exclusivamente em encontrar falhas em maldições ancestrais.
— Você precisa deixá-la ir — disse Morgana certa noite, encontrando Agatha na biblioteca, cercada por livros abertos e velas quase consumidas. — A dor não diminuirá se você continuar alimentando-a com obsessão.
— Não estou buscando diminuir a dor — respondeu Agatha, sem erguer os olhos do texto que estudava. — Estou buscando entender por que. Por que a maldição existe. Por que ela escolheu Hella. Por que... — sua voz falhou por um momento — por que eu permiti que me importasse o suficiente para perdê-la.
E, enquanto observava sua irmã destruída pela mesma maldição que tanto temiam, Wanda fez uma promessa silenciosa a si mesma: ela encontraria um modo de quebrar esse ciclo, de libertar sua família desse destino cruel. Mesmo que isso significasse confrontar forças ancestrais, mesmo que significasse desafiar o próprio destino.
Foi no aniversário da morte de Hella que Agatha tomou uma decisão, Ela iria embora dessa cidade maldita.

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